terça-feira, 24 de dezembro de 2013

“TOCAR FOGO EM SP”: meta do “conservadorismo” em 2014


“Haddad lidera reformas indispensáveis para tirar a cidade do caos. A velocidade dos ônibus já deu um salto de 45%. Mas o “dinheiro grosso” barra novos avanços.

Por Saul Leblon

A velocidade dos ônibus em São Paulo registrou um salto de 45% em 2013 (de 14,2 kms/h para 20,6 kms /h).

Três milhões de pessoas ganharam 38 minutos por dia fora das latas de sardinha, que agora pelo menos andam.

Embora a maioria ainda desperdice mais de duas horas diárias em deslocamentos pela cidade, é quase uma revolução quando se verifica a curva antecedente.

Ninguém pagou mais por isso: as tarifas estão congeladas desde junho sob a pressão de protestos legítimos liderados pelo “Movimento Passe Livre”.

Financiar a tarifa e modernizar o sistema com 150 km de corredores exclusivos (as faixas já passam de 290 km) , seria a tarefa do aumento progressivo do IPTU previsto pelo prefeito Fernando Haddad.

A coerência entre os meios e os fins é irretocável.

1/3 dos moradores mais pobres de SP não pagariam nada de IPTU em 2014; os demais, em média, contribuiriam com um adicional de R$ 15,00 ao mês. Os boletos dos mais ricos, naturalmente, transitariam acima da média.

O matrimônio de interesses expresso na aliança entre FIESP, PSDB e a toga [TJSP e STF] colérica implodiu esse reajuste.

Como Nero, eles querem ver São Paulo pegar fogo para culpar os adversários (os cristãos, no caso do imperador).

Em meio às labaredas, emergiria o palanque conservador como a escada Magirus que os reconduziria com segurança ao [Palácio] Bandeirantes e, quem sabe, ao Planalto.

O “dinheiro grosso” fornece a gasolina; o tucanato fino de Higienópolis entra com o maçarico.

‘Bum!’, diz a mídia obsequiosa que estampa a foto de Haddad com a legenda: “o culpado é o oxigênio”.

Depois de subtrair R$ 40 bilhões por ano do sistema público de saúde, ao extinguir a CPMF, eles não hesitam, agora, em usar o sofrimento da população como recheio do seu pastel de vento eleitoral.

É o de sempre, ataca Haddad: “a coalizão da casa-grande contra a senzala”.

Eles retrucam estalando o chicote da mídia.

A rede de ônibus da capital (linhas e fretados) transporta 68% das população e ocupa somente 8% das vias urbanas.

A frota de automóveis transporta 28% e ocupa cerca de 80% do espaço das vias.

A informação é da urbanista Raquel Rolnik, em artigo reproduzido no portal “Viomundo”.

A rigor, portanto, a mobilidade melhorou para a maioria dos habitantes da cidade, com uma redistribuição pontual do uso do espaço viário.

Mas a emissão conservadora atiça o fim de ano da classe média com bordão do caos no trânsito –por "culpa do privilégio concedido aos ônibus".

Na edição de sábado (21/12), o jornal “Folha de SP” estampa a manchete capciosa em seis colunas, no caderno “Cotidiano”: ‘Trânsito piora, e ônibus anda mais rápido’.

No manual de redação dos Frias, “trânsito” é sinônimo de “transporte individual”...

Há um traço comum entre esse entendimento do que seja interesse coletivo e individual e o belicismo conservador contra o programa ‘Mais Médicos’.

O programa subverteu a lógica protelatória e alocou médicos estrangeiros, cubanos em sua maioria, ali onde os profissionais locais não querem trabalhar: periferias conflagradas e socavões distantes.

Produz-se, assim, uma mudança instantânea na vida de 16 milhões de brasileiros até então desassistidos.

Quantos não morreriam à espera do longo amanhecer incremental preconizado pelo conservadorismo?

A dimensão estrutural desse antagonismo perpassa a luta pelo desenvolvimento brasileiro desde Getúlio.

Reformas de base ou a delegação do futuro da economia e do destino da sociedade aos mercados?

Em 1964, o pelourinho midiático, a FIESP e o tucanismo, na versão udenista, resolveram a pendência da forma sabida.

Meio século depois, São Paulo reproduz em ponto pequeno a mesma confluência de interesses que se reivindica o direito consuetudinário de tocar fogo no canavial e estalar o açoite para fazer a moenda girar.

Primeiro, a garapa; o resto a gente conversa depois.

Com a tigrada guardada nas senzalas.

Ou imobilizada em ônibus-jaula.

A gestão Haddad precisa modular o ‘timming’ de suas ações para discuti-las antes com a população.

Tem agora um inédito conselho de participação popular para isso.

Mas é indiscutível que o prefeito lidera hoje um conjunto de reformas imperativas, as reformas de base da São Paulo do século XXI.

Sem elas, a cidade afundará no destino que lhe reservou a elite brasileira branca e plutocrática: ser um exemplo de viabilidade de uma das mais iníquas versões do capitalismo no planeta.

Esse é o embate dos dias que correm na metrópole.

Diante dele, o silêncio de quem liderou os protestos de junho chega a ser desconcertante.

Mas não é inédito.

Há inúmeros antecedentes gravados na história com os predicados de cada época .

E nenhum deles é inocência.”

FONTE: escrito por Saul Leblon em editorial do site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/?/Editorial/Tocar-fogo-em-SP-meta-do-conservadorismo-em-2014/29865).

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