segunda-feira, 30 de abril de 2012

BRASIL SERÁ AUTOSSUFICIENTE EM GÁS NATURAL EM 5 ANOS


O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que o Brasil encontrou reservas de gás natural que podem garantir a autossuficiência em cinco anos, de acordo com declarações citadas pelo jornal "O Globo" ontem, domingo. Atualmente, o país importa da Bolívia cerca de 35% do gás natural que consome.


Um estudo da Agência Nacional de Petróleo (ANP) citado pelo jornal afirma que o Brasil tem reservas de gás natural em áreas terrestres suficientes para elevar a oferta em 360% na próxima década.
Segundo o relatório, a oferta nacional de gás natural pode saltar dos atuais 65 milhões de metros cúbicos por dia para cerca de 300 milhões de metros cúbicos entre 2025 e 2027.

"O Brasil está pronto para viver a era de ouro do gás natural", afirmou o ministro de Minas e Energia ao ser interrogado sobre o estudo e após prever a autossuficiência em cinco anos.

O estudo da ANP identificou cerca de 28 bacias sedimentares em terra com potencial para a produção de gás natural.

Entre elas, se destaca a Bacia do Paranaíba, onde a companhia petrolífera privada OGX descobriu em 2010 reservas que chegam a 15 trilhões de pés cúbicos de gás natural, e de onde podem ser extraídos cerca de 15 milhões de metros cúbicos diários do combustível, a metade do que hoje é importado da Bolívia.

Segundo a ANP, 96% da área nas bacias com potencial identificado ainda não foram exploradas. A agência está preparando novos leilões para oferecer esses locais em concessão.

A maior parte do gás natural produzido pelo Brasil é extraído junto com o petróleo nas reservas descobertas em águas profundas do oceano Atlântico.

O país consome atualmente 86 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, dos quais 30 milhões são importados da Bolívia.

Segundo as previsões da ANP, por se tratar de combustível mais econômico e menos poluente, o consumo do gás natural [crescerá proporcionalmente mais e] poderá chegar a cerca de 200 milhões de metros cúbicos diários em 2020, quando o país já estará produzindo esse volume.”

FONTE: agência espanhola de notícias EFE. Publicado no portal UOL  (http://economia.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2012/04/29/brasil-pode-ser-autossuficiente-em-gas-natural-em-5-anos-diz-ministro.jhtm). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’]

"HEGEMONIA NEOLIBERAL" É ANTES DE TUDO "MIDIÁTICA"


“Não faz muito tempo que Francis Fukuyama proclamou o “fim da história”. Com o neoliberalismo, teríamos chegado ao ápice do desenvolvimento capitalista. E dessa etapa, muitos acreditam que não passaremos. A crença nesse modelo tornou-se dogmática. Juntando-se a isso o relativismo radical imposto pela pós-modernidadeou seria pelos pós-modernos? –, chegamos a uma espécie de beco sem saída. Será?

Por Denílson Botelho

Pelo visto, a América Latina insiste em nos ensinar que talvez não seja bem assim. Tomemos o caso da Argentina, alçada à condição de bola da vez na imprensa ao reestatizar a sua empresa petroleira YPF, que foi parar nas mãos da espanhola Repsol depois de privatizada nos anos 1990 por Carlos Menem.

Como se não bastassem as lições portenhas sobre como lidar com a herança maldita de uma ditadura militar, temos agora a chance de aprender um pouco mais com as notícias que chegam do sul do continente. Lá não houve anistia ampla, geral e irrestrita. Os militares que, em nome do Estado, prenderam, torturaram e mataram, responderam judicialmente pelos seus atos. A justiça foi chamada a cumprir o seu papel republicano. Aqui, muitos dos que lutaram contra o regime militar iniciado em 1964 foram presos – inclusive nossa atual presidenta –, torturados e assassinados. Já os que torturaram e mataram jamais foram levados às barras dos tribunais. E parte da imprensa cumpre um papel obscuro quando procura confundir a opinião pública, associando justiça com vingança, de forma propositalmente equivocada. A anistia pode e deve ser revista, apesar dos oligopólios midiáticos difundirem a ideia de que isso não é possível.

Da mesma forma, privatizações podem e devem ser revistas, sobretudo quando isso se torna urgente e necessário. E de novo a Argentina pode se configurar como um interessante precedente. Basta observar as condições a que grande parte da população brasileira está submetida atualmente: tornou-se refém de empresas que deveriam prestar serviços públicos de qualidade e não o fazem. Exemplos não faltam.

POR QUE SE RECUSAM A PAUTAR A DISCUSSÃO?

Daqui de onde escrevo, estudantes e trabalhadores vêm, desde o ano passado, parando de tempos em tempos a capital do Piauí, em protesto contra um sistema de transporte caro, precário, ineficiente e incapaz de assegurar um direito básico e fundamental: o de ir e vir livremente. E o que dizer dos serviços de distribuição de energia elétrica pelo país afora? Em Teresina, por exemplo, as interrupções são frequentes e danosas. O cenário não é muito diferente fora do eixo sul-sudeste. Distribuição de energia elétrica é um serviço que nem mesmo alguns países europeus ousaram privatizar no processo de desmonte do Estado de bem-estar ("welfare state"). Ou seja, nesse aspecto, nós levamos ao extremo uma iniciativa típica do modelo neoliberal de Estado mínimo que nem na sua matriz europeia foi concretizada.

No Rio de Janeiro, o caso das barcas que atendem a população que precisa cruzar a baía de Guanabara cotidianamente é uma evidência inconteste dos malefícios de um processo de privatização que só foi bom para empresas e empresários gananciosos por mais e mais lucros. Ora, então, por que não podemos rever as privatizações? Por que os grandes grupos de mídia se recusam a pautar a discussão desse modo?

BONS VENTOS

Miriam Leitão, escudeira-mor das Organizações Globo, diante da iniciativa de Cristina Kirchner, rapidamente bradou o velho argumento de sempre: "não se pode ferir direitos e rasgar contratos". Direitos de quem? Dos empresários? E contratos não podem ser desfeitos mesmo quando se mostram lesivos à maioria da população? O medo maior é que, ao rever anistia e privatizações, cheguemos também às concessões públicas de radiodifusão no Brasil – cujas renovações deveriam ser submetidas ao debate e ao interesse público, mas não são. Se um dia o forem, estaremos derrubando um dos principais pilares de sustentação da hegemonia neoliberal, que é, antes de tudo, midiática.

Mas a história continua, ao contrário do que defendeu Fukuyama. E enquanto eu escrevo estas linhas, você as lê e cada um segue na sua labuta cotidiana, há todo um campo de possibilidades se descortinando no horizonte, bem diferente de um beco sem saída. Que bons ventos continuem a soprar da Argentina...”

FONTE: escrito por Denílson Botelho, historiador e professor da Universidade Federal do Piauí, autor do livro “A pátria que quisera ter era um mito – O Rio de Janeiro e a militância literária de Lima Barreto”. Artigo transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=181723&id_secao=1) [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’]

NOCAUTE TÉCNICO DOS EUA NO AFEGANISTÃO

Ataque de gurrilheiros afegãos em Cabul

“Recentemente, depois que os guerrilheiros lançaram ataques sincronizados sofisticados no Afeganistão – dúzias de combatentes metidos em coletes explosivos, foguetes lança-granadas e armamento leve, além dos carros-bombas –, o Pentágono correu a chamar a atenção de todos para o que não acontecera.

Por Nick Turse, no “TomDispatch

Não estou minimizando a gravidade disso, mas nada tem a ver com a Ofensiva do Tet” – disse George Little, principal porta-voz do Pentágono. “O que vemos são homens-bomba, foguetes lança-granadas, fogo de morteiro etc. Não há qualquer ofensiva em larga escala em Cabul e outras partes do país”.

O secretário da Defesa Leon Panetta disse praticamente o mesmo. “Não houve ganhos táticos” – insistiu. “Não passam de ataques isolados, para finalidades simbólicas. E não reconquistaram território”. Os mesmos sentimentos ecoaram também em muitos jornais, que repetiram que “os ataques pouco obtiveram” ou que foram “mal-sucedidos”.

Por mais que os ataques tenham de ser noticiados como fracassos, a reação oficial dos EUA aos ataques coordenados dos guerrilheiros em Kabul, capital do Afeganistão; na base aérea de Jalalabad; e nas províncias Paktika e Logar mostra incompreensão básica do que seja uma guerra de guerrilhas e, especialmente, do tipo de guerrilha que a rede Haqqani (grupo criminoso que a guerra converteu em grupo guerrilheiro insurgente) está fazendo.

Todos os jornais dos EUA deveriam ter publicado a seguinte chamada: “Mais de 40 anos depois da Ofensiva do Tet, na Guerra do Vietnã; com mais de uma década de guerra no Afeganistão; depois, até, de terem ressuscitado a doutrina da Contraguerrilha (e mesmo que, em seguida, a tal doutrina COIN [orig. Counterinsurgency] já tenha sido reduzida a cacos), os militares dos EUA simplesmente ainda não entenderam a guerra de guerrilhas”.

Analisem esse fenômeno como um inegável recorde mundial de “fracasso de entendimento” que se estende dos anos 1960s a 2012, e que avançará adiante, sem dúvida alguma.

AS LIÇÕES DO TET

Ofensiva do Tet

Quando as forças revolucionárias do Vietnã lançaram a Ofensiva do Tet em 1968, atacando Saigon, capital do Vietnã do Sul, além de quatro outras grandes cidades, 35 das 44 capitais de províncias, 64 sedes de distrito e 50 outros pontos estrategicamente importantes em todo o país, tinham a esperança de despertar um levante de toda a população. Conseguiram, em vez disso, mostrar ao mundo que meses de discursos otimistas dos comandantes dos EUA, sobre incríveis conquistas estratégicas e a vitória já próxima, nunca haviam passado de farsa, extrema e vastíssima farsa.

A Ofensiva do Tet lançou infâmia imorredoura sobre o comandante das forças dos EUA, general William Westmoreland, porque dissera, poucos meses antes, que a vitória dos EUA nunca estivera tão próxima. E quando apareceu frente às câmeras de TV, no pátio da Embaixada dos EUA, em Saigon, já praticamente em ruínas – depois que um pequeno grupo de sapadores vietcongs abriu uma entrada num dos muros e apanhou desprevenido o exército dos EUA –, para dizer que a Ofensiva do Tet dera em nada, foi afinal visto, pelos norte-americanos que assistiam àquilo como ou desligado da realidade, ou doido delirante.

Carro de combate das forças revolucionárias do Vietnã entra na Embaixada dos EUA ("a Ofensiva do Tet não dera em nada"...)
Desde aquele momento, deveria ter ficado claro que, na guerra de guerrilhas, o sucesso tático, e até o sucesso em sentido corriqueiro, nunca é tudo ou nada. Guerrilheiros em todo o mundo entenderam o que houve no Vietnã. Recolheram as lições no fundo da alma e as levaram um passo adiante. Entenderam, por exemplo, que não é preciso perder 58 mil combatentes, como os vietnamitas perderam no Tet, para obter importantes vitórias psicológicas. Basta que a guerrilha chame atenção para as fragilidades do inimigo, para a incapacidade do inimigo que não tenha conseguido conter a guerrilha.

A rede Haqqani com certeza aprendeu a lição; e, há apenas uma semana, alcançou exatamente esse resultado, com 57.961 guerrilheiros mortos a menos. Ao assestar um golpe psicológico contra o inimigo poderosíssimo, ao custo da vida de apenas 39 guerrilheiros, a rede Haqqani mostra que luta pelo modelo da guerrilha global do século 21. E o Pentágono – os principais comandantes civis e militares dos EUA saibam disso ou não – ainda está paralisado em Saigon-1968.

Panetta, no caso em tela, só soube tentar desqualificar a vitória da rede Haqqani, por não terem reconquistado “território”. Pela falta de sentido e foco, é comentário claramente westmorelandesco.

E que território, afinal de contas, uma força armada relativamente fraca como os militantes Haqqani teriam interesse em “reconquistar” atacando o quarteirão diplomático, exatamente a área mais fortemente defendida, de Kabul? E no ataque à Embaixada Alemã? E caso “reconquistassem” algum território, teriam feito o quê? Tentariam “reconquistar” o território da OTAN? Da Embaixada dos EUA? E Panetta, embora tenha visto que os ataques visavam a obter efeito simbólico, mesmo assim se manteve estranhamente obcecado com seu significado “tático”.

