quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

NORMALIZAÇÃO DOS RESERVATÓRIOS REEQUILIBRA O MODELO DE TARIFAS DE ENERGIA MAIS BAIXAS


Por Fernando Brito

“Há muito noticiário – e é certo que haja – sobre os estragos materiais e sofrimentos humanos causados pelas chuvas no litoral brasileiro.

De fato, Rio de Janeiro e Espírito Santo, bem como a região mineira do Vale do Rio Doce, contígua aos capixabas, sofreram com os temporais.

Mas a chuva em outras regiões do país está produzindo um efeito que, ao contrário, é muito positivo para os brasileiros, e que não sai nos jornais.

Os reservatórios das hidrelétricas viraram o ano em situação melhor que a de 2013 e devem, nos próximos dois meses, atingir níveis suficientemente confortáveis para a geração de energia durante o período mais seco do ano [de 2014], embora previsões sobre chuva sejam sempre sujeitas a erros.

As usinas do Sul e do Sudeste já haviam chegado a níveis melhores no segundo semestre do ano, depois de um primeiro semestre muito abaixo do normal para a época do ano. Hoje, quase todas trabalham em padrões para ajustar a acumulação entre eles, com volumes de defluência (saída de água), maiores que os de afluência, deliberadamente.

O que mais preocupava era o Nordeste, onde os reservatórios do Rio São Francisco estavam perigosamente baixos até o final do mês de novembro. “Três Marias” e “Sobradinho”, que respondem juntas por 90% da água represada no Nordeste (embora “Três Marias” seja em Minas, é considerada integrante da bacia nordestina), andavam na faixa de 20% de sua capacidade.

O problema nem é a geração que essas represas têm em suas usinas, que não chega a representar nem 20% de toda eletricidade produzida pelas águas do São Francisco (cerca de 1450 megawatts), mas seu papel em regularizar a vazão e permitir a operação plena do parque gerador situado rio abaixo (Itaparica, Moxotó, as quatro unidades de Paulo Afonso e Xingó, que produzem juntas perto de 9 mil MW).

Em um mês, o nível das águas subiu 50% – o que representa 10% do volume total dos reservatórios, permitindo o mesmo também em Itaparica, que tem capacidade de reservação significativa, mas não pode operar mais que 30% dela, por conta das características topológicas. Outras, como Paulo Afonso 4 e Xingó, as mais potentes, operam “a fio d'água”, ou seja, sem capacidade significativa de armazenamento de água além da que move as turbinas.

Para você ter uma ideia concreta do que é isso: são mais 4,5 bilhões de litros d'água, ou duas vezes o volume da Baía da Guanabara.

“Sobradinho” está, nos últimos dias, conseguindo acumular três quartos da água que recebe sem prejudicar a operação das usinas a jusante. “Três Marias” está acumulando 40% da água que lhe aflui e isso deve aumentar ao longo da semana, com as chuvas previstas para o centro-sul de Minas, onde se formam as cabeceiras do “Velho Chico”.

Com isso, a geração térmica, mais cara – e cuja conta o Governo compensa para equiparar o preço, o que consumiu R$ 7 bilhões este ano – deve voltar ao que normalmente é nesta época: menos de 10% do total da energia do Sistema Integrado Nacional. Ela chegou perto de 30% nos momentos mais críticos.

A situação ainda não é sólida, mas a tendência é que evolua para perto da normalidade, depois de dois anos nos quais sempre esteve em níveis preocupantes.

E, aí, toda a discurseira sobre “os erros” do modelo que barateou as tarifas – calcada em argumentos que não se sustentam fora de uma situação emergencial – vai por terra.

Ou por água abaixo.

Aí, os “gênios do apagão” voltam para a obscuridade que merecem.”

FONTE: escrito por Fernando Brito em seu blog “Tijolaço”    (http://tijolaco.com.br/blog/?p=12115).

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