O jornal Folha de São Paulo ontem publicou o seguinte artigo de Bob Herbert:
A economia foi obviamente o assunto número 1 enquanto Barack Obama se prepara para assumir a Presidência. Ele está encarregado, nada menos, da tarefa de tirar os EUA de uma recessão brutal. Se os piores cenários se materializarem, sua função será evitar uma depressão.
Isso é suficiente para manter qualquer presidente muito ocupado. Obama não precisa, e os EUA não podem sob qualquer circunstância suportar, mais guerras desnecessárias.
No entanto, enquanto ainda não descobrimos como nos livrar do desastre no Iraque, Obama está planejando comprometer mais milhares de soldados americanos na guerra do Afeganistão, que já dura mais de sete anos e que há muito se transformou em um atoleiro.
Andrew Bacevich, coronel aposentado do Exército que hoje é professor de história e relações internacionais na Universidade de Boston, escreveu um artigo para a revista "Newsweek" advertindo contra a proposta de escalada militar. "O Afeganistão vai ser um ralo, consumindo recursos que nem os militares nem o governo americano têm condições de gastar", disse.
Em uma análise no "New York Times" no mês passado, Michael Gordon comentou que "o Afeganistão apresenta um conjunto único de problemas: uma rebelião de fundo rural, um santuário inimigo no vizinho Paquistão, a fraqueza crônica do governo afegão, um próspero comércio de narcóticos, uma infra-estrutura mal desenvolvida e um terreno proibitivo".
Os militares americanos estão desgastados por anos de guerra no Iraque e no Afeganistão.
As tropas estão estressadas pelos diversos deslocamentos. O equipamento necessita de reparos. Os Orçamentos estão mais que esgotados. Enviar mais milhares de homens e mulheres (alguns para morrer, alguns para serem terrivelmente feridos) em uma missão de tolos no paraíso rural e montanhoso da guerrilha no Afeganistão seria loucura.
O momento de sair do Afeganistão foi logo depois dos atentados terroristas de 2001. E já passou.
Sem um passado militar e com uma reputação de progressista, Obama poderá sentir que deve demonstrar dureza e que o Afeganistão é o lugar para tanto. O que realmente mostraria firmeza seria uma afirmação de Obama de que a era das aventuras militares insensatas terminou.
"Detesto a guerra, como só um soldado que a viveu pode detestar, como só alguém que viu sua brutalidade, sua futilidade, sua estupidez", disse o presidente Dwight Eisenhower (1953-1961). Qual é o lado positivo para os EUA, um país em grande dificuldade econômica, de uma escalada no Afeganistão? Se enviar os 20 mil ou 30 mil ou quantos milhares sejam de soldados a mais para lá, qual seria sua missão?
Em seu artigo na "Newsweek", Bacevich disse: "O principal efeito das operações militares no Afeganistão até agora foi empurrar os radicais islâmicos ao outro lado da fronteira paquistanesa. Em conseqüência, os esforços para estabilizar o Afeganistão estão contribuindo para a desestabilização do Paquistão, com implicações potencialmente devastadoras".
"Nenhum país representa maior ameaça potencial para a segurança nacional dos EUA -hoje e em um futuro previsível- que o Paquistão. Arriscar a estabilidade dessa potência nuclear na vã esperança de salvar o Afeganistão seria um erro terrível."
O interesse americano no Afeganistão é evitar que ele se torne um porto seguro para terroristas. E isso não exige a escalada das operações militares que o próximo governo está contemplando. Não exige uma ocupação generalizada. Não exige a canalização infindável de tesouro humano e inúmeros bilhões de dólares dos contribuintes ao governo afegão, em vez de reconstruir os EUA, que estão desmoronando diante de nossos olhos.
O governo que os EUA sustentam no Afeganistão é um fétido antro de corrupção, um governo de gângsteres e trapaceiros cuja saudação habitual é a palma da mão virada para cima. Escutem esta avaliação devastadora de Dexter Filkins, do "New York Times":
"Mantido na superfície por bilhões de dólares de ajuda americana e de outros países, o governo do Afeganistão é permeado por corrupção e fraude. Desde o mais simples policial de trânsito até a família do presidente Hamid Karzai, o Estado construído sobre as ruínas do Taleban há sete anos hoje parece existir para pouco mais que o enriquecimento daqueles que o dirigem".
Se Obama enviar mais soldados para o Afeganistão, ele deve ir à televisão e dizer à população americana, na linguagem mais clara possível, o que está tentando alcançar. Ele deve explicar os objetivos da missão e exibir uma estratégia de saída.
Ele deverá isso ao público, porque será o dono do conflito nesse momento. Será a guerra de Barack Obama.”
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