domingo, 19 de junho de 2011
O PAPEL INTERESSEIRO DE 'WALL STREET' NO NARCOTRÁFICO
“A política dos EUA para o México é um pesadelo. Ela minou a soberania mexicana, corrompeu o sistema político e militarizou o país. Obteve, também como resultado, a morte violenta de milhares de civis, pobres em sua maioria.
Mas Washington não está nenhum pouco preocupado com os “danos colaterais”, desde que possa vender mais armas, fortalecer seu 'regime de livre comércio' e lavar mais lucros das drogas em seus grandes bancos.
Os principais bancos dos EUA se tornaram sócios financeiros ativos dos cartéis assassinos da droga. A guerra contra as drogas é uma fraude. Ela não tem a ver com ‘proibição’, mas sim com ‘controle’.
O artigo é de Mike Whitney, no “SinPermiso”
Imagine qual seria sua reação se o governo mexicano decidisse pagar 1,4 milhões [ou bi?] de dólares a Barack Obama para usar tropas mexicanas e veículos blindados em operações militares em Nova York, Los Angeles e Chicago, estabelecendo postos de controle, e elas acabassem se envolvendo em tiroteios que resultassem na morte de 35 mil civis nas ruas de cidades norte-americanas. Se o governo mexicano tratasse assim os Estados Unidos, vocês o considerariam amigo ou inimigo? Pois é exatamente assim que os EUA vêm tratando o México desde 2006.
A política dos EUA para o México –a ‘Iniciativa Mérida’– é um pesadelo. Ela minou a soberania mexicana, corrompeu o sistema político e militarizou o país. Obteve também, como resultado, a morte violenta de milhares de civis, pobres em sua maioria. Mas Washington não está nem um pouco preocupado com os “danos colaterais”, desde que possa vender mais armas, fortalecer seu 'regime de livre comércio' [sic] e lavar mais lucros das drogas em seus grandes bancos. É tudo muito lindo.
Há alguma razão para dignificar essa carnificina chamando-a de “Guerra contra as drogas”?
Não faz nenhum sentido. O que vemos é oportunidade descomunal de empoderamento por parte das grandes empresas, das altas finanças e dos serviços de inteligência norte-americanos. E Obama segue, meramente, fazendo seu leilão, razão pela qual –não é de surpreender– as coisas ficaram tão ruins sob sua administração.
Obama não somente incrementou o financiamento do ‘Plano México’ (conhecido como ‘Mérida’), como deslocou mais agentes norte-americanos para trabalharem em segredo enquanto aviões não tripulados realizam trabalhos de vigilância. Deu para ter uma ideia do cenário?
Não se trata de pequena operação de apreensão de drogas, é outro capítulo da guerra norte-americana contra a civilização. Vale lembrar uma passagem de artigo de Laura Carlsen, publicado no ‘Counterpunch’, que nos mostra um elemento de fundo:
“A 'guerra contra as drogas' converteu-se no veículo principal de militarização da América Latina. Um veículo financiado e impulsionado pelo governo norte-americano e alimentado por uma combinação de falsa moral, hipocrisia e muito de temor duro e frio. A chamada 'guerra contra as drogas' constitui, na realidade, guerra contra o povo [latino-americano], sobretudo contra os jovens, as mulheres, os povos indígenas e os dissidentes. A guerra contra as drogas se converteu na forma principal de o Pentágono ocupar e controlar países à custa de sociedades inteiras e de muitas, muitas vidas”.
“A militarização em nome da 'guerra contra as drogas' está ocorrendo mais rápida e conscienciosamente do que a maioria de nós provavelmente imaginou com a administração de Obama. O acordo para estabelecer bases na Colômbia, posteriormente suspenso, mostrou um dos sinais da estratégia. E já vimos a extensão indefinida da ‘Iniciativa de Mérida’ no México e América Central, incluindo, tristemente, os navios de guerra enviados a Costa Rica, uma nação com uma história de paz e sem exército...”
A ‘Iniciativa de Mérida’ financia interesses norte-americanos para treinar forças de segurança, proporcionar inteligência e tecnologia bélica, aconselhar sobre as reformas do Judiciário, do sistema penal e a promoção dos direitos humanos, tudo isso no México” (“The Drug War Can’t Be Improved Only be Ended” – “A Guerra contra as drogas não pode ser melhorada, só terminada”, Laura Carlsen, ‘Counterpunch’)
A impressão que dá é que Obama está fazendo tudo o que pode para converter o México em ditadura militar, pois é exatamente isso o que ele está fazendo. O ‘Plano México’ é uma farsa que esconde os verdadeiros motivos do governo, que consiste em assegurar-se de que os lucros do tráfico de drogas acabem nos bolsos das 'pessoas adequadas'. É disso que se trata: de muitíssimo dinheiro. E é por isso que o número de vítimas disparou, enquanto a credibilidade do governo mexicano caiu como nunca em décadas. A política norte-americana converteu grandes extensões do país em campos de morte e a situação não para de piorar.
