quinta-feira, 30 de outubro de 2014

QUEM GANHOU E QUEM PERDEU NA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL


Créditos da foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Quem ganhou e quem perdeu na eleição presidencial

Por Flávio Aguiar, de Berlim, Alemanha

"Tão importante quanto dizer quem ganhou e quem perdeu 

é dizer quem saiu ganhando e quem saiu perdendo. Nem 

sempre estas coisas coincidem, como se verá.

Dilma Rousseff – ganhou e saiu ganhando. O sucesso 

de sua candidatura dependeu muito de seu estoicismo 

(ao enfrentar os insultos no Itaquerão), da sua firmeza 

(ao responder de modo duro às acusações de Aécio nos debates), 

de sua capacidade de se comprometer com a manutenção 

(salário, empregos) e com a mudança (eventual correção no 

caso Petrobrás) de rumos. Provou e comprovou que tem luz 

própria e estofo de estadista.

Aécio Neves – perdeu e saiu perdendo. Provou que 

sua habilidade retórica não o protege de ataques porque 

não está preparado para isso. Achou que poderia ganhar 

no grito, isto é, só atacando uma pauta negativa, sem se 

comprometer ou revelar seu verdadeiro programa para o país. 

Tergiversou. Conseguiu mais votos pelo antipetismo do que 

por si próprio. Não tem luz própria, e agora está ameaçado 

em seu arraial. José Serra já afia os caninos e Geraldo Alckmin 

planta seus chuchus na cerca de São Paulo para aprimorar 

seu picolé, ambos tendo em vista 2018. 

A vida de Aécio não será fácil.


Armínio Fraga – perdeu, mas se saiu perdendo é outra história. 

Cometeu um erro fatal. No debate com Guido Mantega, 

ao falar das dificuldades do cidadão brasileiro, falou de alguém 

que quer comprar ações na Bolsa. Mantega falou de quem quer 

trocar de geladeira. Claro: no Brasil tem mais gente preocupada 

em trocar de geladeira do que em comprar ações na Bolsa. Mas 

seu erro não foi esse. Foi o de imaginar que quem assiste esse 

tipo de debate hoje no Brasil é apenas quem quer comprar ações 

na Bolsa. Enterrou um pouquinho a candidatura de Aécio. 

Saiu perdendo? Ora ora, tem muito mundo financeiro pelo 

mundo afora querendo gente com Fraga.

Marina Silva – perdeu e saiu perdendo. Cresceu nas pesquisas 

depois da tragédia de Eduardo Campos e seus companheiros 

de voo, mas se confundiu com o próprio crescimento. Atirou para 

todos os lados em busca de votos, rolou e enrolou, 

disse e desdisse, contradisse e entrou na dança e na contradança, 

mas o que ficou na lembrança é que quem tem poder sobre ela 

é o pastor Malafaia. Quem se curva à chantagem de pastor jamais 

vai chegar à presidência. De quebra, apresentou uma lista 

de reivindicações a Aécio para apoiá-lo, não viu nenhuma atendida 

e apoiou assim mesmo. Eu não votaria nela nem pra Associação 

de Pais e Mestres. Comprometeu a credibilidade de sua 

utura Rede, que pode virar uma rede para pescar goiabas. 

É pena. O Brasil precisa de um partido ambientalista forte.

PT – Empate técnico, graças à atuação e à vitória de 

Dilma Rousseff. Na verdade saiu perdendo. Perdeu cadeiras 

no Parlamento, mas não só isso. Em alguns momentos, 

em alguns lugares (sobretudo São Paulo) lembrou aquele 

ditado nordestino: “em tempo de murici, cada um cuide de si”. 

Murici vem do tupi-guarani e quer dizer “árvore pequena”. Pois é. 

O PT está se acostumando ao estilo “árvore pequena” tão 

característico da política brasileira. Fica pensando mais na 

próxima eleição do que nas utopias que o fundaram e o 

fundamentam. O PT precisa se reciclar (detesto o “refundar”, 

que me parece próximo do “afundar”). Ter uma política para 

a juventude mais efetiva. Uma política para o meio-ambiente 

mais visível e propositiva. Retomar a ideia de um projeto 

de futuro mais amplo, não apenas o de administrar este e

 aquele governo. Enfim...

PSDB – Desastre. Perdeu e saiu perdendo. 


Na mídia internacional, que pode ser conservadora 
em grande parte, mas sempre chama os bois pelo seu 
nome verdadeiro, e não o de fantasia, o PSDB brasileiro é 
descrito como “business friendly”, o que deve ser traduzido 
por “amigo do mercado”. Isso quer dizer que o PSDB hoje 
é visto como estando à direita dos partidos da 
social-democracia europeia. Em termos de Alemanha, 
por exemplo, o PSDB de hoje é um clube misto de 
União Democrata Cristã, da chanceler Angela Merkel e do FDP, 
uma espécie de DEM (PFL) sem coronéis nordestinos por detrás. 
Periga entrar para a história dentro de um sarcófago de 
múmias sagradas. Para não dizer vacas.


Geraldo Alckmin – ganhou, mas saiu perdendo. Sua gestão 

da água em São Paulo foi, é, e será um desastre. Ajudou Aécio a 

perder votos no segundo turno. Bom, pode ser que isso seja bom 

para ele e seu projeto. Em tempo de murici...

