domingo, 13 de julho de 2008

A HISTÓRIA ENSINA A QUEM QUER APRENDER

O Jornal do Brasil de hoje publicou um muito bom texto de Roberto Amaral, ex-ministro da Ciência e Tecnologia e vice-presidente do PSB. Sua mensagem, em síntese, é ”mobilizar a sociedade para que entenda que, sem Forças Armadas equipadas para as guerras do presente século, não asseguraremos a soberania nacional.” Transcrevo:

"A HISTÓRIA ENSINA A QUEM QUER APRENDER

A história ensina, mas só aprende quem sabe lê-la e desse aprendizado está imune boa parte das chamadas elites brasileiras. Ordinariamente medíocres e alienígenas, não sabem colher o ensinamento da experiência, e insistem na prática do erro, pois são avessas à modernização, ao progresso, ao interesse social.

Todo mundo e toda a imprensa já disse que não se pode confundir (e quem confunde?), uma de nossas Forças Armadas ou todas elas com a miséria humana do tenente da Providência, como igualmente ninguém jamais as confundiu, seja com Lamarca, seja com Burnier. Mas essa visão clara dos fatos não diz tudo, pois a experiência já deveria haver ensinado que as Forças Armadas não podem ser empregadas como modernos ‘capitães do mato’, como quando foram arregimentadas para caçar escravos fugidos, ou como quando, na República, em nome do novo regime, foram mobilizadas para a desastrada ‘guerra’ de Canudos.

Hoje, a direita impressa e a classe média oportunista voltam a cobrar a ação dos militares para ‘pôr ordem’ nos morros.

Nos idos de 1964, na casa de um amigo empresário, com quem assistia a um Repórter Esso, ouvi-o, pedir, jactante, diante da ‘anarquia’ trazida pela TV das ruas para o recesso dos lares de Ipanema, que lhe dessem, como o cavalo pelo qual clamava o desesperado Ricardo III, o ‘verde oliva’ com o qual em um mês ‘poria a casa em ordem’. Os militares vieram e ficaram não apenas um mês, mas 20 anos, rasgaram a Constituição, implantaram a ditadura, e, quando apeados do poder, deixaram o país envolto em dívidas e inflação. Ou seja, na desordem. Uma vez mais as Forças Armadas haviam sido chamadas a cumprir o papel de ‘capitães do mato’, desta feita para caçar comunistas e assemelhados. Cedo, a promiscuidade com o que havia de pior no aparato policial civil, produziu tipos como o Capitão Guimarães e o Coronel Ustra.

Esta saga sinistra está contada e bem contada por Elio Gaspari e a dou por conhecida. Relembro-a para dizer que o desvio das Forças Armadas de suas funções constitucionais não serve à República, nem à democracia; não serve ao Estado, não serve ao povo brasileiro, e ainda menos serve a elas próprias.

Não serve aos interesses do país desviar o foco da atuação das Forças Armadas, da função de defesa da Pátria, para a de força policial. Enquanto a imprensa discute se as Forças Armadas devem ou não ser utilizadas no combate ao crime, enquanto cientistas e criminalistas improvisados são chamados a diagnosticar o episódio do morro da Providência, não se discute a inexistência de meios para que cumpram seu papel e seu dever constitucionais.

Não se discute a vulnerabilidade de nossas fronteiras terrestres e do nosso espaço aéreo e a suicida desproteção de nosso litoral, sede de grandes reservas de gás e petróleo. Não se discute o imprescindível e inadiável aparelhamento e modernização das Forças, seu desenvolvimento científico e tecnológico, e a qualificação da indústria bélica nacional, indispensável para que sejam autônomas.

Se não nos preocupamos com o essencial, outros se preocupam, e isso é perigoso. Os EUA (depois de intervirem no Norte do Continente) resolveram reativar a IV Frota de sua Marinha, para ficar ‘passeando’ pelo Atlântico Sul, exatamente quando a crise do petróleo parece haver conhecido seu clímax, e a Petrobras não pára de descobrir novas jazidas. Tampouco, em face da crescente mobilização internacional, não se pode mais dizer que as ameaças à Amazônia são ora invencionices de ONGs internacionais, ora delírios de nacionalistas arcaicos.

Enquanto a imprensa discute o inconcebível papel das Forças Armadas no combate ao crime, deixa de lado a questão fundamental: mobilizar a sociedade para que entenda que, sem Forças Armadas equipadas para as guerras do presente século, não asseguraremos a soberania nacional. Isto significa, na quadra atual, priorizar o programa de construção do submarino de propulsão nuclear (indispensável para a defesa do nosso litoral) e o programa espacial, sem o qual não poderemos assegurar a incolumidade do espaço aéreo, o tráfego da aviação civil, a integridade territorial, o mapeamento por imagens de nossas florestas, as pesquisas meteorológicas, a prospecção de nossas riquezas minerais, e o sistema de comunicação, que nos une ao mundo e a nós mesmos.”

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