Hipocrisia
contra o Irã
Por
M K Bhadrakumar, no “Indian Punchline blog”, sob o título
original “US grants “Iran waiver” to China”. Artigo traduzido pelo “pessoal da Vila
Vudu” e transcrito no blog “Redecastorphoto”
MK Bhadrakumar, diplomata da Índia
“A coisa ‘tá feia. Os
chamados “dividendos da Guerra Fria” parecem passado longínquo. A secretária de
Estado dos EUA, Hillary Clinton, ao que se sabe, prepara-se para um confronto
“cara a cara” [1] com seu contraparte russo, Sergey Lavrov; já iniciada
a contagem regressiva a partir da conferência internacional patrocinada pela ONU, a
acontecida em Genebra no sábado [30]. Clinton foi a São Petersburgo, a caminho
de Genebra, para o confronto-cara-a-cara mãe de todos os confrontos-cara-a-cara
da era pós-Guerra Fria.
Ótimo que Clinton tenha
deixado serviço pronto – um “alvará” cômico – em Washington antes de partir.
Clinton decidiu, com muito “aplomb”, recomendar que o Congresso dos EUA
conceda “alvará” [2] à China, na questão das sanções contra o Irã.
Para essa sua “determinação”, Clinton considerou que a China “reduziu
significativamente” as importações de petróleo iraniano. Só não se sabe como a
secretária Clinton teria chegado a conclusão tão intrigante, que a teria levado
à tal “determinação”. Mistério. Boca fechada.
O que importa anotar é que
Washington está tirando o corpo, escapando como pode, de confronto cara-a-cara
com Pequim. A vida, às vezes, é muito simples: ninguém morde a mão que o
alimenta. A última coisa que os EUA querem é guerra comercial com a China.
Os EUA insistiram o mais
que puderam com a China sobre as sanções contra o Irã. Os mais altos
funcionários do governo Obama, inclusive o Secretário de Tesouro, Timothy
Geithner, viajaram a Pequim, tentando defender a causa. A China ignorou-os
todos. Insistiu que só respeita sanções determinadas pela ONU. O ministro
chinês das Relações Exteriores repetiu, ainda semana passada, que as compras de
petróleo iraniano são “legítimas”.
E o que dizem os fatos?
Dizem que, sim, nos primeiros meses do ano, as compras russas de petróleo
iraniano diminuíram por causa de uma disputa de preços (que, em seguida, foi
resolvida).
Os fatos dizem, também,
que as compras russas de petróleo iraniano, isso sim, aumentaram cerca de 40% a
partir de abril: chegam hoje a mais de meio milhão de barris/dia. Os
especialistas preveem que as importações chinesas subirão ainda mais nos meses
de junho e julho.
Mas os EUA preferem fingir
que não estão vendo. Nesse episódio bizarro, há boa lição, que a Índia bem
faria se aprendesse.
Os especialistas indianos
não têm motivo algum para rolar pelo chão em pânico, sofrendo preventivamente
as penas do inferno, ante o risco de os EUA amaldiçoarem a Índia por causa da
questão iraniana. Os EUA não podem dispensar o mercado indiano – sobretudo
pelos altos lucros gerados pelas exportações de armas dos EUA para a Índia. Na
Índia, os fabricantes norte-americanos de armas sequer participam de
concorrências oficiais!
O fato de que há hoje um
ex-secretário de Estado dos EUA acampado em Delhi para defender a causa de “Wal-Mart”
mostra bem de que lado sopra o vento. Em que outro lugar do mundo a indústria “Wal-Mart”
poderia sonhar com abocanhar um mercado de US$ 430 bilhões e mantê-lo
abocanhado até o final do século 21?
O “alvará” para que
a Índia continue a importar petróleo iraniano (já anunciado em Washington
na véspera do “Diálogo Estratégico EUA-Índia”) foi favor que Washington quis
assegurar-se, ela mesma [Wasington] para ela mesma, no exclusivo interesse de
Washington.”
Notas de rodapé:
[1] 29/6/2012, Washington Post, Associated
Press em: “Clinton, Lavrov set for showdown over Syria ahead of
international conference on transition”
[2] 28/6/2012, US Departamentt of State, Hillary
Rodham Clinton em: “Regarding Significant Reductions of Iranian Crude Oil
Purchases”
FONTE: escrito
por MK Bhadrakumar, diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou
serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão,
Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve
sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais “The Hindu”, “Asia Online” e “Indian
Punchline”. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso
escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala. Artigo pCastor
Filhohttp://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/06/sancoes-contra-o-ira-eua-concede-alvara.html).
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