A HERANÇA MALDITA?
É interessante iniciar esta análise recordando um conceito que era muito repetido na grande mídia brasileira na década de 90.
Nossos governantes do PSDB/PFL(DEM) viviam ensinando-nos que as culpas das mazelas nacionais estavam na “herança maldita” que o Brasil recebera do “período militar” (que já se encerrara há quinze anos). A imprensa repetia aquilo a exaustão.
Diziam que “o moderno projeto nacional democrático e reestruturante” que lideravam tinha uma grande missão e fonte de renda: vender (desnacionalizar), com elevados ganhos, o imenso patrimônio público (EMBRATEL, VALE, CESP, EMBRAER etc) construído naqueles “vinte anos de ditadura”.
Aquelas vendas de empresas brasileiras para estatais e privados estrangeiros foram a prioridade nacional na década de 90.
Cada alienação era efusivamente comemorada pela imprensa em todo o país, com ápice no televisionado “momento emocionante” da batida do martelo no leilão na Bolsa de Valores.
Justiça seja feita. O BNDES ajudava muito. Emprestara com garantias quase inócuas US$ 360 milhões para a pré-falimentar ENRON (EUA) comprar a ELEKTRO/CESP (SP) em 1998; US$ 1,0 bilhão para a FORD (EUA) instalar sua fábrica na Bahia. E muitas outras ajudas para grandes empresas privadas e estatais estrangeiras.
Significativa parte dos compromissos internacionais, da dívida, do Estado brasileiro hoje ainda é conseqüência de ser tomador ou avalista de empréstimos externos feitos para ou pelas multinacionais para aqueles “investimentos” no Brasil (i.é., aval ou empréstimo brasileiro para as compras de empresas nacionais pelos estrangeiros).
Aquela foi a forma “moderna” de o Brasil despender, ou dilapidar, a herança maldita recebida dos governos anteriores.
Há cinco anos, contudo, a oposição e a grande mídia brasileira propalam repetidamente que o atual governo recebeu do governo PSDB/PFL/FHC uma ótima herança. Massificam o conceito de que o Presidente Lula acerta porque copia FHC, porque mantém as mesmas políticas. Será?
LULA COPIA FHC?
Esse conceito foi bem abordado por Eduardo Guimarães, anteontem, no seu blog Cidadania, sob o título “No Branco dos Olhos”. O texto é claro, dispensando esclarecimentos deste blog. Transcrevo:
“No branco dos olhos
Já desmontamos aqui a falácia de que quem apóia o governo Lula são os "desinformados" e "incultos". Debruçamo-nos sobre uma das últimas pesquisas de opinião consideradas "confiáveis" (Datafolha) e descobrimos que até nas classes A e B (alta e média-alta) o apoio ao presidente da República é fortemente majoritário. Agora, que tal verificarmos se é verdade que o governo de Lula é mera continuação do de FHC?
Você lê isso todo santo dia nos jornais, mas nunca lhe explicam por que é que dizem isso. Você, que é antipetista e pró-tucanos, que acha que o Brasil está indo bem por mérito de FHC e não de Lula, sabe dizer por que é que o governo petista seria igual ao tucano?
Ficou em dúvida, não é? Sabe por que? Porque você não pede explicações à mídia quando ela implanta essas teses prontas em seu cérebro. Então, vamos analisar a questão mais profundamente. Eu sei que você, viciado em grande mídia, não está muito acostumado a pensar sozinho, mas fazê-lo lhe fará bem. Você vai ver.
O que é igual nas políticas econômicas do PT e do PSDB? Os juros, por exemplo? Não é verdade. A taxa Selic, depois do crítico primeiro ano do governo Lula (2003), veio caindo mês a mês. Só parou de cair nas três últimas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) por causa da crise americana. Na época de FHC, quando havia uma crise de liquidez de algum paiseco de qualquer parte, os juros explodiam. Agora, apenas param de cair.
Ah, o Brasil continua produzindo superávit primário? Sim, continua, porque essa não é uma decisão de Estado que pode ser revertida. A menos que se coloque um tarado na Presidência - como a Heloísa Helena, por exemplo, que disse que resolveria todos os problemas do país por decreto se chegasse ao poder.