Como aconteceu no Vietnã, os militares norte-americanos no Afeganistão sempre tentam demonstrar que estão vencendo pela lógica dos números (número de inimigos capturados, de cadáveres produzidos nos “raids noturnos”). Também com expressiva frequência, os porta-vozes inventam regras e modos de contar inimigos, sempre tentando demonstrar que o inimigo estaria sendo vencido.

Esse modo de pensar à Westmoreland ficou bem claro semana passada, nas declarações segundo as quais os Haqqanis nada teriam conseguido “porque” não conquistaram território, ou que não teriam conseguido organizar ataque “suficientemente grande” – como se o Pentágono fosse o juiz da guerra (além de guerreador) -- e o conflito pudesse ser vencido por pontos, como luta de boxe.

Nos anos do Vietnã, Westmoreland e outros altos oficiais dos EUA viviam à procura de um sempre fugidio “ponto de virada” – o momento em que o inimigo vietnamita passaria a sofrer mais baixas do que teria soldados para substituir os mortos e, como todos pareciam convencidos de que aconteceria, seria obrigado a render-se. Esse “ponto de virada” foi o El Dorado do Pentágono e, para alcançá-lo, os militares dos EUA fizeram guerra de atrito, exatamente o que faz hoje o Pentágono, que tenta achar o caminho para a vitória no Afeganistão com ataques noturnos e ataques convencionais.

Mais de uma década depois de suas forças terem varrido Kabul, porém, o que começou como bando de guerrilheiros esfarrapados cresceu e fortaleceu-se, e continua a pressionar o exército mais armado, mais tecnologicamente avançado, mais rico do planeta. Mas nem todos os “ganhos táticos” dos EUA e os territórios conquistados, sobretudo no coração da área dos Talibãs, na província de Helmand no sul do Afeganistão, estão levando a coisa alguma que seja remotamente semelhante a vitória. E uma depois da outra, todas as ofensivas norte-americanas divulgadas como se fossem ‘a luz no fim do túnel’ – como a também muito divulgada Campanha Marjah-2010 – desapareceram na poeira da estrada e foram esquecidas.

AS “ZONAS VERDES” AFEGÃ E NORTE-AMERICANA

Como os Haqqanis planejavam demonstrar e demonstraram com os ataques coordenados, as forças militares dos EUA – um trilhão de dólares e centenas de milhares de soldados das forças locais de segurança – não são ainda capazes de garantir a segurança, sequer, de pequenas “zonas verdes” no coração da capital afegã. E, isso, para nem falar do resto do país.

O conflito no Afeganistão começou com a declaração do principal comandante norte-americano, segundo o qual “Não contamos cadáveres”. Mas rápido exame de recentes press-releases distribuídos pelos militares, onde muito se fala de “altos números de inimigos de alto valor mortos” e de número imenso de guerrilheiros mortos, mostra exatamente o contrário.

Como no Vietnã, os EUA lutam outra vez guerra de atrito, mas os afegãos impõem aos EUA a estratégia deles, muito diferente da estratégia de atrito dos EUA. Em vez de se arriscarem em ofensivas tateantes, muitas vezes suicidas, a rede Haqqani, desta vez, planejou campanha conservadora, para preservar a vida dos combatentes e não desperdiçar recursos do grupo. Com aquela ação econômica, enviam mensagem clara à população afegã e, simultaneamente, expuseram ao público norte-americano a futilidade do conflito.

O desgaste do apoio norte-americano à guerra é hoje bem visível. No final de 2009, segundo pesquisa de ABC News/Washington Post, 56% dos norte-americanos acreditavam que ainda valia a pena combater no Afeganistão. Poucos dias antes dos ataques coordenados pela rede Haqqani, a porcentagem já desabara para 35%. No mesmo período, o número de norte-americanos convencidos de que não vale a pena combater no Afeganistão saltou de 41% para 60%.

Diga o Pentágono o que disser, a mais recente ofensiva dos Haqqani só estimulará essas tendências, e não bastam os press-releases do Pentágono, sobre mortes e mais mortes de inimigos, para revertê-las.

Na era do “exército-empresa” e seus mercenários, abrir uma brecha na “zona verde” da opinião pública norte-americana importa menos do que nos anos da guerra do Vietnã, mas ainda faz muita diferença. Os Haqqanis e seus aliados Talibã talvez não estejam ‘reconquistando’ território, mas nessa guerra de guerrilhas o território que realmente conta, dos dois lados das linhas de combate, é o território dos corações e mentes das pessoas. E aí, nesse território, o Pentágono está perdendo a guerra.

Dia 12 de abril, no mesmo dia em que foi divulgada a pesquisa ABC News/Washington Post, o tenente-coronel James Routt da Força Aérea dos EUA voou sua última missão de combate no Afeganistão. Foi um voo importante. Routt começou sua carreira pilotando bombardeiros B-52 no final da Guerra do Vietnã, e também participou de apoio à Operation Linebacker II, o infame “bombardeio de Natal” ordenado por Richard Nixon contra o Vietnã do Norte.

Poucos anos depois daqueles ataques, Nixon já era ex-presidente caído em desgraça; e os vietnamitas inimigos dos EUA haviam vencido aquela guerra. Décadas depois, os EUA continuam à beira de mais uma e ainda mais devastadora derrota, desta vez frente a inimigos ainda menos numerosos, de fato nada além de um grupo guerrilheiro minoritário, com aliados fracos (e sem apoio de nenhuma “grande potência”). É inimigo que lutou muito menos batalhas e perdeu muito menos combatentes, apesar de enfrentar a máquina de guerra dos EUA, muito mais sofisticada.

Enquanto Routt pendura o uniforme de bombardeador e afasta-se de mais uma derrota dos EUA na Ásia, o Pentágono insiste nos esforços para alcançar, se não a vitória, pelo menos alguma coisa que não seja absoluto e completo fracasso, de uma mistura de dinheiro, cadáveres e róseos relatos para os press-releases. A rede Haqqani e seus aliados, por sua vez, que souberam aprender as lições da Guerra do Vietnã, sem dúvida manterão sob total controle a sua guerra de atrito. E Washington só conhece a variante perdedora à qual continua agarrada há anos.

O Pentágono deveria ter superado a Síndrome do Vietnã, mas não: no Afeganistão, aplica ainda o mesmo antigo manual. Parece estar decidido a comprovar que a via Westmoreland ainda é o meio mais eficaz que há para ser derrotado em guerras na Eurásia.”

FONTE: escrito por Por Nick Turse, publicado no “TomDispatch” e transcrito no blog “Redecastorphoto” e no portal “Vermelho”, traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=181784&id_secao=9) [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’]

“ESTÃO DADAS AS CONDIÇÕES PARA UMA REVOLUÇÃO MUNDIAL”

Samir Amin


Pensador egípcio Samir Amin: “ESTÃO DADAS AS CONDIÇÕES PARA UMA REVOLUÇÃO MUNDIAL”


“O economista e pensador egípcio Samir Amin, autor de volumosa obra de análise crítica do capitalismo e de inovadoras teses, tais como a da “desconexão” e a da “implosão” do capitalismo, em declarações concedidas à jornalista Irene León, da “Agência Latinoamericana de Información”, discorre sobre sua visão do mundo visto a partir de uma perspectiva do sul.

Amin dedicou grande parte de sua obra ao estudo das relações entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos, as funções dos Estados nesses países e, principalmente, as origens dessas diferenças, as quais se encontram nas bases do capitalismo. Frente a este momento de crise do capitalismo, ele considera que se trata de “momento histórico que se apresenta formidável para o povo”. Acompanhe:

Para responder a essa pergunta [qual é a sua visão sobre o mundo visto a partir de uma perspectiva do sul?], que não é nada simples, é necessário dividir o tema em três partes.

Interrogaremos, primeiramente, sobre quais são as características importantes e decisivas do capitalismo contemporâneonão do capitalismo em geral, mas do contemporâneo —; o que tem de realmente novo; o que é que o caracteriza.

Em segundo lugar, enfocaremos na natureza da atual crise que, mais do que uma crise, eu a defino como implosão do sistema capitalista contemporâneo.

Em terceiro lugar, neste mesmo marco, analisaremos quais são as estratégias e as forças reacionárias dominantes, ou seja, do capital dominante, da tríade capitalista Estados Unidos-Europa-Japão e de seus aliados reacionários no mundo inteiro. Somente tendo compreendido isso, poderemos dimensionar o desafio que enfrentam os povos do Sul, tanto nos países emergentes como no resto dos países.

SISTEMA CAPITALISTA CONTEMPORÂNEO

Minha tese sobre a natureza do sistema capitalista contemporâneo — que de modo mais modesto a chamarei de “hipótese”, porque está aberta à discussão — é que entramos em nova fase do capitalismo monopolista, trata-se de etapa qualitativamente nova, pautada pelo grau de centralização do capital, cuja condensação chega a tal ponto que, hoje em dia, o capital monopolista o controla totalmente.

Claro que o conceito “capital monopolista” não é novo, foi designado no final do século 19 e, de fato, desenvolveu-se como tal através de distintas fases sucessivas, durante todo o século 20; mas é a partir dos anos 1970-1980 que desponta etapa qualitativamente nova, pois antes já existia, mas não o controlava totalmente. Na atualidade, já não existe nenhuma atividade econômica capitalista que seja autônoma ou independente do capitalismo monopolista; este controla todas e cada umas das atividades, inclusive aquelas que conservam uma aparência de autonomia. Um exemplo, entre muitos, é o da agricultura nos países capitalistas desenvolvidos, onde é controlada pelos monopólios que proveem os insumos, as sementes selecionadas, os pesticidas, os financiamentos e as cadeias de comercialização.

Isso é decisivo, é uma mudança qualitativa ao que eu chamo de “monopólio generalizado”, ou seja, que se estende a todas as esferas. Essa característica provoca consequências substantivas e importantes.

Em primeiro lugar, desvirtuou-se completamente a democracia burguesa, pois se antes se baseava em oposição esquerda-direita, que correspondia a alianças sociais, mais ou menos populares, mais ou menos burguesas, mas diferenciadas por suas concepções sobre a política econômica, na atualidade, nos Estados Unidos, por exemplo, republicanos e democratas, ou na França socialistas da corrente de Hollande e a direita de Sarkozy, são o mesmo, ou quase o mesmo. Ou seja, todos estão alinhados a um consenso que é a ordem do capital monopolista.

Essa primeira consequência constitui mudança na vida política. A democracia, assim desvirtuada, converteu-se em farsa, como se vê nas eleições primárias dos Estados Unidos. O capital monopolista generalizado provocou consequências muito graves, converteu os Estados Unidos em uma nação de “bobos”; é grave porque a democracia já não se expressa.

A segunda consequência é que o “capitalismo generalizado” é a base objetiva da emergência do que chamo de “imperialismo coletivoda tríade Estados Unidos-Europa-Japão. É um ponto que afirmo com veemência, pois ainda sendo uma hipótese estou na condição de defendê-la: não há maiores contradições entre os Estados Unidos-Europa-Japão. Existe ligeira competição no plano comercial, mas no plano político, o alinhamento às políticas defendidas pelos Estados Unidos como política mundial é imediato. O que chamamos “comunidade internacional”, copia o discurso dos Estados Unidos e três minutos depois aparecem os embaixadores europeus, com alguns figurantes de grandes democratas, como o Emir do Catar ou o rei da Arábia Saudita. A ONU não existe. Essa representação dos Estados é uma caricatura.

É essa a transformação fundamental, a transição do capitalismo monopolista ao “capitalismo monopolista generalizado”, o que explica a financeirização, porque esses monopólios generalizados são capazes, devido ao controle que detêm sobre todas as atividades econômicas, de extrair uma parte cada vez maior da mais-valia em todo o mundo e convertê-la na ladeira monopolista, a ladeira imperialista, que constitui a base da desigualdade e do estancamento do crescimento dos países do Norte e da tríade Estados Unidos-Europa-Japão.

SISTEMA EM CRISE

Isso nos leva ao segundo ponto: é esse sistema que está em crise e, ainda mais, não é somente uma crise: é uma implosão, no sentido que esse sistema não é capaz de se reproduzir desde suas próprias bases, ou seja, é vítima de suas próprias contradições internas.

