ORIENTE MÉDIO: AUMENTA O CLIMA DE TENSÃO
O governo de Israel usa
holocausto para justificar ataque ao Irã, mas silencia sobre a existência de
uma comunidade judaica no país persa. O primeiro ministro Benyamin Netanyahu
pode estar mais próximo de realizar uma aventura bélica contra o Irã. A guerra verbal
que já dura algum tempo tem como pretexto uma suposta construção de artefato
nuclear por Teerã.
Por Mário Augusto Jakobskind
"Os sucessivos desmentidos do governo iraniano, que alega, inclusive, a proibição pelo Corão de o país ter bomba atômica, e que o programa nuclear é para fins pacíficos, não têm sido levados em conta por Netanayhu ou pelo presidente estadunidense Barack Obama.
A diferença entre um e outro governo é que Washington ainda prefere aguardar os resultados das pressões econômicas para dissuadir o Irã a suspender o seu programa nuclear, enquanto Israel prefere agir militarmente.
O recente acordo político entre o direitista "Likud", o partido do primeiro ministro israelense, e o centro-direitista "Kadima", sob o comando de Shaul Mofaz, nomeado vice primeiro-ministro, resultou na formação de um governo de união nacional, cancelando até mesmo a antecipação das eleições gerais marcadas, um dia antes, para setembro. Mofaz nasceu no Irã e, no governo anterior do "Kadima", defendeu ataque às instalações nucleares do Irã.
Analistas políticos entendem que, como acordos dessa natureza ocorrem em momentos considerados graves para Israel, é possível que o susposto “perigo iraniano” tenha pesado no entendimento, considerado praticamente impossível pouco tempo atrás, por se tratar de dois partidos rivais.
POTÊNCIA NUCLEAR
Os pretextos para o ataque são dos mais variados, mas não resistem a uma análise isenta e mais rigorosa. Enquanto Netanyahu coloca no tabuleiro o “perigo” que representa um Irã nuclear, organismos que acompanham o desenvolvimento nuclear pelo mundo, como o "Instituto de Estudos Estratégicos" com sede em Londres, avaliam que Israel possui 200 ogivas nucleares. A “Jane’s”, uma empresa de defesa e informação, estima em 300 o número de ogivas nucleares, portanto [um poder de destruição atômico] equiparado à capacidade nuclear dos britânicos e franceses. As ogivas nucleares, segundo especialistas, podem atingir os continentes asiáticos e europeus.
Alguns analistas acreditam que, mais do que um ataque iraniano, o governo de Israel receia que outro país naquela área consiga desenvolver eventualmente a bomba atômica ou mesmo um programa nuclear para fins pacíficos, e Israel não reinará mais absoluto em termos militares no Oriente Médio.
Para o cientista político e linguista [estadunidense] Noam Chomsky, Israel nuclear representa perigo para o Irã e não o contrário. Chomsky acredita que as lideranças iranianas, do presidente Mahmoud Ahmadinejad ao aiatolá Khameney, mesmo utilizando retórica agressiva para consumo interno contra o regime sionista, não se atreveriam a atacar Israel, pois a retaliação ocidental seria avassaladora. Mas um ataque de Israel está se tornando possibilidade concreta.
PRETEXTO
Além do suposto “perigo nuclear” iraniano, o governo israelense utiliza, também, outro tipo de ameaça, chantageando a opinião pública não só de Israel como de países que ainda não superaram os traumas da II Guerra Mundial, entre os quais a própria Alemanha.
Netanyahu volta e meia se vale do que considera “possibilidade de um novo holocausto”, que seria provocado pelo Irã, para unir os israelenses e tentar convencer outras nações a apoiar uma ação militar contra as instalações nucleares.
Esse argumento também não resiste a uma análise mais apurada. Ao contrário do que quer fazer crer Netanyahu, o Irã não tem intenção de “acabar com os judeus”, até porque no país persa existe uma comunidade judaica vivendo harmonicamente com os iranianos, inclusive com representação parlamentar.
TRÊS MIL ANOS
Essa comunidade, estimada em mais de 25 mil pessoas, que tem história no país persa de cerca de 3 mil anos, é oficialmente reconhecida como minoria religiosa e elegeu para o Parlamento em 2008 o doutor Ciama Moresadegh, diretor do “Sapir Hospital” e “Charity Center”.
Funcionam normalmente, em Teerã e em outras cidades como Estahan, uma dezena de sinagogas, bem como muitas escolas e restaurantes judaicos, um asilo para anciãos da comunidade e um cemitério.
A comunidade judaica do Irã desfruta, ainda, de uma livraria com 20 mil títulos e edita o jornal diário “Ofogh-e-Bina”, da mesma forma que um centro de pesquisa, com “scholars” judeus, a “Central Library of Jewish Association”.
Tais fatos raramente são noticiados e pouco conhecidos em Israel. O governo sionista prefere o silêncio sobre isso ou mesmo criticar os judeus que preferiram permanecer no Irã a emigrar para Israel.
