quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

PSOL PREGA ALIANÇA COM BLACK BLOCS


Dirigente do PSOL prega aliança com Black Blocs




Secretário-geral do PSOL, Edilson Silva, defendeu, de forma entusiasmada a tática black bloc [que resultou na morte do fotógrafo da BAND], em texto publicado no site do partido, no ano passado; "Para quem pretende mudar o mundo de verdade, não deve parecer utópico ou ingênuo demais querer ver os movimentos e partidos da esquerda coerentes, como o PSOL, dialogando com a tática Black Bloc", defende Edilson; "Não parece que o conceito da tática Black Bloc seja algo retrógrado ou mesmo indesejável em essência e propósitos originais. É algo progressivo, politicamente moderno, trazido pelas mãos da dialética na história", diz ainda o texto, que foi retirado do ar. O partido tomou tal atitude diante da morte do cinegrafista Santiago Andrade, provocada por uma bomba que foi jogada por um integrante do grupo no Rio?
Do "Brasil 247"

Em artigo escrito pelo secretário-geral do PSOL, Edilson Silva, denominado "Tática Black Bloc. Condenar, conviver ou se aliar?", o partido defende uma aliança com o grupo de manifestantes encapuzados, que sempre provoca atos de vandalismo em protestos nos grandes centros do país. A ação violenta dos Black Blocs ocasionou, na última semana, a morte do cinegrafista Santiago Andrade. O texto é de outubro do ano passado e foi divulgado pelas redes sociais do PSOL, mas, estranhamente, foi retirado do ar no site do partido. No entanto, o "247" localizou o texto em outras páginas na internet.

"Para quem pretende mudar o mundo de verdade, não deve parecer utópico ou ingênuo demais querer ver os movimentos e partidos da esquerda coerentes, como o PSOL, dialogando com a tática Black Bloc, respeitando todas as táticas e o máximo possível as sensibilidades mais positivas da opinião pública e da consciência das massas, respeitando-a e sem capitular a ela, como defendia Lênin; ou disputando a hegemonia, como teorizava Gramsci, fazendo desta consciência social mais um aliado na construção de uma sociedade mais próxima da que precisamos. Talvez esteja aí o nosso desafio nesta questão da tática Black Bloc", diz o texto de Edilson Silva.

Ele diz ainda que "não parece que o conceito da tática Black Bloc seja algo retrógrado ou mesmo indesejável em essência e propósitos originais". "É algo progressivo, politicamente moderno, trazido pelas mãos da dialética na história. Se este fenômeno é mesmo a síntese de um processo histórico e do desenvolvimento das forças produtivas, creio estar descartada a hipótese da não convivência com ele", completa.

Abaixo o texto na íntegra:

"Um espectro ronda as maiores metrópoles brasileiras: a tática ou ação Black Bloc. “Decifra-me ou te devoro!”, parecem gritar blocos pretos, humanos, sem rosto, anônimos, que se lançam às ruas em ações diretas, radicalizadas. Fetiches se espalham sobre a tática: dizem que é incorreto escrever com B maiúsculo! Muitos se esforçam em tornar a compreensão da tática algo indecifrável, algo tão sofisticado que o pensamento político tradicional não pode alcançar. Puro exagero, mas que faz parte do inegável charme político da tática.

Em tese, as táticas Black Bloc dispõe-se a proteger manifestações da sociedade civil contra ações truculentas das forças do Estado. Dispõe-se a gerar prejuízo material a quem causa prejuízo ao bem público mais precioso – as pessoas - e é fácil perceber um forte conteúdo anticapitalista nos seus alvos. Seu diferencial mais saliente, e porque não dizer sedutor, é a coragem e o desprendimento com que se lançam diante da repressão estatal.

Na prática, infelizmente, muitas ações têm se confundido com iniciativas pouco politizadas, de mera depredação ou de descarga de adrenalina, quando não utilizadas mesmo pelas forças policiais para dispersar geral algumas manifestações, quando estas ações misturam-se com outras que se pretendem pacíficas. Para quem atua nos movimentos, não é incomum achar militantes de partidos da ordem misturados na tática, como se estivessem num playground, ou como se aquilo fosse o seu lado B, sem trocadilho.