O sistema implode, não porque seja atacado pelo povo, mas por causa de seu êxito, o êxito de ter conseguido impor-se ao povo o leva a provocar crescimento vertiginoso das desigualdades, que não somente é escandaloso socialmente, mas também inaceitável, mas acaba sendo aceito, e aceito sem objeção; porém não é essa a causa da implosão, mas o fato de que não se pode reproduzir desde suas próprias bases.

FORÇAS REACIONÁRIAS DOMINANTES

Isso me leva à terceira dimensão, que tem a ver com a estratégia das forças reacionárias dominantes. Quando falo de forças reacionárias dominantes me refiro ao capital monopolista generalizado da tríade imperialista histórica Estados Unidos-Europa-Japão, a qual se somam todas as forças reacionárias mundiais que se agrupam, de uma forma ou de outra, em blocos hegemônicos locais, que sustentam e se inscrevem nessa dominação reacionária mundial. Essas forças reacionárias locais são extremamente numerosas e diferem enormemente de um país a outro.

A estratégia política das forças dominantes, ou seja, do capital monopolista generalizado, financeirizado, da tríade imperialista coletiva histórica tradicional Estados Unidos-Europa-Japão, está definida pela sua identificação ao inimigo. Para eles, o inimigo são os países emergentes, ou seja, a China; o resto, como a Índia, o Brasil e outros, são para eles semiemergentes.

A CHINA EMERGENTE

Por que a China? Porque a classe dirigente tem um projeto, não vou entrar em detalhes sobre a natureza socialista ou capitalista desse projeto, o importante é que conta com um projeto que consiste em não aceitar as ordens do capital monopolista generalizado financeirizado da tríade, que se impõe mediante suas vantagens: controle da tecnologia, controle do acesso aos recursos naturais do planeta, dos meios de comunicação, da propaganda etc, o controle do sistema monetário e financeiro mundial integrado e das armas de destruição massiva. A China vem questionar essa ordem, sem fazer ruído.

A China não é subcontratada, há setores na China que sim, são, em sua qualidade de fabricantes e vendedores de jogos baratos e de má qualidade, somente porque necessitam lançar mão de divisas, isso é fácil, mas não é isso que caracteriza a China, mas o seu desenvolvimento e a rápida absorção de tecnologia de ponta, sua reprodução e desenvolvimento próprio. A China não é a fábrica do mundo, como opinam alguns. Não é “made in China” (feito na China), mas “made by China” (feito pela China); isso agora é possível porque eles fizeram uma revolução: o socialismo construiu paradoxalmente a via que fez possível disputar um certo capitalismo.

Eu diria que, depois da China, o resto dos países emergentes são secundários. Se fosse necessário classificá-los, classificaria de emergente a China em 100%, o Brasil em 30% e o resto dos países [Rússia, Índia, África do Sul, Turquia etc] em 20%. O resto, em comparação com a China, é subcontratado, porque tem negócios de subcontratação importantes, porque tem uma margem de negociação, há compromisso entre o capital monopolista generalizado financeirizado da tríade e os países emergentes como a Índia e o Brasil e outros. Não acontece o mesmo com a China.

Por isso, a guerra contra a China aparece como parte da estratégia da tríade. Há 20 anos, já havia americanos loucos que defendiam a ideia de se declarar a guerra, porque depois seria muito tarde.

Os chineses tiveram êxito, é por isso que sua política exterior é tão pacífica, e agora a Rússia entra para formar parte, junto a eles, da categoria de verdadeiros países emergentes. Vemos Putin propondo a modernização do exército russo, tentando refazer o que era a armada soviética, que constituiu verdadeiro contrapeso à potência militar dos Estados Unidos, isso é importante. Não discuto aqui o fato de que o Putin seja ou não democrata, ou se sua perspectiva é socialista ou não; não se trata disso, mas da possibilidade de contrapor o poder da tríade.

CAPITAL MONOPOLISTA

O resto do mundo, o resto do Sul, todos nós, vocês os equatorianos, nós os egípcios, e muitos outros, não conta. Ao capitalismo monopolista coletivo, nossos países apenas são interessantes por uma única razão: o acesso aos novos recursos naturais, porque esse capital monopolista não pode se reproduzir sem controlar; destruir os recursos naturais de todo o planeta. É o único que lhe interessa.

Para garantir acesso exclusivo aos recursos naturais, os imperialistas necessitam que nossos países não se desenvolvam.

O “lumpen desenvolvimento” como definiu Andre Gunder Frank, se deu em circunstâncias muito distintas, mas tomo emprestado o termo agora em condições diferentes, para descrever como o único projeto do imperialismo para nós é o não-desenvolvimento.

O desenvolvimento do anômalo: pauperização mais petróleo, crescimento falso ou gás, madeira, o que seja, para ter acesso aos recursos naturais e é isso o que está a ponto de implodir, porque é o que se tornou intolerável moralmente, o povo não aceita mais.

É aqui onde se geram as implosões, as primeiras ondas de implosão se originaram na América Latina, e não é produto do acaso que tenham tido lugar em países marginais, como a Bolívia, o Equador, a Venezuela. Não é produto do acaso. Depois da “primavera árabe” já teremos outras ondas no Nepal e outros países, porque não é algo que esteja acontecendo somente em uma região específica.

Para o povo que é o protagonista disso, o desafio é enorme. Ou seja, o desafio não se dá no marco desse sistema, na tentativa de transcender desde o neoliberalismo até um capitalismo com rosto humano, entrar na lógica da boa governança, da redução da pobreza, a democratização da vida política etc, porque todos esses são modos de gerenciar a pauperização, que é o resultado dessa lógica.

Minha conclusão — desde uma postura focada principalmente em um mundo árabe — é que esta não é apenas uma conjuntura, mas momento histórico que se apresenta formidável para o povo. Refiro-me à revolução, mas ainda que eu não queira abusar desse termo, estão dadas as condições objetivas para construir amplos blocos sociais alternativos anticapitalistas, há um contexto para a audácia, para propor uma mudança radical."

FONTE: reportagem de Irene León com o economista e pensador egípcio Samir Amin. Divulgada pela “Agência Latinoamericana de Información” com tradução de Gabriela Blanco do “Diário da Liberdade”, da Galicia, Espanha, de âmbito lusófono. Transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=181662&id_secao=9) [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’]

domingo, 29 de abril de 2012

LULA TEM APROVADOS 80 TÍTULOS DOUTOR HONORIS CAUSA NO BRASIL E NO EXTERIOR

LULA RECEBERÁ ESTA SEMANA MAIS CINCO HONORIS CAUSA NO RIO DE JANEIRO

“O ex-presidente Lula receberá no Rio de Janeiro, na próxima sexta-feira, 4, mais cinco títulos de Honoris Causa de universidades.

Na cerimônia a ser realizada no Teatro João Caetano, às 10h, dia 4, na Praça Tiradentes, Lula receberá os títulos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

"Lula foi, seguramente, o presidente que mais fez pela educação do País, em especial pelo ensino superior. Na gestão do ex-presidente, foram criadas 14 universidades federais e 126 campus universitários. Programas como o “Fundo de Financiamento Estudantil” (FIES) e o Universidade para Todos (PROUNI), voltados para o acesso ao ensino superior, foram ampliados ou tiveram as regras reformuladas para ampliar as condições de ingresso".

Desde que deixou a presidência, ele recebeu o título de Doutor Honoris Causa de sete instituições. O primeiro deles, em janeiro de 2011, foi da Universidade de Viçosa (MG). Depois, da Universidade Federal da Bahia, de três universidades de Pernambuco, da Universidade de Coimbra, em Portugal, e, por último, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, a Sciences Po.

Com os cinco mais que receberá esta semana, Lula acumulará 12 títulos. O ex-presidente tem aprovados 80 Honoris Causa no Brasil e no exterior. (OBS: Honoris Causa é uma expressão latina que significa “por distinção honorífica”, “por motivo ou a título de honra).

FONTE: blog “Os amigos do Presidente Lula”  (http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/2012/04/lula-recebera-mais-cinco-honoris-causa.html) [Título e imagem do google adicionados por este blog ‘democracia&política’].

Mino Carta: OS SONHOS E AS CERTEZAS DOS MERVAIS


Artigo de Mino Carta na revista “Carta Capital”:

OPINIÃO PÚBLICA, O QUE É?

“Pergunto aos meus reflexivos botões qual seria no Brasil o significado de opinião pública. Logo garantem que não se chama Merval Pereira, ou Dora Kramer, ou Miriam Leitão. Etc etc. São inúmeros os jornalistas nativos que falam em nome dela, a qual, no entanto, não deixa de ser misteriosa entidade, ou nem tão misteriosa, segundo os botões.

A questão se reveste de extraordinária complexidade. Até que ponto é pública a opinião de quem lê os editorialões, ou confia nas elucubrações de “Veja”? Digo, algo representativo do pensamento médio da nação em peso? Ocorre-me recordar Edmar Bacha, quando definia o País -como Belíndia, pouco de Bélgica, muito de Índia. À época, houve quem louvasse a inteligência do economista. Ao revisitá-la hoje, sinto a definição equivocada.

Os nossos privilegiados não se parecem com a maioria dos cidadãos belgas. A Bélgica vale-se da presença de uma burguesia autêntica, culta e naturalmente refinada. Trata-se de tetranetos da Revolução Francesa. Só para ser entendido pelos frequentadores do Shopping Cidade Jardim em São Paulo: não costumam levar garrafas de vinho célebre aos restaurantes, acondicionadas em bolsas de couro relampejante, para ter certeza de uma noite feliz. Até ontem, antes do jantar encharcavam-se em uísque.

Em contrapartida, a minoria indiana sabe das coisas e leu os livros. Já a maioria, só se parece com a nossa apenas em certos índices de pobreza, relativa ou absoluta. No mais, é infelicitada por conflitos, até hoje insanáveis, étnicos e religiosos. Nada de Bélgica, tampouco de Índia. Nem por isso, a diferença, ainda brutal, existe entre brasileiros ricos e pobres, embora desde o governo Lula tenha aumentado o número de remediados.

O Brasil figura entre os primeiros na classificação da má distribuição de renda, pecha mundial. Na semana passada, “CartaCapital” publicou ampla reportagem de capa sobre vários índices do nosso atraso, a mostrar que crescimento não é desenvolvimento. De fato, o Brasil sempre teve largas condições de ser um paraíso terrestre, como vaticinava Americo Vespucci, e não foi porque faltou o comando de quem quisesse e soubesse chegar lá. Sobrou espaço para os predadores, ou seja, aqueles que, como dizia Raymundo Faoro, querem “um país de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”.

A opinião pública que os Mervais, Doras e Mirians da vida acreditam personificar é, no máximo, na melhor das hipóteses para eles, a dos seus leitores. Há outra, necessariamente, daqueles que não se abeberam a essas fontes, e muitos sequer têm acesso à escrita. Votam, contudo, e são convocados pelas pesquisas de opinião. À pressão midiática, que ignoram por completo, preferem optar por Lula e Dilma Rousseff. Temos de levar a sério essa específica e majoritária opinião pública claramente expressa e, em termos práticos, mais determinante que a outra.

A opinião pública que a mídia nativa pretende personificar já condenou o chamado mensalão e decidiu os destinos da CPI do Cachoeira. A opinião pública da maioria está noutra. O resultado do confronto há de ser procurado nas pesquisas e nas eleições, é o que soletram meus botões. Eles são exigentes e me forçam a um exame de consciência. Por que as circunstâncias me levam à referência frequente à mídia nativa? Acontece que a mídia é, sim, personificação da minoria. Aquela do “deixa como está para ver como fica”.

A mesma que conspirou contra Getúlio democraticamente eleito e contra a eleição de Juscelino. Ou que apoiou Jânio Quadros em 1960, tentou evitar Jango Goulart depois da renúncia e, enfim, implorou o golpe perpetrado pelos gendarmes fardados em 1964, e o golpe dentro do golpe em 1968. A mesma que desrespeitou o anseio popular por eleições diretas em 1984 e engendrou uma dita redemocratização, de todo patética, em 1985, e hoje ainda dá uma de galo no papel impresso e no vídeo. Será que a rapaziada se dá conta do que está a acontecer de verdade?

A mídia nativa, é fácil demonstrar, na sua certeza de representar a opinião pública do País todo, pratica aquilo que definiria como jornalismo onírico. Nesse mister, o Estadão de quinta 26 supera-se. Estampa na primeira página que a presidenta Dilma mente ao afirmar, ao cabo de um longo encontro com Lula em Brasília, a ausência de diferenças entre ela e seu mentor. A presidenta responde obviamente a uma pergunta e diz: “Não há diferenças entre nós e nunca haverá”. Então, por que perguntam se estão certos de que seu sonho é a própria verdade?”