Há casos, inclusive, de judeus iranianos que, depois de passar um tempo em Israel, retornaram ao país de origem [Irã] porque optaram por “viver na paz e não na guerra e voltar a falar o seu idioma”, segundo revelou em recente palestra na "Associação Brasileira de Imprensa" o embaixador iraniano no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeg Ezabadi.
Uma das poucas referências sobre a comunidade judaica do Irã foi publicada na edição de 23 de fevereiro de 2009 do “The New York Times”, em matéria assinada por Roger Cohen sob o título “What Iran’s Jews Say” (O que dizem os judeus do Irã?). Cohen comenta, inclusive, que, ele mesmo, um judeu, nunca tinha sido recebido tão calorosamente como em Teerã, onde havia uma comunidade judaica que lá trabalhava e praticava o seu culto com relativa tranquilidade.
O mesmo articulista assinalou que em Estahan, outra grande cidade iraniana, na Praça Palestina, em frente à mesquita Al-Aqsa, viu uma sinagoga com um cartaz na entrada com os dizeres “Congratulações da Comunidade judaica de Estaphan pelo 30° aniversário da Revolução Islâmica”.
Morris Motamed, em 2009 deputado judeu no Parlamento iraniano, confirmou a Cohen que, de fato, sentia no Irã “profunda tolerância com relação aos judeus”.
Argumentos como os de Cohen no “The New York Times” são pouco divulgados pela mídia de mercado brasileira e integralmente ignorados pelas lideranças sionistas.
VOZES DISCORDANTES
Mas, mesmo em Israel, há vozes discordantes em relação a uma possível ação militar contra o Irã. É o caso de Yuval Diskin, ex-chefe do “Shin Bet”, o serviço de segurança interno israelense, entre 2005 e 2011.
Além de enfatizar que não confia em Netanyahu ou no Ministro da Defesa, Ehud Barak, [esses dois] possíveis formuladores do plano de ação militar, Diskin alertou que um ataque israelense ao Irã pode “acelerar dramaticamente” o projeto nuclear iraniano.
No entender do ex-chefe do serviço de segurança interno de Israel, os líderes do país apresentam ao público “quadro incorreto sobre a questão iraniana, tentando criar a impressão de que, se Israel não agir, o Irã terá uma bomba atômica”.
Para Diskin, trata-se de visão totalmente equivocada, pois “o que os iranianos fazem hoje devagar e silenciosamente, (depois de um ataque) terão legitimidade para fazer muito mais rápido”. Na mesma linha de pensamento crítico, o ex-chefe do Mossad, o serviço secreto israelense, Meir Dagan, considerou o plano “estúpido”.
Também o chefe do Estado-Maior do Exército israelense, general Benny Gantz, discordou de possível operação militar contra o Irã ao afirmar não acreditar que o Irã vá produzir armas nucleares. Entende o militar que o governo iraniano é “racional e sabe que seria um erro enorme produzir armas nucleares” [como Israel produz]. E, ainda por cima, segundo ele, “as sanções econômicas contra o Irã “começam a dar resultados”.
As próximas semanas podem ser decisivas. O Presidente Barack Obama já se manifestou em várias ocasiões que, no momento, é contra um ataque ao Irã, pois isso esvaziaria todos os esforços diplomáticos já feitos em prol de solução pacífica para o conflito.
Além disso, em plena campanha eleitoral para a sua reeleição, Obama teme também que um conflito agora poderá ter reflexos nefastos e que poderão por em risco a sua empreitada eleitoral, em função da provável subida astronômica do barril do petróleo que aconteceria com o fechamento pelos iranianos do Estreito de Ormuz, onde passam os petroleiros com o combustível para o Ocidente.
Já o governo Netanyahu e parte do lobby sionista nos Estados Unidos vinculado à linha-dura republicana apoiam ação militar já. Outras possibilidades que afetariam sobremaneira a Israel não se descartam. Uma delas, e que provoca maior temor, é uma reação do grupo Hezbollah, que, segundo o analista internacional e cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, possui 20 mil mísseis escondidos em residências particulares em Beirute e outras cidades libanesas e, se acionados, atingiriam o território israelense.
Resta saber como se comportaria a França pós-Nicolas Sarkozy, agora sob o comando do socialista François Hollande, em caso de ação militar israelense ou mesmo numa etapa posterior, se as pressões contra o Irã não produzirem resultados que levem à suspensão do programa nuclear.
A Alemanha, que ainda guarda complexo de culpa pelas atrocidades cometidas contra judeus, ciganos, homossexuais e populações da Europa Oriental que resistiram aos nazistas, de um modo geral, seja sob o comando da conservadora Angela Merckel ou mesmo do SPD, o partido social-democrata, se alinha quase que integralmente à política dos sucessivos governos israelenses.”
FONTE: escrito por Mário Augusto Jakobskind, jornalista, que teve parte dos familiares assassinados na 2ª Guerra Mundial pelos nazistas na Polônia. Artigo publicado no site “Carta Maior” e no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=187304&id_secao=9).
