Roubo do dinheiro público por privados é bem maior que a corrupção pública. Cinicamente, fingem "indignação", querem CPI e gritam "cansei".
“Mais de R$ 1 bilhão sonegados à Receita por uma rede de 300 empresas da área química desdobraram-se em saldos em paraísos fiscais, iates, ilhas paradisíacas e mansões.
A transmutação do que seria fundo público em lucro privado foi interrompida pela operação 'Alquimia', da PF.
Na mesma 4ª feira, caía o quarto ministro do governo Dilma, acusado de corrupção.
O duplo episódio suscita considerações. A primeira diz respeito à extensão do golpe desvelado pela PF. Trata-se de predação superlativa comparativamente ao abominável varejo político do afano feito de porcentagens, nepotismo e caronas em jatinhos. A outra remete à alquimia ética da mídia. Nossos “murdochs” costumam reservar à política e instituições públicas o rigor de um “torquemada”.
Ótimo. Dobram-se, todavia, quando o malfeito emerge dos mercados. Assim é que o neoudenismo reverbera agora as defecções ministeriais como ‘start’ para o coro do ‘mar de lama', com o qual tenta ofuscar a superioridade histórica do ciclo presidencial do PT.
Nada remotamente próximo ocorre quando o escândalo frequenta a esfera dos mercados. Do que se trata, afinal, a crise financeira se não do sistêmico intercurso de corrupção e fraude entre opacas corporações, governos complacentes e auditorias amigáveis? Mitigam, neste caso, o que é sistêmico em exceção.
Assim os “torquemadas” trataram o caso Enron. Sétima maior empresa dos EUA, suas ações foram avaliadas em US$ 85 pelo “Morgan Stanley” em 12/07/2001 e assim recomendadas; em 9 /10/2001, a “Merryl Linch” ajuizou-as em US 45. Em 02/12/ 2001, a Enron quebrou. Quem se fiou na auditoria da “Arthur Andersen”, que por 10 anos atestou a excelência financeira da fraude, viu ações virarem pó. O mesmo se deu com a “Goldman Sachs”. Dias antes da explosão das “subprimes”, esse altar do jornalismo conservador recomendou a compra de títulos podres dos quais sua própria tesouraria se desfazia às pressas.
A lista imensa cabe numa palavra: desregulação. Dinheiro que se autofiscaliza; mercados que se autocorrigem. Ou ainda, Estado mínimo. Não foi esse, por décadas, o tripé de eficiência apregoado pela mídia?
A mesma que, entre nós, não poupou obuses à extinção da taxa de 0,38% sobre cheques, na verdade sobre grandes fortunas que assinam grandes cheques? À moda “Tea Party”, blindados demotucanos e sapadores midiáticos lograram destruir a CPMF em 2007, subtraindo R$ 40 bilhões/ano ao SUS. Aos que celebravam a vitória contra o ‘custo Brasil' o ex-ministro Adib Jatene retrucou: 'Dos cem maiores contribuintes da CPMF, 62 nunca tinham pago IR; ela [CPMF] identificou os sonegadores e a arrecadação federal triplicou. Aí começou a brutal campanha contra'. Possivelmente a operação 'Alquimia' tivesse sido dispensável se em vez de extinta, a CPMF fosse aperfeiçoada como antídoto à lavagem e corrupção. Mas a alquimia ética da mídia vetou-a.”
FONTE: cabeçalho do site “Carta Maior” em 18/08 (http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm) [imagem do Google adicionada por este ‘democracia&política’].
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