FONTE: escrito por Mino Carta na revista “Carta Capital” e transcrito por Paulo Henrique Amorim em seu portal “Conversa Afiada”  (http://www.conversaafiada.com.br/pig/2012/04/27/mino-os-sonhos-e-as-certezas-dos-mervais/) [Imagem do google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

NOVO VAZAMENTO DAS CONVERSAS DE “NEGÓCIOS” DE DEMÓSTENES COM CACHOEIRA

Carlinhos Cachoeiras e senador Demóstenes Torres (DEM)

O vazamento do inquérito contra o senador Demóstenes Torres lançou novas luzes sobre as relações do parlamentar com o esquema de Carlinhos Cachoeiras, a construtora Delta, agentes públicos e jornalistas.


Após o vazamento, jornalistas e blogueiros dissecaram as transcrições das escutas telefônicas feitas entre integrantes do esquema. Conversas envolvem o ministro do STF, Gilmar Mendes, indicam tentativa de desestabilizar o governo Dilma. As articulações com a revista “Veja” são uma constante.

Por Najla Passos, na “Carta Maior”

O vazamento do inquérito contra o senador Demóstenes Torres (ex-DEM), na noite de sexta (28), momentos após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowsky, autorizar seu repasse à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional, colocou fim à onda de vazamentos seletivos que vinha ocorrendo na grande mídia e lançou novas luzes sobre as relações do parlamentar com o esquema de Carlinhos Cachoeiras, a construtora Delta, agentes públicos e veículos da imprensa.

Em uma espécie de cobertura colaborativa descentralizada e espontânea, dezenas de jornalistas e blogueiros dissecaram, em algumas horas, o conteúdo das centenas de páginas de transcrições de escutas telefônicas feitas com autorização judicial entre os principais membros da quadrilha de Carlinhos cachoeira. O resultado é nova percepção sobre quem é, e como agia e quem eram os parceiros do senador que fez carreira com um discurso pesado de combate à corrupção e ao crime organizado.

As denúncias apontam, por exemplo, que Demóstenes teria atuado em conjunto com o ministro do STF, Gilmar Mendes, para levar à corte máxima uma ação bilionária envolvendo a companhia Energética de Goiás. E que a quadrilha à qual está vinculado atuou para derrubar, no ano passado, a cúpula do Ministério dos Transportes.

Impressionam, especialmente, as articulações sistemáticas entre Demóstenes, Cachoeira e a revista Veja, para a publicação de matérias de interesse do crime organizado.

ACUSAÇÕES CONTRA DEMÓSTENES

No pedido de investigação encaminhado ao STF, o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, aponta graves indícios da prática, pelo senador, de crimes de corrupção passiva, prevaricação e advocacia administrativa. “Constatou-se que o Senador Demóstenes Torres mantém estreitos vínculos com Carlos Cachoeira, de natureza pessoal e, também, de natureza profissional. Os contatos telefônicos entre eles são praticamente diários, sucedidos, muitos deles, de encontros para tratar de assuntos que não poderiam ser conversados por telefone. O conteúdo das conversas revela graves indícios de que o parlamentar valia-se do seu cargo para viabilizar interesses econômicos comuns com Carlos Cachoeira”, afirma Gurgel.

De acordo com o procurador-geral, “são vários os contextos de ação do Parlamentar em benefício da Delta, existindo até a suspeita, extraída de diálogos interceptados, que ele seria sócio oculto da empresa”. Exemplo são diálogos captados entre os dias 12 e 13 de julho de 2010, nos quais Demóstenes é flagrado cuidando de assuntos da Delta com o Governo do Estado de Goiás. Pelos diálogos captados entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e o então diretor da Delta para o Centro-Oeste, Cláudio Abreu, a empresa estaria tendo dificuldade na condução de um contrato em razão de o Governo ter dado preferência à Queiroz Galvão e à Odebrecht, que, por isso, “queriam comandar o processo”:

CARLINHOS: (..) me escuta, não é melhor a DELTA sair fora desse trem não, ô
CLAUDIO ?: Nós tamo fazendo média com DELTA ai, eu não tenho compromisso nenhum com DELTA, não,
CLÁUDIO: Que que é que você tá falando? O que que é?
CARLINHOS: Eu não tenho compromisso nenhum com DELTA, cara, eu pego e tiramos a DELTA, fala com o MARCONI ele pega e tira a DELTA, sem problema nenhum, você deixa esse HERALDO aí tomar conta do nossos negócios (INAUDÍVEL) eu tiro a DELTA, entendeu ? Não tenho compromisso nenhum com DELTA, tenho compromisso com você, com DELTA não tenho nenhum, entendeu ?
CLÁUDIO: Uai, eu não tô entendendo, não tô entendendo porque você tá falando isso aí, sinceridade, cara.
CARLINHOS: (INAUDÍVEL) ele ia cobrar pedágio do pessoal, já não aconteceu, depende se o pessoal for, nós somos os últimos, já tem o pessoal da ODEBRECH mandando, todo mundo mandando e a gente aqui escutando, por quê ? Porque você põe o HERALDO incompetente lá, entendeu ? E o que que eu tô fazendo com DELTA, cara? (...)
CLÁUDIO: (..) o cliente ai que colocou a ODEBRECH e a GALVÃO, cara, na história, você sabe ( ...) agora os caras tão botando as manguinhas de fora, achando, achando que, como o cliente botou eles, agora eles mandam igual a nós, só que nós já falamos, o parceiro aí do lado aí, já me falaram que ele falou uma cagada, que não podia ter falado o nome do DEMÓSTENES, ele falou o nome do DEMÓSTENES na reunião, então nós estávamos falando que o dono do negócio é um sócio oculto, aí foi e falou que era o DEMÓSTENES o dono do negócio aí é f., né, amigo?”

São muitas as evidências de que Demóstenes recebia, sistematicamente, dinheiro da quadrilha. Conforme consta no inquérito, em diálogo no dia 22/3/2011, às 11:18 horas, entre Carlos Cachoeira e Cláudio Abreu, ainda não degravado, “é expressamente referido que o valor de um milhão foi depositado na conta do Senador Demóstenes e que o valor total repassado para o Parlamentar foi de R$ 3.100.000,00 (três milhões e cem mil reais)”.

Há outras gravações que falam em repasses menores, presentes, compras de vinhos caros e até foguetes para a comemoração da formatura da esposa de Demóstenes. A denúncia mais grave já levantada até o momento é a que trata do repasse dos R$ 3,1 milhões. O procurador já pediu a quebra de sigilo bancário do senador, do então superintendente regional da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, de Cachoeira e seus principais comparsas para aprofundar as investigações.

Confira trecho do diálogo entre Claudio Abreu e Geovani (comparsa de Cachoeira), no dia 22/3/2011:

CLÁUDIO ABREU: Geovani
GEOVANI: Pode falar
CLÁDIO ABREU: Eu tô vendo aqui o que pagou em fevereiro aqui, pagou pra você 5.530. Era pra você colocar 4.977. Tá faltando aqui um saldo de 1.171, mais o 1 milhão que é aquele trem lá pra trás. Aquele lá é que vocês já usaram que o CARLINHOS reteve. Então, você tá me devendo 2.172 aqui na minha conta cara! O 1 (um milhão) que o CARLINHOS tá usando mais esse 1.172
GEOVANI: Então, mais tem aqueles 600 e o 173 ué, que "mandô" eu passar!
CLÁDIO ABREU: Eu já descontei Dr. É 1.972.000,00 menos 801.000,00. Você descontou aqui 600 mais 173, mais duas de 20 do JOÃO, mais uma de 20 para um rapaz ai, dá 801. É 1.972 menos 800, vai ficar 1.171.
GEOVANI: Justamente, menos um (um milhão) que ele tá usando
CLÁDIO ABREU: Menos um não, cara. Esse menos um é lá pra trás. Você já descontou ele rapaz. Você tá doido. Agora vai descontar mais um milhão.
GEOVANI: Não moço. Não descontou não. Esse um ele tá usando já faz dias já uai. Você sabe disso?
CLÁUDIO ABREU: Eu sei amigo, esse um ele tá usando desde outubro do ano passado. Foi das contas do ano passado cara, que ele reteve 1.000.000,00 (um milhão) e não devolveu! Agora esse aí, foi que eu paguei pra vocês agora em fevereiro.
GEOVANI: Não, CLÁUDIO. É um seguinte: aquele 1.000.000,00 (um milhão) que descontou aquela vez é outro. Ele tá usando 1.000,000,00 desse agora. Por isso que toda vez tá dando essa divergência
CLÁUDIO ABREU: Então ele segurou 2.000.000,00?

O assunto continuou no dia seguinte, entre Cláudio e o próprio Cachoeira:

CARLINHOS: Fala, CLAUDIO!
CLAUDIO: Eu to com os meninos aqui e eles mataram aqui, mesmo. É aquilo que eu falei, CARLINHOS... É Um milhão do Professor, que você pediu pra mim fazer... diluiu, já morreu. E mais um milhão que você reteve aí que é coisa particular sua... que é o que você tem que passar pra mim. O GEOVANI tá me passando aqui agora.
CARLINHOS: Que eu retive?... O quê que eu retive?
CLAUDIO: Um milhão que ele tá falando aqui, uai! Um milhão do DEMÓSTENES morreu! Aquele lá ficou na minha conta. E um milhão que você reteve em Dezembro.... É... ele falou que você tinha falado comigo... eu não lembro dessa conversa sua comigo, não. Mas você não precisa falar comigo.
CARLINHOS: Vai cagar, CLAUDIO. Você tá brincando, né? Vai cagar!.. Eu precisava falar com você agora à tarde. Vai ter um tempinho pra mim ou não?
CLAUDIO: O "Vai cagar" tá no viva-voz aqui. O GEOVANI vai falar procê porque é ele que tá me mostrando as contas aqui, uê. Sou eu não!
CARLINHOS: Vai tomar banho, rapaz! Só porque eu vou te entregar naquele negócio do Copacabana Palace?
CLAUDIO: Ah, vai tomar no c., CARLINHO! Cê tá onde? Os meninos ficaram aqui. Agora que eu fui atender eles aqui. Ele tá me passando aqui um negócio aqui... é.... desse um milhão que você reteve aqui. Não é aquele do DEMÓSTENES que você já torrou, não. É o outro.
CARLINHOS: É... vai cagar!”

O procurador também afirma que “o senador Demóstenes, valendo-se do prestígio do cargo, intermediou interesses de Carlos Cachoeira perante a Procuradoria-Geral de Justiça de Goiás, chefiada por seu irmão, Benedito Torres”, como revela gravação de 16/5/2011:

CARLINHOS - doutor
DEMOSTENES - fala professor, você me ligou? você me ligou, professor?
CARLINHOS - liguei, você falou com seu irmão?
DEMOSTENES - de novo não, vou encontrar com ele pessoalmente
CARLINHOS - hã tá, deixa de falar, lá no DAE de Anapólis tem aquela empresa de carros lá que é prestadora de serviços, e lá só pode indústria ...e aquele malandro, aquele malandro daquele cara lá do (..) industrial ta ganhando um milhão dele, para dar vinte alqueires para ele lá, o cara tá até com o BALDIA, o BALDIA vai por o Ministério Público, mas você podia adiantar aí, precisava de uma entrevista com o promotor lá do jornal do BOTINA dizendo que vai entrar com o processo entendeu, sobre desse caso aí.
DEMOSTENES - é aquele negócio da GABARNO né?
CARLINHOS - exatamente, precisava designar um promotor pra ler isso aí
DEMOSTENES - na hora, é o de ANAPÓLIS, ôoooo e também é o seguinte, o problema é que o BICA ,eu to sabendo dessa história, fez um acordo com o tal de JOÃO FURTADO lá, pro JOÃO tomar conta dos casos, isso não pode acontecer né, não falei nada pra ele, (..) tem que, tem que ver aí, era melhor chamar o BICA que o BICA resolve esse trem
CARLINHOS - resolve nada, tem que atropelar ele, ele tá na mão do JOÃO, quem manda nele é o JOÃO e o JOÃO tá ganhando dinheiro também, tem que ser via Ministério Público, entendeu
DEMOSTENES - então vamo fazer, pode deixar que eu tomo conta disso então, falo, é vou ver como que faz isso, deixa isso aí é por minha conta então que vou resolver, mas o BICA tem que ficar, tem que ficar é, vou procurar, vou encontrar com meu irmão agora na hora do almoço, agora nos vamos almoçar juntos e vou falar essa questão com ele falo.
CARLINHOS - manda ele lá designar um promotor pra entrar com uma ação contra isso aí, porque isso aí é parte do Ministério Público municipal, entendeu, não precisa nem fica sabendo.
DEMOSTENES - é verdade, pode entrar por lá, pode entrar aqui também contra ato (....)
CARLINHOS - exatamente, tá bom, um abraço
DEMOSTENES - então o negócio é esse, o trem lá é comércio e lá é reservado só para indústria, né?
CARLINHOS - pra ter ideia, onde eles estão lá hoje atrapalha o trânsito inteiro e dez empregos que só gera é prestadora de serviços e lá é indústria pô, entendeu, e agora com o acordo com o (..) vão dar vinte alqueires de terra que o Estado comprou a quatrocentos mil reais pra dá pra eles, pra gerar mais dez empregos
DEMOSTENES – não, ok, deixa isso comigo,falo
CARLINHOS - um abraço, doutor obrigado
DEMOSTENES - um abraço, tchau.”

