segunda-feira, 24 de agosto de 2015

GUIA DO ÓDIO INGRATO DA ELITE A QUEM A TRATOU MUITO BEM




Pequeno guia do ódio ingrato da elite a quem a tratou muito bem

Por FERNANDO BRITO

"Nos índices publicados no “Vinte Anos de Economia Brasileira – 1995/2014”, publicação do "Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI" lançada em julho de 2014 atualizada em março último, fui buscar alguns exemplos de como “choram de barriga cheia” as elites brasileiras, ou suas subelites, que nem mesmo modos refinados já conservam e adere sem pudores à selvageria.

Para que esses senhores e senhoras reflitam como o governo dos “nordestinos e vagabundos” os beneficiou, a cada dado acrescentarei o que teria acontecido com o salário mínimo – aquele que o Armínio Fraga [quase Ministro da Fazenda de Aécio Neves] disse estar alto demais – se tivesse crescido na mesma proporção, e em dólares, para que a valoração seja mais compreensível.

Um salário mínimo, recorde-se, valia R$ 200 em 2002, com o dólar fechando o ano a R$ 3,60, o que representaria 55,5 dólares para o trabalhador humilde.

Começo pelas viagens internacionais, mesmo não considerando as que Lobão e aquela moça do "Revoltados Online" disseram que iriam fazer, no caso de vitória da Dilma.

Em 2002, os brasileiros gastaram em viagens internacionais US$ 0,4 bilhão. Ano passado, foram US$ 18,7 bilhões. 46,75 vezes a mais. Tivesse crescido na mesma proporção, o salário mínimo seria de US$ 2.594,62. Ou R$ 9.081, pelo dólar de hoje.

Nunca se viu tanto carro na rua – e com tanto carro de luxo, picapes e playboymóveis entre eles - pois as vendas de veículos passaram de 1,48 milhões de unidades, em 2002 para 3,5 milhões em 2014.

Para o pessoal do agronegócio não reclamar, registre-se que a produção de grãos passou de 96,8 milhões de toneladas para 193,4 milhões ano passado.

O pessoal está “duro” por aqui, não é?

Os investimentos estrangeiros diretosaqueles que iriam fugir do “Brasil comunista” implantado em 2002 – passaram de US$ 16,6 bilhões naquele ano (lembrem-se que estávamos na “era das privatizações), para US$ 62,5 
bilhões em 2014. Quase quatro vezes mais, a mesma proporção que se aplicou ao salário mínimo, em dólar.

Mas e os investidores financeiros, a turma do “mercado”, que tem horror ao “bolivarianos”?

Bem, em 2002 tinham investido aqui, em ações, US$ 2 
bilhões. Ano passado, quase seis vezes mais: US$ 11,5 bilhões. Em salários-mínimos ( e em dólar), daria para o office-boy receber hoje US$ 320 dólares, ou R$ 1.116, bem mais que os R$ 788 que recebe, se tivesse o mesmo tratamento dos investidores.

Se considerar-se a renda fixa (títulos), é ainda mais gritante: em 2002, tinham tirado do país, vendendo-os, R$ 6,8 bilhões. Ano passado, compraram US$ 22 
bilhões.

Mas não ficamos “perigosos” para eles, não somos os “frágeis da economia” onde o capital tem medo de investir.

O Risco Brasil em 2002 (medido pelo "Emerging Markets Bond Index Plus" do JP Morgan) era de 1445 pontos (depois de ter chegado a 2.500 às vésperas da eleição de Lula). Ao final de 2014, era de 259 pontos. 5,6 vezes menor, portanto.

Se a cada porção de segurança dos investidores crescesse, na mesma escala, o salário dos pobres, sempre em dólar, o mínimo estaria a R$ 1.084.

Ah, mas o Estado brasileiro é inchado e ineficiente e consome suas receitas com o pagamento do funcionalismo. Será? Pessoal e encargos sociais da União abocanhavam 4,8% do PIB ao final de 2002 e, no fim do ano passado, absorviam um sexto a menos, 4,24%.

Hoje, porém, é que vivemos no “caos”.

Tudo o que o governo petista deu-lhes, até hoje, é nada.

Do outro lado, revelou-se, na eleição, a imensa gratidão do povão pelo pouco que conseguiu.

Confirma-se a amarga ironia da frase de Millôr Fernandes de que “pobre é muito mais barato”.

Ele pode estar calado, mudo, confuso, com a onda que se criou com uma dúzia de ladrões públicos e com a covardia de alguns que prometem “curar o Governo” de seus gastos sociais e de investimento estrutural.

Pode estar perplexo com um Governo que tenta, para agradar aos “buchudos”, ser o que não deveria ser e que não fala com ele, não lhe faz carinhos e só lhe pede que aguente o rojão.

Mas – não, senhores – não é burro, e conhece muito bem essa turma que se diz pronta a curar o Brasil que, há 12 anos, quase estava matando."


FONTE: escrito por FERNANDO BRITO no seu blog "Tijolaço"  (http://tijolaco.com.br/blog/?p=29162).

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