Veja-se esta entrevista com Charles Bowden, que descreve como é a vida das pessoas que vivem na ‘Zona Zero’ da 'guerra das drogas' no México, Ciudad Juárez:
“Isso ocorre em uma cidade onde muita gente vive em caixas de papelão. No último ano, dez mil negócios encerraram suas atividades. De 30 a 60 mil pessoas, sobretudo os ricos, mudaram-se para El Paso, no outro lado do rio, por razões de segurança. Entre eles, o prefeito de Juárez, que prefere ir dormir em El Paso. O editor do diário local também vive em El Paso. Entre 100 e 400 mil pessoas simplesmente saíram da cidade. Boa parte do problema é econômico. Não se trata, simplesmente, da violência. Durante esta recessão, desapareceram pelo menos 100 mil empregos das empresas fronteiriças devido à competição asiática. As estimativas são de que há entre 500 e 900 bandos de delinquentes.
Há 10 mil soldados das tropas federais e agentes da Polícia Federal vagando por ali. É uma cidade onde ninguém sai à noite, na qual todos os pequenos negócios pagam extorsão, onde foram roubados oficialmente 20 mil automóveis no ano passado e assassinadas 2.600 pessoas no mesmo período. É uma cidade onde ninguém segue o rastro das pessoas que foram sequestradas e não reaparecem, onde ninguém conta as pessoas enterradas em cemitérios secretos onde, de forma indecorosa, volta e meia aparecem alguns corpos em meio a alguma escavação. O que temos é um desastre e um milhão de pessoas que são muito pobres para poder ir embora. A cidade é isso”. (Charles Bowden, ‘Democracy Now’).
Isso não tem a ver com as drogas. Trata-se de política externa louca que apoia exércitos por delegação para impor a ordem por meio da repressão e militarização do Estado policial. Trata-se de expandir o poder norte-americano e de engordar os lucros de Wall Street. Vejamos mais alguns dados de fundo proporcionados por Lawrence M. Vance, na ‘Future of Freedom Foundation’:
“Um número não revelado de agentes da lei norte-americanos trabalha no México (...) A DEA tem mais de 60 agentes no México. A esses se somam os 40 agentes de 'Imigração e Aduanas', 20 auxiliares do 'Serviço de Comissários de Polícia' e 18 agentes da 'Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos', mais os agentes do FBI, do 'Serviço de Cidadãos e Imigração, Aduana e Proteção de Fronteiras', 'Serviço Secreto', guarda-costas e Agência de Segurança no Transporte. O Departamento de Estado mantém também uma 'Seção de Assuntos de Narcóticos'. Os EUA também forneceram helicópteros, cães farejadores de drogas e unidades de polígrafos para examinar os candidatos a trabalhar em organismos de aplicação das leis”.
“Os aviões não tripulados norte-americanos espionam os esconderijos dos carteis e os sinais rastreadores norte-americanos localizam com exatidão os carros e telefones dos suspeitos. Agentes norte-americanos seguem os rastros, localizam chamadas telefônicas, leem correios eletrônicos, estudam padrões de comportamento, seguem rotas de contrabando e processam dados sobre traficantes de drogas, responsáveis pela lavagem de dinheiro e chefes dos cartéis. De acordo com um antigo agente antidroga mexicano, os agentes norte-americanos não estão limitados em suas escutas no México pelas leis dos EUA, desde que não se encontrem em território norte-americano e não grampeiem cidadãos norte-americanos". (“Why Is the U.S. Fighting Mexico’s Drug War?”, “Por que os EUA travam a guerra contra as drogas no México?”, Laurence M. Vance, “The Future of Freedom Foundation”).
Isso não é política externa, mas sim outra ocupação norte-americana. E adivinhem quem enche os cofres com essa pequena fraude sórdida? Wall Street. Os grandes bancos ficam com sua parte, como sempre fazem. Vejamos essa passagem de um artigo de James Petras intitulado “How Drug profits saved Capitalism” (“Como os lucros das drogas salvaram o capitalismo”, publicado em ‘Global Research’). É um estupendo resumo dos objetivos que estão configurando essa política:
“Enquanto o Pentágono arma o governo mexicano e a DEA (‘Drug Enforcement Agency’, a agência antidroga dos EUA), põe em prática a “solução militar”. Os maiores bancos dos EUA recebem, lavam e transferem centenas de bilhões de dólares nas contas dos senhores da droga que, com esse dinheiro, compram armas modernas, pagam exércitos privados de assassinos e corrompem um número indeterminado de funcionários encarregados de fazer cumprir a lei de ambos os lados da fronteira...”