Quando FHC governou, havia espaço para políticas mais autônomas. Ele pegou um país com as dívidas interna e externa baixas. A primeira, porque Collor deu o calote com o confisco da poupança e, assim, fez a dívida interna chegar ao nível mais baixo em décadas, e a segunda, porque o endividamento externo ficou paralisado desde a crise do México, no início dos anos 1980. Mas como o presidente tucano, além de ter vendido mais de cem bilhões de dólares de patrimônio público, para manter o câmbio fixo que o elegera em 1994 - e que pretendia que o reelegesse em 1998 - ainda contraiu vultosos empréstimos internacionais (só em 1999, pediu 40 bilhões de dólares aos EUA, ao FMI e ao Clube de Paris), a dívida externa quase que dobrou durante seus oito anos de governo, e a dívida interna cresceu uns mil por cento.
Como é que o governo Lula é igual ao de FHC, então? O tucano aumentava os juros (durante o governo FHC, a Selic subiu a mais de 40%) e o petista diminui. Um endividava o país e o outro paga as dívidas do antecessor, além de não pedir um centavo emprestado. Um fez o país recorrer duas vezes ao FMI, o outro tirou o país do FMI.
A imprensa diz que tudo que Lula tem conseguido na economia é mérito de FHC. Lula só teria o mérito de ter "continuado" o que fez o tucano. Só que nunca lhe dizem o que é que Lula continuou do que FHC fazia.
O país está indo bem. A inflação está controlada (apesar de a mídia divulgar só os preços que sobem e nunca os que caem) e, apesar disso, o PIB cresce com um vigor que não apresentava desde os anos 1970. E o mérito é de FHC.... Por que? A vítima da lavanderia de cérebros midiática não pergunta nada. Só acata. A mídia não diz o que foi que FHC fez que agora está permitindo a Lula governar tão bem. Dizem apenas que Lula "continua" o que FHC fez.
Lula não continua nada. O câmbio flutuante e o superávit primário são políticas públicas da era FHC, só que o câmbio flutuante era uma reivindicação do PT quando era oposição ao governo FHC e este o adotou na marra quando o mercado o obrigou a desvalorizar o real no início de 1999. Até a eleição presidencial de 1998, quando FHC se reelegeu, ele dizia que não era necessário deixar o câmbio flutuar ou sequer desvalorizar o real. Já no caso do superávit primário, um país endividado que não aceitar essa poupança compulsória que garante o pagamento das dívidas do país, será boicotado pelos investidores estrangeiros e terá dificuldades até para financiar seu comércio exterior. O Brasil já tentou enfrentar o sistema financeiro internacional nos anos 1980, com a moratória decretada pelo ex-ministro Dilson Funaro, e o resultado foi um desastre pelo qual estamos pagando até hoje.
Mas como resumir todo um governo apenas por conta de dois vértices de sua política econômica? Ah, temos os programas sociais também, não é? Não dizem que o Bolsa Família é criação de FHC? Essa é a maior das mentiras. Aproveitam-se do fato de que FHC copiou um programa de transferência de renda, baseado em experiências de outros países. Só que fez para inglês ver. Investia nele uma miséria. Porém, tentam fazer você crer que o Bolsa Escola ou o Vale-gás têm alguma coisa que ver com o maior programa de transferência de renda do mundo. Não tem. O que importa não é a natureza do programa e sim como ele é implementado. O atual governo gasta uma quantidade de recursos com a transferência de renda que nunca governo nenhum cogitou gastar. E isso incomoda, porque setores mais bem aquinhoados da sociedade perderam recursos para os setores beneficiados pelo Bolsa Família.
