sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O ROUBO NA PETROBRÁS – HÁ SUSPEITOS?

Foi divulgado ontem o grave roubo sofrido pela Petrobrás no início deste mês de fevereiro.

Li na UOL que a Polícia Federal já iniciou investigações. Um disco rígido e dois computadores portáteis que continham dados sobre as novas descobertas de petróleo no litoral brasileiro foram furtados.

O roubo ocorreu no percurso entre uma plataforma, em Campos, e uma sede da empresa, em Macaé, ambos no Estado do Rio de Janeiro.
De acordo com a Folha On Line, o contêiner (de onde foram roubados os computadores com dados muito sigilosos) pertence à empresa Halliburton dos Estados Unidos (EUA), que já foi comandada pelo vice-presidente norte-americano Dick Cheney. A empresa havia sido contratada pela Petrobrás para o transporte.

Essa empresa é poderosíssima econômica e politicamente nos EUA. A imprensa americana, após a fase de total bloqueio de notícias contrárias à invasão do Iraque em 2003, vazou a suspeita de que aquela guerra havia sido motivada por interesses norte-americanos no petróleo do Iraque e, também, por interesses econômicos da Halliburton, ligada ao vice-presidente de Bush, Dick Cheney.
A Halliburton, logo após a invasão, e até hoje, recebe de forma privilegiada contratos bilionários, sem licitação, em atividades e serviços terceirizados no Iraque pelas forças armadas dos EUA. Os seus lucros são gigantescos. Para termos uma idéia de sua ordem de grandeza, lembremos que o orçamento militar dos EUA, este ano de 2008, alcança três quartos de trilhão de dólares! E grande parte desse orçamento vai para empresas privadas norte-americanas, inclusive as terceirizadas nos campos de batalha iraquianos.

Teria fundamento suspeitar-se da Halliburton, de outras gigantes do petróleo ou do governo dos EUA (FBI, CIA etc) no roubo da Petrobrás?

Teria.

Por quê?

Sei que muitos leitores, neste ponto desta postagem, já interromperão a leitura e esbravejarão, ridicularizando a minha suspeita. Dirão como a Folha de São Paulo em outra oportunidade: “Afrontar os interesses dos EUA, ser antiamericano, é patriotismo nacionalisteiro, coisas de um país de 2ª classe como o Brasil” (Fernando Rodrigues, FSP, 17/05/2004).

Contudo, eu explico por que tem cabimento a suspeição.

Recordemos o problema no Iraque.
Atualmente, já é claro, até para a imprensa e a população norte-americanas, que a guerra do Iraque foi deflagrada por conta da necessidade estratégica de garantirem o fluxo de petróleo necessário à movimentação da economia dos EUA.
Pensavam, de início, que a operação militar seria um investimento com grandes lucros logo em curto prazo. Assim fora na primeira invasão em 1991. Todavia, o aspecto econômico da 2ª invasão, iniciada com grande espetáculo pirotécnico do bombardeamento noturno de Bagdá televisionado para o mundo na noite de 19/03/2003, não está nada favorável para os EUA. Ao contrário. É uma tragédia econômica para o país, exceto para certas empresas norte-americanas, ligadas às forças armadas, como a Halliburton. Para elas foi uma loteria.

Porém, não somente para elas. Muitos outros nos EUA também acham que valeu a pena.
Logo no primeiro ano da invasão, o “Washington Post” afirmou, em 12/05/2004, que “a ocupação do Iraque criou muitos empregos nos EUA; foi responsável por 16 % do crescimento da economia norte-americana somente no primeiro trimestre de 2004 e trouxe muitos votos decisivos para a reeleição do presidente Bush em regiões mais beneficiadas pela guerra, como Ohio”.

Naquele início, o Departamento de Defesa (DOD) expôs ao Congresso que os custos norte-americanos com a guerra se pagariam com os recursos que tirariam do próprio petróleo iraquiano e de outros que seriam auferidos sob o título de ajuda financeira para a reconstrução daquele país. Erraram fragorosamente.

A imprensa dos EUA, entretanto, embriagada de tanto patriotismo no início dos ataques, externou que todo o esforço de guerra seria benéfico, inclusive porque o petróleo voltaria a ser bombeado sob o controle de empresas norte-americanas.

Em 13/04/2004, o presidente Bush declarou: “The oil revenues are. Is pretty darn significant. They’re now up and running” (Financial Times, 14/04/2004). Foi emocionantemente aplaudido de pé no Congresso.

