domingo, 17 de maio de 2015

O QUE QUEREM E O QUE QUEREMOS DA PETROBRÁS




O QUE QUEREM E O QUE QUEREMOS DA PETROBRÁS

Por HENRIQUE FONTANA (no portal Carta Maior)

"As ações da Petrobras que chegaram a cair para R$ 8,18 em janeiro deste ano, estão hoje em mais de R$ 12. Quando o chamado "Mercado" estava com a razão?

Com nova direção, sob o comando do presidente Aldemir Bendine, e com a apresentação do balanço de resultados de 2014 e a publicação dos demonstrativos, a Petrobras começa o resgatar sua história e a retomar o futuro. Muito diferente do que parte da grande mídia e a oposição quer fazer crer, a Petrobras não é uma empresa inviabilizada por casos de corrupção ou má gestão. Ao contrário, os resultados de 2014 e as perspectivas para 2015 são muito animadoras, e demonstram a vitalidade e a força da empresa. Um problema para aqueles [tradicionalmente entreguistas e antinacionais, como a mídia e o PSDB e outros da direita] que querem mudar o modelo de partilha de exploração do Pré-sal, abrindo a empresa para os interesses do capital privado internacional, mas uma grande notícia para aqueles que, como nós, querem uma Petrobras forte para o Brasil e para os brasileiros.

Primeiro, vamos olhar os números. Com produção de 2,6 milhões de barris dia e perspectiva de crescer a 4,2 milhões/dia em 2020, a Petrobras foi a única empresa petroleira com aumento de produção em 2014, ficando a frente de gigantes do setor como Shell, Chevron, British Petroleum e ExxonMobil, que registram queda. Alcançou um lucro bruto de 80,4 bilhões de reais, 15% a mais que em 2013, e o faturamento, a produção, o refino, a construção de sondas, plataformas e navios cresceram, mesmo com a crise e de todo o ataque especulativo. Tudo isso, apesar de ter apresentado em seu demonstrativo perdas de 3% relativas a cada um dos contratos de empresas envolvidas nos casos de corrupção em investigação. A nova postura da empresa resgata parte de sua credibilidade diante da sociedade e do mercado, e por isso vem recuperando nos últimos dias o valor das ações, e obteve dos auditores externos independentes da "PricewaterhouseCooper" parecer de aprovação sem ressalvas aos seus demonstrativos.

Segundo, enfrentar os desafios. Mesmo diante de um cenário positivo para a sua recuperação, devemos guardar qualquer euforia ou ufanismo, é necessário ter serenidade e muita responsabilidade diante de um dos momentos mais delicados pelo qual passa a empresa. É desejo da sociedade, do governo e da própria empresa enfrentar as denúncias de corrupção expostas na operação Lava a Jato com todo o rigor e transparência, mantendo a Petrobras como empresa pública, mas também o atual modelo de partilha e a política de conteúdo nacional, proposto e aprovado nos governos Lula e Dilma. Esse modelo é que garante, entre outras, a preferência para compras de insumos de empresas nacionais, incentivando à indústria naval e a pesquisa local, com geração de empregos e renda no Brasil, e ainda destina os recursos dos royalties do petróleo para a educação e a saúde de todos os brasileiros, com efeito direto no desenvolvimento econômico e social do país. As perdas de 2014, decorrentes da corrupção, da crise mundial do petróleo e da desvalorização dos ativos foram significativas e levam aos ajustes necessários para 2015, especialmente em relação ao novo planejamento de investimentos e a readequação das formas de financiamento. Na esfera administrativa, a empresa deve aprofundar o processo de aprimoramento de gestão, iniciado em 2014, com vistas à eficiência da estrutura de governança e controle. Mantendo os níveis crescentes de produção, a outra barreira a vencer será, em relação à política de conteúdo nacional, a reestruturação e identificação de novos fornecedores, haja vista que 27 empresas estão entre as investigadas e os acordos de leniência exigem ainda um tempo maior de debate.

Terceiro, estar atento as ameaças. Precisamos defender a Petrobras dos seus predadores internos e externos. O ponto chave não é a capacidade da empresa de reagir às dificuldades atuais, mas a capacidade que teremos de proteger a Petrobras da guerra subterrânea em curso, patrocinada por grandes empresas estrangeiras do setor contra o controle do Estado sobre as jazidas de petróleo, infelizmente contando com o apoio de setores do empresariado local, de partidos (destacadamente o PSDB e DEM) e parte da grande mídia.

A pressão organizada por esses grupos econômicos, nacionais e internacionais, aliados ao oportunismo de forças políticas conservadoras, pretendem forjar um ambiente de total descontrole com objetivo de criar condições para abertura das reservas de petróleo e do capital da empresa ao capital privado e às concorrentes estrangeiras da Petrobras. Buscam, a partir de um cerco midiático permanente e de novos projetos de lei de privatização e mudança do modelo de exploração do petróleo, em tramitação atualmente na Câmara dos Deputados, atender aos interesses contrariados com o regime de partilha e a política de conteúdo nacional. Por exemplo, está na Comissão de Constituição e Justiça projeto do senador José Serra (PSDB-SP) que revoga a participação obrigatória da Petrobras no modelo de exploração da camada pré-sal, e retira a condicionante de participação mínima da empresa em, pelo menos, 30% da exploração e produção em cada licitação. Outro exemplo, o valor do barril, que chegou perto dos U$ 100 em meados de 2014, hoje está cotado em U$ 56 dólares, isso faz toda a diferença para os negócios do petróleo no mundo inteiro, com queda no valor das ações de todas as empresas.

As ações da Petrobras que chegaram a cair para R$ 8,18 em janeiro deste ano, estão hoje em mais de R$ 12. Fica uma pergunta: quando o chamado "Mercado" estava com a razão? Provavelmente em nenhum dos dois momentos, considerando que o mercado de ações se move mais por critérios de especulação financeira nas Bolsas e menos pelo valor real e potencial de uma empresa. Esses movimentos nos revelam toda a dimensão do que está em jogo, ou seja, interesses diametralmente opostos aos da sociedade brasileira, de desenvolvimento nacional e de proteção do patrimônio público, duramente conquistado.

Nestes mais de 60 anos de história, desde a sua fundação, em 1953, fruto da luta de milhares de brasileiros, a Empresa sobreviveu a golpes militares, ataques especulativos, tentativas de privatização, crises mundiais do petróleo, da economia e denúncias de corrupção. Saiu de cada uma delas maior e mais forte. Da primeira Plataforma construída em 1968, passando pela descoberta da Bacia de Campos, em 1974, até a descoberta das jazidas do Pré-Sal, em 2007, a Petrobras se transformou na maior empresa mundial em capacitação técnica para a prospecção de petróleo em águas profundas, e provou que está acima de governos, partidos e interesses privados, firmando-se como uma empresa pública, com mais de 80 mil empregados honestos e dedicados. Hoje, com as denúncias de corrupção envolvendo alguns dos seus dirigentes, e a crise mundial do petróleo, novamente a Petrobras passa por um período difícil e desafiador, mas temos a certeza que, como em outros momentos, sairá dele ainda melhor e mais fortalecida. O primeiro passo da nova caminhada já foi dado, isso é o que queremos."

FONTE: escrito por HENRIQUE FONTANA (no portal Carta Maior)   (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/181102/O-que-querem-e-o-que-queremos-da-Petrobr%C3%A1s.htm).

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