sábado, 16 de novembro de 2013

Amanhã: A VOLTA DE BACHELET AO CHILE

[Verónica Michelle Bachelet Jeria (Santiago, 29 de setembro de 1951), médica e política chilena. Já foi presidente da República do Chile (do Wikipedia)]

Por Emir Sader

"Quarenta anos depois do golpe militar que terminou com a mais prolongada democracia latino-americana e instaurou sua mais brutal ditadura, o Chile deve eleger no domingo a filha de um militar fiel a Allende, que morreu na prisão por isso, derrotando a filha de um membro da Junta Militar de Pinochet.

Mas o Chile mudou muito, desde então. Já não é o país em que se colocou, pela primeira vez, a possibilidade de uma transição pacífica ao socialismo, nem tampouco o da ditadura pinochetista. Houve ditadura feroz de 17 anos e longa transição, com 20 anos de governos da aliança socialista-democrata cristã – partidos que estavam em campos opostos no momento do golpe militar – e breve governo neopinochetista, de Sebastian Piñera.

Nesse trânsito, o Chile se transformou no “case” típico dos organismos internacionais do neoliberalismo – Banco Mundial, FMI -, como “o país de sucesso de economia de mercado no continente”. Mas, como contrapartida, o país que antes era dos menos desiguais do continente, correu para o outro lado, tornando-se dos mais desiguais. Porque a aliança dos dois partidos, mesmo sucedendo à ditadura, manteve o modelo econômico neoliberal do Pinochet, buscando apenas diminuir as desigualdades sociais, na margem estreita em que isso é possível.

As grandes moblizações estudantis dos últimos anos quebraram o prestígio de Sebastian Piñera – membro do milionário grupo que detém, entre outras empresas, a LAN Chile, que comprou a TAM -, que tinha ascendido no estilo “empresário de sucesso que vai fazer administração eficiente do Estado”.

Como Pinochet havia privatizado totalmente o ensino superior, além de elitizá-lo ainda mais, levou à quebra de grande parte das famílias de classe média, que se endividavam para pagar os estudos dos filhos. Foi nesse bojo que os estudantes se mobilizaram, com grande apoio da população, para exigir o retorno do caráter público da educação superior.

As mobilizações afetaram de forma direta e irreversível o prestígio de Piñera e abriram caminho para o retorno de Bachelet. Ela apresentou um plano de resgate das universidades públicas em prazo de 5 anos – a principal novidade do seu programa em relação a seu governo anterior.

Apesar de seguir com o “Tratado de Livre Comércio” com os EUA, Bachelet afirma que distanciará o país da “Aliança para o Pacífico” e que o aproximará da UNASUL e do MERCOSUL, mudando o perfil da política externa do governo Piñera e, até mesmo, do seu governo anterior. Bachelet governou até 2008, o ano do começo da crise recessiva no centro do capitalismo. Ela chegou a decretar algum apoio aos idosos, os mais fragilizados pelos efeitos da crise, dado que a aliança socialista-democrata cristã tinha mantido a privatização da Previdência chilena.

A crise revelou que quem resistiu melhor a seus efeitos recessivos foi quem incrementou os intercâmbios regionais e Sul-Sul, além de intensificar as políticas de redistribuição de renda, que estendem o mercado interno de consumo popular. Na contramão do modelo chileno, que tem na exportação [de cobre] seu setor mais dinâmico, e nas altas esferas do consumo.

A equipe escolhida por Bachelet para governar não difere muito da anterior, não permitindo delinear ainda o tamanho das diferenças em relação a seu governo anterior.

O que é seguro é que o retorno da direita neopinochetista à presidência do Chile, mesmo tendo ares eufóricos há quatro anos, foi catastrófico. Ainda assim, Piñera tenta se distanciar das posições mais duras da direita, com a esperança de poder voltar a ser candidato em quatro anos mais. Mas só teria chance se, da mesma forma que no final do governo anterior da Bachelet, mesmo com grande apoio popular, a aliança socialista-comunista siguisse apelando a seus velhos e desgastados quadros, como foi Eduardo Frei, ex-presidente, derrotado fragorosamente pela direita.”

FONTE: escrito pelo cientista político Emir Sader no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/?/Blog/Blog-do-Emir/A-volta-de-Bachelet/2/29527).

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