Tucanos e ilusionáticos
Por ADILSON ROBERTO GONÇALVES, Professor da Escola de Engenharia de Lorena - USP
"No momento de forte comoção nacional, era esperado que Marina Silva despontasse como opção, como mostraram as pesquisas eleitorais. No entanto, rapidamente seu oportunismo foi se confundindo com o protagonismo.
A política possui algumas facetas sórdidas. Mesmo a comoção nacional com a morte de Eduardo Campos não escondeu os cenários eleitorais que já se descortinavam. Tucanos temiam que a candidatura de Marina Silva forçasse um segundo turno, mas sem o PSDB. Petistas acreditavam que ela afugentaria apoios sólidos do empresariado ao PSB, diminuindo ainda mais as intenções de voto na chamada "terceira via". De qualquer forma, a definição do quadro passou primeiramente pela ex-senadora, ex-PT, ex-PV, e esperta em trampolins políticos.
Assim, a entrada de Marina Silva como candidata a presidente tirou votos de Aécio Neves, uma vez que ambos representam o espectro mais conservador do eleitorado. Mesmo assim, insistem em alarmar que é o PT que ficou preocupado com o novo cenário. O fator que era interessante e que poderia levar a um segundo turno foi a migração de votos nulos e brancos para a chapa pseudo-PSB, uma vez que a ex-senadora propala a todos os ventos que é da "Rede" e não dos pessebistas. Isso mostraria que ela representa, mesmo conservadora, parte dos "ares de mudança" incendiados nas fogueiras de junho do ano passado.
Previsões políticas e econômicas funcionam bem quando se reportam ao passado. No momento de forte comoção nacional, era esperado que Marina Silva despontasse como opção, como mostraram as pesquisas eleitorais. No entanto, rapidamente seu oportunismo foi se confundindo com o protagonismo. Depois do trampolim por dois partidos, da incompetência para oficializar sua "Rede", do refúgio à beira do desespero no PSB, caiu-lhe literalmente do céu essa vaga para disputar a Presidência.
Por ADILSON ROBERTO GONÇALVES, Professor da Escola de Engenharia de Lorena - USP
"No momento de forte comoção nacional, era esperado que Marina Silva despontasse como opção, como mostraram as pesquisas eleitorais. No entanto, rapidamente seu oportunismo foi se confundindo com o protagonismo.
A política possui algumas facetas sórdidas. Mesmo a comoção nacional com a morte de Eduardo Campos não escondeu os cenários eleitorais que já se descortinavam. Tucanos temiam que a candidatura de Marina Silva forçasse um segundo turno, mas sem o PSDB. Petistas acreditavam que ela afugentaria apoios sólidos do empresariado ao PSB, diminuindo ainda mais as intenções de voto na chamada "terceira via". De qualquer forma, a definição do quadro passou primeiramente pela ex-senadora, ex-PT, ex-PV, e esperta em trampolins políticos.
Assim, a entrada de Marina Silva como candidata a presidente tirou votos de Aécio Neves, uma vez que ambos representam o espectro mais conservador do eleitorado. Mesmo assim, insistem em alarmar que é o PT que ficou preocupado com o novo cenário. O fator que era interessante e que poderia levar a um segundo turno foi a migração de votos nulos e brancos para a chapa pseudo-PSB, uma vez que a ex-senadora propala a todos os ventos que é da "Rede" e não dos pessebistas. Isso mostraria que ela representa, mesmo conservadora, parte dos "ares de mudança" incendiados nas fogueiras de junho do ano passado.
Previsões políticas e econômicas funcionam bem quando se reportam ao passado. No momento de forte comoção nacional, era esperado que Marina Silva despontasse como opção, como mostraram as pesquisas eleitorais. No entanto, rapidamente seu oportunismo foi se confundindo com o protagonismo. Depois do trampolim por dois partidos, da incompetência para oficializar sua "Rede", do refúgio à beira do desespero no PSB, caiu-lhe literalmente do céu essa vaga para disputar a Presidência.
Errou Eduardo Campos quando rompeu com o PT, sabendo que teria fortes chances de suceder Dilma Rousseff em 2018. Erraram novamente os pessebistas ao dar à conservadora evangélica o bastão da representação das vozes da mudança?
Autoestigmatizada à candidata da mudança, como Marina Silva vai explicar as espúrias coligações do seu partido com o PSDB? Enquanto ficava escondida atrás de Eduardo Campos, protagonizava o enredo eleitoral apenas como um amuleto. Tem muita dificuldade em defender o agronegócio, ação articulada pelo ex-governador, bem como conviver com os partidos considerados "do atraso" por ela. A dúvida é se a fala messiânica da pseudocandidata do PSB sobreviverá à confrontação com seus princípios. Se ontem namorou com o agronegócio - famigerado, até então -, amanhã noivará com os rentistas do mercado e poderá até se casar com os tucanos da velha política, em um eventual governo seu. O problema será ter Aécio Neves a seu lado, uma vez que cerrou fogo simultâneo a ela, Marina, e a Dilma, no papel anticristão de "maldito fruto entre as mulheres".
