O QUE LEVOU OS PAULISTAS AO FRONT DE BATALHA EM 1932
Por Felipe Rousselet, do “SPressoSP”
“No último 9 de julho, foi celebrado
o aniversário de 80 anos da "Revolução Constitucionalista de 1932". O conflito
foi a expressão da insatisfação paulista com a revolução de 1930, que alçou
Getúlio Vargas ao comando do país. O "anseio por uma Constituição e a autonomia
administrativa de São Paulo" foram os motivos usados pela "Frente Única Paulista",
união dos "Partido Democrático" e do "Partido Republicano Paulista", para convencer
o estado a ir ao front de batalha e colaborar financeiramente com o combate.
Mas, em 1 de outubro de 1932, isolado por Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que
se mantiverem fiéis ao governo de Getúlio, São Paulo assinou sua rendição e deu
fim ao conflito.
Quais foram os reais motivos que
levaram os paulistas às armas em 1932? Teria sido, de fato, uma revolução
genuinamente de "ideais democráticos e constituintes" ou o conflito armado teria
sido motivado por interesses econômicos e políticos locais, de uma elite
insatisfeita com os resultados da chegada de Vargas ao poder em 1930 e que
diminuiu significativamente o poder político dela no âmbito nacional?
O “SPressoSP” conversou com o
economista, professor titular da Universidade Federal do ABC e pesquisador de
História Econômica da Fundação Getúlio Vargas, Ramón Garcia Fernandez, para
tratar do tema. E ele explica melhor a história da data.
Ramón Garcia Fernandez
SPressoSP – Pode se afirmar que
houve, de fato, uma “revolução” em 1932?
Ramón Garcia Fernandez – Não sei qual é o nome mais adequado. Certamente, nem 'revolução' nem 'guerra civil'. Talvez uma “contrarrevolução” chegasse mais perto, mas também não é o termo que expressa exatamente minha opinião do que foi que aconteceu. “Levante” talvez seja mais descritivo.
SPressoSP – Foi o anseio por uma
Constituição que motivou aquele precesso?
Fernandez – Interesses do conflito armado iam além da instituição de uma Constituição. Ou seja, São Paulo comandava, por décadas, uma república aristocrática e com eleições fraudulentas, e ninguém mexia uma palha pela democratização efetiva. Quando há um golpe de outro setor da elite que alija São Paulo do poder, viramos todos "democratas preocupadíssimos com a Constituição". Dá para acreditar?
SPressoSP – Qual foi o papel das
elites cafeeiras neste episódio?
Fernandez – A liderança efetiva da revolta foi das elites cafeeiras, embora deva se reconhecer que todos os grupos e classes sociais de São Paulo alinharam-se a elas.
SPressoSP – Quais foram os reais
motivos para a eclosão do conflito?
Fernandez – A perda da liderança nacional e o aumento do centralismo, restringindo a autonomia de São Paulo, num clima de crise econômica, certamente são os fatores maiores. Mas não se pode deixar de mencionar a inabilidade do Getúlio ao nomear como interventor João Alberto e dar mando aos tenentes em diversos postos chave. Quanto à Constituição, essa foi uma cortina de fumaça. Não nego que muitos acreditavam nela, mas esses não teriam conseguido fazer mais do que uma passeata.
SPressoSP – Se o ideário
constituinte paulista foi tão forte em 1932, porque ele não foi suficiente para
que houvesse novo levante em 1937, quando Getúlio instituiu o Estado Novo ?
Fernandez – Bem, já disse que isso de “ideário” sempre foi muito mais para inglês ver. Além disso, em 1937, a conjuntura havia mudado muito. Getúlio fez, nesse período, muitas concessões políticas para São Paulo, deixando de colocar “estrangeiros” (na visão dos paulistas da época) no comando do estado, e nomeou autênticos paulistas da gema. A recuperação econômica também tinha reduzido a conflitividade. Especialmente, a indústria estava indo muito bem, e os industriais passaram a considerar essencial o apoio do Estado centralizado para conquistar o mercado interno. Veja que uma figura chave como Roberto Simonsen passa de apoiador da Revolução em 1932 a apoiador do governo logo depois.
Fora isso, temos que considerar a
mudança do mundo: a polarização crescente em nível global, a firme resposta do
Getúlio à “Intentona Comunista” etc. tornam menos atraentes os ideais
democráticos em 1937 do que em 1932. A aceitação de uma ditadura é maior até
para as classes médias. Além do que, como nos ensina a época do milagre
econômico, a aceitação de ditaduras cresce em períodos de bonança. A aceitação
do Estado Novo foi praticamente unânime.
SPressoSP – A revolução de 1932 teve
viés separatista?
Fernandez
– Não
dá para dizer que era um acordo total, mas está claramente documentado que
alguns dos maiores líderes intelectuais queriam o separatismo, ou, no mínimo,
uma federação super frouxa. Isso não é especulação. Para captar a mentalidade
paulista dessa época, as pessoas deveriam ler os livros do professor Alfredo
Ellis Jr. É impossível fazer qualquer descrição do grau de autopromoção das
elites paulistas que há em sua obra, tem que ir e ler na fonte.
SPressoSP – Qual foi o legado do
conflito para São Paulo e para o Brasil?
Fernandez – Deu uma salutar cacetada na oligarquia cafeeira e tornou São Paulo uma parte mais colaborativa com o país como um todo. Para o Brasil, foi ótimo passar a ter um estado com a iniciativa, o dinamismo e os recursos de São Paulo jogando para o time, e não pensando só em si mesmo. Em termos gerais, consolidou a posição do Getúlio, o que acabou favorecendo a industrialização do Brasil e afundando de vez o sonho do retorno ao modelo agroexportador da República Velha."
FONTE:
escrito por Felipe Rousselet, do “SPressoSP.
Postado no blog “Escrivinhador” (http://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/o-que-levou-os-paulistas-ao-front-de-batalha-em-1932.html#more-14340). [Imagens do google adicionadas por este blog 'democracia&política']
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