COMPLEMENTAÇÃO
BRINCAR COM O FOGO
“Em maio, os estaleiros da
Howaldtswerken-Deutsche Werft (HDW) situados na cidade de Kiel, no Norte da Alemanha,
forneceram a Israel o quarto submarino ultramoderno da classe Delfim. Os três
primeiros foram quase totalmente pagos pela Alemanha, isto é, pelo povo alemão e,
em primeiro lugar, pelas vítimas da política antissocial do Governo de Berlim
no quadro da “ajuda militar” a Telavive. Israel e a Alemanha mantêm,
discretamente, esse negócio cujas implicações são extremamente graves.
Por Ruy Paz
Israel é o único Estado do Oriente
Médio que possui armas atômicas.
Os submarinos estão preparados
para, com ligeiras modificações, poderem transportar e lançar ogivas nucleares
até 1500 e 2000 quilômetros de distância. É manifestação de irresponsabilidade
total do Governo alemão, infringindo as leis que limitam a exportação de
material bélico do seu país; fornecer armamento tão sensível a um Estado que,
além de já possuir o mais perigoso exército da região, insiste em manter
política agressiva contra os estados árabes seus vizinhos e oprime de maneira
tão brutal os direitos do povo palestino.
O escândalo ainda é maior se pensarmos que a atual chanceler Angela Merkel,
então na oposição, apoiou a agressão militar e a invasão pelo célebre trio
Bush, Blair & Barroso do Iraque, país acusado falsamente de possuir armas
de destruição maciça.
Mas, no caso de Israel, é exatamente ao contrário. Israel é o único Estado do
Médio Oriente que possui de fato armas atômicas, tendo em conta que o Paquistão
está muito longe de Israel, junto à fronteira da Índia.
Os estaleiros da HDW que pertencem ao grupo ThyssenKrupp, dois nomes sonantes
da indústria de armamento alemão e que levaram Hitler e o partido nazi ao
poder, são célebres pelas suas tradições militaristas. Uma tradição que se
manteve mesmo depois de 1945 com o rearmamento da Alemanha e a sua integração
na OTAN, embora sem recurso ao armamento nuclear.
Assim, em 1967, a HDW produziu submarinos para a ditadura dos coronéis na
Grécia. Em meados dos anos setenta, o Xá da Pérsia encomendou também meia dúzia
daqueles “vasos de guerra”, mas não tendo sobrevivido politicamente à sua
entrega, dois deles foram parar no Chile do sanguinário general Pinochet.
E a marinha de guerra da Turquia, “democracia” da OTAN com o maior número de
golpes de Estado militares, também não pode prescindir desses instrumentos de
guerra. Para fazer crer que a Alemanha luta pela defesa da “democracia” e dos
“direitos humanos” em escala global, os negócios militares com o regime do
apartheid [África do Sul] foram assinados secretamente em 1985.
Se tivermos em conta o sofrimento e a opressão que se abatem sobre o povo palestino
e as leis discriminatórias que reinam nos territórios ilegalmente ocupados por
Israel, a situação é quase idêntica à do então regime racista sul-africano.
O potencial nuclear de Israel é calculado entre 80 bombas atômicas (pelo SIPRI,
"Instituto de Investigação para a Paz", em Estocolmo) e 400 (pela "Jane’s Information
Group", de Londres), com capacidade de 50 megatoneladas. Uma megatonelada
corresponde a 80 vezes a bomba de Hiroshima.
Além dos sistemas terrestres, Telavive possui sistemas aéreos como os mísseis
“Jericó” com ogivas nucleares, assim como elevado número de bombas atômicas
transportáveis por aviões de guerra norte-americanos F-16.
A repressão e encarceramento do técnico nuclear israelita Mordechai Vanunu, que
denunciou o programa atômico e a possibilidade de Israel empregar armas
nucleares contra os seus vizinhos árabes, confirmam por que Israel não
assinou o "Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares".
O objetivo da Alemanha é ajudar Israel – cujos governos são cada vez mais
fascistas e agressivos – a dotar-se de sistema marítimo de armas atômicas que
lhe permita atacar inesperadamente qualquer Estado da região no quadro da
chamada "guerra preventiva". Um verdadeiro "brincar com o fogo" da parte de um
Estado que, irresponsavelmente, tudo tem feito para reforçar a vertente
militarista da União Europeia."
FONTE: escrito por Ruy Paz. Publicado em http://brigadasinternacionais.blogspot.com.br, no site “Avante” e no portal
“Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=187232&id_secao=9).
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Ironia do destino.
ResponderExcluirOs inimigos do passado fornecendo-lhes armas.
Iurikorolev,
ResponderExcluirOs egoistas objetivos maiores dos EUA+países da OTAN+Israel+grandes conglomerados financeiros,econômicos e de mídia estão acima de tudo para eles. Para alcançá-los, eles se irmanam e atropelam todos os valores humanos. São unidos independentemente de inimizades e guerras do passado.
Maria Tereza