sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

BRASIL E ARGENTINA: DE PARCEIROS A RIVAIS?




BRASIL E ARGENTINA: DE PARCEIROS A RIVAIS?

"O que mais assustou na primeira aparição pública internacional formal de Mauricio Macri foi a insistência em colocar o tema da Venezuela na reunião do Mercosul, em Assunção, sabendo que iria encontrar respostas duras e não conseguiria emplacar. A avaliação que ele faça da situação da Venezuela poderia encontrar algum tipo de receptividade em um ou outro presidente presente, mas ter escolhido para sua estreia um tema assim, representa uma postura de querer introduzir elementos que fraturem a unidade interna do Mercosul e acenem com a possibilidade de que venha a defender posições dos EUA na região".

A avaliação é do colunista do 247, Emir Sader. Nesse contexto, ele prevê que a aproximação de Macri com os norte-americanos pode produzir "uma polarização em relação ao Brasil", uma vez que Macri pode se deixar seduzir por algum tipo de privilégio da parte dos EUA. "Os dois países eixos da integração regional deixariam de ser parceiros estreitos para se tornarem rivais. Possibilidade difícil de visualizar hoje, mas que pode, no futuro, conforme as coisas evoluírem na região, se tornar realidade", pontua.

O que mais assustou na primeira aparição pública internacional formal de Mauricio Macri foi a insistência em colocar o tema da Venezuela na reunião do Mercosul em Assunção, sabendo que iria encontrar respostas duras e não conseguiria emplacar. A avaliação que ele faça da situação da Venezuela poderia encontrar algum tipo de receptividade em um ou outro presidente presente, mas ter escolhido para sua estreia um tema assim, representa uma postura de querer introduzir elementos que fraturem a unidade interna do Mercosul e acenem com a possibilidade de que venha a defender posições dos EUA na região, em um momento de imenso isolamento de Washington na America Latina, em particular na América do Sul. Desse ponto de vista, foi até uma atitude provinciana, sem qualquer tato diplomático, se é que ele deseja conquistar algum espaço de respeito nas relações entre os governos da região.

Atras tinha ficado o tempo em que os principais países do continente - Argentina, Brasil, México – tinham que renegociar suas dividas externas com os credores e não encontravam solidariedade nos outros governos. Ao contrário, os credores jogavam uns contra os outros, fazendo concessões a uns quando um dos governos estava em maiores dificuldades, para isolá-lo mais ainda.

Nos acostumamos, desde a eleição do Lula e do Nestor Kirchner, ao período de melhores relações entre os dois países, colocados em disputa desde final do século XIX, como potências adversárias e concorrentes. Foi a harmonia do eixo Brasil-Argentina que permitiu consolidar e ampliar o Mercosul, organizar a Unasul e a Celac. Os conflitos no Mercosul eram produto das disputas de empresários privados por mais mercado, enquanto as relações politicas entre os governos dos dois países foram excelentes durante 12 anos.

O fator externo que deve modificar essa clima é o das novas relações da Argentina com os EUA. Macri deve ser recebido pelo Obama e não será difícil a este suscitar a vaidade do novo presidente argentino, propondo relações privilegiadas do país com os EUA. Nada como as “relações carnais” que o Menem propôs aos EUA, mas algum tipo de privilégio que pode incentivar posições mais favoráveis ao livre comércio, à Aliança para o Pacífico, intercâmbios econômicos privilegiados com os EUA e posições politicas como a tomada em relação à Venezuela, que rompa consensos até agora existentes no Mercosul e em Unasul.

A situação nao é tao simples como Macri aparentemente pensa, em que pudesse compatibilizar o Mercosul com um tratado bilateral com os EUA e com vínculos com a Aliança para o Pacifico. E a economia argentina é muito dependente do Mercosul e da economia brasileira, para poder se permitir algum tipo de ruptura.

Porém, podemos imaginar que os EUA começam a sonhar em ter em um dos principais países da região, inserido nos processos de integração da America do Sul, um governo que defenda suas posições, como aconteceu em Assunção. Certamente, se produziria uma polarização em relação ao Brasil e os dois países eixos da integração regional deixariam de ser parceiros estreitos para se tornarem rivais. Possibilidade difícil de visualizar hoje, mas que pode, no futuro, conforme as coisas evoluírem [involuírem] na região, se tornar realidade."

