Já recordamos aqui, em alguns artigos, como o Brasil foi seriamente prejudicado na década de 1990, sob o governo FHC do PSDB e PFL (DEM), por ter abdicado dos interesses nacionais em prol de objetivos das grandes potências industrializadas.
Os interesses nacionais foram vilipendiados sob ações disfarçadas com eufemimos, o famoso “tucanês”. Sob rótulos como “moderno”, “neoliberal”, “avançado”, “Estado Mínimo”, “abertura, sem contrapartidas, do nosso mercado interno para as grandes potências” e outros, foram inoculados graves entraves ao desenvolvimento nacional. Essas ações também foram ajudadas por um atávico complexo de colônia. Pela crônica e automática admiração da nossa “elite” pelas idéias do primeiro mundo.
Tais idéias “modernas” também foram logo implantadas devido à nossa vulnerabilidade de alto e crescente endividamento externo, por sua vez agravado pelas mesmas ações “modernizantes”.
Porém, o motivo mais forte da adoção foi o seguinte. Elas passaram a ser condicionantes sine qua non para o recebimento pelo Brasil de recursos das agências internacionais de créditos (FMI, BID, BIRD e outras). Imposições impostas nos acordos-quadro e como pré-condição para a liberação de cada uma das parcelas dos empréstimos.
Os EUA pretendiam agravar e perpetuar no Brasil aquelas imposições por meio da ALCA. O nosso então presidente FHC era muito simpático à idéia de aquela ‘aliança’ com os EUA ser rapidamente estabelecida. Afirmou em Washington, em 21/04/1995, que estava seguro que a meta de criar a ALCA com o Brasil seria alcançada em 2005. Prometeu isso no discurso da sessão solene do Conselho da Organização dos Estados Americanos.
A grande mídia brasileira, como não poderia deixar de ser, defendia ardorosamente a adesão do Brasil à ALCA. Grande jornal brasileiro (Folha de São Paulo) publicou (2004) que deveríamos aceitar logo as imposições dos EUA para a ALCA “mesmo que em condições não-satisfatórias para o Brasil”!
Agora, leio um ótimo texto hoje publicado no blog do jornalista Luiz Carlos Azenha .
Demonstra que os países que aderiram à ALCA, ao NAFTA, ao CAFTA e a outros tratados de ‘livre comércio’ (sempre estabelecidos com condições draconianas beneficiárias dos EUA) estão agora sob sério risco.
Transcrevo o texto do blog do Azenha:
“RECESSÃO AMERICANA TERÁ GRAVE IMPACTO NA AMÉRICA LATINA, MAS NO BRASIL SERÁ MENOR”
“O CEPR, Center for Economic and Policy Research, de Washington, é dedicado a estudar a relação política e econômica entre os Estados Unidos e a América Latina. Em estudo recém-divulgado, assinado por Mark Weisbrot, John Schmitt e Luis Sandoval, avalia o impacto econômico de uma recessão americana na região.
Vocês sabem que os Estados Unidos importam tudo. Do suco de laranja brasileiro a brinquedos eletrônicos chineses. O déficit comercial americano bateu em 5.8% do PIB em 2006. "Deficits dessa magnitude levaram a um grande crescimento da dívida externa dos Estados Unidos", dizem os autores, lembrando que ela chegou a U$ 2,9 trilhões no final de 2006, ou 19,7% do PIB.
Eles argumentam que a situação é insustentável. E acreditam que, a partir da redução do crescimento americano - ou mesmo de uma recessão - o déficit comercial americano será ajustado, caindo de 5.2% do PIB em 2007 para 3% em 2010.
"Alguns países são mais dependentes do mercado americano do que outros. Por exemplo, 77% das exportações do México vão para o mercado americano e essas exportações representaram cerca de 21% do PIB em 2007. Outros países onde as exportações para os Estados Unidos constituem uma parcela significativa do PIB incluem Honduras (37%), Nicarágua (26%), Canadá (23%) e vários outros países da América Central e do Caribe.
