domingo, 21 de dezembro de 2014

A PETROBRAS NO MUNDO E O QUE ESTÁ POR TRÁS DO BAIXO PREÇO DO PETRÓLEO




A lógica dos baixos preços do petróleo

Por Rogério Maestri

"Para se falar em petróleo tem que se pensar no recurso natural petróleo (óbvio, é claro) e muitas pessoas começam a falar e dissertar esquecendo-se do básico: as reservas comprovadas de petróleo CONVENCIONAL das grandes petroleiras e a posição de cada uma no mercado internacional.

Todos sabem que o mercado mais mafioso do mundo, ultrapassando mesmo a construção civil (essa é mais mafiosa em microescala), é o mercado do petróleo e todos sabem também que a maior de todas as empresas é a Exxon Mobil. Porém, talvez não seja do conhecimento [do público] que essa grande empresa [estadunidense] não está tão bem assim quanto às reservas comprovadas de petróleo CONVENCIONAL. 

Só para começar o assunto, vou enumerar as petroleiras de acordo com um artigo bem recente, de 15/12/2014, de Paul Ausick, denominado The World’s Top 10 Oil Companies, onde o mesmo cita as dez empresas privadas (a Petrobrás é tida como tal no mercado norte-americano) com maiores reservas comprovadas de petróleo. Ele não coloca nessa lista as reservas que estão nas mãos dos sheiks árabes:

1. Exxon Mobil

Proved Oil Reserves: 11.76 billion barrels
2013 Oil Production: 709 million barrels
Enterprise Value: $401.5 billion
Revenues: $392.843 billion
Net Profit: $34.3 billion

2. Petrobras

Proved Oil Reserves: 11.04 billion barrels
2013 Oil Production: 715.4 million barrels
Enterprise Value: $142.534 billion
Revenues: $146.297 billion
Net Profit: $9.083 billion

3. PetroChina

Proved Oil Reserves: 11.314 billion barrels
2013 Oil Production: 932.9 million barrels
Enterprise Value: $362.749 billion
Revenues: $379.553 billion
Net Profit: $21.236 billion

4. BP

Proved Oil Reserves: 10.07 billion barrels
2013 Oil Production: 733 million barrels
Enterprise Value: $133.556 billion
Revenues: $373.783 billion
Net Profit: $9.229 billion

5. Royal Dutch Shell

Proved Oil Reserves: 6.621 billion barrels
2013 Oil Production: 564 million barrels
Enterprise Value: $222.906 billion
Revenues: $437.974 billion
Net Profit: $16.06 billion

6. Chevron

Proved Oil Reserves: 6.345 billion barrels
2013 Oil Production: 632 million barrels
Enterprise Value: $210.71 billion
Revenues: $204.024 billion
Net Profit: $20.7 billion

7. Total

Proved Oil Reserves: 5.413 billion barrels
2013 Oil Production: 426 million barrels
Enterprise Value: $149.675 billion
Revenues: $212.723 billion
Net Profit: $11.56 billion

8. Suncor Energy

Proved Oil Reserves: 4.372 billion barrels
2013 Oil Production: 193 million barrels
Enterprise Value: $46.665 billion
Revenues: $36.475 billion
Net Profit: $2.735 billion

9. ConocoPhillips

Proved Oil Reserves: 4.779 billion barrels
2013 Oil Production: 258 million barrels
Enterprise Value: $94.09 billion
Revenues: $57.461 billion
Net Profit: $9.395 billion

10. Canadian Natural Resources

Proved Oil Reserves: 3.513 billion barrels
2013 Oil Production: 151 million barrels
Enterprise Value: $44.24 billion
Revenues: $16.482 billion
Net Profit: $2.812 billion

Olhando os dados dessa listinha chega-se a conclusões notáveis, tais como:

1) Sem ainda uma nova rodada do Pré-sal [e sem considerar que, relativamente ao enorme potencial, a Petrobras está apenas começando a produzir no pré-sal], as reservas comprovadas em mãos da Petrobrás chegam bem próximas às reservas comprovadas da Exxon Mobil, ultrapassando as gigantes BP, Shell, Chevron e Total (empresas como a italiana AGIP nem está nessa lista).

2) Que o valor de mercado, muitas vezes, não corresponde diretamente aos lucros das mesmas ou às reservas comprovadas.

Alguém precipitadamente pode atribuir aos grandes lucros da Exxon Mobil e de outras empresas, em relação as suas reservas comprovadas, a uma melhor capacidade gerencial, ou dizer o contrário, que o lucro da Petrobrás em relação às outras é baixo devido aos desmandos na mesma. Porém, essas afirmações podem ser facilmente rebatidas.

