sábado, 29 de novembro de 2008

SOBRE A MÁFIA

O blog do jornalista Mino Carta ontem publicou:

“Parece-me haver equívocos nas referências de alguns navegantes à Máfia. Certo é que no Brasil não medrou, tampouco na Argentina, que também recebeu grandes levas de imigrantes italianos. Bem ao contrário do que se deu nos Estados Unidos. Por que lá sim e aqui não? Porque aqui os imigrantes encontraram ambiente favorável, que possibilitou a ascensão de muitos a despeito das resistências das elites locais. Em São Paulo, os chamados “quatrocentões”.

Nada de muito sério, creio eu, tanto que Francisco Matarazzo, o fundador da estirpe, presidiu a Fiesp por décadas. É símbolo convincente das excelentes oportunidades rapidamente aproveitadas. Matarazzo chegou a ser o cidadão mais rico do Brasil, secundado por Lunardelli, Crespi e outros do mesmo porte, além de um belo grupo de sírios e libaneses. Nos Estados Unidos a música foi outra, a hostilidade aos degos, como os italianos eram chamados, foi feroz e Sacco e Venzetti são os símbolos do preconceito ianque. A remota origem da Cosa Nostra não é criminosa, é a de uma sociedade secreta nascida para defender a minoria oprimida. A transformação leva anos e a organização se fortalece no tempo da Lei Seca. Em São Paulo, virou lenda um ladrão toscano, Amleto Gino Meneghetti, a quem foram atribuídos roubos rocambolescos dignos de um Arsene Lupin.

Francamente, não sei até onde vai a verdade factual e onde começa a fantasia.

Conheci Meneghetti há quarenta e um anos. Era um velhinho simpático de olhos de um azul celeste que inspirava confiança. Veio visitar-me na redação do Jornal da Tarde, que então eu dirigia, ao sair do xilindró de uma delegacia, onde ficara por duas noites ao ser pego ao roubar uma galinha. A criminalidade organizada no Brasil é coisa recente e nada tem a ver com máfia, de M grande ou pequeno.

Fomos, e somos ainda, um santuário para foragidos da justiça, a confirmar as histórias cinematográficas de criminosos que sonham em fugir para o Rio e às vezes conseguem. Ronald Biggs é um exemplo clássico. Outro exemplo, recentíssimo: o italiano Cesare Battisti, preso no momento em Brasília enquanto a Itália solicita a sua extradição. Ele se apresenta como ex-militante da luta armada, foragido político, portanto, mas não passa de um criminoso comum. Ineludíveis pendores mafiosos são características marcantes dos nossos donos do poder.”

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