quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

BRASIL MARCOU GOLAÇO EM CUBA





Dilma Rousseff e o presidente de Cuba, Raúl Castro, durante descerramento da placa inaugural do Porto de Mariel. (Foto por: Roberto Stuckert Filho/PR)



Brasil marcou um golaço ao financiar o Porto de Mariel, em Cuba

Por Patrícia Campos Mello, no portal tucano UOL

"Com o porto de Mariel e outros inúmeros investimentos em Cuba, o Brasil é um dos países que estão melhor posicionados para se beneficiar da queda do embargo americano à ilha, cuja negociação foi anunciada ontem (17).

Alvo de críticas ferrenhas, o porto de Mariel, que recebeu cerca de US$ 800 milhões de financiamento do BNDES e foi tocado pela Odebrecht, está a apenas 200 quilômetros da costa da Florida.

Depois da dragagem, poderá receber navios grandes como os "Super Post Panamax", que Dilma citou várias vezes durante a cúpula da CELAC este ano, e concorrer com o porto do Panamá.

Mesmo sem a dragagem, já será concorrente de portos como o de Kingston, na Jamaica, e das Bahamas, bastante movimentados.

O raciocínio do governo brasileiro sempre foi o de “entrar antes da abertura para já estar lá quando caísse o embargo”.

Essa estratégia se provou acertada".

PS do Viomundo: Agora que o Porto de Mariel vai bombar , o que a direita brasileira vai fazer? Continuará criticando Lula e Dilma pelos investimentos em Cuba? Ou dirá, com a caradura que lhe é peculiar, que desde sempre defendeu Mariel e que nós é que não entendemos direito o que ela dizia? Ou romperá relações com os Estados Unidos?


FONTE: escrito por Patrícia Campos Mello, no [portal tucano] UOL    (http://www.viomundo.com.br/politica/patricia-campos-mello-brasil-marcou-um-golaco-ao-financiar-o-porto-mariel-em-cuba.html).

COMPLEMENTAÇÃO 1



Dilma: "Retomada das relações entre Estados Unidos e Cuba marca uma mudança na civilização"

"Dilma Rousseff cumprimentou os presidentes Raúl Castro, de Cuba, e Barack Obama, dos Estados Unidos, pela retomada nas relações entre os dois países, um momento que, exaltou a presidenta, marca uma mudança na civilização. A presidenta cumprimentou também o papa Francisco, a quem creditou participação fundamental para essa reaproximação. As declarações foram feitas no discurso de encerramento da 47ª Cúpula do Mercosul.

Em um dia como o de hoje [17], em que, como disse a presidenta Cristina, nós, lutadores sociais, imaginávamos que jamais veríamos este momento de retomada das relações entre os Estados Unidos e Cuba, eu queria cumprimentar o presidente Raul Castro. Queria cumprimentar, também, o presidente Barack Obama. E, sobretudo, queria cumprimentar o papa Francisco por ter sido, muito possivelmente, um dos fatores mais importantes para essa aproximação. Acho que é um momento que marca uma mudança na civilização mostrando que é possível restabelecer relações interrompidas há muitos anos.

Dilma disse que esse evento histórico deve servir de exemplo para o mundo. Destacou que os métodos para resolução de conflitos adotados pela América do Sul são o diálogo e o estabelecimento de relações, o que tem permitido que o continente usufrua de paz há mais de um século, sem conflitos de ordem religiosa, étnica ou de qualquer outra espécie.

Nós, de fato, vivemos num continente, num hemisfério especial. Nós, pelo menos da América do Sul, estamos há mais de 120 anos vivendo em paz. Não há entre nós nenhum conflito de ordem religiosa, étnica ou de qualquer outra espécie. Nós não resolvemos nossos conflitos com métodos que não sejam o diálogo e o estabelecimento de relações. Daí porque também conquistamos muito com o Mercosul, a Unasul e a Celac.

A presidenta também exaltou o esforço dos países da região para manutenção da democracia na Venezuela, destacando a contribuição fundamental do papa Francisco.

Lembro perfeitamente de todas as ações que fizemos, no sentido de fazer vigorar a democracia, seja no caso mais recente, que eu quero me referir, que é o caso da Venezuela. Acho que nós todos tivemos, na Venezuela, uma experiência extraordinária e, nessa ocasião, também, acredito que o papa Francisco foi grande suporte para que a constitucionalidade na Venezuela fosse respeitada.”

