quarta-feira, 25 de maio de 2011
CIGANOS NO BRASIL AINDA SÃO “POVOS INVISÍVEIS”
“Apesar de viverem no Brasil desde o século 16, os ciganos ainda são parcela da população pouco conhecida pelos brasileiros e, até mesmo, pelo Poder Público. Faltam informações oficiais precisas sobre o número de ciganos que vivem no território nacional. As estimativas variam de 800 mil –a mais adotada por órgãos do governo e entidades não governamentais– até 1,2 milhão de pessoas.
A Agência Brasil publicou ontem (24) uma série de matérias para mostrar um pouco dos costumes e da história desse “povo invisível”, como definem estudiosos do tema, representantes do governo e os próprios ciganos.
De acordo com o diretor executivo da ‘Pastoral dos Nômades’, padre Wallace Zanon, os ciganos ainda não têm seus direitos respeitados. “Eles ainda estão um passo atrás, pois nunca foram reconhecidos.”
Para a presidenta da ‘Associação Cigana das Etnias Calons do Distrito Federal e Entorno’, Marlete Queiroz, há descaso tanto da sociedade, quanto do governo. “Os ciganos fazem parte de um Brasil invisível.”
O desconhecimento acaba levando à discriminação em relação a esses povos, tratados, muitas vezes, como ladrões e vagabundos. Um dos exemplos do preconceito está guardado no arquivo histórico do Senado Federal: o Decreto 3.010, assinado pelo então presidente Getúlio Vargas em 1938, um ano após instalação do Estado Novo. A norma restringia a entrada de estrangeiros no país e impedia que “indigentes, vagabundos, ciganos e congêneres” ingressassem em território brasileiro.
No Brasil, atualmente, predominam três clãs ciganos: os ‘Rom’ (vindos da ex-Iugoslávia, Sérvia e de outros países do Leste Europeu), os ‘Calom’ (que vieram da Espanha e de Portugal) e os ‘Sinti’ (vindos da Alemanha, Itália e França).
Entretanto, não há consenso entre esses grupos sobre a identidade cigana. “’Calom’ não é cigano, é brasileiro que quer ser cigano”, afirmou o ‘rom’ Maicon Martins, descendente de iugoslavos.
Residentes em Caxias do Sul (RS), os Martins não perderam o hábito de fazer do comércio sua principal atividade econômica. Eles também mantêm o costume de viajar pelo país em grupos familiares. A reportagem da Agência Brasil encontrou a família de Maicon em um centro comercial afastado da região central de Brasília. Ele e mais 15 parentes vieram para a capital federal em cinco caminhonetes de luxo. Apesar de o nomadismo não fazer mais parte de suas vidas, Maicon diz que as viagens ajudam a preservar a identidade cultural.
Líder de uma comunidade ‘Calom’, Elias Alves da Costa confirma a discriminação sofrida pelo seu clã. “O cigano ‘Rom’ é rico e o ‘Calom’ é pobre. Eles [Rom] acham que só eles são ciganos, mas nós também somos.”
Segundo ele, o que diferencia um clã de outro é a cultura. Diferentemente dos ‘Rom’ e dos ‘Sinti', os ‘Calom’ não cultuam Santa Sara Kali e adotaram Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, como sua santa protetora.
A língua também é diferencial. Os ‘Rom’ e os ‘Sinti’ falam o romanês (língua dos ciganos). Os ‘Calom’ falam o shib kalé, uma fusão do romanês com o espanhol e o português. Os ciganos que vivem no Brasil também falam português.”
FONTE: reportagem de Daniella Jinkings e Marcos Chagas publicada pela Agência Brasil (edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo) (http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-05-24/ciganos-ainda-sao-%E2%80%9Cpovos-invisiveis%E2%80%9D-avaliam-estudiosos) [imagem do Google adicionada por este blog].
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