O “Decifra-me ou te devoro!” vem impondo às forças de esquerda, de partidos e movimentos sociais “tradicionais”, a demanda por respostas concretas. Os conservadores, as forças de direita, já deram a sua resposta: criminalização pura e simples. Chama a polícia, bate, processa e enjaula. A tarefa não tem sido fácil porque a tática reage. E bate também.

Criminalizar, portanto, é diferente de condenação política, de reprovação do método ou da tática. Assim, as esquerdas estão se debatendo entre a reprovação política, a simples convivência ou tolerância e a aliança entusiasmada com a tática Black Bloc. De onde vejo, percebo argumentos esforçados nas três “grandes” posições. Mas nenhuma dessas posições, vistas assim panoramicamente e da forma simplista como estabeleço aqui, para facilitar a visualização da fronteira entre uma e outra posição, parece dar conta sozinha de uma resposta mais satisfatória numa perspectiva de reorganização de uma movimentação política pela esquerda e anticapitalista no Brasil.

Creio que uma questão preliminar é estabelecer que esta tática não é uma novidade em si. A novidade está nas condições objetivas encontradas no presente momento histórico e que permitem que esta tática ganhe uma força inédita. É fácil perceber quais são estas condições nos próprios posts de ativistas que reivindicam a tática Black Bloc.

A primeira é a revolta contra as condições de vida, no transporte, na saúde, na educação, na segurança, em contraste com os gastos absurdos e desnecessários com a Copa, por exemplo. Isto é um escárnio e revolta qualquer um. A segunda condição é uma sensação generalizada de impotência das ações políticas tradicionais na busca pela melhoria da situação, com a sociedade vendo a cooptação fácil de movimentos sociais vendidos, políticos e partidos se acomodando deliciosamente no poder e a situação social se deteriorando. A terceira condição - talvez a que permita o salto de qualidade no sentido de transformar esta indignação em ação -, é a existência de uma plataforma de comunicação (internet) que permite o somatório político das indignações individuais em um processo acelerado de desalienação política e a visualização de formas autônomas e acessíveis de se fazer algo no concreto e - muito importante - coletivamente, mesmo sem estar organizado em qualquer agrupamento estável e tendo seu anonimato preservado.

Feita esta preliminar, não nos parece que o conceito da tática Black Bloc seja algo retrógrado ou mesmo indesejável em essência e propósitos originais. É algo progressivo, politicamente moderno, trazido pelas mãos da dialética na história. Se este fenômeno é mesmo a síntese de um processo histórico e do desenvolvimento das forças produtivas, creio estar descartada a hipótese da não convivência com ele.

A tática existe e veio pra ficar, gostem ou não a direita, a esquerda e quem mais quiser dar palpites. “Nada mais forte que uma ideia cujo tempo chegou”, com afirmava Victor Hugo. É tempo de democracia participativa, de ação direta, de transparência, de atritos diretos entre o poder real e os despossuídos, sem as escaramuças de falsos representantes em uma esfarelada democracia de faz de conta. Quem mais deve estar preocupado com isto são os governos que já estavam acostumados com conflitos de resultados previsíveis.

Esta nova situação política, com novas condições objetivas e subjetivas, desafia os que militam, na esquerda socialista, com esquemas tradicionais e congelados – para não dizer antidialéticos. A reação diante da tática Black Bloc não pode ser a mesma do movimento socialista mais ortodoxo frente ao Maio Francês de 1968, por exemplo, como se a classe operária e seus sindicatos tivessem o monopólio do protagonismo na luta contra o regime do Capital e as demais manifestações devessem se sujeitar a um papel auxiliar, subalterno.

Por outro lado, não parece o mais correto o aplauso fácil e irresponsável à tática, tratando as suas fragilidades e portas abertas a todo tipo de oportunismo e infiltrações fascistas e policiais como um mero efeito colateral. Não perceber e não buscar evitar estas fragilidades é permitir que um fenômeno progressivo seja capturado pelo regime político que em essência busca combater, dando matéria-prima para justificar a ampliação da repressão estatal ao conjunto das forças e movimentos que questionam a ordem.

