sábado, 18 de maio de 2013

INFLAÇÃO: O PULO DO GATO

Rentistas terroristas da inflação, felizes com altas da SELIC

Artigo de Amir Khair

“O que inviabiliza a política econômica é o fantasma da inflação. Aniquilou o crescimento no governo FHC, que abusou da SELIC elevada para combatê-la, não deixou aproveitar melhor o surto de crescimento internacional no governo Lula, frustrou o crescimento nos últimos dois anos e ameaça os próximos dois.


A inflação atinge a todos, reduzindo o poder de compra e prejudicando mais os mais pobres, que têm menos condições de se defender da alta de preços. Portanto, o enfrentamento da inflação é prioridade de qualquer governo. Mas como enfrentá-la?

FALSA SOLUÇÃO

O pensamento dominante, inclusive de parte do governo, é o uso da SELIC como o remédio para conter a inflação. É aí que ocorre o pulo do gato, ao se afirmar que precisa subir a SELIC. Isso denota o atraso na política econômica do país. O consolo é que já foi pior. Armínio Fraga [FHC/PSDB] inaugurou o regime de metas para a inflação posicionando a SELIC no seu recorde histórico de 45%! A banca internacional vibrou, junto com os rentistas domésticos.

É mais provável que uma elevação da SELIC prejudique mais a oferta do que a demanda, pois onera as empresas no custo financeiro e no capital de giro, o que pressiona preços, e não mexe na demanda, pois, num país de alto spread bancário, a eficácia da alteração da taxa básica de juro quase nada altera a taxa de juro do tomador.

Mas alguns ainda defendem que o BC, ao usar a SELIC, estaria orientando as expectativas dos agentes econômicos para a fixação dos preços. Mas essas expectativas se dão pela consulta à inflação passada e presente. Nada a ver com a SELIC.

Além disso, segundo o BC, a alteração da SELIC leva de seis meses a um ano (?) para surtir efeito. Nesse período, tanta coisa pode acontecer que torna impossível caracterizar o eventual efeito.

Existem políticas adequadas para enfrentar a inflação como:

a) a desoneração de produtos de consumo popular;
b) redução e controle dos preços monitorados pelo governo;
c) encarecimento do crédito por medidas macroprudenciais;
d) estímulos à oferta por empréstimos com melhores condições e;
e) controle de preços aos monopólios e oligopólios.

DETERMINANTES DO IPCA

O IPCA é influenciado em 36% pelos bens comercializáveis, 40% pelos não comercializáveis e 25% pelos monitorados. Vejamos esses componentes.

COMERCIALIZÁVEIS

São todos os bens sujeitos à concorrência externa. A evolução dos seus preços depende do mercado internacional que, desde a crise de 2008, passa por acirrada concorrência.

Em 2011, a inflação desses bens foi de 4,4% e, no ano passado, 4,5%, portanto, no centro da meta de inflação. Os alimentos é que dispararam pelas quebras de safra nos Estados Unidos e Brasil.

Desde meados do ano passado, o IPCA sem os alimentos está no nível de 4%, abaixo do centro da meta de 4,5%. Basta isso para derrubar os que usam o fantasma da inflação para elevar a SELIC. Em adição, neste ano, a safra é recorde, contribuindo para a queda da inflação.

E o que causou a elevação dos preços dos alimentos foram os in natura que cresceram nos últimos doze meses 55% (!). Interessante observar que há um ano esses alimentos tiveram deflação de 5,3% (!).

NÃO COMERCIALIZÁVEIS

São basicamente os serviços que não estão sujeitos à concorrência externa. Desde 1997 até 2004, contribuíram para baixar a inflação e, a partir de 2005, passaram a ser o vilão da inflação. A razão para isso é maior demanda do que oferta pelo acelerado crescimento da classe C.

Para conter os preços no curto prazo, alguns economistas ortodoxos defendem a política suicida de elevar o desemprego. O lamentável é que, até alguns economistas não ortodoxos, embarcaram nessa.

Se aumentar o desemprego, o resultado seria certamente a estagnação, com graves repercussões sociais. Como o governo não é irresponsável a esse ponto, esses economistas vão falar ao vento.

Enquanto não aumentar a oferta de serviços, atraída pela procura em expansão, não será possível evoluir os preços dos não comercializáveis abaixo do centro da meta de inflação.

MONITORADOS

São os que dependem de decisões do governo. Esses preços evoluíram acima da inflação desde 1995 até 2006, com média anual de 13,9% (!). A sociedade teve que aguentar isso, que é um subproduto da privatização [privataria tucana] marcada por forte elevação de tarifas para ampliar lucros.

A partir de 2007, tiveram crescimento médio anual de 3,8%, agindo como freio à inflação. Que o diga a Petrobras que foi fragilizada pelo governo, ignorando a posição estratégica para enfrentar o desafio do pré-sal e, ainda, foi obrigada a fazer compras com forte conteúdo local e participação de 30% nos investimentos futuros. A crítica não é nos objetivos [corretos] que foram determinados à empresa, mas a inviabilização de atingi-los pela política desastrosa de preços imposta.

Para romper com a paralisia econômica é necessário não se deixar levar pelo fantasma da inflação, nem pelo falso remédio da elevação da SELIC em autêntico pulo do gato.”

FONTE: artigo de Amir Khair publicado no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22057). [Imagens do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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