O BESTEIROL DO "ESCÂNDALO DA WIKIPEDIA"
A Wikipédia e as lembranças de Stanislaw Ponte Preta
Por BEPE DAMASCO
"É público e notório: a imprensa corporativa brasileira se julga acima do bem e do mal e não aceita ser criticada
Cronista, radialista, escritor e compositor de sucesso, Sérgio Porto (1923-1968) escrevia sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta.
Para satirizar declarações, comportamentos e posturas dos políticos, além de notícias publicadas pela imprensa, Porto criou o genial FEBEAPA - Festival de Besteiras que Assola o País.
Se vivo fosse, Stanislaw certamente incluiria as recentes não-notícias eleitoreiras da mídia monopolista no rol das grandes besteiras nacionais.
O caso da alteração dos dados dos jornalistas globais Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardemberg na Wikipédia, então, nem se fala.
Com certeza, ocuparia o topo do ranking das imbecilidades vendidas como "escândalos políticos".
Para início de conversa, que relevância tem a Wikipédia? Quem busca nessa "enciclopédia livre e colaborativa" da internet informações para embasar pesquisas e trabalhos sérios não sabe o risco que corre, pois qualquer pessoa pode alterar seus conteúdos, sem nenhum controle ou filtro quanto à veracidade ou valor histórico das postagens. Mas a Wikipédia não esconde isso de ninguém. Ao contrário, deixa claro sua natureza colaborativa e aberta.
Examinemos mais detidamente o caso da alteração das informações sobre a jornalista Miriam Leitão, feita a partir de IP do Palácio do Planalto, conforme "denúncia" de "O Globo". Se a intenção clara não fosse passar para os incautos a impressão absurda de que a presidenta Dilma possa ter alguma coisa a ver com isso, o jornal teria esclarecido que centenas de funcionários trabalham no Palácio do Planalto, que milhares de pessoas o frequentam semanalmente e que o palácio possui rede de internet sem fio, o que permite a qualquer transeunte o acesso à rede mundial de computadores nas suas dependências, o mesmo ocorrendo, é claro, com todos os jornalistas credenciados que fazem a cobertura do palácio.
Outra conta que não fecha: o esperneio global veio com estranhíssimos quinze meses de atraso, já que as referidas alterações foram realizadas em maio de 2013. Será possível que durante todo esse tempo nem "O Globo" nem Miriam Leitão tenham percebido a inclusão de novos dados na enciclopédia? É evidente que tinham conhecimento, mas optaram por usá-la como mais uma arma do arsenal estocado para a guerra eleitoral que travam contra a reeleição da presidenta Dilma.
E a reação de Míriam Leitão não poderia ser mais patética e previsível : "Veio ordem de cima". Repetindo seus patrões, ela enxerga o episódio como parte de uma campanha contra a liberdade de imprensa no Brasil. Pausa para a risada, como diz o Paulo Nogueira. No Brasil, nunca se teve tanta liberdade de imprensa como nos dias de hoje. Inclusive para a produção de lixos jornalísticos como O Globo, Folha, Estadão e Veja. O que falta, isto sim, é um novo marco regulatório para a radiodifusão, única maneira de quebrar o atual monopólio midiático, respeitando a pluralidade e a diversidade da sociedade brasileira. Mas é essa outra história.
Penso que as falas do ministro Gilberto Carvalho, da secretaria geral da Presidência da República, classificando como "abominável" a modificação feita a partir de de um IP do Planalto, e da presidenta Dilma, que a considerou "inadmissível", foram exageradas e só contribuem para levar água para o moinho do factóide político criado pelo PIG. Revela também o medo desse governo de enfrentar a velha mídia. Bastaria que as autoridades pautassem seus comentários pela nota oficial do próprio governo, que no tom sóbrio adequado lamentou o epísódio, mas alertou para as dificuldades de se encontrar o autor ou os autores dessas inserções na Wikipédia.
A indignação de Míriam Leitão, de "O Globo" e de seus irmãos siameses na mídia são absolutamente desproporcionais ao que foi postado na enciclopédia da internet e só reforçam o que é público e notório: a imprensa corporativa brasileira se julga acima do bem e do mal e não aceita ser criticada.
Parece até que a jornalista foi vítima de um ataque à sua honra, ou de crime de injúria, calúnia e difamação. Nada disso. Escreveram apenas que suas previsões sobre economia são desastrosas e que ela é defensora do banqueiro Daniel Dantas. Bem, sobre suas previsões catastróficas para o Brasil, dá para cravar que o índice de acerto da jornalista multimídia é zero. Em relação ao banqueiro, sinceramente não lembro de tê-la ouvido saindo em sua defesa. Mas minha memória também não registra nenhuma crítica sua a Daniel Dantas."
FONTE: escrito por Bepe Damasco no jornal digital "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/149669/A-Wikipédia-e-as-lembranças-de-Stanislaw-Ponte-Preta.htm).
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