terça-feira, 27 de maio de 2014

O AUMENTO DO PODER GLOBAL DA RÚSSIA


Vladímir Pútin, presidente da Rússia, em visita à China


"Há dois propósitos principais na propaganda ocidental sobre os acontecimentos atuais na Ucrânia:

Primeiro, encobrir, ou pelo menos disfarçar, o papel fundamental que os EUA tiveram na derrubada do governo democraticamente eleito da Ucrânia.

Segundo, demonizar ao máximo a Rússia.

Por Paul Craig Roberts
, no "Strategic Culture" (EUA)

Sabe-se a verdade, mas a verdade não faz parte nem importa para a TV ocidental, ou para a imprensa-empresa impressa. Um telefonema interceptado de uma conversa entre a Secretária Assistente de Estado dos EUA Victoria Nuland e o embaixador dos Estados Unidos para a Ucrânia, Geoffrey Pyatt, revela o teor da discussão entre os dois golpistas em relação a quem seria instalado como “pessoa de confiança”, a marionete dos EUA, no novo governo fantoche.

Outra interceptação telefônica, dessa vez entre o Ministro do Exterior da Estônia, Urmas Paet e a funcionária de política externa dos Estados Unidos (atuando como MRE da União Europeia), Catherine Ashton, põe a nu as suspeitas, posteriormente confirmadas, de que os atiradores que alvejaram e mataram pessoas no conflito em Kiev vieram do lado apoiado pelos EUA no conflito.

Resumindo: depois de 2004, quando os EUA orquestraram a “Revolução Laranja”, que deveria entregar nas mãos do ocidente a Ucrânia, mas falhou, Washington, de acordo com Victoria Nuland, gastou nos seguintes dez anos, cerca de US$ 5 bilhões na Ucrânia.

O numerário foi entregue a políticos que os EUA prepararam com cuidado e a Organizações Não Governamentais (ONG) que operavam de fachada como instituições "educacionais", "pró-democracia" e "de Direitos Humanos", mas na realidade eram quintas-colunas dos EUA na Ucrânia.

Quando, depois de analisar os custos e benefícios, o presidente Ianukovitch rejeitou o convite para aderir à União Europeia, Washington enviou suas bem financiadas ONG e as colocou em ação. Brotaram protestos em Kiev, exigindo que o presidente mudasse de opinião e unisse a Ucrânia à UE. Os protestos, inicialmente pacíficos, rapidamente se tornaram violentos com a adesão de ultranacionalistas e neonazistas aos manifestantes. O mote do protesto também mudou; passou de “adesão à União Europeia” para “derrubar Ianukovitch e seu governo”.


O que se seguiu foi o caos político total. Um governo fantoche foi instalado por Washington, que o considerava como uma "força democrática contra a corrupção". Entretanto, os ultranacionalistas e neonazistas, como os do "Pravy Sektor" ("Setor Direita"), começaram a intimidar os fantoches instalados pelos EUA no poder. Na tentativa de responder à ameaça, os títeres idiotas de Washington começaram a ameaçar a população ucraniana de nacionalidade e de língua russa.

Historicamente, se sabe que as áreas do sul e do leste ucraniano sempre fizeram parte do território russo e foram incorporadas à Ucrânia por líderes soviéticos. No início da União Soviética, Lenin integralizou para a Ucrânia essas áreas e Khruchov fez a incorporação da Crimeia à Ucrânia em 1954.

A população dessas áreas, alarmada pela destruição de monumentos de guerra soviéticos erguidos em comemoração à liberação da Ucrânia das garras nazistas pelo exército vermelho, pela proibição do uso do russo como língua oficial e pelas agressões físicas às pessoas de língua russa na Ucrânia, explodiu por sua vez em protestos.

O povo da Crimeia votou pela sua própria independência, pedindo e obtendo a reunificação com a Rússia, mesmo anelo das regiões de Donetsk e Lugansk.

Washington e seus fantoches, assim como a mídia ocidental, negaram que as votações realizadas na Crimeia, em Donetsk e Lugansk tenham sido sinceras e espontâneas. Em vez disso, Washington alegou que os protestos que levaram às votações e mesmo essas, teriam sido orquestrados pelo governo russo através de ameaças, subornos e coerção. Já o caso da Crimeia foi descrito como simples invasão e anexação pela Rússia.

São mentiras deslavadas e os observadores estrangeiros que fiscalizaram o desenrolar das eleições sabem disso, mas não têm voz na imprensa-empresa ocidental que não passa de um ministério menor para os EUA. Até a britânica BBC, antes orgulhosa de sua coragem, agora mente por Washington.

Washington teve pleno sucesso em controlar a explicação da “crise ucraniana”. A população na Crimeia, Donetsk e Lugansk, unidas em torno de seu ideal, foi taxada de “terroristas”.

