Por Marcelo
Gleiser
“Será razoável supor que tenham feito o esforço para chegar até aqui e
se esconder como luzes nos céus?
Estou passando a semana na Amazônia
como parte das celebrações de dez anos da FAPEAM (Fundação de Amparo à Pesquisa da Amazônia) e a convite da
Secretaria do Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Fora o deslumbre da grande
diversidade da fauna e flora local, a visita ao encontro das águas do rio Negro
e do rio Solimões e certo choque em ver a enorme industrialização junto aos
rios, um assunto que parece ser de grande interesse local é a possibilidade de
que misteriosas luzes nos céus sejam espaçonaves de origem extraterrestre.
Vamos investigar a possibilidade de
que seres extraterrestres tenham algum interesse pelos céus da Amazônia ou
mesmo pela Terra em geral. Antes, um pouco de astronomia.
O grande desafio de viagens
interestelares são as distâncias gigantescas. O Sol está a aproximadamente oito
minutos-luz da Terra. Ou seja, a luz, viajando a 300.000 km/segundo, demora
oito minutos para cobrir os 150 milhões de quilômetros até aqui.
Digamos que queremos visitar o
sistema estelar mais próximo da gente, na constelação do Centauro. São quatro
anos-luz. Viajando na espaçonave mais veloz que temos, a 50.000 km/h,
demoraríamos cerca de 100 mil anos para chegar lá!
Obviamente, se alguma inteligência
extraterrestre existe, se desenvolveu tecnologia que não temos a menor ideia do
que seja, capaz de viagens próximas da velocidade da luz, e se tem interesse em
nos visitar, a viagem demoraria muito tempo. Talvez mandem arcas que viajam por
muitas gerações pelo espaço, com vidas inteiras passadas dentro delas. Onde
estão?
Será razoável supor que tenham feito
esse esforço todo para chegar aqui e se esconder, meras luzes misteriosas nos
céus? Em 1950, o físico Enrico Fermi fez um cálculo simples, mostrando que, se
inteligências capazes de viagens interestelares existem na nossa galáxia,
teriam já tido tempo de sobra para colonizá-la. "Onde estão eles?",
perguntou-se.
Esse é o Paradoxo de Fermi: nossa galáxia tem 10 bilhões de anos e
100.000 anos-luz de extensão. Vamos supor que uma inteligência surgiu em
algum canto um milhão de anos antes da gente, o que é bem razoável,
considerando que a galáxia tem 200 bilhões de estrelas e, possivelmente,
trilhões de planetas e luas.
Esses seres do planeta Yczykx têm
espaçonaves que viajam a velocidades de 10% da velocidade da luz. Ou seja, em
um milhão de anos, poderiam ter viajado de ponta a ponta da galáxia, incluindo
várias passagens pela Terra. Se tivessem surgido não um, mas 10 milhões de anos
atrás, poderiam ter colonizado a galáxia inteira. E certamente não nos
contataram de forma direta e clara.
Portanto, ou vieram, não gostaram e
foram embora, ou estão aqui, mas têm uma tecnologia de invisibilidade que elude
nossos sistemas de detecção, ou nos criaram como um experimento genético que
seguem de longe, como num zoológico, ou, o que é mais provável, nunca vieram
aqui ou vieram e não deixaram nenhum sinal.
Das várias explicações para luzes
estranhas nos céus, as mais plausíveis --fenômenos
atmosféricos, balões de pesquisa etc.--, mesmo que menos dramáticas, são
muito mais realistas.”
FONTE: escrito
por Marcelo Gleiser, professor
de física teórica no “Dartmouth College”, em Hanover (EUA), e autor de
"Criação Imperfeita". Artigo publicado na “Folha de São Paulo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/118737-sobre-visitas-de-extraterrestres.shtml ). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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