O jornal “Estado de Minas” ontem publicou a seguinte reportagem de Marinella Castro e Paola Carvalho:
BILHÕES EM TERRA, ÁGUA E AR...
INDÚSTRIA BÉLICA BRASILEIRA IGNORA CRISE E DEVERÁ RECEBER INVESTIMENTOS DE PELO MENOS R$ 32 BILHÕES A PARTIR DESTE ANO
“Com um orçamento 40 vezes menor que o dos Estados Unidos e intenções que ocupam mais o campo da defesa, o Brasil segue firme em seu propósito de investir na indústria bélica. Calcula-se que, a partir deste ano, serão investidos pelo menos R$ 32 bilhões pela iniciativa pública e privada. Também estão previstos redução tributária, liberação de crédito e incentivos na área de desenvolvimento tecnológico e regulamentação para exportação.
Para especialistas, os investimentos do Brasil e de outros países da América do Sul, como Chile e Venezuela, estão longe de significar uma corrida armamentista. No caso do Brasil, que durante muito tempo dormiu de portas abertas, haveria uma busca pelo reforço de seus equipamentos de proteção, além de investimentos no potencial industrial. O fato é que, por terra, água e ar, a indústria bélica brasileira promete avançar em 2009.
No país mais armado do mundo, apesar de o discurso de posse trazer um tom menos belicoso que o de seu antecessor, o presidente Barack Obama segue como líder da nação que detém o maior orçamento bélico do planeta. Em 2009, a despesa militar recorde se aproxima de US$ 1 trilhão. Com suas forças armadas, os Estados Unidos gastam mais que a soma dos outros 10 maiores orçamentos do mundo. Analistas não acreditam na modificação desse cenário, responsável por uma surpreendente atividade, capitaneada por gigantes da indústria bélica como Boeing, Lockheed Martin, Northrop Grumman e Raytheon. “Independentemente da crise financeira ou do presidente eleito, o país tem um plano de investimento traçado para 50 anos”, comenta Expedito Carlos Bastos, pesquisador em assuntos militares da Universidade de Juiz de Fora (UFJF), no tema, um dos principais especialistas do país.
No Brasil, a nova Estratégia Nacional de Defesa, anunciada no fim do ano passado, é considerada um divisor de águas. O documento de Estado, que se mantém mesmo com a troca de governo, poderá colocar o Brasil de volta ao mapa bélico mundial, disputado em tecnologia por diversos países do mundo, mas liderado em gastos pelo Tio Sam. O governo Obama conta inicialmente com um orçamento militar de US$ 547 bilhões, uma cifra que sobe para US$ 712 bilhões quando são incluídos os gastos com as duas guerras em andamento, Iraque e Afeganistão, um crescimento de 7% em relação ao ano anterior.
Até julho deste ano, as despesas bélicas americanas devem saltar para US$ 863 bilhões, de acordo com levantamento feito pela organização americana Friends Committee on National Legislation, um salto surpreendente em relação a 2002, quando teve início o levantamento e o orçamento era de US$ 33,8 bilhões. Na opinião de Expedito Bastos, os gastos suplementares do país devem continuar, já que, estrategicamente, a retirada de tropas do Iraque deve ser parcial, com reforços no Afeganistão.
No Brasil, a Estratégia Nacional de Defesa prevê pela primeira vez a alocação continuada, para os próximos 20 anos, de recursos financeiros que devem viabilizar não somente compras, mas a produção de equipamentos. O país tem hoje cerca de 60 empresas do setor, que dividem suas vendas entre o mercado civil e o militar. Entre elas estão Embraer (aviões), Imbel (armamento), CBC (cartuchos), Taurus (armas), Avibrás e Mectron (míssel e foguetes).
O general José Elito, secretário de Ensino, Logística, Mobilização, Ciência e Tecnologia (Selom) do Ministério da Defesa, revelou que a instituição já conta com cerca de 11 mil empresas, de todos os portes, que comercializam materiais ligados à defesa nacional. “Há três anos, não chegava a 4 mil. Nos próximos, não é impensável atingir 50 mil”, afirmou.
O professor do curso de mestrado em relações internacionais da PUC Minas Eugênio Diniz lembra que, diferentemente do Brasil, nos Estados Unidos o peso militar é decisivo na escolha de um presidente. O especialista não identificou no discurso de posse da última terça-feira palavras que sinalizassem para um arrefecimento da indústria bélica.
Já o Brasil aponta em seu documento oficial que o foco do novo plano de defesa é a segurança, e não a guerra. Isso porque o país abriga riquezas cada vez mais escassas e cobiçadas pelo mundo, como a floresta amazônica, as reservas de petróleo e gás, água e energia. Assim sendo, aeronaves de caça e transporte, helicópteros de ataque, submarinos convencionais e de propulsão nuclear e armamentos inteligentes – como mísseis e bombas – entram na pauta da indústria brasileira.”
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