terça-feira, 19 de agosto de 2014

AS ELITES OBSCENAS E O POVO DECENTE




O povo brasileiro é decente, apesar de suas elites obscenas.

Por Fernando Brito (2ª feira) 

"No post abaixo, trato dos efeitos da enxurrada de mídia mórbida expressa na pesquisa 'Datafolha'.

Quero, agora, tratar dessa morbidez.

Espalham-se, por aí, as imagens do clima de comício, quase de festejo, de muitas cenas do velório e sepultamento de Eduardo Campos.

Já enterrei meus líderes políticos: Prestes, Darcy Ribeiro, Brizola.

E, há pouco, minha própria mãe.

Havia dor, saudade, tristeza, comoção.

E recato.

Somos humanos e a morte de outro ser humano não é nunca motivo de alegria e a todos nos obriga ao decoro, mesmo quando se trata de um adversário.

Ontem, cheguei a postar aqui o esdrúxulo “já vai tarde” que um grupo “blaquibloquista” havia publicado a propósito da morte de Eduardo Campos.

Em minutos, arrependi-me, porque, mesmo para criticar a estupidez dessa idiotice, achei que era desrespeitoso colocar isso no ar quando se sepultava o corpo do ex-governador. E retirei a publicação.

Hoje, me deparo com a infinidade de imagens que mostram o clima de “quase satisfação” de muita gente no dia de ontem, na cena fúnebre.

Igualmente não as publico, por nojo.

Os que negam a política e os partidos, ao que parece pelas imagens, entregam-se com gosto à politicagem e ao eleitoralismo.

Aprendi, com meu avô e com Leonel Brizola a ter respeito pelos seres humanos, sem abrir mão de ter princípios ou ideias.

E aprendi, sobretudo, a ter confiança nos sentimentos profundos da população, por mais que a tentem bestializar e banalizar.

A vida segue, apesar das mortes – próximas ou distantes – de pessoas, mesmo as mais famosas.

É dela que tratamos e trataremos na campanha eleitoral.

Não é uma disputa para ver quem sente, sofre ou chora mais. Ou menos ainda, sobre quem mal disfarça o sorriso diante da morte que vira sorte.



Por mais avalanches de mídia que façam, por mais glamour mórbido que se possa procurar transferir a alguém, as decisões do povo brasileiro são tomadas com lucidez e profundidade, porque se trata de decidir sobre sua própria vida e seu país.

Decidir se continuaremos a ter elevação dos salários ou arrocho; se teremos energia elétrica ou apagões, se teremos portos, ferrovias e estradas ou sucatearemos, de novo, os investimentos públicos; se seremos donos do mar de petróleo do pré-sal ou se ele será saqueado como foram o ouro, o ferro, os frutos desta terra; se vamos ter mais médicos, mais educação, mais inclusão e defesa de nossa terra ou se nos conformaremos em ser uma simples reserva florestal de países que estão ricos e devastados.

Numa palavra, se seremos uma Nação ou uma colônia.

Essa é a decisão que tomaremos e é ela que não se quer que o povo brasileiro perceba que está em jogo.

Mas ele o percebe e o perceberá mais ainda quanto mais avance o debate sobre a realidade e os desejos deste país, que tem o nome de campanha eleitoral.

O resto é “reality show”, onde há gente que se dispõe a aparentar amor e ódio e a exibir-se em intimidades em busca de um prêmio."


FONTE: escrito por Fernando Brito  em seu blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/blog/?p=20133).[2ª imagem acrescentada por este blog 'democracia&política'].

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