quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

POR QUE O AÉCIO/PSDB OMITIU O PRÉ-SAL?


“O Brasil não quebra – como o FHC quebrou três vêzes – porque construiu um cinturão de liquidez.

O portal “Conversa Afiada” reproduz editorial de Saul Leblon, extraído da “Carta Maior”:

O BRASIL NÃO CABE NA AGENDA DE AÉCIO NEVES

Em oito mil e 17 palavras, a agenda eleitoral do presidenciável Aécio Neves não menciona uma única vez o trunfo que mudou o perfil geopolítico do país: “pré-sal”

Por Saul Leblon

Pode-se discordar – por razões ideológicas – da regulação soberana instituída em dezembro de 2010 para a exploração do pré-sal.

Pode-se conceber, não sem razão, que a energia fóssil é uma fonte crepuscular de abastecimento da civilização.

Da transição dessa dependência para uma matriz menos poluente depende parte importante do futuro da sociedade humana.

Pode-se associar as duas coisas e disso extrair uma visão estratégica do passo seguinte do desenvolvimento brasileiro.

Mas, objetivamente, nenhuma agenda relevante de debate sobre os desafios brasileiros pode negligenciar aquela que é a principal fronteira crível do seu desenvolvimento nas próximas décadas.

Foi exatamente esse sugestivo lapso que cometeu um dos candidatos a candidato do dinheiro grosso em 2014.

O pré-sal brasileiro, a maior descoberta de petróleo registrada no planeta neste século, não cabe na agenda eleitoral de Aécio Neves, divulgada com o alarido previsível na 3ª feira.

Em oito mil e 17 palavras encadeadas em um jorro espumoso do qual se extrai ralo sumo, o presidenciável do PSDB não menciona uma única vez –repita-se-, uma única vez– o trunfo que mudou o perfil geopolítico do país: o pré-sal. Não é um simples tropeço da memória. A mais concreta possibilidade de emancipação econômica do país não se encaixa na concepção de futuro do conservadorismo.

Em outras palavras: a omissão fala mais do que consegue esconder.

O pré-sal, sobretudo, avulta como o fiador das linhas de resistência do governo em trazer a crise global para dentro do Brasil, como anseia o conservadorismo.

Um dado resume todos os demais: estima-se em algo como 60 bilhões de barris os depósitos acumulados na plataforma oceânica. A US$ 100 o barril, basta fazer as contas para concluir: o Brasil não quebra porque passou a dispor de um cinturão financeiro altamente líquido expresso em uma fonte de riqueza sobre a qual o Estado detém controle soberano.

A agenda mercadista não disfarça o mal estar diante dessa blindagem, que esfarela a credibilidade do seu diagnóstico de um Brasil aos cacos.

Seu diagnóstico e a purga curativa preconizada a partir dele são incompatíveis com a existência desse incômodo cinturão estratégico.

Ao abstrair o pré-sal em oito mil e 17 palavras, a agenda tucana mais se assemelha a uma viagem de férias à Disneylândia do imaginário conservador, do que à análise do Brasil realmente existente –com seus gargalos e trunfos.

Fatos: desde o início da crise mundial, em 2007, o Brasil criou 10 milhões de novos empregos.

Para efeito de comparação, a União Europeia fechou 30 milhões de vagas no mesmo período.

E condenou outros tantos milhões de jovens ao limbo, negando-lhes a oportunidade de uma primeira inserção no mercado de trabalho.

A Espanha, a título de exemplo, fez e faz, desde 2007, aquilo que o conservadorismo apregoa como panaceia para os males do Brasil hoje.

Com que desdobramentos palpáveis?

A Espanha levará 20 anos para recuperar os 3 milhões de empregos perdidos durante a crise global iniciada em 2008. A economia espanhola só conseguirá alcançar a taxa de desemprego de 6,8% – média na zona do euro, à exceção dos países do sul do continente– a partir de 2033” (PricewaterhouseCoopers (PwC); estudo divulgado pela consultoria na terça-feira, 3/12).

A ênfase sobressaltada e seletiva da agenda tucana, insista-se, não decorre de escorregões da lógica.

Ela atende a interesses de bolso, ideologia e palanque.

A prostração inoculada diuturnamente pelo noticiário econômico é um dente dessa engrenagem, não um recorte isento do país.

A escolha menospreza singularidades que podem subverter a dinâmica da crise, entre elas a maior de todas: o impulso industrializante representado pelo pré-sal, uma oportunidade ímpar –talvez a última da história– de regenerar uma base fabril asfixiada por décadas de esmagamento cambial e competitivo.

Só se concebe desdenhar dessa fresta –como faz a agenda do PSDB— se a concepção de país aí embutida menosprezar o papel de um parque manufatureiro próprio.

Mais que isso: se a alavanca acalentada para devolver dinamismo à economia for o chamado “choque de competitividade”, tão a gosto da Casa das Garças tucana.

Do que consta?

Daquilo que a emissão conservadora embarcada na mesma agenda alardeia dia sim, o outro também.

Uma abrupta redução de tarifas que mataria um punhado de coelhos ao mesmo tempo: dizimaria o parque industrial “ineficiente” –como fez Pinochet no Chile; como fizeram Ernesto Zedillo e Vicente Fox no México, com as “maquiladoras”; reduziria de imediato a inflação e despejaria boa parcela do operariado industrial na rua, barateando o “custo Brasil” e aleijando os sindicatos e o PT.

É esse o recheio que pulsa na omissão ao pré-sal na agenda tucana.