Para quem pretende mudar o mundo de verdade, não deve parecer utópico ou ingênuo demais querer ver os movimentos e partidos da esquerda coerentes, como o PSOL, dialogando com a tática Black Bloc, respeitando todas as táticas e o máximo possível as sensibilidades mais positivas da opinião pública e da consciência das massas, respeitando-a e sem capitular a ela, como defendia Lênin; ou disputando a hegemonia, como teorizava Gramsci, fazendo desta consciência social mais um aliado na construção de uma sociedade mais próxima da que precisamos. Talvez esteja aí o nosso desafio nesta questão da tática Black Bloc."

FONTE: jornal online "Brasil 247"  (http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/129910/Dirigente-do-Psol-prega-aliança-com-Black-Blocs.htm).

COMPLEMENTAÇÃO

Por Luis Nassif no jornal GGN

As consequências da morte do cinegrafista

Luis Nassif

"A morte do cinegrafista Santiago Andrade, à qual se somam mortes frequentes de torcedores de futebol, indica que é hora de uma atuação mais severa em relação às manifestações populares violentas, de Black Blocs e de torcidas organizadas.

As manifestações de junho passado foram respiros de cidadania, um mal estar difuso indicando o esgotamento do modelo institucional atual - tanto dos poderes públicos quanto da representação midiática. Foi um aviso relevante, devidamente captado por todos os setores responsáveis do país.

Infelizmente, não geraram ainda políticas continuadas de atendimento das demandas e de discussão de novos modelos.

Houve tentativas iniciais de instrumentalizar as manifestações. Todas fracassaram, de partidos políticos a veículos de mídia.

Passada a primeira etapa, difusa, as manifestações foram apossadas por grupos violentos, propondo quebradeira.

Em um primeiro momento, criaram impasses. Depois de abusos iniciais, as polícias estaduais não souberam mais separar manifestantes de vândalos, não sabiam quando agir com dureza, quando permitir o protesto.

Do lado da opinião pública, observou-se a aliança improvável entre grupos de ultraesquerda e setores da grande mídia, empenhados na batalha inglória de desmoralizar a Copa do Mundo.

Intelectuais irresponsáveis trataram de colocar lenha na fogueira, legitimando a violência sem colocar-se na reta, iludindo jovens seguidores e comprometendo sua vida adulta - com a possível criminalização de seus atos.

Agora, chega-se ao impasse.

O movimento Black Bloc chegou no limite da guerrilha urbana; as torcidas organizadas, no limite das organizações criminosas. Enquanto apenas limítrofes, continuarão a arregimentar jovens que não vêem diferença entre filmes de aventuras, a romatização da violência e as consequências na vida real. Entram na guerra como se fosse um game online.

Daí a necessidade de um corte, prévio, anunciado mas que defina de vez o que é manifestação popular e o que é crime. Ir para manifestações com rojões e armas de combate é crime. Quebrar lojas e aparelhos públicos é crime. E traz consequências.

Tem que ficar claro para os rapazes e para seus pais. Quem persistir na violência, está devidamente informado das consequências e será responsável por seus atos.

Que a morte de Santiago traga bom senso às manifestações sobre a Copa. As críticas aos gastos, às prioridades devem ficar no âmbito das instituições - Congresso, Ministério Público, mídia, organizações sociais.

A morte de Santiago traz um novo olhar da opinião pública sobre as tentativas de transformar as críticas em manifestações violentas de rua.

Nos últimos dias há uma troca incessante de acusações sobre as causas da morte de Santiago, de da mídia, se das redes sociais, se da animosidade entre jornalistas e blogueiros. Pouco importa. O mal está feito e vale o que acontecer daqui para diante.

Quem teimar em promover os conflitos responderá perante a opinião pública pelos novos Santiagos que quedarem vítimas dessa insânia."

FONTE: escrito pelo jornalista Luis Nassif em seu blog no jornal GGN  (http://jornalggn.com.br/noticia/as-consequencias-da-morte-do-cinegrafista).

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