quarta-feira, 30 de setembro de 2015

BILIONÁRIOS COMANDAM A PSEUDO "DEMOCRACIA" AMERICANA




As primárias dos bilionários

"Trump vai provavelmente fracassar, mas não sem ter esclarecido, à sua maneira, o funcionamento do sistema político local: “Sou um homem de negócios. Quando [os candidatos] me pedem, eu dou. Se preciso de alguma coisa dois ou três anos depois, eu peço a eles, e eles estão lá para mim

Por Serge Halimi, no "Le Monde Diplomatique"

Em 2012, Barack Obama e Mitt Romney consagraram cerca de US$ 1 bilhão cada um ao financiamento de sua campanha presidencial. Em vez de doar a um candidato, o bilionário nova-iorquino Donald Trump decidiu ele mesmo entrar na arena: “Ganho US$ 400 milhões por ano, então que diferença isso faz para mim?”. Outro bilionário, Ross Perot, prometia desde 1992 “comprar a Casa Branca para devolvê-la aos norte-americanos que não podem mais pagar por ela”.

Trump vai provavelmente fracassar, mas não sem ter esclarecido, à sua maneira, o funcionamento do sistema político local: “Sou um homem de negócios. Quando [os candidatos] me pedem, eu dou. Se preciso de alguma coisa dois ou três anos depois, eu peço a eles, e eles estão lá para mim”. Ex-senadora por Nova York e candidata às primárias democratas, Hillary Clinton também esteve “lá”: “Eu disse a ela para vir ao meu casamento, e ela veio. Vocês sabem por quê? Porque doei dinheiro para sua fundação”. A fim de obter um presidente incorruptível, sugere Trump, escolham na lista os corruptores!


                          Donald Trump

Uma decisão da Suprema Corte suprimiu em 2010 a maioria das restrições às doações políticas dos indivíduos e das empresas privadas. [1]. Desde então, as grandes fortunas estampam sem pudor seus favores. Para explicar o número sem precedentes de candidatos republicanos à Casa Branca (dezessete), o "New York Times" ressalta que quase cada um pode contar “com o apoio de um bilionário, o que significa que sua campanha não tem mais nenhuma relação real com sua capacidade de levantar fundos se dirigindo aos eleitores”. Jeb Bush já redefiniu a natureza das “pequenas doações”. Para a maioria dos candidatos, é menos de US$ 200; para ele, menos de US$ 25 mil...

Três bilionários – Charles e David Koch, e Sheldon Adelson – se tornaram assim os grandes padrinhos da direita norte-americana. Os irmãos Koch, que execram os sindicatos, pretendem doar US$ 889 milhões às eleições do ano que vem, quase tanto quanto cada um dos grandes partidos. O governador do Wisconsin, Scott Walker, está entre seus favoritos, mas três de seus concorrentes republicanos deferiram sua convocação com a esperança de conseguir também alguma doação.[2]

Walker também tenta cativar Sheldon Adelson, oitava maior fortuna do país e adorador do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.[3] Nesse caso ainda, ele não é o único a bajular o bilionário octogenário. [4] Há dois anos, Adelson estimava que os Estados Unidos deveriam expedir mísseis nucleares para o Irã em vez de negociar com seus dirigentes. Os dezessete candidatos republicanos talvez tivessem essa apreciação em mente quando debateram entre si em 6 de agosto passado. Em todo caso, todos se opuseram ao acordo recentemente fechado entre Washington e Teerã."

NOTAS:

[1] Ler Robert W. McChesney e John Nichols, “Aux États-Unis, médias, pouvoir et argent achèvent leur fusion” [Nos Estados Unidos, mídias, poder e dinheiro concluem sua fusão], Le Monde diplomatique, ago. 2011.

[2] Marco Rubio, Ted Cruz e Rand Paul, respectivamente senadores da Flórida, do Texas e do Kentucky.

[3] Ler “Netanyahou, président de la droite américaine?” [Netanyahu, presidente da direita norte-americana?], La Valise diplomatique, 4 mar. 2015. Disponível em: www.monde-diplomatique.fr.

FONTE: escrito por Serge Halimi, diretor de redação do periódico "Le Monde Diplomatique (França). Ilustração: André Ducci. Transcrito no site "Patria Latina"  (http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=61c68ac879a7ec23b78912aa04f59d78&cod=15852).[Título acrescentado por este blog 'democracia&política'].

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