domingo, 25 de maio de 2014

BAIXOU A BOLA DOS "GASTOS ABSURDOS COM A COPA DO MUNDO"




Quando se cai na real, a conversa sobre a Copa é outra

Por Fernando Brito

"Com anos de atraso, a 'Folha' publicou sexta-feira um levantamento feito pelos repórteres Gustavo Patu, Dimmi Amora e Filipe Coutinho que, como se diz nas conversas informais, “baixa a bola” dos “gastos absurdos com a Copa do Mundo”.

É o que dá ter raros momentos de jornalismo correto na mídia brasileira, porque não é nenhum “furo”, mas apenas a compilação de dados que são e sempre foram públicos.

A começar pela abertura do texto escrito pelos três repórteres:

"Mesmo mais altos hoje do que o previsto inicialmente, os investimentos para a Copa representam parcela diminuta dos orçamentos públicos".

Alvos frequentes das manifestações de rua, os gastos e os empréstimos do governo federal, dos Estados e das prefeituras com a Copa somam R$ 25,8 bilhões, segundo as previsões oficiais.

O valor equivale a, por exemplo, 9% das despesas públicas anuais em educação, de R$ 280 bilhões.

Em outras palavras, é o suficiente para custear, aproximadamente, um mês de gastos públicos com a área.

E eles próprios se encarregam de dizer que nem sequer é assim, porque esses gastos diluíram-se pelos últimos sete anos e, sobretudo, porque uma parte ( a maior parcela, 32%) é feita com financiamentos de bancos públicos (quase toda do BNDES) e vai retornar.

Adiante falarei dela.

Bem, do gráfico publicado, conclui-se que o Governo Federal gastou R$ 5,8 bilhões diretamente com a Copa: R$ 2,7 bilhões na modernização e ampliação dos aeroportos, R$ 1,9 
bilhões em segurança pública – quase tudo equipando, a fundo perdido, as polícias estaduais -, R$ 600 milhões em portos, R$ 400 milhões em telecomunicações e R$ 200 milhões em gastos diversos.

Aeroportos e portos, além de serem serviços públicos essenciais ao desenvolvimento econômico, geram receitas de tarifas e concessões.

Nenhum tostão, como você vê, em estádios.

Do dinheiro dos estádios, um total de R$ 8 bilhões, perto da metade veio de financiamentos federais, através do BNDES, de duas formas: debêntures e empréstimos.

Debêntures são “letras” financeiras e, no caso do estádio, seus tomadores pagam 6,2%% de juros mais a inflação do período.

No caso dos empréstimos, os tomadores, além de oferecer garantias, têm de pagar TJLP (taxa de juros de longo prazo), que de 2009 para cá variou entre 6,25% e 5%, mais 1,4% (taxa BNDES + intermediação financeira), mais risco de crédito (até 4,18%), além da taxa que o tomador pagará para o banco operar o crédito. No total, portanto, pagam juros muito semelhantes (em geral um pouco maiores, em alguns momentos frações de centésimo menores) que a taxa de juros com que o Governo capta dinheiro no mercado.

Isso quer dizer que não houve empréstimo subsidiado pelo Governo Federal?

Sim, houve, maiores. E continuam existindo, independentemente de Copa.

São os recursos para obras de mobilidade urbana que, só nos empreendimentos ligados à Copa, receberam R$ 4,4 bilhões.

Como é isso: o BNDES financia contratando TJLP + 2% no caso de o empréstimo ser tomado por Estados e Municípios ou por TJLP + 1% + risco de crédito de até 4,18% no caso do financiamento ser feito por empresa privada.

Convenhamos que é uma forma muito mais adequada de o banco usar seus recursos em favor da população do que, como fez em 2002 [FHC/PSDB], aplicar R$ 281 milhões (R$ 1 bilhão, hoje, corrigidos pela taxa SELIC) na "Net", então propriedade dos Marinho ["GLOBO"] (a família mais rica do Brasil), que estava enforcada de dívidas.

No caso dos Estados e Municípios, a grande maioria, boa parte dos gastos vem das contrapartidas locais para obras de mobilidade (R$ 2,4 bilhões, ou 41%) e os restantes R$ 3,3 bilhões em gastos diretamente com obras dos estádios e com as do seu entorno (ruas, praças, pátios, passarelas).

Os números insuspeitos publicados pela "Folha" vêm na mesma linha daquilo que ontem se comentou aqui.

Tirando os gastos imprevistos de três governos estaduais (Sérgio Cabral , com o 'Maracanã', Agnelo Queiroz, com o 'Mané Garrinha' e Aécio Neves-Anastasia como 'Mineirão', que começou as obras ainda na gestão do atual candidato do PSDB à Presidência), os outros dois estádios que custaram muito mais do que o inicialmente previsto, o 'Beira-Rio' e o 'Itaquerão', foram tocados pela iniciativa privada.

Há uma hidrofobia de direita implantada na mídia e em parte da classe média que eclipsa qualquer capacidade de exame racional dos fatos.

Se eu fosse um obtuso irracional, que não reconhecesse o direito de uma categoria profissional essencialíssima, como a dos professores, poderia dizer que se gastou muito mais, que aquele “um mês” de Educação que a Copa custou, com as greves e paralisações (em geral, justas) do magistério.

E isso seria uma apelação, porque eu estaria colocando nos direitos dos professores a “culpa” das nossas históricas carências no setor.

Colocar na Copa a “culpa” pelos problemas da educação, da saúde, da assistência social, da habitação é, igualmente, uma estupidez.

Que só tem um fundamento, embora a maioria dos que fazem isso não o percebam: as eleições."


FONTE: escrito por Fernando Brito em seu blog "Tijolaço"  (http://tijolaco.com.br/blog/?p=17602).

3 comentários:

  1. Esse jornal tem que ser responsabilizado. Cometeu crime contra a ordem pública. Levou inquietação, insegurança e revolta à população. Tem que responder criminalmente por ter mentido e manipulado, intencionalmente, a verdade.

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  2. Jandyra,
    Você está correta. Contudo, o Brasil carece de legislação que permita termos imprensa isenta e responsável e punir os infratores.
    Maria Tereza

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    1. Como vocês vêem jornal e jornalistas brasileiros são todos iguais viva (democracia)

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