segunda-feira, 31 de março de 2014

NOVAS INFORMAÇÕES SOBRE PASADENA



Mais informações inéditas sobre Pasadena


Por Miguel do Rosário

"O blog 'Cafezinho' teve acesso a mais dois documentos exclusivos (no Brasil) sobre a refinaria de Pasadena antes de ser comprada pela Astra.

O documento mais recente, de agosto de 2000, é um informe da "Golnoy Barge Company", empresa que detinha 14% das ações da refinaria de Pasadena, aos outros sócios minoritários.

O documento fala da preocupação dos sócios pequenos com a gestão de Henry Rosenberg, e seus dois filhos, à frente da refinaria. Eles estavam preocupados com uma operação financeira que Rosenberg tinha iniciado para ampliar sua participação acionária da refinaria e aumentar seu controle sobre ela.

O final da década de 90 tinha sido bem difícil para o negócio de refinaria. Em 1998, a "Crown Central" (nome antigo da refinaria de Pasadena) havia registrado fortes prejuízos, e ainda enfrentava inúmeros processos trabalhistas.

O segundo documento obtido por "Cafezinho" é um artigo publicado no "Oil Daily", onde se lê que o mercado desconfiava que Henry Rosenberg estava se preparando para vender a companhia. Até aí nada demais, a empresa era dele e ele podia vender quando quisesse. Acontece que ninguém confiava em Rosenberg, nem os sócios pequenos, muito menos os sindicatos.

A matéria informa que a "Crown" registrou prejuízo de 829,4 milhões de dólares em 1998. Segundo a matéria, parte desse prejuízo se devia ao boicote que os sindicatos vinham fazendo à empresa. Era uma campanha popular. Ninguém queria comprar a gasolina vendida nos postos da "Crown". A empresa, por sua vez, atribuía o prejuízo à situação do mercado, e lembrava que todas as empresas estavam amargando prejuízo aquele ano, o que era verdade.

O caso de Pasadena, contudo, era mais grave porque Rosenberg, dono da empresa, enfrentava um grave problema de crédito na praça. E não estava conseguindo renegociá-lo junto aos bancos.

No documento de agosto de 2000, da "Golnoy Barge Company", contudo, somos informados que o mercado de refinaria se recuperou vigorosamente a partir do início da nova década. O faturamento líquido (EBITDALL) da "Crown" nos primeiros seis meses de 2000 totaliza US$ 66,6 milhões. O lucro líquido no primeiro semestre de 2000 atingiu US$ 5,6 milhões, comparado ao prejuízo de US$ 22 milhões no mesmo período de 1999.

Entretanto, os sócios pequenos da refinaria dão duas informações que serão fundamentais para a gente entender o preço pago pela "Astra" em 2005.

A "Crown" tinha promissórias junto a seus acionistas pelas quais “qualquer um que quisesse adquirir a 'Crown Central' deveria estar preparado para refinanciar o débito de US$ 125 milhões”.

Isso em 2000! Em 2005, esse débito teria subido para US$ 200 milhões, como eu disse em outro post. A diferença é que essa fonte agora é mais oficial ainda. É um documento dos próprios sócios da "Crown".

A outra informação importante é sobre os estoques da "Crown". A mídia vem repetindo que a "Astra" comprou a refinaria por US$ 42,5 milhões. Mentira. A "Astra" começou a trabalhar junto à "Crown" em 2004. Pagou suas dívidas, comprou seus estoques, e só então adquiriu as ações da refinaria por US$ 42,5 milhões.
O documento da "Golnoy" nos dá uma ideia do valor dos estoques da "Crown" no ano 2000. Os sócios achavam que esses podiam ser US$ 83 milhões maiores do que o informado oficialmente pela empresa. Portanto, o valor dos estoques, no ano 2000, era um "valor X mais US$ 83 milhões". Quanto valiam? US$ 100, 300, 500 milhões? A refinaria tinha capacidade para estocar mais de 6 milhões de barris, portanto o valor desses estoques poderia até ultrapassar US$ 1 bilhão.

Por que Pasadena tinha uma capacidade tão grande de estoque? A resposta é fácil. A volatilidade alucinante das cotações do petróleo e seus derivados, fazem com que seja estratégico, para uma refinaria, ter boa capacidade de estoque, para ordenar a oferta e evitar vender em momento inadequado.

Na sexta-feira, o jornal "Valor" confirmou uma informação que eu já detectei em vários documentos, inclusive no relatório da "Astra".

Conforme o acordo de acionistas, ao qual o 'Valor' teve acesso, o prêmio de 20% valeria tanto para os 50% restantes do ativo refinaria, avaliado em março de 2006 por US$ 378 milhões, como para a 'trading', que tinha preço de referência inicial de US$ 300 milhões, que era o “capital comprometido” pela Astra no negócio até a assinatura do acordo.

A Petrobrás não adquiriu somente a refinaria de Pasadena. Ela comprou também a "Astra Trading", que era o braço comercial da refinaria montado pela "Astra" quando a assumiu. Essa trading tinha recebido US$ 300 milhões da "Astra". Não está claro se esse valor já embute os estoques. E não se sabe exatamente a dívida herdada pela "Astra" quando assumiu o controle da refinaria. O que se tem certeza é que havia uma dívida de US$ 125 milhões em 2000 e, segundo a "Jefferies", US$ 200 milhões em 2003. Como os americanos nunca pagam uma dívida de uma vez, pois os juros lá são muito baixos e todos apenas rolam seus débitos, indefinidamente, é certo que esses deveriam continuar na casa dos oito dígitos quando houve a compra pela "Astra".

Portanto, a "Astra", quando adquiriu Pasadena, investiu US$ 42,5 milhões pelo controle acionário, assumiu uma dívida milionária, mobilizou US$ 300 milhões, comprou estoques, e ainda fez investimentos de quase US$ 100 milhões para modernizar a refinaria. Os documentos da Astra deixam bem claro que a venda decorreu de um “processo”, cujos detalhes jamais foram revelados.

Não sei se houve, como dizem os paulistas, alguma treta em algum momento do negócio. Talvez. Mas pode haver treta na Abreu Lima, no porto de Suape, no Comperj, em qualquer negócio da Petrobrás em qualquer lugar do mundo. O ser humano, infelizmente, é corrompível por natureza.

O importante a saber aqui é que essa disparidade absurda de valores com que a mídia tenta impressionar o cidadão comum não existe. A refinaria de Pasadena sempre valeu um bocado de dinheiro, sempre esteve operante, e possivelmente se revele com o tempo uma excelente aquisição para a Petrobrás.

Outra coisa que é preciso deixar claro é que as cláusulas "Put Option" e, sobretudo, a "Marlim", existiram porque a Petrobrás também tinha suas prerrogativas. Também haviam cláusulas a favor da Petrobrás: a estatal podia “forçar investimentos”, ou seja, podia fazer o que quisesse ali dentro.

Lembro-me que o ex-presidente Lula, certa vez, ensinou que um bom negócio é o chamado “ganha-ganha”. Um ganha e o outro pensa que ganha. Acho que foi exatamente o que aconteceu aqui. A "Astra" pensou que fez um bom negócio, mas quem agora possui uma refinaria no coração dos EUA é a Petrobrás!"

FONTE: escrito pelo jornalista Miguel do Rosário. Postado no blog "Tijolaço"  (http://tijolaco.com.br/blog/?p=16024).

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