quarta-feira, 29 de setembro de 2010

MANTEGA REBATE TESE DE “DESINDUSTRIALIZAÇÃO” DO PAÍS

“O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou 2ª feira (27) que o aumento das importações brasileiras esteja levando à desindustrialização do país. “A indústria se consolidou e eu questiono essa discussão. O que houve em todo o mundo foi um avanço da participação do setor de serviços no PIB. Não há desindustrialização”, afirmou ao participar de um seminário promovido pela revista Conjuntura Econômica, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).

Segundo Mantega, embora a participação percentual dos resultados da indústria no PIB tenha caído de 41,6%, em 1992, para 24,5%, em 2009, o setor voltou a crescer de forma sustentável, estimulado principalmente pelo aumento da demanda interna. O ministro lembrou que essa redução ocorreu em função da expansão do PIB no período e de um maior crescimento proporcional do setor de serviços.

IMPORTAÇÃO E INVESTIMENTO

A desindustrialização supõe a redução absoluta, e não apenas proporcional, da produção do setor. Mas, com a exceção de 2009 (quando a indústria entrou em recessão em função da crise mundial do capitalismo), não é isto que vem ocorrendo ao longo dos últimos anos. Neste ano, em particular, é notória a forte recuperação do emprego e da produção no setor.

O crescimento das importações também deve ser analisado com mais cuidado, pois em boa medida responde ao próprio crescimento da economia e tem um impacto positivo sobre a taxa de investimentos (ou Formação Bruta de Capital Fixo, segundo o IBGE) quando significa a compra de insumos e bens de capitais. Comprimir as importações neste caso implica reduzir o ritmo de investimento e crescimento da indústria, o que (isto sim) pode conduzir a uma relativa “desindustrialização” se não for acompanhado de um processo de substituição de importações na indústria de máquinas e equipamentos e de bens intermediários.

BALANÇA COMERCIAL

Há, porém, um preocupante aumento das importações de alguns bens de consumo durável, especialmente automóveis de luxo. Isto, a exemplo das viagens internacionais, reflete as compras realizadas pela burguesia e a classe média alta no exterior. O impacto sobre as contas externas é extremamente negativo.

Apesar do aumento das importações e da relativa “desindustrialização” da nossa pauta de exportações, a balança comercial brasileira continua no terreno positivo, ou seja, fechando com superávit, numa evidência de que a preocupação com um suposto excesso de importações não procede.

RELAÇÕES DE TROCA

O balanço positivo entre exportações e importações traduz a melhoria das relações de troca das mercadorias que o Brasil produz para o comércio internacional, com a inflação das chamadas commodities (bens primários ou pouco elaborados como soja, café em grão, açúcar e minério de ferro) e a redução (relativa) dos preços de industrializados como TV, automóvel, geladeira, computador, entre outros.

Esta mudança nos termos de troca é atribuída ao vertiginoso crescimento da demanda chinesa, que objetivamente está alterando as relações econômicas entre as nações e, ao menos até agora, beneficiando as economias ditas emergentes, incluindo o Brasil e muitos países latino-americanos.

Não se trata de uma tendência muito confiável e não é prudente negligenciar a necessidade de uma política industrial orientada para a produção de mercadorias mais intensivas em tecnologia e a agregação de mais valor nas cadeias produtivas. Isto não se faz de uma hora para outra, pois pressupõe (muito) mais investimentos em educação (e o pré-sal pode ser a redenção neste caminho), pesquisa e ciência aplicada.

CONTA CORRENTE

O atual déficit em conta corrente, gerado nas transações de serviços e renda, é causado basicamente pelas remessas de lucros das transnacionais (em todas as modalidades, incluindo juros) e turismo, que não é coisa de pobre.

A classe trabalhadora, por sinal, contribui positivamente para a conta corrente através das chamadas transferências unilaterais, formadas grosso modo pelo dinheiro enviado por assalariados brasileiros nos Estados Unidos, Europa e Japão para seus familiares no Brasil. Quem promove fuga de capital daqui para fora é a burguesia nacional e estrangeira. Para reduzir ou zerar o rombo crescente em conta corrente é preciso coragem para contrariar interesses poderosos do capital estrangeiro e dos ricos perdulários destes trópicos.

A preocupação com a “desindustrialização” não faz muito sentido na atual conjuntura, na opinião do de Guido Mantega, já que o crescimento industrial ultrapassou os 14% no primeiro semestre deste ano, o que representa um óbvio fortalecimento do setor. O ministro ponderou ainda que para manter a indústria nacional competitiva será necessário fortalecer as políticas na área, investir na infraestrutura e reduzir tributos.

Contudo, também parece haver razões para a queixa de muitos empresários contra a concorrência externa desleal e a valorização excessiva do real. O câmbio flutuante é um luxo perverso para países como o Brasil, que deveria seguir o polêmico mas eficiente exemplo da China neste terreno. Apesar das pressões dos Estados Unidos para flexibilizar as cotações, o governo chinês mantém o valor relativo do iuan sob estrito controle e num patamar competitivo.”

FONTE: escrito por Umberto Martins e publicado no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=137992&id_secao=2).

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