FONTE da complementação 1: Blog do Planalto  (http://blog.planalto.gov.br/dilma-retomada-das-relacoes-entre-estados-unidos-e-cuba-marca-uma-mudanca-na-civilizacao/).

COMPLEMENTAÇÃO 2


CAI O "MURO DO OCIDENTE"



Cuba e EUA restabelecem relações. É o início do fim do bloqueio, o “Muro” do Ocidente

Por Fernando Brito
 
"Hoje é um grande dia para os que creem na soberania das nações e na boa-vontade entre os povos.

Cuba e Estados Unidos restabelecem relações diplomáticas e, assim, tornam inevitável o caminho para que cesse o bloqueio norte-americano à ilha, o equivalente ocidental ao Muro de Berlim.

Para os mais jovens, trata-se de restrições às relações comerciais entre os dois países, impostas pelos EUA no início de 1962 (!), como forma de tentar derrubar a revolução liderada por Fidel Castro.

Com elas, qualquer empresa sediada ou com subsidiárias nos Estados Unidos pode ser multada ou até fechada se fizer negócios com a ilha.

Os prejuízos a Cuba chegam a incríveis US$ 1,1 trilhão, segundo cálculos apresentados este ano na ONU, que há décadas exige o fim do embargo, uma determinação praticamente unânime da comunidade mundial, da qual se excluem apenas Israel e as minúsculas Ilhas Palau, que se declaram estado associado aos EUA.

Ah, sim, e a comunidade coxinha brasileira, que ressuscitou o tal “vai pra Cuba” com 40 anos de atraso civilizatório.

O que, considerando o déficit mental dessa turma saudosa da ditadura – na qual 70% não viveram, para ver como era “bom” – até que revela uma certa coerência na estupidez.

É uma grande vitória, também, para dois homens.

Um, o Papa Francisco, que abandonou as pompas e a circunstâncias vazias e atirou-se ao mundo como um verdadeiro promotor da convivência humana.

Suas gestões junto a Barack Obama e Raúl Castro foram o empurrão que faltava para o gesto que, embora óbvio, faltava há mais de meio século.

Outro, Fidel Castro, um líder que sobreviveu aos atentados, ao bloqueio, à desestabilização e a inimaginável quantidade de golpes que se desfecharam sobre um pequeno país que, com todas as restrições que se possa fazer-lhe, avançou na educação, na saúde, na elevação do ser humano como talvez nenhum outro tenha feito em duas gerações.

Mas ambos, Francisco e Fidel, Cuba e Estados Unidos, ficam pequenos diante do significado de algo que se parece estar querendo ser deixado de lado aqui: a capacidade das pessoas e dos países em conviverem com as diferenças, sem ódios.

Em paz.

E que por isso vale a pena esperar, nem que seja toda uma vida."


FONTE da complementação 2: escrito por Fernando Brito em seu blog "Tijolaço"  (http://tijolaco.com.br/blog/?p=23809).

COMPLEMENTAÇÃO 3:

Por José Antonio Lima — publicado no início do ano, em 28/01/2014, na revista "CartaCapital" 


Por que o Brasil está certo ao investir em Cuba

O investimento no Porto de Mariel amplia o alcance do comércio e a área de influência do Brasil

Por José Antonio Lima


Dilma e Raúl Castro conversam durante a inauguração do Porto de Mariel

"Causou certa indignação em determinados setores da sociedade brasileira a inauguração do porto de Mariel, em Cuba, na segunda-feira 27 [janeiro], com a presença de Dilma Rousseff. O espanto se deu por que a obra foi erguida graças a um financiamento do BNDES, que data ainda do governo Lula. Atribui-se o investimento a uma aliança ideológica entre os governos petistas e a família Castro, responsável pela ditadura na ilha. É um equívoco ver o empréstimo dessa forma. Trata-se de um ato pragmático do Brasil.

O porto de Mariel é um colosso. Ele é considerado tão sofisticado quanto os maiores terminais do Caribe, os de Kingston (Jamaica) e de Freeport (Bahamas), e terá capacidade para receber navios de carga do tipo "Post-Panamax", que vão transitar pelo Canal do Panamá quando a ampliação deste estiver completa, no ano que vem. A obra, erguida pela Odebrecht em parceria com a cubana Quality, custou 957 milhões de dólares, sendo 682 milhões de dólares financiados pelo BNDES. Em contrapartida, 802 milhões de dólares investidos na obra foram gastos no Brasil, na compra de bens e serviços comprovadamente brasileiros. Pelos cálculos da Odebrecht, esse valor gerou 156 mil empregos diretos, indiretos e induzidos no Brasil.

