terça-feira, 17 de dezembro de 2013

STF NÃO ESTAVA PREPARADO PARA ENFRENTAR OS HOLOFOTES DA MÍDIA


NEM A MÍDIA SE PREPAROU PARA O MENSALÃO, NEM O JUDICIÁRIO PARA ENFRENTAR OS HOLOFOTES

Por Luis Nassif, no Jornal GGN

O único partido do magistrado deve ser a própria consciência”. A afirmação é do desembargador Carlos Henrique Abrahão, do Tribunal de Justiça de São Paulo, durante a versão paulista do seminário “A democracia digital e o Poder Judiciário”, organizado pelo “Jornal GGN” com apoio da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) nacional.

O que se passa hoje no Brasil é que as instituições estão sendo testadas. “A partir de agora, o papel de fiscalização e supervisão é da imprensa como um todo e da sociedade civil”.

Resta ao Judiciário “conhecer a sua realidade e atacar de frente seus problemas e colocar o dedo na ferida”, diz Abrahão. Para ele, as pessoas que buscam o tiroteio das notícias são aqueles que querem se perpetuar no poder.

Nos EUA, é raríssimo criticar juiz da Suprema Corte, porque ele é fechado, sereno. Na Alemanha, juiz não faz críticas junto à imprensa”, comenta.

Segundo Abrahão, há um conjunto de interrogações sobre a ação da mídia: Queremos imprensa livre ou partidarizada [como hoje]? Qual o impacto da exposição das vidas das pessoas? O que a imprensa quer: melhorar o país ou jogar informações confusas? Para ele, a mídia brasileira não estava preparada para o mensalão. E o Judiciário não estava preparado para enfrentar os holofotes.



A democracia latino-americana é nova e chegando com a velocidade da imprensa americana”, continua Abrahão.

Hoje, o Judiciário pede que o “Google” retire uma informação e ele não atende. “O poder da mídia se sobrepõe ao poder do Estado” diz ele, refletindo uma preocupação global com o poder das grandes redes sociais.

Além disso, há um caos na informação, agravado pela falta de conhecimento técnico da mídia. “’Grupo OGX pediu recuperação’. Uma parte disse que 'a Justiça aceitou'; outra diz que 'pediu falência. Problemas de falta de conhecimento”, constata ele.

Outro ponto nebuloso é a questão das concessões de rádio e de TV. “Por que determinado canal de TV está há 40 anos com mesma pessoa? Por que o Congresso não reforma concessões?”

A economia global e a sociedade digital gerou conflitos de interesses difíceis de contornar, constata. “A economia global acarretou explosão da mídia e carga de informações que, muitas vezes, não corresponde à realidade”. O “sigilo de fonte” é utilizado em disputas internas, quando se quer plantar um fato.

Para ele, as redes sociais ainda carecem de parâmetros de legitimidade. “Até que ponto estão exercendo papel moral e ético? Até que ponto selecionando?”

Além disso, as novas tecnologias ainda não são bem administradas pelo modelo judiciário.

Com processo eletrônico, o advogado pode levar a ação em poucos minutos. Antes, levava de três a quatro dias para receber processo. Hoje em dia, consegue-se agravo de instrumento em questão de horas. Embora a lei seja de 2006, somente agora o Poder Judiciário está se adaptando para os novos fatos.

O que o Judiciário não pode é se comportar de forma virtual. Tem que ter capilaridade de realidade, diz ele.

Segundo Abrahão, o Judiciário somente se aprimorará “quando estiver aberto para raios de sol: os meios de comunicação. Mas sem tempestade e sem tempo nublado provocado por notícias falaciosas. Prefiro um Judiciário de hoje que o trancafiado”.

FONTE: escrito por Luis Nassif no “Jornal GGN”   (http://www.jornalggn.com.br/noticia/nem-a-midia-se-preparou-para-o-mensalao-nem-o-judiciario-para-enfrentar-os-holofotes). [Título, imagens do Google e trecho entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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