quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Inter Press Agency: “MODELO ECONÔMICO DO BRASIL OFERECE UM RAIO DE ESPERANÇA”


Enquanto os governos lutam para encontrar formas de driblar a persistente crise financeira global, o modelo de desenvolvimento do Brasil oferece um caminho alternativo de recuperação e crescimento, de acordo com alguns economistas e políticos estrangeiros


(Reprodução de matéria publicada em inglês pela agência internacional de notícias "Inter Press Agency" (IPS- Inter Press Service), no dia 15 de janeiro, com link no final deste texto)

O Brasil oferece esperança para nações africanas e europeias, pois mostrou que você pode obter êxito com a globalização (“succeed at globalisation)”, optando não apenas pelo crescimento, mas também por melhor distribuição de riqueza”, afirma o economista do Togo Kako Nubukpo à IPS. O ex-diretor de análise econômica e pesquisa da “West African Economic and Monetary Union” (WAEMU, União Econômica e Monetária dos Países da África Ocidental) esteve em Paris para participar, durante dois dias, do “Fórum para o Progresso Social” (Forum for Social Progress) que ocorreu liderado pelo ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, pela atual presidente, Dilma Roussef, e pelo presidente da França, François Hollande.

Concentrado em como “optar pelo crescimento” e “sair da crise”, o fórum também foi um espaço para especialistas progressistas chamarem a atenção para um novo tipo de administração pública que “coloca as pessoas como prioridade” e garante a sustentabilidade ambiental.

O Brasil nos mostrou que o desafio é ter o máximo de consideração às aspirações das pessoas, pois com uma liderança esclarecida podemos vencer no processo de desenvolvimento”, afirmou Nubukpo.
Hoje, na África, temos a impressão de que nossos líderes estão mais preocupados com o Fundo Monetário Internacional e com o Banco Mundial que com nosso próprio povo”.

Nubukpo e outros participantes enaltecerem a “utilidade” do fórum, mas o próprio Lula disse que estava cansado de encontros que simplesmente discutiam a crise. Em discurso inflamado, ele convocou os governantes a encontrar a coragem para adotar soluções “óbvias”, especialmente com relação à pobreza.

Se um governante não pode oferecer democracia, dignidade e esperança ao seu povo, para que servem os governos?”, ele questionou.

Descrevendo como ele se dedicou aos planos para tornar o Brasil um ator respeitado no cenário mundial, Lula falou sobre políticas que foram elogiadas e criticadas (lauded and criticised). Sua administração instituiu notavelmente o programa “Bolsa Família”, um sistema nacional de transferência em dinheiro para auxiliar famílias pobres a manter seus filhos na escola.

O governo também criou o programa ProUni, pelo qual estudantes de baixa renda (low-income students) recebem bolsas escolares para frequentar a universidade, com a meta de formar trabalhadores mais capacitados para o país.

Alguns críticos dizem que as medidas tiveram consequências não previstas, como famílias que enviam crianças para a escola apenas para obter o auxílio, mas Lula defendeu as políticas.

Eu tinha a convicção de que era necessário fazer algo diferente do que já tinha sido feito no Brasil”, ele disse no fórum, que foi organizado também pela fundação francesa “Jean-Jaurès” e pelo “Instituto Lula”, uma organização fundada por Lula depois que ele saiu da presidência, em 2011.

Decidimos pagar a Bolsa Família por agências bancárias, com o uso de cartões magnéticos que eram entregues às mulheres de cada lar (e não aos homens, que podiam gastar o dinheiro em cerveja), e isso representou uma revolução para a criação de contas bancárias para correntistas de baixa renda”, ele acrescentou.

Uma das metas do Instituto Lula é “aproximar o Brasil e a África” e “melhorar a integração do Brasil com a América Latina”, dois objetivos que o ex-presidente considera que mudarão o status quo global.

É necessário construir novos paradigmas para que possamos discutir problemas de comércio e não fiquemos presos à visão tradicional, que nos faz recorrer aos Estados Unidos ou à União Europeia para resolver nossos problemas”, ele defendeu.

De acordo com Lula, se os países industrializados fizessem mais pela África, eles também poderiam se beneficiar disso no futuro. “Por que o mundo desenvolvido, que está enfrentando um problema de consumo, não amplia o financiamento a longo prazo para países africanos a taxas de juros mais baixas, de forma que eles possam desenvolver as próprias indústrias e agricultura?”, ele perguntou.

Lula afirmou que o oceano entre a América Latina e a África deve ser visto como um condutor para o comércio, e não uma barreira para ele.

O africano Bruno Ondo Mintsa, ativista contra a pobreza (anti-poverty activist) e presidente da “Association Printemps du Quart-Monde”, contou à IPS que o “milagre brasileiro” foi uma fonte de motivação para africanos.

Para a África, que tem imensa riqueza natural, mas continua a ser atingida pela pobreza miserável, o “Brasil mostra que o problema é de democracia, de administração pública e distribuição de riquezas”, afirma Mintsa. “É um escândalo que um continente rico como a África tenha pessoas vivendo em tal pobreza”.

Para alguns socialistas europeus, o Brasil é exemplo de um meio termo entre o que o presidente francês Hollande chamou de “rejeição absoluta à globalização e aceitação ingênua até de suas consequências (mais) extremas”.

Embora estejamos em busca de crescimento, sabemos bem que o tipo de crescimento que tivemos antes da crise não é mais sustentável”, afirmou Hollande para os participantes do fórum.

A solução não será encontrada no passado, ele acrescentou. Em vez disso, “Temos que criar uma nova era”.

De acordo com Hollande, as prioridades devem ser o crescimento, empregos para os jovens, transição de energia e luta contra desigualdades. Ele conhece bem os perigos de ignorar essas áreas fundamentais: o desemprego cresceu na França para 10,3 por cento no terceiro trimestre deste ano, o índice mais alto em 13 anos, e entre os jovens essa taxa se aproxima de 25 por cento.

Quando o “Fórum para o Progresso Social” começava, a “National Conference for the Fight Against Poverty” do próprio governo francês chegou ao fim com o anúncio de um ambicioso plano de dois milhões de euros para a recuperação.

Esse plano inclui o aumento de apoios de receita, extensão da saúde nacional gratuita, criação de lares de emergência e alocação de fundos para jovens desempregados entre 18 e 25 anos. Alguns políticos da oposição criticaram o plano como esmola, mas ativistas afirmaram que já era hora de os pobres receberem verdadeira atenção política.

A França pode aprender muito com o Brasil”, ressaltou o médico e professor francês, Dr. Alain Goguel para a IPS. “Nós amparamos os bancos com trilhões, mas relançar a economia ajudando o pobre é uma ideia original. Se ela funciona, deve ser imitada”.

FONTE: matéria publicada em inglês pela agência internacional de notícias “Inter Press Agency” (IPS- Inter Press Service), no dia 15 de janeiro. O artigo original, em inglês pode ser lido no link: www.ipsnews.net/2012/12/brazils-economic-model-offers-ray-of-hope. Postado pelo portal do PT com apoio doInstituto Lula” (http://www.pt.org.br/noticias/view/agencia_inter_press_modelo_economico_do_brasil_oferece_um_raio_de_esperanca). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

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