segunda-feira, 30 de março de 2015

"BRASIL NÃO ESTÁ EM CRISE E DESESPERADO" (diz Celso Amorim)



"Não estamos em crise e desesperados", diz Celso Amorim

Por Caio dos Reis, no jornal "Diário do Grande ABC"

[...]
"O diplomata Celso Amorim, que foi ministro da Defesa no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), ministro de Relações Exteriores de Itamar Franco e de Luiz Inácio Lula da Silva, esteve na semana passada em São Bernardo para falar sobre o lançamento de seu livro "Teerã, Ramala e Doha", na qual conta experiências diplomáticas pelas quais passou.

Confira entrevista completa:

No governo Lula, o Brasil tinha comércio exterior diversificado e reconhecidamente ativo. Com Dilma, essa política diminuiu. Como o Sr. avalia essa situação?

Eu não acho que isso esteja ocorrendo. Alguns países emergentes estão crescendo menos, então é natural que diminuam um pouco (as relações comerciais). São flutuações, são três ou quatro anos que obviamente nos interessam porque estamos vivendo este momento, mas não significa nada em termos históricos. A tendência geral nossa tem sido de diversificar o comércio e de ter cada vez mais importações para outros países emergentes. Um exemplo é a China, a nossa principal compradora. Agora, também é natural quando há uma oscilação, como ocorreu em alguns países da América do Sul, que cairam um pouco (as relações financeiras), mas não considero essa diminuição como uma decisão política.

Como o Sr. viu a execução de Marco Archer Cardoso Moreira, brasileiro condenado à morte na Indonésia por tráfico de drogas?

Assim como o Brasil, sou pessoalmente contra a pena de morte e lamento profundamente o ocorrido.

Como o Sr. tem visto a alta do dólar nos últimos meses? Qual impacto no turismo e nas exportações?

É uma questão muito complexa. Outro dia, pela primeira vez eu li a proposta das Relações Internacionais, li que os empresários estão muito animados porque acreditam que vão exportar mais. Então considero como uma boa notícia.

Como o Sr. vê a crise econômica na Europa, em especial na Grécia, e de que forma isso impacta no Brasil?

A crise já impactou muito do que tinha que impactar. Agora estamos vendo um problema específico da Grécia e o processo de recuperação de outras economias, algo que vai demorar um tempo. Daí a importância na diversificação de parceiros. Mas eu acho que o grande impacto que tinha de ter já teve e foi a diminuição do comércio. Acredito que o Brasil tem um mercado interno muito forte, mas é claro que não está isento de efeitos que ocorrem fora da nossa região.

O Grande ABC tem como principal fonte de exportação a Argentina e tem economia solidificada na indústria automotiva. Evidentemente, tem sentido os reflexos da crise argentina e das montadoras. Há saída para a região?

O Brasil está muito razoável. Se olharmos para [10,] 20 ou 30 anos atrás e compararmos, estamos em situação muito melhor. A classe média cresceu, uma distribuição de renda que mudou, você vê os universitários hoje, são diferentes. O pensamento de antigamente estava muito limitado a certas classes sociais. Hoje em dia, quase todo brasileiro ganha mais instrução e tem acesso à universidade, isso é um ganho para nós. Problemas não deixam de ocorrer e não são exclusivos do Brasil, você vê isso na Europa e nos Estados Unidos também. Não estamos em uma crise e desesperados. É claro que existem oscilações e você tem de ganhar competitividade em alguns aspectos, ter mais inovações que permitam a redução dos custos. Outro ponto importante é o elemento da indústria aeronáutica ingressando na região. A indústria de defesa é uma que pode ajudar na economia, porque ela depende da demanda pública e não da privada, além de ser uma fonte de criação de tecnologia."

FONTE: escrito por Caio dos Reis no "Diário do Grande ABC". Transcrito no portal da FAB  (http://www.fab.mil.br/notimp#n87598).

COMPLEMENTAÇÃO

Celso Amorim e a diplomacia altiva

Os Colonizados não engolem, mas o Brasil já participa do Grande Jogo ! 