Outro cavalo de batalha da mídia é o lucro dos bancos. Freqüentemente você vê nos jornais que este ou aquele banco teve lucro recorde. No dia em que escrevo isto, os três maiores jornais do país tocam bumbo sobre o lucro do Bradesco, como se quisessem dizer que o governo diz que é pelo social mas está beneficiando mesmo os ricos. É uma tese malandra que faz acreditar que é ruim a solidez do sistema bancário. Na época de FHC, eles não eram sólidos e eu, você, todos nós tivemos que doar dinheiro aos bancos (via PROER), porque nenhuma economia é sólida se seu sistema bancário não for também. E hoje os bancos estão lucrando com o dinheiro de suas operações, sem precisarem ser socorridos com dinheiro público.
Temos outras diferenças fundamentais entre o governo do PSDB e o do PT. Vocês sabem por que a crise americana - que é muito pior do que as crises de paisecos da era tucana - não está nos afetando e, de acordo com todos os economistas de todas as tendências, não deverá nos afetar significativamente ? É porque hoje o Brasil depende muito menos do comércio exterior com os americanos e europeus do que na época de FHC. Eu mesmo viajarei à África em pouco mais de duas semanas para fazer negócios com um dos muitos países daquele continente que passaram a importar fortemente do Brasil. A diversificação dos mercados-alvos das nossas exportações tornou o Brasil menos dependente dos países ricos. Hoje comerciamos com as três Américas, com a Europa, com a Ásia, com a África... Não dependemos mais unicamente de americanos e europeus.
A herança tucana foi realmente maldita. Entregaram o Brasil estagnado economicamente, com o desemprego nas alturas, com um dólar valendo quatro reais, com a inflação próxima dos dois dígitos e dizem que tudo isso se deveu ao "risco Lula". Mentira. O Brasil começou a decair em janeiro de 1999, com a maxidesvalorização forçada do real, que dois meses antes FHC garantira que não ocorreria. Lula teve que tirar o pais do buraco e fez isso simplesmente fomentando o mercado de consumo de massas que hoje vemos crescendo a todo vapor e que sempre foi a pregação do PT.
O Brasil está bem porque muita gente foi incluída como consumidora. Também há o decidido combate à sonegação fiscal, que hoje se vale inclusive de Polícia Federal, o que permitiu ao Estado ter mais recursos para implementar projetos de desenvolvimento como o PAC, do qual a mídia e a oposição desdenham, mas que, aqui e ali, confessam que será o grande ativo eleitoral petista em 2010, porque fará o país crescer, nos próximos três anos, como jamais cresceu.
A similaridade que há entre os governos Lula e FHC é a mesma que há entre eu e qualquer um de vocês, ou seja, a do branco de nossos olhos, que todos temos. O que há de igual neste governo e no governo anterior é o que não teria como ser diferente em nenhum governo. E as diferenças são enormes, decisivas e benéficas para a maioria, mas ruins para a minoria que reclama, que sempre foi preferencialmente beneficiada pelo Estado brasileiro e agora deixou de ser.”
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
PSDB/DEM(PFL): FOI MENTIRA ELEITOREIRA!?!
GOVERNADORES DO PSDB E DEM AGEM FRONTALMENTE CONTRÁRIOS À NOVA E MUITO DIVULGADA BANDEIRA DA PRÓPRIA OPOSIÇÃO
A extinção da CPMF e da fiscalização da Receita Federal foi considerada pela oposição uma “vitória histórica”. Ela trouxe regozijo aos que mais movimentam dinheiro no país, como empresários, instituições financeiras, narcotraficantes, sonegadores, corruptos.
O líder do PSDB no Senado lançou na imprensa: “a oposição (PSDB, DEM e PPS) vai barrar qualquer imposto, seja ele qual for”. A "Veja" lhe concedeu destaque em muitas páginas. Várias outras revistas, jornais e redes de TV de todo o país também. O senador Arthur Virgílio resolveu, até, lançar-se candidato à Presidência da República.
Todavia, logo após a divulgação daquela nova postura partidária, o prefeito do Rio de Janeiro, do DEM, pai do presidente do DEM, agiu em direção contrária! Aumentou muito o imposto territorial. Em até 300%, segundo o Jornal do Brasil de 18/01/2008!
