quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Imprensa estatal alemã “Deutsche Welle”: “ASCENSÃO DO BRASIL PODE INTERFERIR NA RELAÇÃO COM VIZINHOS”


Por Paulo F., da [imprensa estatal alemã] “Deutsche Welle (DW)”


[OBS deste blog ‘democracia&política’: deve-se ler este artigo sabendo que para o governo alemão, e para a direita das grandes potências em geral (grandes conglomerados financeiros e econômicos, inclusive de mídia), não é conveniente que o Brasil ocupe mercados na América Latina, África etc, antes dominados por eles. Assim, nas entrelinhas deste texto, criticam e denigrem (“neoimperialismo”, “colonialismo”, "rejeição") a expansão do comércio exterior brasileiro].


“Em sua trajetória de ascensão no cenário internacional, o Brasil encontra-se sob ameaça de desenvolver uma imagem neocolonialista em países da América Latina e África.

No início, os uruguaios ainda gostavam da cerveja brasileira. As filiais do Banco Itaú na capital Montevidéu tampouco eram um problema. Porém, em 2006, quando as firmas brasileiras passaram a comprar os armazéns frigoríficos do país, muitos ficaram desconfiados. De uma hora para outra, o grosso dos negócios com a carne bovina, campeã de exportações do país, encontrava-se em mãos brasileiras.

Frigoríficos no Uruguai, plantações de soja no Paraguai, usinas hidrelétricas no Peru: as empresas do Brasil conquistam a América do Sul. E com cifras de impor respeito. Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, o total das exportações nacionais para o restante da América Latina e o Caribe saltou de 11,5 bilhões para 57 bilhões de dólares, entre 2002 e 2011. Isso situa a região como segundo mais importante mercado para o comércio externo brasileiro, depois da Ásia.

ADMIRAÇÃO E REJEIÇÃO

Porém, os demais latino-americanos observam com ceticismo a ascensão econômica do país. "Em muitos aspectos, os países veem o Brasil com um olhar semelhante ao que a América do Sul tinha sobre os Estados Unidos", expõe Oliver Stünkel, professor de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas, em entrevista à “DW Brasil”. "É uma mistura de admiração e rejeição."

O clima político é especialmente tenso no Paraguai. A atitude brasileira após [o golpe da direita contra o] então presidente Fernando Lugo, em junho de 2012, ainda é encarada como uma intervenção descabida. "Quando o Brasil pressionou para que o Paraguai fosse suspenso do mercado comum MERCOSUL, voltou a aflorar o sentimento de que o país se comporta como uma potência colonial", explica Stünkel.

O ex-ministro brasileiro do Exterior [governo FHC] Luiz Felipe Lampreia também classifica [como a direita demotucana brasileira] como uma gafe diplomática o comportamento de seu governo na época. "Essa decisão política despertou um grande mal-estar no Paraguai", admitiu em entrevista à DW.

No entanto, o diplomata considera absurda a acusação de que o Brasil estaria se comportando de forma colonialista. "Os brasileiros pagam impostos, exportam mercadorias e criam postos de trabalho, tanto no Paraguai como no Uruguai ou na Bolívia", contra-argumenta Lampreia.

ÁFRICA COMO ALVO PREFERENCIAL

Quer como amigo, quer como inimigo, a expansão econômica e política do Brasil segue a passos largos. A mineradora Vale S.A. pretende investir no exterior, até 2014, um total de 9,6 bilhões de dólares, em especial em países africanos como Moçambique, Angola e Zâmbia. Com 17 mil funcionários, a multinacional Odebrecht é a maior empregadora privada de Angola. E a semiestatal Petrobras explora petróleo em Angola e na Nigéria.

A expansão brasileira no continente africano é fruto de intenção política. Lá, o gigante sul-americano está representado com, no mínimo, 37 embaixadas. E, ao oferecer créditos acessíveis, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também ajuda a financiar grandes projetos domésticos.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou os países ao sul do Saara mais de uma dezena de vezes durante seus dois mandatos, de 2003 a 2011. Também sua sucessora Dilma Rousseff segue apostando na cooperação sul-sul. Com resultados palpáveis: de 2000 até agora, o volume anual de negócios Brasil-África cresceu de 4,2 bilhões para mais de 20 bilhões de dólares.

MAIS UMA NAÇÃO IMPERIALISTA?

Entretanto também na África lusófona a expansão brasileira gera tensões. Em julho de 2010, manifestantes enfurecidos invadiram a mina de ferro da Vale S.A. na Guiné, por violações dos direitos dos trabalhadores. Também em Moçambique, no leste africano, pequenos agricultores protestaram no último ano contra a empresa mineradora, por desalojá-los a fim de dar lugar à exploração de carvão mineral em Moatize.

"Em Moçambique, a relação da Vale com a população local é tão ruim que, para muitos, a atual imagem do Brasil é pior do que a de Portugal da época colonial", escreveu Carlos Tautz para [o jornal tucano de oposição] “O Globo”. Se o governo não lembrar as firmas brasileiras do respeito às normas internacionais, no futuro o Brasil será percebido "como mais uma nação imperialista", advertiu o jornalista.

O professor Oliver Stünkel, contudo, não partilha essa opinião. "A reputação do Brasil na África é muito boa. Para o país, ainda se desenrola o tapete vermelho", afirma o perito econômico.”

FONTE: por Paulo F. na agência estatal alemã “Deutsche Welle”. Postado no portal de Luis Nassif com texto de Astrid Prange de Oliveira (av) e revisão de Francis França (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/ascensao-do-brasil-pode-interferir-na-relacao-com-vizinhos). [Título, observação, imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’]

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