Empresas como a Exxon Mobil, a BP, a Shell e a Chevron têm grande parte de suas explorações em países como o Iraque ou a Líbia, bem como a participação na Arábia Saudita, Kuwait e outros emirados, ou seja, apesar das reservas não serem suas, o lucro da operação e comercialização provém de reservas de terceiros.

Essa participação das grandes empresas petroleiras em países como o Iraque, Líbia e mesmo nos mais estáveis Arábia Saudita, Kuwait e demais emirados (não se sabe até quando), estão sujeitas aos humores políticos locais e do próprio governo norte-americano.

Antes da Revolução Iraniana e da intervenção no Iraque, as reservas das grandes empresas de petróleo eram imensas e, mesmo na época do Kadafi na Líbia, grandes contratos de produção de petróleo já estavam sendo negociados entre o governo líbio e as grandes empresas. 

Logo, o que podemos dizer que, diferentemente do que divulga a imensa maioria da nossa imprensa e do senso comum de pessoas "informadas", as peripécias e o apoio incondicional dos Estados Unidos têm sido verdadeiro desastre para as grandes petroleiras. Ou seja, as intervenções diretas ou indiretas do governo norte-americano têm prejudicado mais as petroleiras do que as auxiliado.

Porém, se considerarmos somente esse cenário, podemos rapidamente concluir que as reservas do pré-sal são a cereja do bolo e o bônus central das "grandes irmãs", porém aí entra em jogo outro fator, o petróleo "de folhelho" (conhecido pela massa como o "petróleo de xisto", um imenso erro de notação!).

Talvez, a leitura da publicação "US oil and gas reserves study – 2014" dê uma pista mais forte do principal objetivo do petróleo a preço baixo. Essa publicação, baseada nos dados da "United States Securities and Exchange Commission" (SEC), mostra o estado das reservas comprovadas nos USA, CONVENCIONAIS e NÃO CONVENCIONAIS, e o principal: a evolução dessas reservas nos últimos anos por companhia e grupos de companhias.

Nesse relatório, além dos dados individuais, as companhias de petróleo são divididas em três grandes grupos, as "Integrateds" (numa tradução grosseira, as integradas) que são as maiores que aparecem acima (BP, Chevron, Exxon Mobil, Hess e Shell), as "Large independents" (as grandes independentes) e as "Independents" (independentes), nessas últimas aparecem a Conoco-Phillips já colocada entre as maiores do mundo.

Pois se analisarmos esse relatório, alguns dados saltam logo à vista: a progressão em termos de aumento de reservas desses grandes grupos e o custo de extração dos mesmos.

Olhando os diversos dados desse relatório se verifica várias coisas: primeiro, que a taxa de reposição das reservas dos "grandes e pequenos independentes" é significativamente maior do que a reposição das "Integradas". Das reservas comprovadas norte americanas, que passaram de 16,7 bilhões de barris em 2009 para 25,4 bilhões de barris em 2013, apesar de a Exxon Mobil possuir 2,3 bilhões de barris, as reservas das "Integradas" simplesmente estão estabilizadas em níveis de 2009 (mesmo com um leve declínio). Por outro lado, como as reservas das "Integradas" provém a maior parte de campos tradicionais de petróleo, os custos das mesmas na extração são significativamente mais baixos.

Agora, vamos à conclusão: a queda do preço do petróleo no mercado mundial, que é tão artificial quanto a alta que ocorreu em 2008, num primeiro momento, serviu para que a produção do petróleo norte-americano aumentasse assustadoramente através da exploração do petróleo "não convencional" e serviu para que a economia norte-americana gerasse milhões de empregos bem remunerados na indústria do petróleo do 'fracking' e tirasse os Estados Unidos da recessão (Vocês acham que o que tirou os Estados Unidos da recessão foi baixar a taxa de juros de 2% para 0,5%? Se acham, reformulem suas convicções), e também serviu (como dano colateral para os EUA) para reforçar as economias da Rússia e Venezuela e baixar o status das grandes petroleiras.

A atual política de preços baixos visa a, principalmente, fazer voltar ao mercado "as grandes", e retirar do mercado a imensa maioria das pigmeus (pigmeus, para o mercado de petróleo) que estão devidamente endividadas e com custos altos de produção. O resto, como a Rússia, Irã, Venezuela e Petrobrás é tudo bônus extra."


FONTE: escrito por Rogério Maestri no "Jornal GGN"  (http://jornalggn.com.br/fora-pauta/a-logica-dos-baixos-precos-do-petroleo). [Título e trechos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].

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