JE SUIS HYPOCRITE
Por MICHEL ZAIDAN, cientista político da UFPE
"É uma ironia do destino que perseguidores e perseguidos se juntem contra o Islamismo e seus símbolos sagrados. Querem desencadear uma nova cruzada contra o Oriente?
Qual seria a reação da comunidade cristã internacional e dos judeus se um pasquim publicasse a charge de Jesus Cristo ou Maria ou do profeta Moisés, em decúbito dorsal, de nádegas para cima, nu, deixando à mostra o saco escrotal e o membro viril: imediatamente, o Vaticano, o Patriarca de Constantinopla, o Estado de Israel ou o Conselho mundial das igrejas cristãs protestariam veementemente contra o insulto, a humilhação praticada contra os símbolos sagrados de milhões e milhões de fiéis, no mundo inteiro.
Pois foi exatamente isso o que ocorreu com o semanário satírico francês.
Por MICHEL ZAIDAN, cientista político da UFPE
"É uma ironia do destino que perseguidores e perseguidos se juntem contra o Islamismo e seus símbolos sagrados. Querem desencadear uma nova cruzada contra o Oriente?
Qual seria a reação da comunidade cristã internacional e dos judeus se um pasquim publicasse a charge de Jesus Cristo ou Maria ou do profeta Moisés, em decúbito dorsal, de nádegas para cima, nu, deixando à mostra o saco escrotal e o membro viril: imediatamente, o Vaticano, o Patriarca de Constantinopla, o Estado de Israel ou o Conselho mundial das igrejas cristãs protestariam veementemente contra o insulto, a humilhação praticada contra os símbolos sagrados de milhões e milhões de fiéis, no mundo inteiro.
Pois foi exatamente isso o que ocorreu com o semanário satírico francês.
As igrejas muçulmanas na França já tinham pedido à Justiça francesa medidas punitivas contra outras charges publicadas pelo jornal anteriormente. Mas, baseada no princípio da "liberdade de expressão", o Poder Judiciário da França negou qualquer tipo de censura ou recriminação contra os editores da revista. Naturalmente, o jornal se sentiu encorajado a continuar sua campanha de ridicularização dos símbolos sagrados do islamismo, contrariando um de seus principais postulados: a proibição da reprodução iconográfica dos símbolos religiosos do Islã. A França tem hoje o maior contingente de imigrantes africanos, árabes e muçulmanos.
Ela própria foi potência colonial na África e na Ásia. Depois da descolonização, vários desses "súditos" franceses do além-mar emigraram para a nação francesa, em busca de melhores dias. A situação desse enorme contingente de imigrantes negros, pobres e islamitas piorou muito com a crise econômica e social provocada pela união macroeconômica, também conhecida como "tratado de Maastrich". Com a autonomia limitada para enfrentar os problemas decorrentes da aplicação do tal tratado em seus país, produziu-se o que o autor português Boaventura Santos intitulou de "Fascismo social", ou seja, atribuir aos imigrantes tudo de ruim e desgraçado que ocorreu ma Europa. Uma modalidade de neofascismo disseminou-se na Alemanha, na Holanda, na Itália, na Espanha e na França, estimulado pelo crescimento político e eleitoral da direita francesa, resultando em xenofobia, fundamentalismo, e eurocentrismo. Um discurso chauvinista que dizia: A Europa para os europeus (do norte e do centro). Fora com os imigrantes, eles vêm tomar os empregos dos nacionais, rebaixar o salário dos empregados, sobrecarregar a seguridade social etc. A consequência é o que estamos assistindo hoje na França: o ataque dissimulado contra os imigrantes estrangeiros mascarado de uma guerra de civilizações. A "cultura" judaico-cristã contra a "barbárie" do mundo árabe e muçulmano. Discurso muito conveniente para os partidários de Marie Le Pen, da política externa norte-americana, e dos que pensam que a globalização só pode ser feita com a livre exportação de bens, serviços e capitais, não de pessoas e ideias.