Na noite de autógrafos, Geórgia Pinheiro (Diretora-Executiva da PHA), o autor e um leitor fiel [o jornalista Paulo Henrique Amorim, do portal "Conversa Afiada"](foto de Paulo Giandalia)



"O portal 'Conversa Afiada' recomenda com entusiasmo o livro “Teerã, Ramalá e Doha – memórias da política externa ativa e altiva” de Celso Amorim, editora Benvirá, recém-lançado.

Amorim foi ministro das Relações Exteriores de Itamar Franco e dos dois governos Lula.

Ele foi o spalla da orquestra de Lula que interpretou, mundo afora, essa política externa “ativa e altiva”.

A política que levou o Brasil a participar do Grande Jogo, diria Kipling, citado por Amorim.

O “grande jogo” da política internacional, antes restrito aos Grandes.

O ansioso blogueiro concluiu o primeiro capítulo do livro, “A Declaração de Teerã: oportunidade perdida ?”

É uma descrição emocionante, como um thriller que o cineasta Celso Amorim gostaria de filmar. (Ou seu talentoso filho, o Vicente…)

A “Declaração de Teerã”, assinada em 17 de maio de 2010, foi o resultado de um competente trabalho diplomático do Brasil e da Turquia, para que o Irã evitasse sofrer sanções econômicas da ONU, sob pressão dos Estados Unidos.

O Brasil e a Turquia conseguiram de Teerã o que, até hoje, a pressão brutal de Israel e dos Estados Unidos não conseguiram, em relação ao programa nuclear com propósitos pacíficos.

O Governo do Irã jamais foi tão longe.

E, mesmo assim, os Grandes preferiram recorrer ao método imediatamente anterior à força militar: a sanção econômica.

(Por falar em bombardear o Irã, vale a pena ler no "New York Times" de quinta-feira 26/03 o artigo do embaixador americano na ONU, no Governo Bush, John Bolton: "Para impedir que o Irã tenha a bomba, bombardear o Irã” !)

Amorim descreve como, passo a passo, o Brasil e a Turquia se envolveram na negociação do Irã com a Agência Internacional de Energia Atômica e com os Estados Unidos.

O Irã aceitou trocar urânio enriquecido para fins pacíficos em troca de uma quantidade de urânio próprio, que pudesse ser beneficiado para fazer uma bomba.

Não foi fácil persuadir os líderes de um regime teocrático, fechado, cheio de motivos para não confiar no Ocidente.

Mas, foi possível.

O Brasil se dispôs a desempenhar o papel mediador – sempre ao lado da Turquia – depois de o presidente Obama, verbalmente e por escrito, ter fixado condições mínimas para aceitar um acordo com a mediação do Brasil e da Turquia.

A "Declaração de Teerã" atende a essas exigências mínimas americanas.

E, antes de ser assinada, o Brasil conseguiu que o Irã libertasse uma cidadã francesa, a pedido do Presidente Sarkozy, condição para apoiar a mediação do Brasil e do Irã.

Aos poucos, enquanto a negociação com o Irã progredia, o apoio dos Grandes se desfazia.

Obama recuou melancolicamente.

Sua Secretária de Estado, Hillary Clinton, sempre pareceu ter uma agenda política própria: aplicar sanções.

Foi ela quem enunciou o principio que prevaleceu no Governo Obama – e que está no cerne da posição de Bolton: os Estados Unidos não podem confiar no Irã.

Quando soube que a gestão do Brasil e da Turquia tinha sido bem sucedida, Obama se irritou e foi deselegante com Lula.

Era para Lula ter fracassado …

E não fracassou !

Sarkozy traiu Lula miseravelmente.

Depois, segredou aos americanos que só deu esperanças ao Brasil porque queria vender os caças Dassault Rafale ao Brasil …

O Japão, outro Grande, revelou-se uma espécie de México da Ásia – um protetorado americano.

(Essas observações irresponsáveis são de autoria do ansioso blogueiro e não do notável diplomata Celso Amorim…)

A Rússia e a China ficaram em cima do muro e na hora decisiva votaram na ONU a favor das sanções americanas, depois de extrair brechas nas sanções e beneficiar a Rússia e a China, especialmente no fornecimento de petróleo iraniano.

O que leva a concluir que os Grandes não quiseram que o Brasil e a Turquia entrassem no jogo.