“Os lucros da droga, no sentido mais básico, são assegurados mediante a capacidade dos carteis de lavar e transferir bilhões de dólares para o sistema bancário norte-americano. A escala e a envergadura da aliança entre a banca norte-americana e os carteis da droga ultrapassam qualquer outra atividade do sistema financeiro privado norte-americano. De acordo com os registros do Departamento de Justiça dos EUA, só um banco, o ‘Wachovia Bank’ (propriedade hoje de ‘Wells Fargo’), lavou 378,3 milhões de dólares entre 1° de maio de 2004 e 31 de maio de 2007 (‘The Guardian’, 11 de maio de 2011). Todos os principais bancos dos EUA tornaram-se sócios financeiros ativos dos cartéis assassinos da droga”.
“Se os principais bancos norte-americanos são os instrumentos financeiros que permitem os impérios multimilionários da droga operar, a Casa Branca, o Congresso dos EUA e os organismos de aplicação das leis são os protetores essenciais desses bancos (...) A lavagem de dinheiro da droga é uma das fontes mais lucrativas para ‘Wall Street’. Os bancos cobram gordas comissões pela transferência dos lucros da droga que, por sua vez, emprestam a instituições de crédito a taxas de juros muito superiores às que pagam –se é que pagam– aos depositantes dos traficantes de drogas.
Inundados pelos lucros das drogas já desinfetados, esses titãs norte-americanos das finanças mundiais podem comprar facilmente os funcionários eleitos para que perpetuem o sistema”. (“How Drug Profits saved Capitalism”, James Petras, “Global Research”).
Vamos repetir: “Todos os principais bancos dos EUA se tornaram sócios financeiros ativos dos cartéis assassinos da droga”.
A 'guerra contra as drogas' é uma fraude. Ela não tem a ver com proibição, mas sim com controle. Washington emprega a força para que os bancos possam garantir um bom lucro. Uma mão lava a outra, como ocorre com a Máfia.”
FONTE: artigo de Mike Whitney, no “SinPermiso”. O autor é analista político independente que vive no estado de Washington-EUA e colabora regularmente com a revista norte-americana ‘CounterPunch’. Publicado no site “Carta Maior” com tradução de Katarina Peixoto (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17938).
mó viajada desse analista...
ResponderExcluirvários pontos da teoria dele não fecham
1º - ele diz que as guerras contra as drogas são artificiais, criadas pelos eua só pra fomentar o comercio de armas. guerras artificiais não se sustentam porque não possuem um motivo real pra existir. os eua até podem tentar acender a chama da guerra nos paises alheios, mas se ela não tiver combustivel interno pra queimar, é esforço em vão. os americanos, na realidade, são aproveitadores. eles veem a guerra acontecendo e aproveitam pra oferecer munição.
2º - ele diz que os eua patrocinam a guerra pra vender armas. isso é ilogico do ponto de vista do custo-beneficio. ninguém garante que eles recorrerão aos americanos atras de fogo, eles podem perfeitamente escolher outro fornecedor. com isso os eua perderiam dinheiro. raposas velhas que são, eles não se meteriam num negocio arriscado desses.
3º - seu texto nos dá a impressão de que o tesouro dos eua é infinito, e seu poder ilimitado. não é bem assim. não só os eua não tem caixa pra defender seus interesses nos quatro cantos do mundo, como também não tem força politica pra isso. essa imagem de gigante militar imbativel é nóia dos paises perifericos. os americanos se aproveitam desse temor irracional pra cantar de galo no terreiro deles.
ResponderExcluirna realidade, o que originou a guerra as drogas foi a necessidade dos patrões controlarem as substancias utilizadas pelos empregados, pra impedir o uso daquelas que atralhassem o desempenho deles na industria. o empresariado, como é sabido, nunca obedeceu as proprias leis, daí seu envolvimento com a máfia e os traficantes.
Darkkann,
ResponderExcluirSeus pontos de vista são válidos para debate. Sob certos aspectos, os creio corretos. Em outros, merecem discussão mais elaborada. Para avançar um pouco mais no tema, nesta 2ª feira (20) postei outro texto sobre o assunto.
Maria Tereza