Goebbels não passaria de estagiário, se fosse trabalhar em São Paulo. Pois então vejamos: a maior e melhor universidade brasileira está em crise, com problemas externos de não aumento de repasse de verbas, e internos, com uma política de autofagismo exacerbada. Os índices já pífios do IDEB agora ficam piores ainda no mais rico estado da nação. E ainda vamos manter o mesmo governo tucano já no primeiro turno, segundo os institutos de pesquisa. Será que na água do volume morto que está chegando dia sim, dia não em nossas casas estão adicionando algum alucinante?
Questões climáticas no Brasil: as Neves derreteram, mas a água produzida não foi suficiente para encher reservatórios; o líquido, sem o obstáculo dos Campos (agora mortos), gerou forte impacto sobre a Marina, que ainda resiste. Em São Paulo, a Serra não é tão alta assim, mas a alquimia oficial paira sobre todos. A crise hídrica em São Paulo é mais política que climática. Se os estudos e alertas feitos na última década pelos Comitês de Bacias Hidrográficas não tivessem sido desprezados e ocultados por questões político-partidárias, teríamos uma situação menos drástica. E o povo paulista parece querer continuar a não enxergar o que realmente está por trás do aparalhamento havido nesses comitês, fruto da junção nefasta tucanos-verdes.
O governador de São Paulo terá problemas para limpar a maquiagem feita em relação ao "Detecta", uma vez que não há água para tanto. Nos recentes embates no centro de São Paulo, vemos, de um lado, o conhecido vandalismo; de outro, a constante truculência. Está cada vez mais difícil acreditar que a segurança pública tenha solução em São Paulo. Mas, a verificar pelas pesquisas de intenção de voto, a população paulista está satisfeita - e muito - com o que vivencia. Seria alguma alquimia ilusionista que derramou essa cegueira branca sobre o povo bandeirante, à semelhança de um Saramago às avessas?"
FONTE: escrito por ADILSON ROBERTO GONÇALVES, Professor da Escola de Engenharia de Lorena-USP, no jornal digital "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/153919/Tucanos-e-ilusionáticos.htm).
Autoestigmatizada à candidata da mudança, como Marina Silva vai explicar as espúrias coligações do seu partido com o PSDB? Enquanto ficava escondida atrás de Eduardo Campos, protagonizava o enredo eleitoral apenas como um amuleto. Tem muita dificuldade em defender o agronegócio, ação articulada pelo ex-governador, bem como conviver com os partidos considerados "do atraso" por ela. A dúvida é se a fala messiânica da pseudocandidata do PSB sobreviverá à confrontação com seus princípios. Se ontem namorou com o agronegócio - famigerado, até então -, amanhã noivará com os rentistas do mercado e poderá até se casar com os tucanos da velha política, em um eventual governo seu. O problema será ter Aécio Neves a seu lado, uma vez que cerrou fogo simultâneo a ela, Marina, e a Dilma, no papel anticristão de "maldito fruto entre as mulheres".
Goebbels não passaria de estagiário, se fosse trabalhar em São Paulo. Pois então vejamos: a maior e melhor universidade brasileira está em crise, com problemas externos de não aumento de repasse de verbas, e internos, com uma política de autofagismo exacerbada. Os índices já pífios do IDEB agora ficam piores ainda no mais rico estado da nação. E ainda vamos manter o mesmo governo tucano já no primeiro turno, segundo os institutos de pesquisa. Será que na água do volume morto que está chegando dia sim, dia não em nossas casas estão adicionando algum alucinante?
Questões climáticas no Brasil: as Neves derreteram, mas a água produzida não foi suficiente para encher reservatórios; o líquido, sem o obstáculo dos Campos (agora mortos), gerou forte impacto sobre a Marina, que ainda resiste. Em São Paulo, a Serra não é tão alta assim, mas a alquimia oficial paira sobre todos. A crise hídrica em São Paulo é mais política que climática. Se os estudos e alertas feitos na última década pelos Comitês de Bacias Hidrográficas não tivessem sido desprezados e ocultados por questões político-partidárias, teríamos uma situação menos drástica. E o povo paulista parece querer continuar a não enxergar o que realmente está por trás do aparalhamento havido nesses comitês, fruto da junção nefasta tucanos-verdes.
O governador de São Paulo terá problemas para limpar a maquiagem feita em relação ao "Detecta", uma vez que não há água para tanto. Nos recentes embates no centro de São Paulo, vemos, de um lado, o conhecido vandalismo; de outro, a constante truculência. Está cada vez mais difícil acreditar que a segurança pública tenha solução em São Paulo. Mas, a verificar pelas pesquisas de intenção de voto, a população paulista está satisfeita - e muito - com o que vivencia. Seria alguma alquimia ilusionista que derramou essa cegueira branca sobre o povo bandeirante, à semelhança de um Saramago às avessas?"
FONTE: escrito por ADILSON ROBERTO GONÇALVES, Professor da Escola de Engenharia de Lorena-USP, no jornal digital "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/153919/Tucanos-e-ilusionáticos.htm).
Que texto e análise lúcidos! Perfeita a análise e a conjuntura apresentada - sem esquecer de nenhum detalhe das condições de contorno! Muito bom.
ResponderExcluir