FONTE: do portal "Brasil 247"  (http://www.brasil247.com/pt/blog/emirsader/210735/Brasil-e-Argentina-de-parceiros-a-rivais.htm).


COMPLEMENTAÇÃO

Macri, Venezuela e a mídia tendenciosa

Por Max Altman, no site Opera Mundi:

"Uma coisa é ter opinião, manifestar posição política e ideológica, travar a disputa de ideias.

Mas não dá para espancar a realidade. Principalmente no jornalismo em que postulados como objetividade e imparcialidade são imperativos de seu bom exercício.

Não acredito em imparcialidade de órgãos de comunicação. Sua linha editorial expressa a opinião de seus proprietários ou de sua direção.

Porém um mínimo de equilíbrio e respeito aos fatos é exigência, em especial nas reportagens.

A Folha de S. Paulo (ed. 22 dez, p. A13 mundo) escancara sua tendenciosidade no debate travado entre o presidente argentino Maurício Macri e a chanceler venezuelana, Delcy Rodriguez, por ocasião da XLIX Cúpula do Mercosul, que ocorreu ontem, 21 dezembro, no Paraguai.

Macri tomou a palavra antes e a Folha transcreve ‘ipsis literis’ o trecho em que acusa a Venezuela de atentar contra os direitos humanos: “No Mercosul não pode haver lugar para perseguição política por razões ideológicas nem privação ilegítima da liberdade por pensar diferente. Quero pedir expressamente, diante de todos os queridos presidentes do Mercosul, a pronta libertação dos presos políticos da Venezuela.”


Agora, quando se trata da Venezuela, a história é outra. Começa com a ilustração da chanceler Rodriguez exibindo uma foto. O texto legenda fala de uma suposta imagem de protesto de 2014. Como suposta? Esta foto foi tirada não pelo governo Maduro e sim por um fotógrafo da Agência France Press. Trata-se de um membro daqueles bandos de ultra-direita que levaram a violência e o caos às ruas daquele país em fevereiro de 2014, portando uma bazuca. Isto mesmo, uma bazuca, que foi uma das armas pesadas utilizadas nos atos de extrema violência praticados por aquela gente.

Noutra passagem diz o jornal: “A chanceler mostrou ainda fotos de manifestações que, segundo ela, teriam sido promovidas de maneira violenta pela oposição” Como “segundo ela”? E por que a condicional? Foram fatos reais, comprovadamente acontecidos, de que resultaram dezenas de mortos, em grande parte de responsabilidade dos bandos ultradireitistas.

Num outro trecho, citando palavras da chanceler venezuelana “Entendo que Macri queira pedir a liberdade desses violentos. Um de seus primeiros anúncios foi o de libertar responsáveis por tortura, desaparecimento e assassinato na ditadura argentina”, a repórter Mariana Carneira completa de próprio punho: “citando um indulto que nunca aconteceu”.

A chanceler em momento algum mencionou tal indulto. Referiu-se a pronunciamentos de Macri durante a campanha e anteriormente, corroborados por um rumoroso editorial do jornal conservador La Nación no dia seguinte das eleições em que pedia uma espécie de indulto aos responsáveis pelos crimes da ditadura e que mereceu forte rejeição dos próprios jornalistas daquele órgão e dos defensores dos direitos humanos da Argentina.

Macri pediu a libertação imediata dos presos políticos na Venezuela. E o que fazer com os familiares das dezenas de vítimas fatais e das centenas de feridos em decorrência dos atos de violência desatados sob a liderança desses presos políticos? Os familiares gritam não à impunidade e clamam por justiça.

Como defendo intransigentemente a objetividade, convido os leitores a ouvir a manifestação do presidente Macri e a seguir a da chanceler Delcy Rodriguez [aqui]."

FONTE da complementação: escrito por Max Altman, no site Opera MundiTranscrito no "Blog do Miro"  (http://altamiroborges.blogspot.com.br/2015/12/macri-venezuela-e-midia-tendenciosa.html#more).

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