FONTE: reportagem de Najla Passos, na “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20049). [Imagem do google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

sábado, 28 de abril de 2012

POR QUE SERRA ESTÁ NERVOSO?

Da "Carta Maior"

“Algumas hipóteses [para o nervosismo] pinçadas das páginas dos jornais esta semana:

I) a política social do ciclo Lula reduziu à metade a mortalidade infantil no país na década passada, informa o Censo de 2010 do IBGE. No Nordeste, a taxa caiu 58,6% entre 2000 e 2010.

II) o governo Dilma acionou os bancos estatais e emparedou a banca privada entre a concorrência e a execração pública: os juros estão em queda sem que a inflação escape ao controle.

III) No primeiro trimestre, as cartas-consultas para financiar investimentos industriais junto ao BNDES cresceram 37% em comparação com janeiro/março de 2011 .

IV) Um governo de coalizão entre bicheiro e tucanos foi flagrado em Goiás pela operação 'Monte Carlo', da PF. Carlinhos Cachoeira, em escuta da PF: "nós pusemos ele" (Perillo, fiel aliado de Serra no PSDB)" lá" (no Palácio das Esmeraldas).

V) Sob a administração Kassab, aumentou em 6% o número de moradores de rua em SP: de 13.66, em 2009, para 14.458, em 2011.

VI) Faltam professores em 32% da rede estadual de ensino em SP, administrada há 17 anos pelo PSDB.

VII) Serra, 70 anos, em tom jovial: 'Modéstia à parte, sempre fomos muito inovadores'. Por exemplo: ao assumir o governo do Estado em 2006, o tucano 'inovou' nos serviços de desassoreamento do rio Tietê, interrompendo-os por quatro anos seguidos. A 'inovação' pôs a perder R$ 1,7 bilhões em gastos realizados com a limpeza do rio durante os quatro anos anteriores. Hoje, a meta do Estado é recuperar a vazão do Tietê existente antes de Serra assumir o governo, período em que 3 milhões de m³ de detritos se acumularam no leito do rio. O "espírito inovador" agravou a frequência e a gravidade das inundações na capital, cuja prefeitura Serra agora vai disputar. Em setembro de 2009, por exemplo, mesmo fora da temporada de chuvas, uma tempestade naufragou São Paulo. Desde então, a cada verão o rio transborda. No ano passado, ao final de fevereiro, o Tietê já havia transbordado três vezes, o que levou o governo Alckmin a tomar a decisão de voltar a investir em obras de desassoreamento para recuperar uma vazão de 1.048 m³ por segundo. A mesma capacidade de sete anos atrás, quando Serra 'inovou'.”

FONTE: cabeçalho do site “Carta Maior”, ontem, 6ª feira (27)  (http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm) [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’]

O "NEOLIBERAL" NÃO É LIBERAL. E MENOS AINDA É NOVO



Por Brizola Neto

“Uma notinha, na seção “Há 50 anos” do jornal ‘O Globo’, que não escapou ao olhar atentíssimo do amigo Ápio Gomes, mostra como não há nada de novo na cantilena de que “os direitos sociais dos trabalhadores inviabilizam a competitividade das empresas brasileiras”.

Há 50 anos, portanto, o Congresso aprovava e o presidente trabalhista João Goulart sancionava um benefício [o ‘13º’] que se incorporou á vida brasileira e não provocou nenhum “desastre” como previa Eugênio Gudin, então a fina flor do reacionarismo econômico de então.

Como os que arranjaram a cobertura dos militares para derrubar Jango do Ministério do Trabalho, em 1953, por ele defender a elevação do salário mínimo, essa gente acha, há muito mais do que 50 anos, que “o problema da economia é mesmo o trabalhador”.

Se bobear, até a Princesa Isabel entra na lista dos “populistas”.

FONTE: escrito por Brizola Neto em seu blog “Tijolaço”  (http://www.tijolaco.com/o-neoliberal-nao-e-liberal-e-menos-ainda-e-novo/)  [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’]

NO BRASIL, MORTALIDADE INFANTIL CAI 47% EM DEZ ANOS

NO NORDESTE, QUEDA SUPEROU 58%

Do UOL, em São Paulo

“A taxa de mortalidade total no país, que em 2000 era de 29,7‰, isto é, 29,7 óbitos de crianças menores de 1 ano para cada 1.000 nascidos vivos, teve uma redução de 47,6% na última década. Segundo novos números do Censo 2010 divulgados na sexta-feira (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de mortalidade infantil em 2010 foi de 15,6%.

O declínio mais acentuado foi observado no Nordeste (58,6%) e o menor, no Sul (33,5%), região que já apresentava níveis relativamente baixos de mortalidade infantil.

O alto índice da redução chama atenção e, de acordo com o IBGE, é explicado, em parte, pelo aumento do salário mínimo e a ampliação dos programas de transferência de renda, que ajudaram a ampliar a renda especialmente da parcela mais pobre da população. Isso acarretou em queda das desigualdades sociais e regionais, atuando em favor da diminuição da mortalidade infantil no país.

Apesar dos altos declínios, o Brasil ainda precisa reduzir ainda mais a taxa para se aproximar dos níveis de mortalidade infantil das regiões mais desenvolvidas do mundo, que fica em torno de 5 óbitos de crianças menores de 1 ano de idade para cada 1.000 nascidos vivos.

TAXA DE FECUNDIDADE CAI E CHEGA A 1,9 FILHO POR MULHER

As mulheres brasileiras estão tendo menos filhos. A taxa de fecundidade total no país, que era de 2,38 filhos por mulher em 2000, chegou a 1,9 filho por mulher em 2010, apresentando queda de 20,1% na última década, contribuindo para a redução do ritmo de crescimento da população brasileira.

Em 2010, as regiões Nordeste e Norte apresentaram as maiores quedas: 23,4% e 21,8%, respectivamente, embora possuíssem os mais altos níveis de fecundidade.

O Acre se destaca como o Estado com a maior taxa de fecundidade do país, com 2,82 filhos por mulher. Na outra ponta, São Paulo aparece como o Estado brasileiro onde se tem menos filhos, com média de 1,67 filho por mulher.

O Censo ainda revela mudança na tendência observada no Brasil até o ano 2000, que era o rejuvenescimento do padrão da fecundidade, indicado pelo aumento do número de mulheres engravidando entre 15 e 24 anos de idade.

Na última década, os grupos de mulheres mais jovens, de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos, que concentravam 18,8% e 29,3%, respectivamente, da fecundidade total, passaram a concentrar 17,7% e 27,0%, respectivamente, em 2010.

O grupo de mulheres de 20 a 24 anos de idade ainda tem a maior taxa da fecundidade brasileira, mas o padrão, em 2010, já se mostra mais dilatado do que em 2000.

CENSO 2010

Participaram do Censo 2010 cerca de 190 mil recenseadores, que visitaram os mais de 5.565 municípios brasileiros entre 1º de agosto a 31 de outubro de 2010. Os primeiros dados da pesquisa, que identificou população de 190 milhões de brasileiros, foram revelados em abril de 2011. Ao longo de 2012, serão produzidos novos resultados, apresentados em volumes temáticos.”

FONTE: publicado no portal UOL  (http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/04/27/mortalidade-infantil-cai-47-em-dez-anos-no-nordeste-queda-superou-50.htm) [Título e imagem do Google adicionados por este blog ‘democracia&política’]

CUBA TEM A MELHOR TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL DAS AMÉRICAS


“Apesar da impressionante redução de 47,6% na última década, a taxa do Brasil, ainda, é mais de TRÊS VEZES maior do que a de Cuba. O melhor resultado brasileiro, nesse aspecto, do Rio Grande do Sul, ainda é 2,8 vezes o índice de Cuba:  http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_estados_do_Brasil_por_mortalidade_infantil

Do portal “G1”

CUBA REGISTRA TAXA MAIS BAIXA DA HISTÓRIA DE MORTALIDADE INFANTIL

Da agência francesa de notícias “France Presse”

MORTALIDADE INFANTIL FICOU EM 4,5 NO ANO DE 2010, MENOR QUE OS 4,8 DE 2009

“Cuba fechou 2010 com taxa de mortalidade infantil de 4,5 por 1.000 nascidos vivos, a mais baixa de sua história, o que posiciona o país como melhor no lugar da América quanto a esse indicador, afirmou o jornal oficial “Granma”.

"A taxa alcançada em 2010 - sem precedentes em Cuba - é a confirmação de colossal esforço de um país pobre e criminalmente bloqueado (pelo embargo dos Estados Unidos), que conseguiu reduzir a mortalidade infantil", diz o jornal na primeira página.

A taxa de mortalidade infantil em Cuba, em 2009, registrou 4,8 por 1.000 nascidos vivos, segundo os dados oficiais. Informes do “Fundo das Nações Unidas para a Infância” (UNICEF) situam Cuba com taxas de mortalidade semelhantes às do Canadá, numa situação melhor que a dos Estados Unidos.

Em 2010, foram registrados 127.710 nascimentos na Ilha - de 11,2 milhões de habitantes -, uma diminuição da natalidade de 2.326 na comparação com 2009. Cuba dedica mais de 60% de seu orçamento à educação e à saúde, que são gratuitos desde a vitória da revolução de 1959.”

FONTE: portal G1, do “O Globo”  (http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/01/cuba-registra-taxa-mais-baixa-da-historia-de-mortalidade-infantil.html). Transcrito no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-taxa-de-mortalidade-infantil-em-cuba#more) [Título e imagem do Google adicionados por este blog ‘democracia&política’]

“EIXO CAPRICÓRNIO” LIGA DOIS OCEANOS POR FERROVIA


Do jornal Valor

“Um corredor ferroviário que liga portos do Atlântico e do Pacífico e uma nova ponte binacional Brasil-Paraguai são os principais projetos do “Eixo Capricórnio”, que se desenvolve em torno do trópico de mesmo nome e inclui aportes na Argentina, Bolívia e Chile. São cinco projetos estruturantes, com 18 obras, e investimentos de US$ 3,4 bilhões.

No Brasil, a área de influência do eixo compreende o Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Junto com os países vizinhos, compreende 50 milhões de habitantes ou 19% da população total dos territórios envolvidos.

Segundo Francisco Luiz Baptista da Costa, diretor de planejamento do Ministério dos Transportes do Brasil, a ideia da via ferroviária bioceânica Paranaguá-Antofagasta (Chile) já é antiga e gerou em 2007 um grupo de trabalho com representantes da Argentina, Chile, Brasil e Paraguai. Uma nova reunião dos representantes dos países está marcada para julho, em Santiago.

“A meta é permitir o escoamento de cargas agrícolas e industriais do interior sul-americano pelo Oceano Atlântico ou pelo Pacífico”, afirma Costa, um dos participantes do “Fórum de Infraestrutura da América do Sul-8 Eixos de Integração”, realizado na FIESP. “O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiou um estudo de viabilidade do projeto, concluído no ano passado, com as necessidades de investimentos e o potencial de carga que pode ser atraído para a ferrovia”.

O projeto, que não inclui o transporte de passageiros, é composto por nove obras que incluem a reabilitação de estradas de ferro já existentes, a execução de novos trechos no percurso e a otimização de pontes e parques de cargas. Atualmente, 92,4% dos 74,8 mil quilômetros da rede ferroviária dos países do Eixo Capricórnio são operacionais, mas há sistemas deteriorados. No total, o corredor bioceânico tem extensão de 3,5 mil quilômetros, e conclusão prevista para 2020.

