quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

CAUSAS DA CRISE HÍDRICA EM SÃO PAULO




Crise hídrica: especialistas divergem sobre falta de planejamento

Por Lilian Milena

Do "Jornal GGN"


"A crise hídrica, que atinge a região metropolitana do Estado de São Paulo, decorre do agravo de quatro anos em que o volume de chuvas que abastecem os reservatórios do sistema Cantareira não acompanha a crescente demanda de uso (e desperdício). A análise é de especialistas convidados para o programa de debates "Brasilianas.org", realizado na TV Brasil, em 12 de maio do ano passado. A situação também é curiosa, pois o Brasil é hoje o país que mais importa soluções na área de recursos hídricos, segundo o ex-diretor da "Agência Nacional de Águas" (ANA) e presidente do "Fórum Mundial da Água" (WWC), Benedito Braga. Em dezembro, ele aceitou o convite do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin para assumir a Secretaria de Recursos Hídricos do estado.

Durante a entrevista ao "Brasilianas", em maio passado, Braga apontou três fatores que convergiram para o desequilíbrio do sistema Cantareira. 

O primeiro é a anomalia climática, intensamente ressaltada pelo governo de São Paulo. O índice pluviométrico, ou seja, de precipitação de chuvas sobre o complexo, nunca foi tão baixo desde que esse tipo de registro é feito na região, em 1931.

O segundo fator é a falta de infraestrutura, não necessariamente de planejamento. Braga destacou que, em 2009, o estado concluiu um plano para ampliar os reservatórios e adutoras não só na região metropolitana, mas na “macrometropole” paulista, que vai do litoral do Atlântico até Campinas. E por que não foi posto em prática?


“Quem tem que responder isso é o governo [tucano paulista]”, rebateu. Apesar da evidente crítica ao poder administrativo, Braga também apontou os velhos problemas institucionais e burocráticos brasileiros como impeditivos à implantação das obras que estão atrasadas.

“O Brasil tem uma legislação ambiental altamente complexa e sofisticada. Ele tem também um conjunto de instituições que não se conversam, que são ligadas a esse processo ambiental”, em outras palavras, continuou, para uma obra ser iniciada é preciso a aprovação de diversos órgãos, desde IPHAN, (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) ao Ibama, por exemplo, dificultando a execução.

O último fator apontado foi a cultura de abundância do brasileiro. “O consumidor não tem aquela ideia de que a água é preciosa”.

Paulo Canedo, coordenador do Laboratório de Hidrologia da COPPE/UFRJ divergiu de Benedito Braga quanto ao tópico ‘planejamento’. Para ele, já existiam dados suficientes para prever o perigo de racionamento de hoje, logo o estado de São Paulo poderia ter tomado medidas simples de controle já no início do ano de 2014, atenuando o problema.

“Em 2003 tivemos uma aguda crise no (sistema) Paraíba do Sul (que atende São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais). A ANA tomou cuidado no princípio do ano de colocar seus técnicos junto com os dos três estados para acompanhar a evolução gradativa da crise que se desdobrava. Foi uma experiência inesquecível, porque todos nos reunimos a cada semana para discutir o que fazer”, relembrou. Graças ao grupo de trabalho, foi possível controlar as reservas até o mês de novembro, início das chuvas.

A estiagem, na verdade, está se repetindo pelo quarto ano, segundo o geólogo da empresa Servmar, Mateus Simonato. “Não foi a estiagem deste ano [2014] que provocou o colapso total, o que ela provocou de fato foi o agravamento completo do sistema que já vinha de um nível razoavelmente baixo”, apontou. Para ele, o governo deveria ter tomado medidas dentro dos dois primeiros anos de estiagem.

Canedo destacou também como sério problema a burocracia. Há dez anos, a Sabesp recebeu a renovação da outorga sobre o sistema PCJ (dos rios Piracicaba, Capibaribe e Judiaí, que fluem abaixo do sistema Cantareira).

Porém a própria ANA estabeleceu uma série de condicionantes que não foram cumpridas na íntegra 
[pela SABESP/Gov.SP, que preferiu não investir e distribuir gordos dividendos aos seus acionistas em Nova York, doar grande quantia para o instituto do ex-presidente FHC e fazer dispendiosas propagandas em todo o Brasil, em anos de eleição, sobre as maravilhas da gestão das águas pelo governo tucano de SP]. Já no início de 2014, se sabia, portanto, que as obras não estariam prontas em tempo para São Paulo enfrentar a crise. Por isso, o governo do estado deveria ter iniciado a campanha de racionamento e uso consciente de água desde janeiro [de 2014]. 

Somente quando estava com cerca de 9% de reserva no sistema Cantareira, em maio, São Paulo anunciou as obras para acessar o chamado “volume morto”, ou seja, a reserva de água do fundo do sistema Cantareira.

O que é o ‘volume morto’

Benedito Braga, presidente do "Fórum Mundial da Água", destacou que o termo “volume morto” é meramente técnico, usado pelos engenheiros para se referir ao volume de água que fica inativo e não “parado”.

“Essa água está correndo para o rio Piracicaba desde 1974, não tem nada de morto ou de podre. Será utilizada [agora] e, se a população realmente frear o uso da água, teremos abastecimento até outubro e novembro [de 2014], quando começar a estação chuvosa para recuperar o sistema e amenizar a situação”, acalmou.

O geólogo Mateus Simonato completou que o planejamento do estado precisará controlar o volume de água utilizado também nos próximos anos, pois as chuvas de outubro e novembro de 2014, muito provavelmente, não serão suficientes para restabelecer os níveis do reservatório de forma segura."


FONTE: escrito por Lilian Milena e publicado no "Jornal GGN". Matéria atualizada do programa "Brasilianas.org" sobre a crise da água em São Paulo, realizado em 12.05.2014.   (http://jornalggn.com.br/noticia/crise-hidrica-especialistas-divergem-sobre-falta-de-planejamento).[Trechos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].

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