quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A UCRÂNIA E O RENASCIMENTO DA HISTÓRIA




Por Fábio de Oliveira Ribeiro

"Na década de 1990,  a imprensa anunciou exultante que a História havia acabado. Vários pseudointelectuais das redações dos jornalões brasileiros se renderam à tese de Francis Fukuyama, segundo a qual "o advento da Democracia Liberal ocidental seria o ponto final da evolução sociocultural humana e a forma final do governo humano."

A História, entretanto, seguiu seu curso. Na última década, os EUA, a maior Democracia Liberal ocidental segundo o autor nipo-americano, se transformou num Estado policial que vigia a totalidade das ligações telefônicas e das comunicações virtuais de seus cidadãos. Isso além de espionar de maneira sistemática países adversários e até governantes de potências aliadas.

Na última década, em decorrência da crise financeira, a participação dos EUA no PIB mundial declinou. E a China continuou crescendo até se transformar na maior potência industrial e comercial do planeta. O regime político chinês, entretanto, é autoritário e muito diferente da Democracia Liberal sugerida como ponto final da História por Fukuyama. Ironicamente, não foi a Democracia Liberal norte-americana que influenciou a China, mas o autoritarismo chinês que parece ter fornecido inspiração para os EUA construir seu próprio pesadelo orwelliano.

Encurradados entre a eficiência econômica do autoritarismo chinês e as ambições de hegemonia global da ex-Democracia Liberal norte-americana, os países da Europa seguem tentando preservar seus regimes democráticos. O declínio continuado do padrão de vida dos europeus, porém, parece estar corroendo sua esperança. O nacionalismo e a xenofobia ganham terreno e alimentam o crescimento de partidos políticos de estrema direita na França, Áustria, Grécia e alhures.

Semana passada, um novo capítulo da História supostamente finda foi escrito na Ucrânia. O governo pró-russo foi derrubado por uma coalizão de forças em que se destaca um partido nazista que espalha imensas fotos de Hitler pelo país. Seus militantes são organizados como as "Sturmabteilung"  nazistas e agem como as mesmas. Monumentos aos heróis ucranianos que combateram o III Reich estão sendo destruídos por todo o país. EUA e UE estão apoiando a nova europeização da Ucrânia, muito embora ninguém tenha entendido bem o que essa "europeização" significa.

A Rússia está em estado de alerta. Os russos construíram a infraestrutura petrolífera que existe na Ucrânia e dependem dela para exportar dois dos seus principais itens de exportação (petróleo o gás) para a UE. Se o novo regime ucraniano nacionalizar os oleodutos russos, a guerra será inevitável, pois a Rússia não pode aceitar ser transformada num refém do novo vizinho apoiado por UE e EUA. Se os EUA tentarem instalar bases de mísseis na Ucrânia, também haverá guerra, pois Moscou não aceitaria essa afronta (como não aceitou a construção de bases de mísseis da OTAN na Polônia).

O governo norte-americano alertou a Rússia para ficar fora da Ucrânia. Apesar de interferir direta ou indiretamente na política de vários países, a Casa Branca parece acreditar que seu sonho de domínio global inconteste não pode se transformar num pesadelo caso resolva confrontar abertamente a Rússia. Os russos não se curvaram diante das ambições de hegemonia global nazista no passado e nada indica que farão isto no presente ou no futuro por mais que o poder militar deles seja hoje inferior que o dos EUA.

De tudo que foi dito, podemos concluir que a tese do fim da História foi definitivamente enterrada. A Democracia Liberal não é mais o paradigma de organização política ocidental. O autoritarismo chinês inspirou o novo regime norte-americano que apóia nazistas na Ucrânia por causa de obscuras razões geopolíticas. Retornamos, enfim, àquele momento de gravidade e silêncio que precede um grande conflito europeu. A Guerra da Ucrânia ficará confinada àquele país ou se espalhará pelo globo? Qualquer que seja a resposta, apenas uma certeza já podemos ter. Estamos diante de um capítulo tardio daquela guerra que foi iniciada pelos nazistas alemães em 1939. Mas os nazistas agora serão os ucranianos e os norte-americanos."


FONTE: escrito por Fábio de Oliveira Ribeiro no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/a-ucrania-e-o-renascimento-da-historia).

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