Para finalizar a obra, o governo do Paraguai investe na construção de uma ferrovia de 503 quilômetros, de Puerto Franco, em Ciudad del Este, a Pilar, capital do departamento de Ñeembucú. “O objetivo é proporcionar melhor conexão entre Brasil, Paraguai e Argentina”, explica o vice-ministro de Transportes do Paraguai, Luis Pereira.

A “Agência Internacional de Cooperação Coreana” (Koica) elabora o estudo de viabilidade e o projeto de engenharia da obra, diz o arquiteto Luis Añazco, do Ministério de Obras Públicas do Paraguai. O investimento no trecho está avaliado em US$ 1 bilhão.

Para Sérgio Ricardo Fonseca, da gerência de novos negócios da construtora Camargo Correa, os governos federais envolvidos nas obras precisam definir, com mais rapidez, os modelos de concessão para atrair investidores. “O Eixo Capricórnio é uma das regiões mais atraentes para o setor de infraestrutura, mas o desafio é determinar se os projetos serão concessões públicas ou PPPs (parcerias público-privadas).

A empresa brasileira já trabalha com o governo paraguaio em um poliduto para o transporte de óleo diesel, gasolina, etanol e óleo da capital federal ao porto de Paranaguá. A novidade prevê aportes de até US$ 3 bilhões.

Segundo Rodney Carvalho, diretor de infraestrutura da Odebrecht para Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai, o trecho ferroviário paraguaio, dedicado apenas para cargas, tem perfil de projeto privado. “Falta aos governos explicar que marcos regulatórios serão usados para tirar as obras do papel.”

Outra construção importante do Eixo Capricórnio é a Ponte Porto Presidente Franco-Porto Meira, com 720 metros de extensão e 19 metros de largura. A segunda ligação internacional sobre o rio Paraná fica a sete quilômetros da Ponte da Amizade e tem como objetivo melhorar a conexão entre o Brasil e o Paraguai, com o descongestionamento do tráfego na ponte antiga.

A nova ponte estaiada, avaliada em US$ 80 milhões, vai ganhar controles de fronteira. O projeto foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento e o edital de licitação deve ser divulgado ainda neste semestre. O prazo para conclusão da obra é 2014.”

FONTE: publicado no jornal “Valor Econômico” e transcrito no blog de Luis Favre  (http://blogdofavre.ig.com.br/2012/04/eixo-capricornio-liga-dois-oceanos/) [Imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’]

Colômbia: DA ARTE DE VENDER UM PAÍS


“Apesar de ser o aliado mais leal e servil aos interesses dos Estados Unidos na América do Sul, a Colômbia carece – e muito – de recursos. Agora, ela trata de atrair mais dinheiro da Espanha, que já é o terceiro maior investidor estrangeiro no país. Em um fórum de investimentos e cooperação empresarial Espanha-Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos deu uma estocada na Argentina e disse: "Se for bom para os empresários, será bom para nós. Aqui, nós não expropriamos".

O artigo é de Eric Nepomuceno, direto de Bogotá

Certas mulheres costumam aparecer ao cair da noite em determinadas esquinas e começar a rodar sua bolsinha oferecendo-se ao melhor pagante, sem se importar muito com aquilo a que terá de submeter-se. Certos presidentes costumam aparecer a qualquer hora do dia em determinadas reuniões e começar a rodar sua bolsinha oferecendo ao melhor pagante não o próprio corpo, mas o próprio país, sem se preocupar com a submissão que for. É o que anda fazendo Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, sem o menor vislumbre de pudor.

Juan Manuel Santos

É evidente que qualquer país, ainda mais nos dias de hoje, precisa atrair investimentos e estabelecer leques cada vez mais amplos em suas relações comerciais com o resto do mundo. É natural que haja esforço e até mesmo disputa quando se trata de atrair capitais destinados a investimentos produtivos.

Mas, como em tudo nesta vida, é preciso agir com um mínimo de dignidade, exigir um mínimo de respeito, impor limites e observar regras mínimas de convivência – mesmo quando se trata de competir por um mesmo objetivo, que neste caso especifico se resume numa só palavra: dinheiro. Ou seja, investidores de qualquer latitude.

Agora mesmo, Juan Manuel Santos deu um verdadeiro espetáculo da não tão nobre arte de vender um país a qualquer preço. Dia desses foi realizado em Bogotá o fórum de investimentos e cooperação empresarial Espanha-Colômbia. Anote-se: embora realizado na capital colombiana, não foi um fórum Colômbia-Espanha, porque, também nesse caso, a ordem dos fatores alteraria o produto.

Neste raro momento da história contemporânea sul-americana, em que a maioria dos países da região busca linhas de ação conjuntas, entendendo que desunidos somos presa fácil da avidez dos grandes centros econômicos, uns poucos governos – e o colombiano é exemplo cabal disso – preferem atuar por conta própria.

Em Bogotá, o presidente anfitrião lascou, de saída, uma peculiar frase de boas-vindas ao chefe de governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy: “Aqui, nós não expropriamos”. Uma piscadela despudorada à Espanha, país submergido numa crise de proporções dramáticas, e uma alusão deselegante, provocadora e desnecessária à decisão da Argentina de reestatizar a petroleira YPF, controlada até agora pela espanhola Repsol.

Mariano Rajoy e Juan Manuel Santos

Bastante razão tem Juan Manuel Santos para procurar investimentos externos. Apesar de ser o aliado mais leal e servil aos interesses dos Estados Unidos na América do Sul, a Colômbia carece – e muito – de recursos. Agora, ele trata de atrair mais dinheiro da Espanha, que já é o terceiro maior investidor estrangeiro no país.

Se for bom para os empresários, será bom para nós”, disse Juan Manuel Santos. Não explicou quem seria esse “nós”. Disse que só pede “responsabilidade ambiental e social”. Não explicou como se daria essa responsabilidade. Mas afirmou que a troco oferece “regras de jogo estáveis, segurança jurídica”. São expressões que aos ouvidos empresariais têm o som de Brahms ou Beethoven.

O Banco Mundial diz que, na América Latina, a Colômbia ocupa o primeiro lugar na proteção aos investidores estrangeiros. No mundo todo, ocupa o quinto lugar.

As taxas de crescimento da economia são firmes e elevadas, na média de 4% anuais ao longo dos seis últimos anos, com marca impressionante em 2011: expansão de 6% no PIB, de 43% nas exportações e de 59% no volume de investimentos estrangeiros.

Mas a Colômbia é também um dos países de maiores e mais gritantes diferenças sociais neste continente de injustiças. A dívida social do Estado diante dos cidadãos tem dimensões de escândalo.

O presidente colombiano faz questão de dizer que cumpre todos os deveres de casa e não comete rebeldias como as da Argentina (onde, aliás, a pobreza extrema foi reduzida a 6% da população, menos de um terço da registrada na Colômbia). Reiterou que seu país vive aquilo que classificou de “processo espetacular de transformação econômica”. Anunciou a existência de um plano de desenvolvimento para dez anos, com ênfase em projetos de infraestrutura.

Também disse que o país sofre enormes carências que significam, ao mesmo tempo, excelentes oportunidades para empresas estrangeiras. A troco dos recursos necessários – e que se situam na casa dos cem bilhões de dólares – seu governo jura fidelidade irrestrita aos sócios estrangeiros.

Diz, com relação ao Mercosul, que ‘essa idéia de acordos em bloco são coisas fora de moda’. Para o seu governo, a ordem é “cada um por si e ninguém por todos”. Para ele, bom mesmo é acatar a velha ordem estabelecida: “Quem paga, manda”.

A América Latina cresce e cresce, e continua sendo um dos continentes mais desiguais do planeta. Nesse quadro de grandes distâncias sociais, as da Colômbia são cada vez mais nítidas. Não é por acaso que, em seus esforços para vender o país, Juan Manuel Santos mencione, de passagem, a necessidade de combater essa desigualdade. De passagem e apenas roçando a superfície, sem aprofundar nada.

Ele foi ministro de Comércio Exterior no governo liberal de César Gaviria, foi ministro da Fazenda no governo conservador de Andrés Pastrana, foi ministro de Defesa no governo liberal de Álvaro Uribe. Transitar com essa leveza entre dois partidos tão radicalmente enfrentados como o Liberal e o Conservador pode ser entendido como dedicação às grandes causas nacionais, acima das diferenças partidárias. E também pode ser entendido como artimanhas de um trânsfuga sem escrúpulos.

Enfim, que fique bem claro: em seus pronunciamentos aos empresários, Juan Manuel Santos não fez uma única menção a programas de combate à desigualdade que assola seu país. Disse e redisse aos espanhóis: “Aqui, não expropriamos nada”.

Não perguntou nada nem disse nada aos milhões de colombianos expropriados de seu próprio país. Aos que tiveram e têm sua esperança expropriada.”

FONTE: artigo de Eric Nepomuceno, direto de Bogotá. Publicado no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20042) [Imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].

CONFRONTO ENTRE EUA/OTAN E OS BRICS: AOS POUCOS, VAI SURGINDO

BRASIL É O BRIC MAIS IMUNE ÀS AGRURAS DO COMÉRCIO MUNDIAL


Pepe Escobar: "UMA HISTÓRIA DO MUNDO BRIC A BRIC"


DRAGÕES NEOLIBERAIS, SONHOS MOLHADOS EURASIANOS E DELÍRIOS À ROBOCOP

Por Pepe Escobar, no “Tom Dispatch”

“Goldman Sachs – na pessoa do economista Jim O’Neill – inventou o conceito de um novo bloco nascente no planeta: os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul). Os mais cínicos, imediatamente, traduziram a sigla BRIC como “Bloody Ridiculous Investment Concept” [aprox. “Conceito de Investimento MUITO Ridículo”].

Nada tinha de ridículo. O mesmo Goldman estima que, em 2050, os países BRICS serão responsáveis por quase 40% do Produto Interno Bruto (PIB) global, e lá estarão reunidas quatro das cinco maiores economias mundiais. [1]

De fato, a sigla terá de ser expandida para incluir Turquia, Indonésia, Coreia do Sul e, sim, sim, também o Irã nuclear. Talvez BRIIICTSS?

Apesar de todos os problemas de nação que vive sob sítio econômico [2], o Irã também vai abrindo caminho no grupo N-11, outro conceito prospectivo já circulante. (N-11, “Next-11”) [“Próximos”-11] são as 11 economias que se estima que se tornarão emergentes em futuro próximo).

A pergunta de multitrilhões de dólares continua no ar: a emergência dos BRICS é sinal de que realmente entramos num novo mundo multipolar?

Paul Kennedy, esperto historiador de Yale (famoso pela “superextensão imperial das Grandes Potências” [3]) está convencido de que, ou estamos bem próximos de atravessar, ou já atravessamos uma “catarata histórica[4] que nos levou até bem além do mundo unipolar pós-Guerra Fria da “única superpotência”. Há, diz Kennedy, quatro razões para isso:

--a lenta erosão do dólar norte-americano (antes, 85% das reservas globais; hoje, menos de 60%);
--a “paralisia do projeto europeu”;
--a ascensão da Ásia (o fim de 500 anos de hegemonia ocidental); e
--a decrepitude da ONU.

O Grupo dos Oito (G-8) já é cada dia mais irrelevante. O G-20, no qual se incluem os BRICS, pode ainda vir a revelar-se importantíssimo. Mas há muito a fazer para cruzar a tal “catarata histórica”, além de simplesmente deixar-se sugar inapelavelmente para dentro de grupos: é preciso reformar o Conselho de Segurança da ONU e, sobretudo, é preciso reformar o sistema de Bretton Woods, com especial atenção a duas de suas instituições cruciais: o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Brasil
Por outro lado, é possível que o jeito do mundo seja mesmo o ‘vai-que-vai queira-ou-não-queira’. Afinal, como superpotências emergentes, os BRICS têm uma tonelada de problemas. Sim, só nos últimos sete anos, o Brasil acrescentou 40 milhões de pessoas [5] ao mercado de consumo de classe média; até 2016, terão sido investidos outros US$ 900 bilhões – mais de 1/3 do PIB – em energia e infraestrutura; e o Brasil não está tão exposto quantos outros países BRICS ao imponderável comércio mundial, dado que as exportações não passam de 11% do PIB, menos, até, que nos EUA.