Em contraste, os neonazistas ucranianos foram elevados à condição de "membros de uma coalizão democrática”. Ainda mais surpreendente, os neonazistas são descritos na imprensa-empresa ocidental como os “libertadores” das regiões em protesto das mãos dos “terroristas”.

As milícias neonazistas provavelmente transformar-se-ão no novo exército do governo fantoche da Ucrânia, subserviente aos EUA, já que muitas unidades do real exército ucraniano se recusa a disparar contra manifestantes pacíficos.

A questão agora é saber como o líder russo, presidente Vladimir Putin, reagirá aos acontecimentos e jogará essa partida. Sua hesitação e relutância em aceitar Donetsk e Lugansk como parte da Rússia novamente, serão usadas pela imprensa ocidental para apresentá-lo como um líder enfraquecido e amedrontado. Na Rússia, o argumento pode ser usado contra Putin pelas ONG fundadas e patrocinadas por Washington e por nacionalistas russos.

Putin sabe disso. Mas também tem consciência de que os EUA querem que ele confirme a imagem demonizada que a mídia ocidental tenta lhe impingir. Se Putin aceitar o pedido de Donetsk e Lugansk de voltar a pertencer à Rússia, Washington repetirá ad nauseam a alegação de que a Rússia invadiu e anexou, mais uma vez. O mais provável é que Putin não esteja nem amedrontado nem enfraquecido, mas tem boas razões para não querer dar à Washington mais motivos de propaganda para ser utilizada na Europa.

A pressão de Washington por mais sanções contra a Rússia tem um obstáculo na Alemanha. A chanceler germânica, Angela Merkel, é uma vassala servil de Washington, mas o Ministro do Exterior alemão, Frank Walter Steinmeier e o complexo industrial alemão não vêem com bons olhos as sanções.

Acrescente-se que a Alemanha depende visceralmente do gás natural da Rússia, centenas de companhias alemãs têm negócios em andamento na Rússia e o emprego de muitas centenas de cidadãos da Alemanha depende de relações econômicas com a Rússia.

Antigos chanceleres da Alemanha, como Helmut Schmidt e Gerhard Schröder, têm discordado violentamente de Merkel pela sua subserviência aos EUA. Merkel se encontra em posição muito fraca, pela sua estúpida decisão de colocar os interesses de Washington acima dos interesses da Alemanha.

Acontece que Putin tem demonstrado não ser como os políticos burros do ocidente e vê no conflito, entre a pressão de Washington sobre a Alemanha e os reais interesses desta, uma oportunidade de dobrar a OTAN e a União Europeia. Caso a Alemanha decida, como Ianukovitch fez, que seu interesse está em ter boas relações com a Rússia e não em ser mais um fantoche para os EUA, será que Washington é capaz de derrubar o governo alemão para colocar uma marionete mais confiável?

Talvez a Alemanha já tenha tido o suficiente de Washington. Passados 69 anos da Segunda Guerra Mundial e ainda ocupada por tropas norte americanas, a Alemanha teve seu sistema educacional, sua história, sua política externa e sua adesão como membro da União Europeia e do mecanismo do Euro manipulados de maneira coercitiva pelos EUA. Caso a Alemanha tenha ainda um resquício de orgulho nacional, como povo recentemente reunificado, talvez essas imposições humilhantes sejam demais para suportar.

Um confronto econômico ou militar com a Rússia é a última coisa que a Alemanha quer. O vice chanceler Sigmar Gabriel disse que Merkel certamente não demonstrou muita inteligência ao dar a impressão de que a Ucrânia tinha que decidir entre a Rússia e a União Europeia.

Caso o governo russo decida que o controle da Ucrânia, ou de qualquer parte dela após uma eventual separação por Washington, representa uma inaceitável ameaça para a Rússia, os militares russos se aproveitarão do fato de que a Ucrânia é historicamente parte da Rússia. Se a Rússia ocupar a Ucrânia, nada há que Washington possa fazer a não ser deflagrar uma guerra nuclear. Os países da OTAN, com o risco de simplesmente deixarem de existir, jamais concordarão com essa opção.

Putin pode tomar a Ucrânia quando quiser e depois voltar as costas para o ocidente, uma entidade corrupta atolada em depressão e saqueada constantemente pela classe capitalista. O século 21 pertence ao Oriente, China e Índia. A grande expansão russa encontra-se centrada nos dois países mais populosos do mundo.

Com o Oriente, a Rússia ascende ao poder".


FONTE: escrito por Paul Craig Roberts, no "Strategic Culture" (EUA)". Transcrito no portal "Vermelho"  (http://www.vermelho.org.br/noticia/242801-9). 

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