Já na América do Sul, as exportações para o mercado americano representam "apenas" 2.9% do PIB do Brasil e 1.6% do PIB da Argentina. "As exportações da Venezuela para os Estados Unidos representam 15% do PIB, mas 95% disso é petróleo. Nos cálculos que seguem, consideramos que as exportações de petróleo, gás e produtos relacionados não cairão por causa da redução do crescimento econômico dos Estados Unidos. Isso reduz o impacto para o Canadá, a Colômbia, o Equador e a Venezuela."
Os economistas projetaram dois cenários. Um considera um pequeno ajuste no déficit comercial dos Estados Unidos. Outro, um ajuste profundo.
A redução do PIB brasileiro por conta disso, segundo o estudo, ficaria entre 0.2 e 0.4% do PIB.
A do Canadá ficaria entre 2.8 e 4% do PIB.
A do México ficaria entre 2.9 e 4.1% do PIB.
A da Venezuela ficaria entre 0.1 e 0.2% do PIB.
A de Honduras ficaria entre 5.9 e 8.3% do PIB.
A da Bolívia entre 0.3 e 0.5%.
A da Colômbia entre 0.4 e 0.5%.
A do Equador entre 0.6 e 0.8%.
A do Chile entre 0.9 e 1.2%.
"Os países que vão sofrer mais como resultado da redução de importações americanas são aqueles com os quais os Estados Unidos fizeram tratados de 'livre comércio' em décadas recentes, inclusive o NAFTA entre EUA, Canadá e México, o Tratado de Livre Comércio da América Central com a República Dominicana e o CAFTA, que inclui Estados Unidos, Guatemala, El Salvador, Costa Rica, Nicarágua, Honduras e a República Dominicana", diz o estudo.
Os autores não consideraram outros impactos da redução da atividade econômica nos Estados Unidos, como nas remessas de dinheiro, que representam 31% do PIB do Haiti, 17% na Nicarágua, 16% em El Salvador, 16% na Jamaica e 11% na Guatemala.
Isso é mais do que justificativa para que países da região, especialmente os exportadores de energia, procurem outros mercados para seus produtos e façam parcerias com o Irã, a Rússia, a China e a Índia. Não há nada de revolucionário nisso, apesar do que dizem o governo Bush e a TV Globo. É uma questão de sobrevivência econômica.
Isso explica porque países como a Nicarágua, por exemplo, vão ficar mais dependentes de quem lhes pode facilitar a vida - Hugo Chávez e os bilhões que ele controla com o petróleo a 100 dólares o barril.
Isso sugere que vem uma crise econômica, com possível impacto na segurança pública e na política, em países importantes como o México - onde já assistimos à militarização do governo para combater a imigração ilegal e os movimentos sociais.
Isso sugere desespero econômico ainda maior em países como Honduras, Guatemala e Haiti, com aumento da pressão para que os habitantes destes países busquem oportunidades econômicas em outro lugar.
Isso sugere que os imigrantes servirão de bode expiatório para problemas econômicos estruturais, dependência excessiva do mercado americano e acordos comerciais que equivalem à anexação econômica. Já acontece na Costa Rica, onde o "problema" são os imigrantes que chegam da Nicarágua; e na República Dominicana, onde a "culpa" é de quem vem do Haiti.
Ou seja, como a soberania política está intimamente ligada à soberania econômica, assistiremos à ascensão relativa de países com recursos naturais - Venezuela, Equador, Bolívia, Colômbia e Brasil.
É uma oportunidade de ouro para que o Brasil faça avançar seus interesses econômicos e políticos até o México.
A paz verdadeira na América Latina, com a eliminação política - e não militar - das FARC faz todo sentido para a integração econômica, especialmente na América do Sul.
Quem seria o maior ganhador de um mercado continental e da integração física através de estradas, ferrovias, ligações aéreas e trocas de mercadorias?
Que tal o Brasil?
Qual é a maior dificuldade para que isso aconteça?
Seria a instabilidade política?
A quem interessa desmobilizar as FARC de forma pacífica, através de um acordo político?
A quem interessa evitar a partilha da Bolívia, através de uma saída diplomática?
A quem interessa mandar bala nas FARC?
A quem interessa partilhar a Bolívia?
Eu gostaria de ouvir as respostas. Mas sem a papagaiada do Ali Kamel e congêneres.”
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