Lula – não ganhou porque não concorria. Mas saiu ganhando: 

continua sendo a principal referência de unidade do PT e 

seu maior cabo eleitoral, além de não se entregar à política 

das “árvores pequenas”. Jogou um bolão. Vão querer pegá-lo 

na volta da esquina e por na geladeira. Pode vir processo judicial 

em cima dele.

Fernando Henrique Cardoso – não perdeu, porque não concorreu. 

Mas saiu perdendo feio, sobretudo por ter perdido várias 

oportunidades de ficar quieto e não dizer nada. As mais 

evidentes foram a de dizer que pobre (nordestino, leia-se) vota 

mal não porque é pobre, mas porque é desinformado (por acaso, 

quando pobre nordestino votava no PFL, ele era bem informado?) 

e que o salário mínimo no seu governo era muito maior do que 

no governo Dilma, uma ofensa à aritmética, à geometria, à 

álgebra e à trigonometria, sem falar na teoria da relatividade 

e na física quântica. Disse tanta bobagem que foi rebaixado: 

de "Príncipe da Sociologia" (seu apelido nos meios acadêmicos, 

tanto pela elegância no falar e no trajar, quanto pela qualidade 

de seus trabalhos e seu apreço pela corte que lhe faziam 

admiradores, colegas e alunos, mais do que merecida) passou 

a "Barão de Higienópolis". Que se cuide, pode virar 

"Juiz de Luta-Livre", entre Geraldo, Aécio e José. O tempo dirá.

Luciana Genro – perdeu, mas saiu ganhando. Os elogios à 

sua campanha superaram as hostes pissolistas. 

Deu demonstração de coerência e consistência. Aguentou 

dedo na cara de Aécio (o que não o ajudou) e se saiu bem nas 

perguntas e nas respostas. É verdade que, no segundo turno, 

se enrolou brabo nas palavras para não declarar apoio à Dilma. 

Seu correligionário, candidato ao governo de São Paulo, 

Gilberto Maringoni, se saiu melhor: “voto contra o Aécio”,

 e ponto. Sem vírgula.


Eduardo Jorge e o Partido Verde – que vergonha! 

Apoiar o Aécio no segundo turno! Viraram um puxadinho, 

o biocapitalismo do capitalismo selvagem. Bom, muitas cúpulas 

do PV aqui na Europa se comportam assim. Precisavam ter 

mais contato com a esquerda verde por aqui. 

Para não dar vexame.


Extrema-direita – saiu ganhando. Malafaia chantageou 

Marina com sucesso. Feliciano e Bolsonaro tiveram votações 

consagradoras. Levy Felix, o candidato do conduto excretor, 

triplicou seus votos. O Pastor Everaldo tanto latiu que mereceu 

audiência especial com Aécio. Esse pessoal tem um poder de fogo

 notável. Dá engulhos e medos.


PMDB – Empate técnico, o que para ele é vitória. Saiu ganhando. 

Continua sendo um partido-esponja, que tudo absorve. 

Parece um polvo, com tentáculos em toda a parte. É capaz de 

ompor até com Levy Felix, Pastor Everaldo e Luciana Genro 

ao mesmo tempo. Tem vida longa.

PIG e Veja em particular – perderam feio, a ver se saíram 

perdendo. Puseram todas as suas fichas em derrubar Dilma e 

o PT desta vez por todas. Não deu certo. Esqueceram de combinar 

com o povo brasileiro, que, acham, são o círculo externo da teoria 

da pedra no lago: como são ignorantes mesmo, o importante é 

atingir os “esclarecidos” que “esclarecerão” a “gente diferenciada”. 

Como a base do PIG é o Rio e São Paulo, desconfio que vão enviar 

seus copiadores no Norte e no Nordeste para um campo de 

reeducação em Miami. Daqui para a frente, vão começar a pregar, 

primeiro veladamente, depois com velas acesas, o impeachment, 

a condenação do Lula (afinal, ele não fez nada para impedir o 

afundamento do Titanic nem a crise econômica europeia) e 

coisas assim. Pode apostar. Quando digo que não sei se saíram 

perdendo, é porque o PIG é como o vampiro: morreu nesta eleição, 

mas vai renascer mais cruento e sanguinário na próxima. Com 

verbas de publicidade do governo e das estatais.

O camarote do Itaú no Itaquerão – perdeu, saiu perdendo, deu 

vexame internacional. Foi se roçar nas ostras, como se diz.

Gilmar Mendes, Joaquim Barbosa e Sérgio Moro – não perderam, 

porque não concorriam. Mas saíram perdendo. Gilmar Mendes 

suspendeu um dos direitos de resposta conseguidos pelo PT em 

relação à Veja numa decisão por 7 x 0, postergando-a para 

depois das eleições... Joaquim Barbosa sumiu, depois de ser o 

grande herói do linchamento conhecido como processo 470 

(o do “mensalão”, sem provas). Pode se recuperar. Se quiser 

se candidatar a vereador em 2016, talvez seja eleito. 

Sérgio Moro vai se candidatar ao título de “Juiz Transparência”, 

tal é a quantidade de vazamentos em suas audiências. 

Deve ser coisa da "National Security Agency", um caso para 

Snowden e Assange juntos.

O povo brasileiro – ganhou e saiu ganhando. Não precisa explicar".

FONTE: escrito por Flávio Aguiar, de Berlim, Alemanha. 

Publicado no site "Carta Maior" (http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Quem-ganhou-e-quem-perdeu-na-eleicao-presidencial/4/32114).

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