quarta-feira, 30 de setembro de 2015

BRASIL E DILMA SÃO VÍTIMAS DO PMDB E PSDB (da "Folha", por Janio)






Um bom tumulto 

Por Janio de Freitas, na "Folha de São Paulo" [e é jornal radicalmente tucano. Como seria este artigo, se não fosse...]

"Ainda que paradoxal, na existência já de mais de 30 partidos, a criação de outro –a ser decidida [esta semana]– é capaz de levar a um necessário tumulto no panorama partidário. Se autorizado pela Justiça Eleitoral e cumpridos os acordos para adesão de deputados, o "Partido Liberal" [PL] resultará, mais do que no fortalecimento de Dilma Rousseff, no enfraquecimento do PMDB. E enfraquecer o PMDB é uma necessidade do país.

Desde a volta ao regime civil, o PMDB tem usado a sua preponderância parlamentar como fator desestabilizante. Essa é uma afirmação contrária à ideia estabelecida, mas coincidente com os fatos rememoráveis. Saído da ditadura com a aura de "representante da luta e da reconstrução democráticas", o PMDB se posicionou como força orientadora e incontrastável. Cabe-lhe a responsabilidade por grande parte dos fracassos administrativos e da intranquilidade política no governo Sarney, sem que isso fosse reconhecido na época, nem depois.


Ulysses Guimarães, instigado pelas correntes da divergência interna no PMDB, e sempre desejoso de ser o líder de todas, foi o portador impositivo de reivindicações e ambições peemedebistas incessantes. A essas juntaram-se as manobras de Sarney para criar áreas de domínio seu no governo, de tudo decorrendo um governo inviável. Com penosas consequências para o país como um todo e sobretudo para as classes carentes. O PMDB não governou, porque não era governo, mas também não fez oposição consequente, porque se supunha e agia como o verdadeiro governo. O poder tinha que ser do PMDB.

Foi de Collor. Graças ao PMDB. A imposição do plano anti-inflacionário tresloucado só foi possível porque o PMDB garantiu-o no Congresso. Todos os desatinos que se seguiram foram apoiados ou consentidos pelo PMDB. Mesmo quando a exacerbação dos problemas de Collor, em torno dele e no governo suscitou animosidade nacional, o PMDB tergiversou o quanto pôde, acompanhado pelo PFL (hoje DEM). O país não teria passado pela maior parte do acontecido no período Collor, não fosse a garantia inicial dada pelo PMDB, com seu longo comprometimento.

Fernando Henrique/PSDB hoje posa, uma especialidade, de "vestal udenista". Em seu governo, entregou-se ao PMDB, mas não só: também se entregou ao PFL. O método pesado de Sérgio Motta, com as mãos nos bolsos, e, depois, a eficiência sutil de Luís Eduardo Magalhães não evitaram a sucessiva entrega ao PMDB de ministérios, de pedaços do governo, de muitas verbas altas e outras vantagens pacificadoras. Dos muitos bilhões do PROER às privatizações, ou aos bloqueios à CPI da compra de votos para reeleição e a outras CPI, o governo Fernando Henrique pagou altos preços pelo apoio ou pelo consentimento do PMDB. Sem os quais Fernando Henrique e o governo não se aguentariam com tais escândalos, mesmo sob a proteção midiática.


O primeiro mandato de Lula foi um entregar dos pontos para todos os lados. Menos para aqueles com os quais o próprio Lula e o PT tinham o seu compromisso existencial. A CPI do mensalão e o subsequente processo apenas alargaram as portas para o alheio. No centro desse enclave invasor, o PMDB -antecipando o que seria a forte "base aliada" do segundo mandato.

O governo Lula não foi erodido por crises, passado o mensalão. Mas, em grande parte, porque o toma-lá/dá-cá com o PMDB foi executado com muito mais habilidade, talvez como contribuição da experiência de Lula nas batalhas sindicais. Mas a herança de Lula para Dilma começou e terminou na entrega da faixa presidencial. O PMDB faz com Dilma o que fez com Sarney, em situações política e econômica também semelhantes. Não é preciso mencionar o que o PMDB das pautas-bombas tem feito. É suficiente chamar atenção para o verdadeiro sentido da ação do PMDB: Dilma é vítima apenas circunstancial, do PMDB como do PSDB, porque a verdadeira vítima é o país.

Se o PL nasce e recebe as adesões já combinadas, tornará possível uma aliança partidária que se equipare em número ao PMDB. Sem efeito direto sobre a crise -que a fraternidade PMDB-PSDB, com auxílio dos demais seguidores de Eduardo Cunha, é bastante para manter. Mas a nova aliança quebraria a perniciosa predominância parlamentar com que o PMDB se faz operador de crises, tanto políticas como de governabilidade. Contra o país."


FONTE: escrito por Janio de Freitas, na "Folha de São Paulo   (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2015/09/1687758-um-bom-tumulto.shtml). [Título e entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].

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