Não tem importância.

Já entraram.

E não vão sair mais.

Ainda que a política externa brasileira venha a ser, provisoriamente, menos ativa e altiva …

Em conclusão, não foi uma oportunidade perdida, como se pergunta o autor, na abertura do capitulo.

Foi uma inequívoca demonstração de competência profissional – e de forca política.

Amorim lamenta o complexo de vira-lata (do Nelson Rodrigues) que persegue a grande mídia brasileira (aqui chamada de PiG).

O PiG sempre deu razão aos Grandes e torceu para o fracasso da gestão com a Turquia.

Com a licença do autor, o ansioso blogueiro gostaria de destacar aqui três exuberantes vira-latas: Clovis Rossi, na 'Fel-lha' (ver no ABC do C Af); Elio Gaspari, o 'dos chapéus' (também no ABC do C Af) , que lembra aquela piada sobre o argentino: Gaspari é italiano, vive no Brasil e pensa que é americano …

E uns tantos free-lancers do "Estadão", baseados em Genebra que pretendem oferecer uma política externa alternativa, do tipo que tira os sapatos para entrar nos Estados Unidos.

Essa é a linha de frente vira-lata.

Que ladra, faz muito sucesso em Higienópolis, mas não muda o curso dos acontecimentos (descritos por Kipling …).

Amorim cita o respeitadíssimo pensador dissidente judeu americano, o linguista Noam Chomsky, que lamentou o fato de o Governo americano não ter aceitado os termos da Declaração de Teerã.

Em entrevista a Amy Goodman, na revista "Democracy Now !", em 2 de março deste ano, Chomsky analisa a posição de Israel e como ela condiciona a americana:

"Houve repetidas oportunidades para um acordo (com o Irã). E acredito que, em 2010, Brasil, Turquia e Irã entraram em acordo para que o Irã enviasse para fora seu urânio de baixo enriquecimento para armazenamento em outro lugar (a Turquia) e, em troca, o Ocidente iria fornecer ao Irã isótopos que precisava para seus reatores médicos. Tal acordo foi severamente condenado nos Estados Unidos pelo Presidente, pelo Congresso e pelos meios de comunicação. O Brasil foi atacado por pular barreiras e assim por diante. O ministro das Relações Exteriores brasileiro, irritado com as críticas, tornou pública uma carta de Obama ao Brasil propondo exatamente o mesmo acordo, presumindo que o Irã não iria aceitá-lo. Quando eles aceitaram, os brasileiros tiveram que ser atacados por se atrever a aceitá-lo.

E em 2012, deveria haver uma reunião na Finlândia, em dezembro, para tomar medidas no sentido de estabelecer uma zona livre de armas nucleares no Oriente Médio. Esse é um pedido antigo, feito inicialmente pelo Egito e outros países árabes no início dos anos 90. Há tanto apoio para isso que os EUA concordam formalmente, mas não o fizeram de fato, e tentaram várias vezes miná-lo. Isso acontece sob o auspício das Nações Unidas, e a reunião supostamente deveria ser em dezembro. Israel anunciou que não iria participar. A questão na mente de todos era: como é que o Irã reagiria? Eles disseram que iriam participar incondicionalmente. Alguns dias depois, Obama cancelou a reunião, alegando que a situação não oferecia segurança, e assim por diante. (…) Mas o obstáculo é que existe um grande Estado nuclear: Israel. E se há uma zona livre de armas nucleares no Médio Oriente, haveria inspeções, e nem Israel nem os Estados Unidos iriam tolerar isso."


(… ) Israel tem armas nucleares para provavelmente 50 anos ou 40 anos. Estima-se que tenha 100, 200 armas nucleares.

Em tempo: não é preciso mencionar que os vira-latas tropicais ignoram solenemente o arsenal nuclear israelense.

A eles e a todos os Colonizados, Amorim dedica, no fim do capítulo, genial citação de San Tiago Dantas, pouco antes de assumir o cargo de Ministro das Relações Exteriores do Governo Jango, quando a política externa também era ativa e altiva:



FONTE da complementação: escrito pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em seu portal "Conversa Afiada"  (http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2015/03/26/celso-amorim-e-a-diplomacia-altiva/).

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