Apesar de tudo isso, há problemas-chave que não mudam: falta de melhor administração, para nem falar no pântano da corrupção. Os jovens neoendinheirados brasileiros não dão qualquer sinal de serem menos corruptos que as velhas e arrogantes elites compradoras que governavam o país.

Índia
Na Índia, a opção parece estar entre caos administrável e caos não administrável. A corrupção entre a elite política do país faria Shiva corar de orgulho. Abuso do poder estatal, controle nepotista sobre os contratos relacionados à infraestrutura, saque desabrido de recursos minerais, escândalos em grandes negócios imobiliários envolvendo patrimônio público – de tudo há muito, mesmo que a Índia não seja um Paquistão hindu. Não, pelo menos, até agora.

Desde 1991, “reforma” na Índia só significa uma coisa: comércio desenfreado e afastar o Estado da economia. Não surpreende, pois que nada se faça para reformar as instituições públicas que são, elas mesmas, um escândalo. Administração pública eficiente? Nem pensar! Em resumo, a Índia é um motor econômico caótico e, em certo sentido, ainda não é sequer potência emergente; muito menos é superpotência.

Rússia
A Rússia, também, ainda tenta encontrar a poção mágica, inclusive uma política de Estado capaz de explorar a abundante riqueza dos recursos naturais, o território/espaço extraordinários e o impressionante talento social que lá se acumulou. A Rússia tem de modernizar-se rapidamente. Exceto em Moscou e São Petersburgo, no resto do país prevalece relativo atraso social. Os líderes russos ainda não se sentem confortáveis com a China na vizinhança (conscientes de que em qualquer aliança sino-russa, a Rússia será sempre o primo visivelmente mais pobre); e tampouco confiam em Washington. Estão ansiosos com a despopulação dos territórios orientais e preocupados com a alienação religiosa de suas populações muçulmanas.

E eis que entra em cena novamente o Putinator-presidente [6], com sua fórmula mágica para a modernização: uma parceria estratégica Alemanha-Rússia que beneficiará a elite do poder/oligarquia dos negócios, mas não, necessariamente, a maioria dos russos.

DEAD IN THE WOODS [MORTO NO BOSQUE]

O sistema “Bretton Woods”, criado depois da IIª. Guerra Mundial, já está oficialmente morto, é totalmente ilegítimo, mas... O que os BRICS planejam fazer em relação a ele?

Na reunião em New Delhi no final de março, trabalharam para criar um banco de desenvolvimento dos BRICS [7] que possa investir em infraestrutura e garantir-lhes crédito para enfrentar as crises financeiras que surjam no percurso. Os BRICS sabem, perfeitamente bem, que Washington e a União Europeia (UE) de modo algum aliviarão o controle que exercem através do FMI e do Banco Mundial. Apesar de tudo, o comércio entre esses países alcançará impressionantes US$ 500 bilhões em 2015, quase todo em suas próprias moedas.

Mas a coesão entre os BRICS, ou, no mínimo, a coesão que exista, centra-se, principalmente, na frustração, que todos partilham, com a especulação financeira à moda dos Mestres do Universo, que por um triz não jogou pelo penhasco a economia global em 2008.

Sim, os BRICS também mostram notável convergência de políticas e opiniões no que tenha a ver com o Irã, com um Oriente Médio desabrochado em primavera árabe e com o norte da África.

No momento, o problema-chave que os BRICS enfrentam é o seguinte: não têm qualquer alternativa ideológica ou institucional ao neoliberalismo nem ao reinado da finança global.

Como Vijay Prashad observou, o “Norte Global” fez tudo para impedir [8] qualquer discussão séria sobre como reformar o cassino financeiro global. Não por acaso, o presidente do G-77, grupo de nações em desenvolvimento (de fato, já é G-132), embaixador tailandês Pisnau Chanvitan, alertou contra “comportamento que parece indicar um desejo de ver nascer um novo neocolonialismo”. [9]

Mas as coisas acontecem, mesmo assim, é à moda-diabo. A China, por exemplo, continua a promover informalmente o yuan como moeda globalizante, se não global. Já comercia em yuan com a Rússia e a Austrália, para nem falar de América Latina e Oriente Médio. Cada vez mais, os BRICS apostam no Yuan como alternativa monetária a um dólar norte-americano desvalorizado.

O Japão está usando ambas as moedas, Iene e Yuan, no comércio bilateral com os vizinhos asiáticos gigantes. O fato é que já está em formação uma zona asiática não reconhecida de livre comércio, com China, Japão e Coreia do Sul já a bordo.

O que virá, ainda que inclua futuro brilhante para os BRICS, será sem dúvida muito confuso. [10]. Praticamente, quase tudo é possível: de outra Grande Recessão nos EUA à estagnação na Europa ou, até, o colapso da Eurozona; incluindo BRICS mais lentos, tempestades no mercado monetário, colapso das instituições financeiras e quebradeira global.

E por falar em confusão, não se pode esquecer o que disse Dick Cheney, quando ainda era presidente da Halliburton, no Instituto do Petróleo em Londres, em 1999: “O Oriente Médio, com dois terços do petróleo do mundo e custo mais baixo, ainda é, em todos os casos, onde está o prêmio”. [11] Não surpreende que, ao chegar ao poder como vice-presidente em 2001, sua primeira providência tenha sido ordenar a “libertação” do petróleo iraquiano. Claro. Todos sabem como o negócio acabou.

Hoje (governo diferente, mas idêntica linha de trabalho), é ‘embargo-de-petróleo-com-guerra-econômica’ contra o Irã. A liderança em Pequim vê o psicodrama “Washington contra o Irã” como golpe, puro e simples, para mudança de regime, sem nenhuma relação com armas atômicas. Aí também, mais uma vez, o vencedor do imbróglio do Irã é a China. Com o sistema bancário iraniano em crise, e o embargo norte-americano infernizando a vida econômica naquele país, Pequim pode, literalmente, ditar os temos, na compra de petróleo iraniano.

Os chineses estão ampliando a frota iraniana de navios-petroleiros, negócio de mais de US$ 1 bilhão de dólares, e outro gigante-BRIC, a Índia, já está comprando, até, mais petróleo do Irã que a China. Mas Washington não aplicará sanções aos países BRICS porque, nesses tempos, economicamente falando, os EUA precisam mais dos BRICS, que os BRICS dos EUA.

O MUNDO VISTO POR OLHOS CHINESES

China
O que nos traz de volta ao dragão na sala: a China.

Qual é a obsessão radical dos chineses? Estabilidade, estabilidade, estabilidade.

A autoapresentação usual do sistema por lá, em termos de “socialismo com características chinesas” é, evidentemente, mais mítica que as Górgonas. De fato, a coisa está mais para neoliberalismo linha-dura com características chinesas, comandado por homens determinados a salvar o capitalismo global. [12]

Atualmente, a China está presa no meio de um movimento estrutural, tectônico, de transição, de um modelo de exportação/investimentos, para um modelo puxado por serviços/consumidores. Em termos do explosivo crescimento econômico, as últimas décadas foram quase inimagináveis para muitos chineses (e o resto do mundo), mas, segundo o “Financial Times”, puseram o 1% mais rico do país no controle de 40-60% de toda a riqueza doméstica. Como encontrar meio para superar tamanho, tão aterrador, dano colateral? Como conseguir que um sistema que tem embutidos tantos e tais problemas funcione para 1,3 bilhão de pessoas?

É onde entra em cena a “estabilidade-mania”. Em 2007, o primeiro-ministro Wen Jiabao alertava que a economia chinesa poderia tornar-se “não estável, não equilibrada, não coordenada e não sustentável”. Os famosos “Quatro Nãos”. [13]

Hoje, a liderança coletiva, incluído o próximo primeiro-ministro Li Leqiang, está dando um tenso passo adiante, expurgando a “instabilidade” do léxico do Partido. Para todas as finalidades práticas, a próxima fase no desenvolvimento chinês já está em andamento.

Será espetáculo digno de observar-se nos anos próximos.

Como os “príncipes coroados” nominalmente “comunistas” – os filhos e filhas dos principais líderes revolucionários do partido, todos imensamente ricos, graças, em parte, a arranjos amigáveis com corporações ocidentais, além de propinas, alianças com gângsteres, todas aquelas “concessões” a quem der mais e às ligações com a oligarquia capitalista crônica ocidental – levarão a China além das “Quatro Modernizações”? [14] Sobretudo, com toda aquela fabulosa riqueza a saquear.

O governo Obama, manifestando a própria ansiedade, respondeu à visível emergência da China como potência a ser reconhecida, com um “pivô estratégico” [15] das desastradas guerras no Oriente Médio Expandido, à Ásia. O Pentágono gosta de chamar isso de “reequilibração” [16] (por mais que as coisas andem superdesequilibradas e, até pior que isso para os EUA no Oriente Médio).

Antes do 11/9, o governo Bush focara-se na China como seu futuro inimigo global número 1. Então, o 11/9 redirecionou as coisas para o que o Pentágono chamou de “o arco de instabilidade”, o coração petrolífero do planeta, que vai do Oriente Médio à Ásia Central. Dado que Washington estava distraída, Pequim calculou que gozaria da vantagem de uma janela de, praticamente, duas décadas, quando a pressão estaria aliviada. Nesses anos, poderia concentrar-se numa versão hiperveloz de desenvolvimento interno, enquanto os EUA desperdiçariam montanhas de dinheiro naquela tresloucada “Guerra Global ao Terror”.

12 anos depois, a tal janela está sendo fechada com uma batida, quando, da Índia, Austrália, Filipinas à Coreia do Sul e Japão, os EUA declaram-se de volta ao business da hegemonia na Ásia. Qualquer dúvida de que essa seria a nova trilha dos EUA foi dissipada pela secretária de Estado Hillary Clinton, em manifesto publicado em novembro de 2011 na revista “Foreign Policy”, sob o título nada sutil de “America’s Pacific Century[17] (E falava desse século, não do século passado!).

O mantra dos EUA não muda: “segurança dos EUA” e, por definição, aconteça o que acontecer, do planeta. Seja no Golfo Persa rico em petróleo, onde Washington “ajuda” os aliados Israel e Arábia Saudita porque se sentem ameaçados pelo Irã, seja na Ásia onde ajuda semelhante é oferecida a corpo sempre crescente de países que dizem sentir-se ameaçados pela China, tudo é feito, sempre, em nome da “segurança dos EUA”. Num caso e noutro, em absolutamente todos os casos, essa ideia sobrepuja qualquer outra.

Como resultado, se há uma Muralha de Suspeitas de 33 anos a separar EUA e Irã, há hoje, crescendo, uma Grande Muralha de Suspeitas entre EUA e China. Recentemente, Wang Jisi, Deão da “Escola de Estudos Internacionais da Universidade de Pequim” e um dos principais analistas chineses de estratégia, expôs a visão da liderança em Pequim sobre o tal “Pacific Century”, em artigo importante, em que figura como coautor. [18]

A China, dizem os dois autores, espera agora ser tratada como potência de primeira classe. Afinal de contas, “navegou em segurança (...) pela crise financeira global de 1997-98”, provocada, aos olhos de Pequim, por “deficiências profundas na economia e na política dos EUA. A China ultrapassou o Japão como segunda economia mundial e parece ser também a Nº.2 na política mundial. (...) Os líderes chineses não creditam esses sucessos aos EUA ou à ordem mundial liderada pelos EUA”.

Os EUA, Wang acrescenta, “são vistos na China em geral como potência declinante no longo prazo (...). É hoje questão de quantos anos, já não de quantas décadas, até que a China ultrapasse os EUA como a maior economia do mundo (...) e parte de uma nova estrutura emergente” (leia-se: os BRICS).

Em resumo, como Wang e seu coautor pintam o quadro, os chineses influentes veem o modelo de desenvolvimento de seu país como “uma alternativa à democracia e como experiência da qual outros países em desenvolvimento podem aprender, ao passo que tantos países em desenvolvimento que introduziram valores e sistemas políticos ocidentais conhecem hoje a desordem e o caos”.

Quer dizer: os chineses estão vendo um mundo no qual os EUA no ocaso ainda anseiam pela hegemonia global e ainda têm energia para bloquear potências emergentes – a China e os outros BRICS – e impedir que alcancem seu destino de século 21.

