quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O DEBATE HIPÓCRITA NO STF: “O SEU PARTIDO ROUBA MAIS DO QUE O MEU”



Por Bob Fernandes, no “Terra Magazine”

“Na última sessão do Supremo, o ministro Celso de Mello foi escancaradamente pressionado. Pressão indireta, via citação de posição anterior do ministro, para que aceite os embargos. E pressão direta, em meio a brados, para que rejeite os embargos.

Quando ministros do Supremo pressionam um colega, enterram uma máxima repetida por ministros do Supremo que diz: "Ministros do Supremo não cedem a pressões".

Ora, se ministros do Supremo não cedem a pressões, por que ministros do Supremo pressionaram o ministro Celso de Mello?

Recordemos exemplos do vaivém na retórica e nas práticas no Tribunal.

Em julho de 2008, Gilmar Mendes concedeu, em 48 horas, dois habeas corpus para o banqueiro Daniel Dantas. Banqueiro preso na “Operação Satiagraha”.

Gilmar Mendes valeu-se de razões técnicas para conceder os habeas corpus e fustigar a Operação. Seguindo razões técnicas, se lixou para a opinião pública. Não considerou nem as ruas, nem a agora tão citada "imagem do Supremo".

Sem discutir razões técnicas aqui, por falta de saber jurídico, pergunte-se: qual foi o resultado efetivo daquelas ações? Bem, por decisão posterior do Superior Tribunal de Justiça (STJ) a investigação contra o Grupo Opportunity foi praticamente sepultada...

Por outro lado, governos dos Estados Unidos e da Inglaterra agiram. Por falta de comprovação na origem do dinheiro, retiveram US$ 550 milhões do grupo investigado.

Repetindo: US$ 550 milhões. E aí? E aí… nada.

O mesmo Supremo, o mesmo ministro, concedeu habeas corpus a Roger Abdelmassih; o médico suspeito de estuprar dezenas de clientes na sua clínica de inseminação.

Habeas corpus concedido porque sustentado em razões técnicas. Não foi problema para o Supremo se o médico fugiu para o Líbano. E nem se as ruas chiaram, se gostaram ou não.

O banqueiro Salvatore Cacciola, que fugiria para a Itália, idem. Habeas corpus concedido por entendimento técnico, no Supremo. Que não levou em conta, porque não é essa sua função, o "clamor das ruas" contra o banqueiro.

O ministro Celso de Mello é o mais antigo, o decano do Tribunal. Ele condenou com dureza os réus da Ação 470, o chamado "mensalão". [Hoje], quarta-feira, ele poderá aceitar ou não a tese dos embargos. Fará como bem entender, em decisão solitária. Porque esse, e só esse, é o dever dele.

As ruas têm direito, e não pouco, ao desabafo contra secular impunidade, mas pressões [partidárias] escancaradas no próprio Supremo e na Mídia são constrangedoras. Seja contra -em larguíssima maioria- seja a favor, essa torrente de pressões é também reveladora.

Revela, ao fundo, o apequenamento do debate político, e não apenas. Revela um emburrecimento que se espalha. Tudo é, tem sido, motivo para a pinimba maniqueísta, hipócrita, e que gera, cada vez mais, rastros de ódio.

Resumo do debate que empurra o Supremo para as arquibancadas: "O seu partido é pior do que o meu… o seu partido rouba mais do que o meu".

FONTE: vídeo e texto do jornalista Bob Fernandes no portal “Terra Magazine”  (http://terramagazine.terra.com.br/bobfernandes/blog/2013/09/17/o-debate-hipocrita-o-seu-partido-rouba-mais-do-que-o-meu/).

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