No blog “Conversa Afiada”, de Paulo Henrique Amorim, em 29/01/2008, veio a reclamação de um leitor sobre aumento de 35% no seu IPTU, pelo governo municipal de São Paulo, do DEM. Hoje, recebi o meu boleto. O governador do Distrito Federal, do DEM, elevou o meu IPTU em 26,81%! Certamente isso ocorre em outros estados e prefeituras do PSDB/DEM e PPS. Não menciono os partidos que lutaram, e perderam, pela manutenção da CPMF e da fiscalização de grandes movimentações financeiras, os quais não bradaram ser contrários a qualquer imposto.
Assim, além de não seguirem suas próprias afirmações de “barrar aquele e qualquer imposto”, a oposição os aumenta muito acima da inflação!?!
Será que a tão enaltecida pela imprensa nova postura de luta do PSDB/DEM não passa de mais um engodo eleitoreiro?
Por que essa incoerência não é analisada pela mídia?
A extinção da CPMF e da fiscalização da Receita Federal foi considerada pela oposição uma “vitória histórica”. Ela trouxe regozijo aos que mais movimentam dinheiro no país, como empresários, instituições financeiras, narcotraficantes, sonegadores, corruptos.
O líder do PSDB no Senado lançou na imprensa: “a oposição (PSDB, DEM e PPS) vai barrar qualquer imposto, seja ele qual for”. A "Veja" lhe concedeu destaque em muitas páginas. Várias outras revistas, jornais e redes de TV de todo o país também. O senador Arthur Virgílio resolveu, até, lançar-se candidato à Presidência da República.
Todavia, logo após a divulgação daquela nova postura partidária, o prefeito do Rio de Janeiro, do DEM, pai do presidente do DEM, agiu em direção contrária! Aumentou muito o imposto territorial. Em até 300%, segundo o Jornal do Brasil de 18/01/2008!
No blog “Conversa Afiada”, de Paulo Henrique Amorim, em 29/01/2008, veio a reclamação de um leitor sobre aumento de 35% no seu IPTU, pelo governo municipal de São Paulo, do DEM. Hoje, recebi o meu boleto. O governador do Distrito Federal, do DEM, elevou o meu IPTU em 26,81%! Certamente isso ocorre em outros estados e prefeituras do PSDB/DEM e PPS. Não menciono os partidos que lutaram, e perderam, pela manutenção da CPMF e da fiscalização de grandes movimentações financeiras, os quais não bradaram ser contrários a qualquer imposto.
Assim, além de não seguirem suas próprias afirmações de “barrar aquele e qualquer imposto”, a oposição os aumenta muito acima da inflação!?!
Será que a tão enaltecida pela imprensa nova postura de luta do PSDB/DEM não passa de mais um engodo eleitoreiro?
Por que essa incoerência não é analisada pela mídia?
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
VEJAM O CONTIGENTE DE BENEFICIADOS COM O FIM DA CPMF
Fiquei surpreendido ao ler no Jornal do Brasil e na Folha de São Paulo de hoje que a Receita Federal somente em 2007 multou 522.000 sonegadores! ( graças ao mecanismo de fiscalização em vigor antes da extinção da CPMF)
Isso gerou crédito tributário para o governo de R$ 108 bilhões!
Li também que advogados do Estado do Ceará, com o apoio da OAB, conseguiram não ser fiscalizados... Sabemos que muitos profissionais liberais, há décadas, omitem seus verdadeiros ganhos e sonegam o devido imposto.
O que me espantou e explica a forte campanha da grande imprensa e do PSDB e DEM/PFL no Senado, contra aquele imposto e a decorrente fiscalização da Receita Federal, é o tamanho e a força financeira do"mercado" atingido pelo fim da fiscalização. Somente no grupo dos sonegadores descobertos foram 522 mil em 2007! R$ 108 bilhões foram por eles sonegados! Se considerarmos o restante do grupo dos que mais movimentam dinheiro no país, como empresários, instituições financeiras, bancos, narcotraficantes, sonegadores, corruptos, inclusive aqueles ainda não descobertos e multados pela Receita Federal, o universo deles é imenso e com poder financeiro superior ao PIB de grande parte dos países. Essa força descomunal certamente atropelou várias instituições brasileiras, inclusive a mídia, e obteve o apoio político para alcançar o fim da fiscalização...