O SONHO EURASIANO MOLHADO DO DR. ZBIG

Ora, e como a elite política norte-americana vê esse mesmo mundo? Pode-se dizer que ninguém está mais bem qualificado para discutir esse tema que o ex-conselheiro de segurança nacional, facilitador do oleoduto BTC e, por algum tempo, conselheiro fantasma de Obama, Dr. Zbigniew (“Zbig”) Brzezinski. E ele não hesita em atacar a questão em seu livro mais recente, “Strategic Vision: America and the Crisis of Global Power”. [19]

Se os chineses mantêm o olhar estratégico sobre as outras nações BRICS, o Dr. Zbig permanece fixado no Velho Mundo, configurado para parecer novo. Agora, argumenta que, para que os EUA preservem alguma forma de hegemonia global, devem apostar num “Oriente expandido”. Significaria reforçar os europeus (sobretudo em termos de energia) ao mesmo tempo em que abraça a Turquia, que ele imagina como molde para novas democracias árabes; e engaja a Rússia, politicamente e economicamente, de modo “estrategicamente prudente e sóbrio”.

Turquia
A Turquia, por falar dela, nada tem de modelar, porque, apesar da Primavera Árabe, não se vê, no futuro perscrutável, nenhuma nova democracia árabe. Mesmo assim, Zbig crê que a Turquia possa ajudar a Europa e, portanto, os EUA, por vias muito mais práticas, a resolver determinados problemas de energia global, facilitando “acesso desimpedido, através do Mar Cáspio, até o gás e o petróleo da Ásia Central”.

Sob as atuais circunstâncias, porém, isso, também, continua a ser pura fantasia. De fato, a Turquia só poderá ser país de trânsito no grande jogo da energia no tabuleiro eurasiano, que há muito tempo chamo de “Oleo-gasodutostão” [orig. Pipelineistan [20]], se os europeus conseguirem agir em conjunto. Terão de convencer a energeticamente rica e autocrática “república” do Turcomenistão [21] a ignorar sua poderosa vizinha, a Rússia, para vender à Europa o gás natural de que a Europa carece. E há também outra questão de energia cuja solução parece bem pouco provável atualmente: Washington e Bruxelas terão de superar as sanções e embargos [22] contraproducentes contra o Irã (e os jogos de guerra que vêm no mesmo pacote) e começar a negociar com seriedade com os iranianos.

Pois, mesmo assim, o Dr. Zbig propõe a ideia de uma Europa em segunda-marcha, como chave para o futuro poder dos EUA sobre o planeta. Visualizem o quadro como versão animada de um cenário no qual a atual Eurozona está em semicolapso. Zbig preserva o papel de liderança da burocracia inepta dos gatos gordos de Bruxelas que hoje governam a União Europeia, e apoia uma outra “Europa” (principalmente os países do “Club Med” do sul) fora do euro, com movimentação nominalmente livre de bens e pessoas entre as duas. Ele aposta – e nisso reflete um traço chave do pensamento de Washington – em que uma Europa em segunda-marcha, um Big Mac eurasiano, ainda colado pelo quadril aos EUA, mesmo assim possa ser ator globalmente decisivo para o resto do século 21.

E então, é claro, o Dr. Zbig exibe todas as suas cores de guerreiro da Guerra Fria, louvando uma “estabilidade” norte-americana futura “no Extremo Oriente” inspirada no “papel que a Grã-Bretanha desempenhou no século 19 como equilibradora e estabilizadora da Europa”. Estamos falando, em outras palavras, sobre o diplomata armado número um deste século. Ele concede, graciosamente, que “uma parceria global ampla EUA-China” seja ainda possível, mas só no caso de Washington conservar significativa presença geopolítica no que chama de “Extremo Oriente” – “a China aprove ou não”.

A CHINA NÃO APROVARÁ

Em certo sentido, tudo isso é conversa já conhecida, como também grande parte da atual política de Washington. Nesse caso, é, mesmo, versão remix de seu magnum opus de 1997, “The Grand Chessboard[23] [O grande tabuleiro de xadrez], no qual, mais uma vez, certifica que “o vasto continente Transeurasiano é a arena central dos negócios mundiais”. Só que agora a realidade lhe ensinou que a Eurásia não pode ser conquistada e que a melhor chance dos EUA é tentar trazer Turquia e Rússia para seu lado.

O ROBOCOP É QUEM MANDA

De fato, Brzezinski soa benigno, se se compara o que diz ele e o que Hillary Clinton tem dito em pronunciamentos recentes, inclusive o que disse [24] à Conferência cujo nome já dá nó na língua” World Affairs Council 2012 NATO Conference” [Conferência do Conselho de Negócios Mundiais da OTAN 2012]. Ali, como faz regularmente o governo Obama, ela destacou “o duradouro relacionamento da OTAN com o Afeganistão” e elogiou as negociações entre EUA e Kabul, com vistas a “uma parceria estratégica de longo prazo entre nossas duas nações.”

Tradução: apesar de não conseguirem dar conta nem de uma guerrilha de pashtuns minoritários, e apesar de tentarem há anos, nem o Pentágono nem a OTAN têm qualquer intenção de reequilibrar qualquer de suas possessões no Oriente Médio Expandido. Já negociando [25] com o governo do presidente Hamid Karzai em Kabul por direitos de permanência até 2024, os EUA estão decididos a manter três grandes bases estratégicas afegãs [26]: Bagram, Shindand (próxima da fronteira com o Irã) e Kandahar (próxima da fronteira com o Paquistão). Só espíritos terminalmente ingênuos considerariam o Pentágono capaz de abandonar voluntariamente esses postos preciosos para monitorar a Ásia Central e os concorrentes estratégicos Rússia e China.

A OTAN, Clinton acrescentou em tom sinistro, “expandirá suas capacidades de defesa para o século 21”, incluindo o sistema de mísseis de defesa que a aliança aprovou na reunião de Lisboa em 2010.

Será fascinante ver o que pode significar a possível eleição do socialista François Hollande à presidência da França. Interessado em uma parceria estratégica mais profunda com os BRICS, Hollande comprometeu-se com o fim do dólar norte-americano como moeda mundial de reserva. A questão é: a vitória de Hollande será como meter um macaco na loja de porcelana dos trabalhos da OTAN, depois dos anos de governo do “Grande Libertador da Líbia”, esse neonapoleônico criador de cenas Nicolas Sarkozy (para quem a França nada é além de mostarda no “steak tartar” de Washington).

Não importa o que pensem o Dr. Zbig ou Hillary, muitos países europeus, fartos das aventuras de buraco negro dos dois no Afeganistão e na Líbia, e com o modo como a OTAN agora só serve aos interesses globais dos EUA, apoiam Hollande nesse ponto. Mesmo assim, será batalha morro acima, dificílima. A derrubada de Muammar Gaddafi e a destruição do regime líbio foi o ponto alto da agenda recente da OTAN no MENA “Middle East-Northern África[Oriente Médio-Norte da África]. E a OTAN continua a ser o plano B de Washington para o futuro, se a rede de sempre de think tanks, fundos, fundações, dotações, ONGs e mesmo a ONU não conseguir provocar o que bem se pode descrever como “mudança YouTube de regime”.

Em resumo: depois de ir à guerra em três continentes (na Iugoslávia, no Afeganistão e na Líbia), convertendo o Mediterrâneo em virtual lago da OTAN, e patrulhar sem descanso o Mar da Arábia, a OTAN estará, segundo Hillary, “apostando na liderança e na força dos EUA, exatamente como fizemos no século 20, também para o século 21 e adiante”. Assim sendo, 21 anos depois do fim da União Soviética – razão de ser original da OTAN – parece que o mundo acaba assim: não num bang, mas com a OTAN, operando em modo de gemido, fazendo as vezes de Robocop global perpétuo.

Voltamos outra vez ao Dr. Zbig e à ideia dos EUA como “promotor e garantidor de unidade” no ocidente, tanto quanto como “equilibrador e conciliador” no Oriente (razão pela qual precisa de bases militares, do Golfo Persa [27] ao Japão [28], incluindo as bases no Afeganistão [29]). E ninguém esqueça que o Pentágono jamais desistiu da ideia de alcançar “Dominação de Pleno Espectro”.

Ante toda essa potência militar, porém, vale a pena ter em mente que esse é caracterizadamente um Novo Mundo (também na América do Norte). Contra armas e barcos armados, contra mísseis e drones, há o poder econômico. As guerras de moedas estão ativadas. Rússia e China, países BRICS, têm cordilheiras de dinheiro. A América do Sul está rapidamente se organizando em bloco. O Putinator-presidente já ofereceu um oleoduto à Coreia do Sul. O Irã planeja vender seus petróleo e gás em troca de uma cesta de moedas, nenhuma das quais será o dólar. A China está pagando para expandir [30] sua Marinha mercante e os mísseis terra-mar. Um dia, Tóquio talvez afinal entenda que, enquanto permanecer ocupada por Wall Street e pelo Pentágono, viverá sob recessão perpétua. E até a Austrália pode, eventualmente, não se deixar empurrar para uma guerra comercial contraproducente contra a China.

Assim, esse nosso mundo do século 21 está tomando o formato, em vasta medida, de um confronto entre EUA/OTAN e os BRICS, com casca e tudo, dos dois lados. Perigo: que em algum ponto da linha a coisa vire “Confronto de Pleno Espectro”. Porque – e que ninguém se engane –, diferentes de Saddam Hussein ou Muammar Gaddafi, os BRICS sim, podem reagir ao fogo”.

NOTAS DOS TRADUTORES

[1] “The Long-Term Outlook for the BRICs and N-11 Post Crisis”.
[2] Pepe Escobar: “O mito do Irã ‘isolado”, 18/1/2012.
[3] A expressão “imperial overstretch of the Great Powers” [aprox. “superextensão imperial das Grandes Potências”] apareceu em 1987, no livro The Rise ang Fall of the Great Powers [KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências: Transformação Econômica e Conflito Militar de 1500 a 2000. Rio de Janeiro: Campus, 1989. 675 p.], para descrever o contexto em que as principais nações do mundo dão-se conta de que suas capacidades políticas, econômicas e militares são inadequadas para proteger e atender seus respectivos interesses e obrigações globais.
[4] “Crossing a Watershed, Unawares”
[5] “Brazil showcases economic potential”
[6] “Call back yesterday”
[7] “BRICS Support Development Bank Plan – Minister”
[8] “North battles for 'market' supremacy”
[9] “The G-77 awakes”
[10] “Crise sistêmica global: GEAB No. 63”
[11] “Full text of Dick Cheney's speech at the Institute of Petroleum Autumn lunch, 1999”
[12] Pepe Escobar – “O ocidente e o resto, em modelo tamanho único: Declínio e Queda da Turma Toda”
[13] “China’s Turning Point”: Commentary by Stephen Roach
[14] Parte do programa de Deng Xiaoping para a República Popular: a modernização da agricultura, da indústria, da ciência e tecnologia e das forças militares (The Four Modernizations).
[15] “Tomgram: Michael Klare, A New Cold War in Asia?”
[16] “Yearender: Obama administration's Asia pivot strategy sows more seeds of suspicion than cooperation”
[17] “America’s Pacific Century”
[18] “Addressing U.S.-China Strategic Distrust”
[19] BRZEZINSKI, Zbigniew, (jan.) 2012, Strategic Vision: America and the Crisis of Global Power, New York: Basic Books. Lê-se um excerto da Introdução.
[20] “Tomgram: Pepe Escobar, Pipelineistan's Ultimate Opera”
[21] “Tomgram: Pepe Escobar, Pipelineistan Goes Af-Pak”
[22] “Tomgram: Juan Cole, The Iran Conundrum”
[23] BRZEZINSKI, Zbigniew, The Grand Chessboard: American Primacy and Its Geostrategic Imperatives, Basic Books, 1997.
[24] “Remarks to the World Affairs Council 2012 NATO Conference”
[25] “With Pact, U.S. Agrees to Help Afghans for Years to Come”
[26] “One U.S-Afghan Security Pact, Two Very Different Missions”
[27] “Tomgram: Nick Turse, Off-Base America”
[28] “Tomgram: John Feffer, Can Japan Say No to Washington?”
[29] “Tomgram: Nick Turse, America's Shadowy Base World”
[30] “China Takes Aim at U.S. Naval Might”

FONTE: escrito por Pepe Escobar, no “Tom Dispatch”, com título original “A History of the World, BRIC by BRIC”. Artigo traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu” e postado no blog "Redecastorphoto"  (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/04/pepe-escobar-uma-historia-do-mundo-bric.html) [Título e imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’]