Sempre achei muito interessante ver deputados e senadores defenderem a transparência dos gastos do governo federal com cartões corporativos. Ela já era muito maior que a adotada por governos estaduais (ex. São Paulo) e infinitamente maior que a em vigor no Congresso (nenhuma). Emocionados até às lágrimas, bradavam por ainda maior transparência do governo Lula. Pareciam santos ou deusas vestais. Tudo falso. Somente teatro. Até hoje escondem seus gastos com dinheiro público.
Vejam o artigo abaixo, de Fernando Rodrigues, que li na Folha de São Paulo de ontem:
SIMULACRO DE TRANSPARÊNCIA
“Os deputados e os senadores ganham uma bolada extra por mês. Além dos salários, embolsam mais R$ 15 mil para gastar praticamente como bem entenderem. Apresentam notas fiscais mantidas em sigilo absoluto.
Tudo ia bem até o deputado do castelo, Edmar Moreira, comunicar o consumo de R$ 140 mil em 2008 com segurança privada -logo ele, cuja fortuna deriva desse setor.
Pressionado, o mundinho político adotou uma variável da máxima de Lampedusa: simulou mudanças para manter tudo como está. A Câmara decidiu e o Senado copiará a seguinte ideia: daqui a 45 dias, passarão a divulgar os valores das notas fiscais e os nomes dos fornecedores. CNPJs e fac-símiles dos recibos? Nem pensar. O simulacro de transparência não chega a tanto.
O prazo de 45 dias é injustificável do ponto de vista gerencial. Se há desejo de divulgar os dados, nada impediria alguns dos 30 mil funcionários do Congresso de fazer o serviço em um ou dois dias.
Trata-se de operação de baixa complexidade -digitar nomes e números. Deputados e senadores discordam. Analfabetos em informática, propagam a noção de que seria tudo complicadíssimo.
Complicado é proteger atos espúrios, como foi a decisão de ontem, de estabelecer o esquecimento oficial de notas fiscais de anos anteriores. Nada do passado será divulgado. Irregularidades cometidas estão perdoadas. Essa autoanistia ainda vem com o bônus de 45 dias de prazo para todos terem tempo de encontrar recibos quentes.
É uma decisão corajosa. Mas deputados e senadores nunca perdem viagem quando apostam na abulia popular. O Carnaval está aí para esfriar os ânimos. Assim, o arquivo morto do Congresso receberá, de uma só vez, as notas fiscais antigas e a capacidade dos políticos de sentirem vergonha por atos tão antirrepublicanos como esse.”
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