terça-feira, 25 de março de 2014

SEDIÇÃO "MADE IN USA" NA VENEZUELA




Instrumentos "made in USA" da sedição na Venezuela

"Se há uma pergunta que está ociosa – e até ridícula! –, em relação à situação dominante na Venezuela, é aquela que se interroga se os Estados Unidos estão desempenhando ou não um papel nos motins e distúrbios violentos promovidos por um setor da oposição que transitou desde o protesto pacífico até a revolta, entendida essa como toda ação que pretende mudar por via violenta a ordem constitucional e as autoridades legalmente estabelecidas no país.

Por Atilio Borón*, na "Adital"


Através do férreo controle da imprensa gráfica, radiofônica e televisiva, a direita vernácula e o imperialismo denunciam o governo bolivariano por acusar a oposição de reprimir manifestações "pacíficas”, coisa que só foi feita depois de as forças de segurança do Estado tolerarem toda sorte de agressores, de fato e de palavra. Além de que os rebeldes foram lançados "pacificamente” a incendiar prédios governamentais, meios de transporte ou a destruir de centros de saúde, escolas ou qualquer propriedade pública.

A questão é ociosa, porque a ingerência dos Estados Unidos na Venezuela obedece à própria lógica do império: dado que Washington exerce um poder global, planetário, apesar de declinante, seria absurdo pensar que permaneceria de braços cruzados em um país que hoje conta com a maior reserva petroleira (comprovada por fontes independentes) do planeta, superiores às da Arábia Saudita e situada a poucos dias de navegação de seu grande centro receptor de petróleo importado, Houston.

Os Estados Unidos se envolvem permanentemente em todos os países, com variável intensidade segundo sua significação geopolítica global. Como a Venezuela tem importância excepcional nesse item, não é coincidência que a Casa Branca tivesse exercido permanente vigilância e influência ao longo de todo o século 20, para assegurar que a riqueza petroleira fosse exportada pelas empresas apropriadas; que depois do "Caracazo", intensificasse sua interferência diante da certeza de que a velha ordem da Quarta República foi desmoronando; e que, com a chegada de Hugo Chávez Frias no governo, conspirasse ativamente para derrubá-lo, primeiro promovendo e reconhecendo de imediato o golpe de 11 de abril de 2002 e, ao fracassar esse, impulsionando o "golpe petroleiro” de dezembro de 2002 a março de 2003.

Frustrados nessa nova tentativa e derrotados no seu projeto continental, a ALCA, em Mar del Plata, precisamente dirigido por Chávez Frías, os Estados Unidos trataram por todos os meios de acabar com Chávez e o chavismo. Mas nada disso resultou no que queria o império, e sua intromissão nos assuntos internos de países terceiros segue seu curso. Quem tem dúvidas consulte os dados postados pelo "Wikileaks" ou as revelações de Edward Snowden sobre a espionagem de nível planetário, sobre aliados e inimigos, por igual, praticada pela NSA, a Agência de Segurança 
Nacional .

Para intervir nesses países, os Estados Unidos contam com grande número de agências e instituições: algumas públicas, outras semipúblicas e muitas de caráter privado, mas sempre articuladas com as prioridades de Washington. A CIA é a mais conhecida, mas está longe de ser a única. O "Fundo Nacional para a Democracia" (National Endowment for Democracy, o NED) é um de seus principais aríetes nessa campanha mundial. O NED é um "desestabilizador invisível”, como denomina um expert no tema, Kim Scipes, da Universidade Purdue.

Em um artigo recente, este autor demonstra que, embora o NED queira se passar por "independente”, foi criado pelo Congresso dos Estados Unidos durante a presidência de Ronald Reagan (não precisamente um democrata!), e graças a um pedido especial do tão arqui-reacionário presidente.

Conta para seu funcionamento com avolumados fundos públicos aprovados pelo Congresso e, entre os membros passados e presentes de seu diretório, sobressaem os nomes de algumas das principais figuras do 'establishment 'conservador dos Estados Unidos: Henry Kissinger (segundo Noam Chomsky, o principal criminoso de guerra do mundo); Madeleine Albright; Zbigniew Brzezinski; Frank Carlucci (ex-diretor adjunto da CIA); Paul Wolfowitz; o senador John McCain; o inefável Francis Fukuyama e outros falcões da direita norte-americana.

Um de seus primeiros diretores, Allen Weinstein, da Universidade Georgetown, admitiu em um artigo publicado no "Washington Post", em 22 de setembro de 1991, que "muito do que hoje fazemos foi feito veladamente pela CIA há 25 anos(1). 


O NED opera através de seu núcleo central e de uma rede de institutos, vários dos quais estiveram atuando intensamente na Venezuela desde 1997, quando a maré chavista aparecia já como inexorável. Os principais são o "Instituto Republicano Internacional" (dirigido por McCain); o "Instituto Nacional Democrata para Assuntos Internacionais" (dirigido por Albright); o "Centro da Empresa Privada Internacional", manejado pela "Câmara de Comércio dos Estados Unidos"; e o "Centro Estadunidense para a Solidariedade Operária Internacional", manejado pela AFL-CIO.

No Relatório Anual do NED correspondente a 2012, que é o último disponível, revela-se que, tão somente neste ano, o NED destinou 1.338.331 dólares a organizações e projetos na Venezuela, em questões como responsabilidade governamental, educação cívica, ideias e valores democráticos, liberdade de informação, direitos humanos e outros do estilo.

Mas, além disso, no mesmo ano foram atribuídos 465.000 dólares para reforçar o movimento trabalhador na América Latina, enquanto que o "Instituto Republicano Internacional" contribuiu com 645.000 dólares e o "Instituto Nacional Democrata para Assuntos Internacionais" entrou com outros 750.000 dólares. Estamos falando de somas oficialmente registradas colocadas pelo NED.

Isso é a ponta do iceberg, se levarmos em conta os subsídios por debaixo da mesa feitos pela CIA, a NSA, DEA e tantas outras agências públicas, sem falar daqueles do mundo privado, como por exemplo a "Fundação Sociedade Aberta de George Soros", ou o "Diálogo Interamericano", que também canalizam fundos e oferecem assistência técnica para "fortalecer a sociedade civil na Venezuela”, isto é, para organizar e financiar a oposição antichavista, inventando um Capriles ou um López nesse país, ou um Maurício Rodas, recentemente no Equador.

Um cálculo feito por Eva Golinger, advogada e especialista na relação EUA-Venezuela, afirma que, desde 2002, os EUA transferiram, por suas diversas agências e instituições, "promotoras da democracia e da sociedade civil”, mais de 100 milhões de dólares para apoiar as atividades da oposição ao governo bolivariano.

Tudo isso não só em violação à legislação vigente na Venezuela, mas também àquela que Estados Unidos têm em seu próprio território, onde está absolutamente proibido que organizações de países terceiros financiem partidos ou candidatos nas eleições que ocorrem nesse país. Mas a mentira e o duplo discurso são dispositivos essenciais para a sustentação do império. Isso foi antecipadamente advertido por Simón Bolívar, que, com sua excepcional clarividência, sentenciou que 'nos dominam mais pela ignorância do que pela força'."

FONTE: escrito por Atilio Borón, diretor do Programa Latino-Americano de Educação à Distância em Ciências Sociais (PLED), Buenos Aires, Argentina. Recebeu o prêmio "Libertador al Pensamiento Crítico 2013". Artigo transcrito no portal "Vermelho" (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=238442&id_secao=7).

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