O velho recheio feito de ingredientes tão excludentes que se recomenda dissimular em um texto eleitoral propagandístico: ajuste fiscal drástico; ampla abertura comercial; livre movimento de capitais; intensa privatização das empresas estatais (quando Aécio fala em ‘estatizar’ a Petrobrás é a novilíngua, em ação beligerante contra o PT); eliminação dos subsídios e incentivos a diferentes segmentos produtivos; cortes de direitos trabalhistas e de poder aquisitivo real dos salários.

Ou seja, o ideário neoliberal que jogou o planeta na crise na qual se arrasta há cinco anos.

Por último, ressuscitar o espírito do NAFTA e atrelar a diplomacia do Itamaraty aos interesses norte-americanos.

Reconheça-se, não é fácil pavimentar o percurso oposto, como vem tentando o Brasil desde 2008.

O dinamismo industrial que o Brasil perdeu nas últimas décadas –sob cerco da importação barata da Ásia teria que ser substituído por gigantesco esforço de inovação e redesenho fabril, a um custo que um país em desenvolvimento dificilmente poderia arcar.

O atraso na sua inserção nas grandes cadeias globais de fornecimento e tecnologia seria praticamente irreparável.

Exceto se tivesse em seu horizonte a exploração soberana, e o refino, das maiores jazidas de petróleo descobertas no século 21. Que farão do Brasil a maior fábrica de plataformas de petróleo do século XXI. Que já estão fazendo da ilha do Fundão, na URFJ, no Rio, um dos maiores centros de pesquisa tecnológica de energia do planeta.

É esse bilhete premiado que a agenda de Aécio omite olimpicamente: o trunfo que avaliza a possibilidade da reindustrialização, como resposta brasileira à crise.

O pré-sal não é uma panacéia, mas uma possibilidade.

Que já produz 400 mil barris/dia.

Em quatro anos, a Petrobras estará extraindo 1 milhão de barris/dia da Bacia de Campos.

Até 2017, a estatal vai investir US$ 237 bilhões; 62% em exploração e produção.

Dentro de quatro anos, os poços do pré-sal estarão produzindo um milhão de barris/dia. Em 2020, serão 2,1 milhões de barris/dia.

Praticamente dobrando da produção atual.

O pré-sal mudou o tamanho geopolítico do Brasil.

E pode mudar o destino do seu desenvolvimento.

Não é uma certeza, mas possibilidade histórica.

Os efeitos virtuosos desse salto no conjunto da economia brasileira exigem uma costura de determinação política.

Que a agenda eleitoral do PSDB renega e descarta.

Clique aqui para ler “Como Dudu e Cerra lêem o ‘programa’ do Aécio”.
E aqui para ler “Por que Aécio vacila tanto ? É Minas !”.

FONTE: escrito por Saul Leblon em editorial do site “Carta Maior”. Transcrito e comentado no portal “Conversa Afiada”  (http://www.conversaafiada.com.br/economia/2013/12/18/leblon-explica-por-que-o-aecio-omitiu-o-pre-sal/).

COMPLEMENTAÇÃO

AÉCIO QUER GOVERNAR UM BRASIL SEM PRÉ-SAL. É PORQUE VAMOS FICAR SEM ELE?
 


Por Fernando Brito

“Alertado pelo Saul Leblon, via ‘Conversa Afiada’ [texto acima], vamos descobrir que não há pré-sal no programa de governo divulgado por Aécio Neves.

O tucano, simplesmente, “sumiu” com as tarefas e efeitos da exploração de jazidas que, num cálculo pessimista, somam 40 bilhões de barris de petróleo recuperável.

Ou, a preços de hoje, quatro trilhões de dólares, ou dez trilhões de reais.

Como isso não é nenhum “trocado”, deve-se supor que não foi um simples esquecimento do mineiro.

Foi uma confissão ou, mais provavelmente, um ato falho.

As jazidas do pré-sal, nos seus planos, não integram um processo contínuo e sustentável de enriquecimento do país.

Serão, como foi o modelo de privatização de Fernando Henrique, uma maneira de fazer alguma caixinha para enfrentar as contas do mês, ou do ano.

O resto – e ponha resto nisso, a maior jazida de petróleo do século 21 – atenderá àquela máxima de “o petróleo é deles”.

Aécio incorporou-se definitivamente ao espírito de Serra.

Isto é: o “antiTiradentes”.

O vendilhão da Pátria e, com ela, o vendilhão do futuro dos seus e dos meus filhos e dos nossos netos.

Se disser que foi simples esquecimento, assinará o recibo de incapaz, porque esquecer da maior fonte de renda deste país nos próximos 40 anos é a maior confissão de incompetência para quem quer gerir um país que será a sexta maior reserva petrolífera do mundo.

E se confessar – num rasgo de sinceridade para o qual não tem sequer a capacidade rodrigueana da qual seu aliado histriônico Arnaldo Jabor vive se aproveitando, ao falar da ousadia dos canalhas – que pretende vender nosso petróleo, sairá escorraçado de qualquer lugar onde existam brasileiros que amem seu país.

Será que hoje, nos folguedos do anúncio de seu programa de Governo haverá um jornalista que lhe pergunte: “Mas senador Aécio, onde está o pré-sal no seu programa?”

Ou isso é assunto para tratar, como fez seu antecessor no posto de candidato do PSDB, José Serra, diretamente com os executivos das multinacionais do petróleo?

FONTE da complementação: escrito por Fernando Brito em seu blog “Tijolaço” (http://tijolaco.com.br/blog/?p=11675).

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