Era difícil, e continua sendo, esconder os verdadeiros objetivos norte-americanos: a garantia para eles das reservas de petróleo e do seu barato suprimento por muitas décadas; a criação de um Estado iraquiano visceralmente pró-americano no Golfo Pérsico; como também a expansão geopolítica e econômica dos EUA baseada na submissão dos outros países pelo medo de sua força ali demonstrada de única hiperpotência e pela certeza que todos ficariam de impossibilidade de confrontá-los militarmente.

Uma pequena parte da imprensa dos EUA dizia que a invasão também aconteceu porque estavam em jogo interesses particulares da família Bush, ligada a empresas petrolíferas do Texas e da Arábia Saudita, e a ganhos bilionários da empresa Halliburton, “ex-comandada” pelo vice-presidente dos EUA, Dick Cheney.

Muitos no Brasil, desinteressadamente, por amor, admiram e defendem os EUA por terem feito aquela invasão militar. No Brasil, nos grandes jornais era constante nos anos 90, e ainda se vê, a defesa apaixonada dos EUA naquela guerra. Por exemplo, o jornal Folha de S. Paulo (FSP) criticou a “capciosa campanha antiamericana na imprensa sobre supostas crueldades odiosas dos soldados norte-americanos contra prisioneiros iraquianos. Os militares dos EUA despem, humilham e até dão alguns sopapos nos prisioneiros, isto é inevitável em toda guerra. Os iraquianos os esfolam, queimam vivos ou os degolam. As críticas aos EUA são obras de espertalhões conscientes e de milhares de idiotas úteis que não têm idéia da origem remota das suas opiniões” (Olavo de Carvalho, FSP, 20/05/2004).

Não acho que pessoalmente jornalistas estivessem sendo comprados no Brasil para serem pró-EUA. Jornais, TVs e políticos sim. Já mencionamos neste blog que o norte-americano ex-chefe no Brasil (no período 1999-2003) do “Federal Bureau of Investigation” (FBI) tornou a compra da imprensa mais clara, ao declarar que “uma das importantes funções que a Embaixada dos EUA no Brasil tinha era influenciar, manipular, conduzir, controlar a imprensa brasileira, inclusive comprando-a para atender os nossos interesses” (depoimento à “Carta Capital” nº 283 e 284, de 24 e 31/03/2004).

As guerras dos últimos trinta anos demonstraram a violência com que os EUA procuram garantir o seu acesso direto às matérias-primas essenciais para a manutenção do “american way of life” para a sua população.

Então? E a suspeição que lancei no início sobre envolvimento doloso dos EUA e de certas empresas a eles ligadas, como a Halliburton, com o recente roubo na Petrobrás?

Para considerá-la, basta lembrar o que declarou o já mencionado ex-chefe do FBI/EUA no Brasil.

“Os EUA sacam da economia mundial o máximo que podem...Somos 4% da população, mas consumimos entre 45% e 50% da matéria-prima do planeta (consomem, principalmente, 45% do petróleo do mundo)..Muito em breve, para manter sua hegemonia e padrão de vida, os Estados Unidos terão que lutar diplomática e militarmente” (Entrevista à “Carta Capital”, no 283, de 24/03/2004).

A última e misteriosa frase nos assusta! E é para “muito em breve”!

As recentes descobertas da Petrobrás de novos campos petrolíferos nos arrepiam! Foi a maior descoberta de reservas de petróleo no mundo nos últimos dez anos!
Recordo a primeira matéria deste blog, em 7 de janeiro último. Seu título foi “Novo Iraque?”. Eu havia lido naquele dia uma nota no Jornal do Brasil informando “que o Suriname pretende ceder aos Estados Unidos uma grande área para instalação de uma base militar americana. A Guiana está negociando com o Reino Unido a concessão de 25 mil hectares para o mesmo fim."
Aquilo, para mim, é mais um indício forte de que os EUA e a Inglaterra preparam, para médio prazo, talvez menos de 10 anos, uma ocupação militar da Venezuela (vizinha da Guiana). A Venezuela fornece boa parte do petróleo consumido pelos EUA. Será uma nova Guerra do Iraque na nossa fronteira.
Vários outros indícios dessa preparação de invasão estão presentes diária e intensamente na nossa grande mídia e nos partidos mais de direita. Eles sempre foram instrumentos dos grandes interesses norte-americanos. Por exemplo, já é um sucesso no Brasil e no mundo a campanha de demonização do presidente venezuelano Hugo Chavez. Ela já conquistou grande parte dos corações e mentes brasileiros. Predispõe a nossa aceitação e a atitude colaborativa para a invasão norte-americana e inglesa na Venezuela.

