terça-feira, 20 de maio de 2014

BREVE HISTÓRIA DA ESPANHA




A Guerra Civil Espanhola e a conduta sórdida da Inglaterra

Por Percival Maricato

"A Guerra Civil Espanhola foi um dos episódios mais tristes do século XX. O resultado foi em parte devido ao passado trágico e truculento do país. A Espanha foi dominada desde séculos antes de Cristo por cartagineses e romanos, depois por vândalos e visigodos, adentrando a Idade Média, por mouros, finalmente por monarcas católicos que estimularam a inquisição e a exploração predatória de colônias americanas, o extermínio de índios, a fuga e a expropriação de judeus, logo depois foi ocupada militarmente por Napoleão Bonaparte e após, submetida economicamente, pela Inglaterra. 


Internamente, foi se formando uma sociedade conservadora, conformista, estratificada e atrasada, de exploradores e explorados, com uma elite medíocre e autoritária e um povo temente a Deus e seus “ministros” na Terra. Estes inclusive controlavam totalmente a educação.

Com a queda da monarquia e advento da República no século XX, houve uma leve esperança de democratização e modernização da sociedade e maior justiça social. Foi um sonho que durou muito pouco.

Em 1936, o general Franco, reagindo a tentativas de reforma agrária, autonomia de povos que viviam no país (catalães, bascos), liberdade sindical e outras conquistas dos trabalhadores, redução do poder do clero sobre a educação, entre outras, iniciou um golpe militar levantando as tropas acantonadas no norte da África. Logo, foi acompanhado por outros generais e por forças políticas e sociais: latifundiários, monarquistas, aristocratas em geral, fascistas, o poderoso clero e seus seguidores, entre outros.

O governo então eleito reunia republicanos (centro democrático), socialistas, comunistas, partidos regionais e outras forças menores. Apesar de preparado há anos, o golpe não se alastrou como imaginado pelos golpistas e muitas tropas, inclusive generais, ficaram ao lado da República. Houvesse apenas uma luta interna, essa última venceria. Melhor ainda, se os países que viviam regimes democráticos a apoiassem, como seria de se esperar, pois tinha um governo legítimo, democrático, eleito, pedindo solidariedade contra um golpe militar e de tendência fascista declarada. No entanto, aconteceria um fato inesperado: o governo eleito é que seria isolado.

Vivia-se uma conjuntura internacional delicada. O governo francês, então sob controle de uma Frente Popular, até que tentou ajudar, mas foi logo impedido pelo da Inglaterra, seu aliado, para quem a guerra civil que se iniciava era um “problema interno” e deveria ser resolvido pelos espanhóis. Deveria se evitar o risco de que o conflito se alastrasse, diziam os lordes ingleses (mesma linha seguida nos anos seguintes, nas concessões a Hitler, com clara inspiração ideológica). Sob patrocínio da aristocracia inglesa, foi formada uma organização representando 27 países para garantir a neutralidade de todos e que nenhum vendesse armas aos beligerantes.

Tratou-se de uma das maiores farsas da história, pois Hitler e Mussolini, fundadores dessa organização, enviavam divisões completas a armadas até os dentes para dentro da Espanha, e Portugal permitia o uso de seu território para a reunião, planejamento, treinamento de milícias paramilitares, para as forças golpistas. De outro lado, a França ficava neutra e portanto paralisada e a Inglaterra fingia neutralidade. Tornando-se pública a falsidade da iniciativa inglesa, coube à URSS e ao México tentarem ajudar a República, mas esse auxílio, que tinha que cruzar grandes distâncias, não podia se comparar ao que faziam os nazistas e fascistas, muito mais próximos.

A hipocrisia ia mais longe. Bancos franceses e ingleses aceitaram operar com ouro do banco central da Espanha e transacionarem a venda de alimentos e matérias-primas que a República precisava desesperadamente, cobrando preços extorsivos e pagamentos antecipados. Standard Oil, Altantic, Shell, Texaco e outras empresas anglo-americanas vendiam combustível à vontade aos fascistas, a crédito de longo prazo.

Os espanhóis receberam o reforço de cerca de 40 mil voluntários das Brigadas Internacionais, mas esses chegavam sem armamento ou treinamento, ao contrário de mais de 180 mil italianos e mouros que já chegavam treinados, armados, organizados militarmente, ou da Legião Condor, enviada por Hitler com aviões, tanques etc.

A luta se tornou desproporcional e tornou-se épica a forma como, sem armas decentes, com escassos aviões e tanques, ínfimo apoio internacional, as forças da República resistiram por três anos. Foi uma lição que merece ficar com destaque na história do valor do ser humano, do idealismo, algo como seria Stalingrado.


cidade espanhola de Guernica

Tão logo os fascistas tomaram Madri, ainda nem tinham acabado de fuzilar os milhares de apoiadores da República e a Inglaterra já reconhecia o regime e se prontificava a ajudá-lo. Afinal, estava afastada a “ameaça bolchevique”. Com a vitória, Franco ficaria décadas no poder, a Espanha continuaria um dos países mais atrasados da Europa, Hitler e Mussolini se sentiriam estimulados a seguirem em frente. Durante a segunda guerra, Franco permitiu a organização da "divisão azul", enviada para lutar contra os aliados e causa de atrocidades que nada ficaram devendo as SS."


Franco e Hitler, em 23/10/1940

FONTE: escrito por Percival Maricato no "Jornal GGN"  (http://jornalggn.com.br/noticia/a-guerra-civil-espanhola-e-a-conduta-sordida-da-inglaterra-por-percival-maricato). [Título e imagens do google adicionados por este blog 'democracia&política'].

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