A obra “se pagou”, mas o interesse do Brasil vai além disso. Há quatro aspectos importantes a serem analisados.

O primeiro foi exposto por Dilma no discurso feito em Cuba. O Brasil quer, afirmou ela, se tornar “parceiro econômico de primeira ordem” de Cuba. As exportações brasileiras para a ilha quadruplicaram na última década, chegando a 450 milhões de dólares, alçando o Brasil ao terceiro lugar na lista de parceiros da ilha (atrás de Venezuela e China). A tendência é de alta se a população de Cuba (de 11 milhões de pessoas), hoje alijada da economia internacional, for considerada um mercado em potencial para empresas brasileiras.

[O segundo:] Esse mercado só será efetivado, entretanto, se a economia cubana deixar de funcionar em seu modo rudimentar atual. Como afirmou o subsecretário-geral da América do Sul do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Antonio José Ferreira Simões, o modelo econômico de Cuba precisa “de uma atualização”. O porto de Mariel é essencial para isso, pois será acompanhado de uma "Zona Especial de Desenvolvimento Econômico" criada nos moldes das existentes na China. Ali, ao contrário do que ocorre no resto do país, as empresas poderão ter capital 100% estrangeiro. Dono de uma relação favorável com Cuba, o Itamaraty está buscando, assim, completar uma de suas funções primordiais: mercado para as empresas brasileiras. Não é à toa, portanto, que o Brasil abriu uma nova linha de crédito, de 290 milhões de dólares, para a implantação dessa Zona Especial em Mariel.

Aqui entra o terceiro ponto, a localização de Mariel. O porto está a menos de 150 quilômetros do maior mercado do mundo, o dos Estados Unidos. Ainda está em vigor o embargo norte-americano a Cuba, mas ele é insustentável a longo prazo. “O embargo não vai durar para sempre e, quando cair, Cuba será estratégica para as companhias brasileiras por conta de sua posição geográfica”, disse à [agência norte-americana de notícias] "Reuters" uma fonte anônima do governo brasileiro. Tendo em conta que a população cubana ainda consistirá em mão de obra barata para as empresas ali instaladas, fica completo o potencial comercial de Mariel.

Há ainda um quarto ponto. Ao transformar Cuba em parceira importante, o Brasil amplia sua área de influência nas Américas em um ponto no qual os Estados Unidos não têm entrada. A administração Barack Obama é favorável ao fim do embargo, como deixou claro o presidente dos EUA em novembro passado, quando pediu uma “atualização” no relacionamento com Cuba. Ocorre que a Casa Branca não tem como derrubar o embargo atualmente diante da intensa pressão exercida no Congresso pela bancada latina, em sua maioria linha-dura. No vácuo dos EUA, cresce a influência brasileira.

Grande parte das críticas ao relacionamento entre Brasília e Cuba ataca o governo brasileiro por se relacionar com uma ditadura que não respeita direitos humanos. Tal crítica tem menos análise de política externa do que ranço ideológico, como prova o silêncio quando em destaque estão as relações comerciais do Brasil com a China, por exemplo. Não há, infelizmente, notícia de um Estado que paute suas relações exteriores pela questão de direitos humanos. Se a regra fosse essa, possivelmente o mundo não seria a lástima que é.

Soma-se a isso o fato de que manter boas relações com Cuba é uma prática do Estado brasileiro, não do governo atual. As relações Brasília-Havana foram reatadas em 1985 e têm melhorado desde então. Em 1992, no governo Fernando Collor, houve uma tentativa de trocar votos em eleições para postos em organizações internacionais. A prática, como a "Folha de S.Paulo" mostrou em 2011, continuou no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), sob o qual o Brasil também fechou parcerias e intercâmbios com Cuba.

De fato, em 1998 o então chanceler de FHC, Luiz Felipe Lampreia, se encontrou com um importante dissidente cubano, Elizardo Sánchez, algo que o governo brasileiro parece muito distante de fazer. Pode-se, e deve-se, criticar o fato de o Planalto sob o PT não condenar publicamente as violações de direitos humanos da ditadura castrista, mas não se pode condenar o investimento no porto de Mariel. Nesse caso, prevaleceu o interesse nacional brasileiro".

FONTE da complementação 3: escrito por José Antonio Lima e publicado no início do ano, em 28/01/2014, na revista "CartaCapital" (http://www.cartacapital.com.br/internacional/por-que-o-brasil-esta-certo-ao-investir-em-cuba-1890.html).

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