terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

CARTÕES CORPORATIVOS - A IMPRENSA ESTAVA NUM “BURACO NEGRO”?

Este blog respeita e enaltece o importante papel da imprensa de informar, sem agendas ocultas. Detesto, no entanto, quando nela há evidências de cinismo e hipocrisia com fins escusos. Revolta-me ver a imprensa pautando e municiando os partidos “conservadores”, de direita, para obter o retorno deles ao poder. Chegam, até, a pregar a volta imediata ao poder daqueles convenientes partidos. Parecem contar com o solícito apoio do Presidente do TSE.

É o caso da “crise da vez”. A dos cartões corporativos. Há uma gritaria da nossa grande imprensa e dos políticos do PSDB/DEM contra os gastos do atual governo.

Como usual nos últimos cinco anos, omitem e blindam o governo tucano. São contra a serem alvo da mesma investigação sobre o que acusam.
Por exemplo, não mencionam, nem permitirão jamais isso, investigações sobre os gastos com cartões corporativos no governo tucanopefelista. Também, não têm permitido a instalação, pela Assembléia Legislativa de São Paulo, de CPI para apurar graves denúncias de vultosas falcatruas.
Durante o governo do PSDB/PFL/FHC, parecia que a nossa incansável imprensa investigativa e acusadora não estava no Brasil. Estava em algum lugar das galáxias. Nada se publicava contra o governo com destaque e insistência.

Hoje, 05/02/2008, como todos os jornais escritos e as redes de TV têm feito nos últimos dias, o jornal Folha de São Paulo destaca o escândalo dos gastos com a segurança da filha do atual presidente. “R$ 149 mil em três anos!” A elevada despesa de R$ 4,6 mil por mês! A imprensa e a oposição estão estarrecidas com tão grande quantia.
Esse sentimento de revolta da imprensa e do PSDB/DEM, todavia, é recente.
Jamais li sobre qualquer campanha da imprensa, e de instalação de CPI, para investigar os gastos com a segurança dos filhos de FHC.
Muito menos li sobre o assombroso gasto despendido para proteger uma fazenda da filha de Fernando Henrique Cardoso! FHC chegou ao cúmulo inconstitucional de para lá mandar deslocar, sem autorização do governo do Estado de MG, um grande e dispendioso contingente de tropas do Exército! A fazenda da filha de FHC nada tinha que pudesse ameaçar a Segurança Nacional. A imprensa e o PSDB/DEM acharam aquilo um gasto normal.

Também, nenhuma crítica li sobre o fato de FHC contratar uma afamada “chef de cuisine”, Roberta Sudbrack e sua equipe, para servir a ele e à Doutora Ruth diariamente no palácio (assim escrevi porque esse título ela exigia). Ao contrário, somente lia na grande imprensa constantes elogios cheios de orgulho pelo gosto refinado do nosso presidente. “Um verdadeiro príncipe!”.
Ainda, a imprensa achava normal FHC e a primeira dama levarem alguns netos em quase todas as viagens presidenciais para a Europa. Justificavam que era para aperfeiçoar a cultura daquelas crianças. A educação era prioridade.

Mesmo considerando-se o novo sentimento de revolta contra gastos públicos com os tais cartões corporativos, nenhum jornal ou TV manifestou-se contra dispêndios recentes do ex-presidente FHC com cartão corporativo. Após o seu mandato, somente desde 2004, ele já gastou recursos públicos com combustível para o seu carro em quantidade que daria para dar 17 voltas ao redor do mundo! Li essa notícia hoje no texto de Jussara Seixas no blog “Por um novo Brasil”.

Não vejo também, obviamente, a imprensa e o PSDB/DEM revoltados contra a falta de transparência nos gastos com o dinheiro público no caso das polpudas verbas que cada parlamentar recebe, além do enorme salário, sob o pretexto de “indenização”. Elas deveriam ser comprovadas e justificadas e não o são.
Mesmo se excluirmos as outras enormes quantias que cada um deles recebe mensalmente para “gastos com gabinete, com telefone, com passagens aéreas”, as tais verbas de indenização alcançam a impressionante ordem de grandeza de R$ 240 mil por ano para cada parlamentar! Somados, os mais de 500 parlamentares gastam quantia superior a R$ 120 milhões por ano somente com essas tais “despesas” que deveriam justificar! E sem a devida visibilidade do cidadão e da imprensa! Isso, repito, somente nessa relativamente "pequena" parcela (da ordem de R$ 15 mil por mês) dos seus bem maiores ganhos mensais (e com 16 salários por ano)!
Seria demais esperar-se que a imprensa estimule, e o Congresso institua, um autocontrole com o detalhamento e a transparência tais que permitam à população saber se o deputado X ou o senador Y gastou R$ 8,30 com tapioca...

Assim, com cômica incoerência, agora a imprensa e parlamentares da oposição clamam por instalação urgente de uma CPI para investigar os "vultosos" gastos com cartões corporativos da Presidência da República. Nada falam, lógico, sobre incluir na investigação o período do governo tucano. “No governo PSDB/DEM os gastos eram em emergência e para o bem público”.

Já expressei neste blog que a Controladoria Geral da União (CGU) divulgou oficialmente que a gestão do governo do PSDB/DEM-PFL/FHC gastava bem mais com cartões corporativos do que o governo Lula.
A CGU informou o total das despesas realizadas na gestão Lula ano a ano:
Em 2003, a conta de suprimento de fundos foi de R$ 145,1 milhões; em 2004, R$ 145,9 milhões; em 2005, R$ 125,4 milhões; em 2006, R$ 127,1 milhões; e em 2007, R$ 176,9 milhões.
Segundo a CGU, enquanto em 2001 e 2002 (governo PSDB/DEM) os gastos do governo federal com suprimento de fundos foram de R$ 213,6 milhões e R$ 233,2 milhões respectivamente, a partir de 2003 esse tipo de gasto foi significativamente reduzido, mantendo-se, nos últimos cinco anos, a média anual de R$ 143,5 milhões.
Vê-se que os "impressionantes gastos do governo Lula” são muito menores que os R$ 233,2 milhões de FHC em 2002...

Concluo. Na época do governo tucano, esse tema não era notícia, mesmo sendo os gastos imensamente maiores do que os atuais. Em que “buraco negro” estavam a imprensa e os revoltados parlamentares do PSDB/DEM? O melhor que se pode fazer para não nos aborrecer é considerá-la uma tragicomédia que nos apresentam. E de graça! O cinismo hipócrita deles é risível.

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