As recentes descobertas pela Petrobrás de gigantescas reservas petrolíferas estendem para a costa brasileira o foco de futuras intervenções militares norte-americanas!

Portanto, respondo á pergunta lançada no início deste artigo: teria fundamento suspeitar-se da Halliburton ou do governo dos EUA quanto ao roubo de dados sigilosos da Petrobrás sobre os novos gigantescos campos petrolíferos?.
Sim. Teria. Acredito que minhas suspeitas têm cabimento.

E o pior, creio que os EUA contarão, em eventual intervenção militar na Venezuela e no Brasil, com o grande apoio da nossa grande imprensa e dos partidos por ela manipulados, o PSDB, o DEM (e o agregado PPS). Contarão também com a simpatia de muitos brasileiros, militares inclusive, que já estão, e cada vez mais estarão, adequadamente doutrinados pela mídia.
Não é uma prospecção absurda. É a realidade que se criou no Brasil. Já mostramos neste blog, na matéria “Por que a grande mídia brasileira é tucanopefelista?”, as evidêcias de que continuarão fortes no Brasil as campanhas de interesse dos EUA e das grandes potências. O apoio da mídia brasileira, do governo e de grandes empresas dos EUA ao PSDB, ao PFL-DEM, que sempre lhes foram muito convenientes durante os governos daqueles partidos, será cada vez mais intenso.

Eles solaparão, especialmente, qualquer maior esforço e dispêndio concreto para a nossa defesa militar, para o aparelhamento das nossas Forças Armadas.
Impedirão, por todos os meios, que o Brasil alcance um nível de defesa capaz de, pelo menos, dissuadir a ganância da hiperpotência militar do planeta, e de seus ricos aliados, pelas nossas matérias-primas. Principalmente, em se tratando de petróleo.

9 comentários:

  1. O pior nisso tudo é que há fundamento sim, Como há.O sonho da elite brasileira, seria o país ser o quintal dos EUA. Eles amam tudo isso. Se bem que a elite anda meia cabreira com a eleição , com a vitória do Obama. Esse roubo que a mídia não está dando a devida importância é muito sério, é grave, põe em risco a soberania nacional. Esse campo é o maior do mundo, há vários interessados nesses documentos. Mas com certeza os EUA seria o interessado principal.

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  2. Só não consigo entender, porque a Petrobras, deixa a raposa guardar e transportar os ovos.
    Ps. Verifique sua informação quanto aos 25 milhões de ha prometidos para a Inglaterra, isso dá 250 mil Km², maior que a área da Guiana que é de pouco mais de 214 mil Km².

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  3. Prezado Luiz Oliveira. Tem razão. Copiei do jornal aquele número, sem maior reflexão. Mas o valor provável deve ser 2,5 milhões de hectares. Corrigi. Obrigado

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  4. Prezado Luiz Oliveira. Tem razão. Copiei do jornal aquele número, sem maior reflexão. Mas o valor provável deve ser 2,5 milhões de hectares. Corrigi. Obrigado

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  5. Prezado Luiz
    Errata. O valor mais provável deve ser 25 mil hectares, e não 25 milhões (conforme o jornal) ou 2,5 milhões como eu lhe respondi. Já corrigi. Obrigado. O importante é o fato de EUA/Inglaterra se fixarem militarmente naquela região.
    Maria Tereza

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  6. Absolutamenete correto o raciocínio. O articulista só esqueceu de dizer que dados tão preciosos deviam estar guardados a sete-cheves. Por quê simples computadores portáteis precisam ser transportados por navio? Por quê os computadores se encontravam na plataforma? Por quê quem levou os computadores não os trouxe de volta? Face a essas dúvidas, posso concluir: ALGUÉM DA PETROBRÁS ESTÁ ENVOLVIDO NESSE CRIME. É por esse caminho que a PF e a ABIN devem iniciar as investigações. Já que os USA não consideram AFOGAMENTO como tortura para arrancar confissão, bem que a PF pode usar desse meio com o responsável pelo transporte dos computadores.

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  7. Para não ficar no anonimato: Lice é o pseudônimo de Gilson Raslan

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  8. Prezado Gilson (Lince)
    Você tem toda razão. Houve fatos incompreensíveis. Pelo caminho das "falhas" da Petrobrás é possível chegar aos mandantes, via Halliburton. Quando chegarem, duvido que publiquem...
    Maria Tereza

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