Li hoje no site “vermelho” a seguinte reportagem de Iram Alfaia:
“Diante da crise financeira internacional e o desgaste profundo das idéias neoliberais no mundo, a filosofa Marilena Chaui diz que se abriu um campo de novas reflexões para a esquerda. Afirmou que surgiu espaço para “práticas de classe por parte dos trabalhadores”, uma vez que as atenções da economia e das políticas governamentais estão voltadas para a esfera da produção e trabalho. No seu entendimento é possível o “reaparecimento de movimentos sociais dirigidos aos direitos econômicos, sociais e políticos.”
Em entrevista à revista CULT, Marilena Chaui argumentou que ao discutir a chamada economia real (produção e trabalho) o que se anuncia é a retomada da discussão “do núcleo do modo de produção capitalista”.
“Isto é, o valor produzido pelo trabalho, e havia sido justamente isso que o monetarismo neoliberal julgara ter liquidado para sempre ao supor que poderia tratar o capital como moeda e não como resultado do processo de trabalho”, explicou.
A filosofa advertiu que uma operação própria do neoliberalismo, segundo a qual todos os recursos públicos são direcionados para os interesses do capital, foi colocada em questão. Essa prática levou à privatização dos direitos sociais, “ao transformá-los em serviços privados a serem adquiridos no mercado.”
“O pensamento e a práxis se abrem porque a percepção da irracionalidade do mercado desmantela a crença em sua suposta racionalidade autônoma, crença que durante 30 anos assegurou a hegemonia ideológica do chamado pensamento único”, argumentou.
REAÇÃO NEOLIBERAL
Mesmo diante das novas oportunidades para as forças progressistas e de esquerda, a filosofa prevê um processo longo e difícil, prevalecendo a curto prazo a “tentativa de um neoliberalismo moderado, temperado com idéias keynesianas”. Ela faz referência a John Maynard Keynes, economista britânico do século 20, que defendeu o papel regulatório do Estado na economia.
“Porém, o simples fato de vermos os governos e partidos de direita propondo medidas de cunho social-democrata já indica os limites da tentativa de manter o capital financeiro na direção da economia. Além disso, observa-se que as medidas econômicas e políticas colocam novamente na cena a figura do Estado nacional, que o pensamento único e a chamada globalização haviam decretado extinto.”
Nesse contexto, ela diz que não é a figura do Estado nacional que importa, mas o reaparecimento com ele da sociedade civil, na qual se dá a luta de classes, que o neoliberalismo também considerava extinta. Defendeu que não se trata de um retorno à situação anterior ao neoliberalismo, como pretende crer a direita, mas algo novo que levará a um pensamento novo e uma práxis nova.
“Em suma, o neoliberalismo, dirigindo os fundos públicos exclusivamente para o capital, se caracterizou pelo encolhimento do espaço público republicano e democrático e pelo alargamento do espaço privado dos interesses de mercado; seu fim, portanto, pode significar a reabertura do espaço público e o encolhimento do espaço privado.”
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