Quem entende de cruzadas e perseguição religiosa é o Cristianismo e o Judaísmo. Um porque perseguiu muita gente. E o outro, que carrega a eterna imagem da vitimização, embora hoje o Estado de Israel é quem persiga os palestinos. É uma ironia do destino que perseguidores e perseguidos se juntem contra o Islamismo e seus símbolos sagrados. Querem desencadear uma nova cruzada contra o Oriente? Pois assumam as consequências dessa política de intolerância e xenofobia, porque a tensão só vai aumentar cada vez mais. E a sensação de insegurança dos cidadãos cristãos, judeus e europeus vai se tornar real, quando pipocarem os atos de reação contra essa cruzada, no mundo inteiro.
Não haverá paz verdadeira entre os povos e as culturas, enquanto não for respeitada e valorizada a diversidade cultural e religiosa que caracteriza essa mundialização das culturas. Ou se exercita o diálogo interreligioso, intercultural, procurando somar o que de bom e positivo cada um tem a oferecer à humanidade, ou todos nós perdemos."
FONTE: escrito por MICHEL ZAIDAN, cientista político da UFPE. Publicado no jornal digital "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/167083/Je-suis-hypocrite.htm).
Ela própria foi potência colonial na África e na Ásia. Depois da descolonização, vários desses "súditos" franceses do além-mar emigraram para a nação francesa, em busca de melhores dias. A situação desse enorme contingente de imigrantes negros, pobres e islamitas piorou muito com a crise econômica e social provocada pela união macroeconômica, também conhecida como "tratado de Maastrich". Com a autonomia limitada para enfrentar os problemas decorrentes da aplicação do tal tratado em seus país, produziu-se o que o autor português Boaventura Santos intitulou de "Fascismo social", ou seja, atribuir aos imigrantes tudo de ruim e desgraçado que ocorreu ma Europa. Uma modalidade de neofascismo disseminou-se na Alemanha, na Holanda, na Itália, na Espanha e na França, estimulado pelo crescimento político e eleitoral da direita francesa, resultando em xenofobia, fundamentalismo, e eurocentrismo. Um discurso chauvinista que dizia: A Europa para os europeus (do norte e do centro). Fora com os imigrantes, eles vêm tomar os empregos dos nacionais, rebaixar o salário dos empregados, sobrecarregar a seguridade social etc. A consequência é o que estamos assistindo hoje na França: o ataque dissimulado contra os imigrantes estrangeiros mascarado de uma guerra de civilizações. A "cultura" judaico-cristã contra a "barbárie" do mundo árabe e muçulmano. Discurso muito conveniente para os partidários de Marie Le Pen, da política externa norte-americana, e dos que pensam que a globalização só pode ser feita com a livre exportação de bens, serviços e capitais, não de pessoas e ideias.
Quem entende de cruzadas e perseguição religiosa é o Cristianismo e o Judaísmo. Um porque perseguiu muita gente. E o outro, que carrega a eterna imagem da vitimização, embora hoje o Estado de Israel é quem persiga os palestinos. É uma ironia do destino que perseguidores e perseguidos se juntem contra o Islamismo e seus símbolos sagrados. Querem desencadear uma nova cruzada contra o Oriente? Pois assumam as consequências dessa política de intolerância e xenofobia, porque a tensão só vai aumentar cada vez mais. E a sensação de insegurança dos cidadãos cristãos, judeus e europeus vai se tornar real, quando pipocarem os atos de reação contra essa cruzada, no mundo inteiro.
Não haverá paz verdadeira entre os povos e as culturas, enquanto não for respeitada e valorizada a diversidade cultural e religiosa que caracteriza essa mundialização das culturas. Ou se exercita o diálogo interreligioso, intercultural, procurando somar o que de bom e positivo cada um tem a oferecer à humanidade, ou todos nós perdemos."
FONTE: escrito por MICHEL ZAIDAN, cientista político da UFPE. Publicado no jornal digital "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/167083/Je-suis-hypocrite.htm).
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