As notícias de hoje que me causaram surpresa pela dimensão do universo de beneficiados foram:
JB 30/01/08
"Os bancos passaram à frente da indústria e assumiram a liderança em sonegação de impostos no ano passado, ao deixarem de recolher R$ 25,348 bilhões.
Foram autuados 521 mil contribuintes, entre pessoas físicas e jurídicas, que sonegaram o total de R$ 108 bilhões.
A indústria sonegou R$ 23,759 bilhões, segundo levantamento divulgado pelo secretário da Receita Federal, Jorge Rachid. (pág. 1 e Economia, pág. A18)"
FSP 30/01/08
"Contestada na Justiça, regra para substituir CPMF começa a valer
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Receita Federal ignorou as contestações na Justiça e publicou ontem, no "Diário Oficial" da União, as regras para que os bancos relatem os valores das movimentações financeiras dos clientes.
Este é um dispositivo fiscalizador para substituir a CPMF, extinta no ano passado.
As instituições financeiras terão de enviar à Receita, até 15 de dezembro, as informações relativas ao primeiro semestre deste ano. A partir de 2009, as informações devem ser repassadas para o governo em fevereiro e agosto de cada ano.
O novo mecanismo de fiscalização da Receita já está em vigor desde o primeiro dia deste ano. Editado em dezembro, foi alvo de críticas da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que entrou com uma Adin (ação direta de inconstitucionalidade) no Supremo, e de tributaristas, que consideraram o dispositivo como quebra de sigilo bancário.
Ontem, o secretário da Receita, Jorge Rachid, disse que a Receita não vai descumprir decisões judiciais, como a liminar obtida pela OAB do Ceará para que as informações dos advogados do Estado não sejam repassadas ao governo.
Mas afirmou que a Receita tem argumentos legais para manter a regra. (JR)"
Isso gerou crédito tributário para o governo de R$ 108 bilhões!
Li também que advogados do Estado do Ceará, com o apoio da OAB, conseguiram não ser fiscalizados... Sabemos que muitos profissionais liberais, há décadas, omitem seus verdadeiros ganhos e sonegam o devido imposto.
O que me espantou e explica a forte campanha da grande imprensa e do PSDB e DEM/PFL no Senado, contra aquele imposto e a decorrente fiscalização da Receita Federal, é o tamanho e a força financeira do"mercado" atingido pelo fim da fiscalização. Somente no grupo dos sonegadores descobertos foram 522 mil em 2007! R$ 108 bilhões foram por eles sonegados! Se considerarmos o restante do grupo dos que mais movimentam dinheiro no país, como empresários, instituições financeiras, bancos, narcotraficantes, sonegadores, corruptos, inclusive aqueles ainda não descobertos e multados pela Receita Federal, o universo deles é imenso e com poder financeiro superior ao PIB de grande parte dos países. Essa força descomunal certamente atropelou várias instituições brasileiras, inclusive a mídia, e obteve o apoio político para alcançar o fim da fiscalização...
As notícias de hoje que me causaram surpresa pela dimensão do universo de beneficiados foram:
JB 30/01/08
"Os bancos passaram à frente da indústria e assumiram a liderança em sonegação de impostos no ano passado, ao deixarem de recolher R$ 25,348 bilhões.
Foram autuados 521 mil contribuintes, entre pessoas físicas e jurídicas, que sonegaram o total de R$ 108 bilhões.
A indústria sonegou R$ 23,759 bilhões, segundo levantamento divulgado pelo secretário da Receita Federal, Jorge Rachid. (pág. 1 e Economia, pág. A18)"
FSP 30/01/08
"Contestada na Justiça, regra para substituir CPMF começa a valer
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Receita Federal ignorou as contestações na Justiça e publicou ontem, no "Diário Oficial" da União, as regras para que os bancos relatem os valores das movimentações financeiras dos clientes.
Este é um dispositivo fiscalizador para substituir a CPMF, extinta no ano passado.
As instituições financeiras terão de enviar à Receita, até 15 de dezembro, as informações relativas ao primeiro semestre deste ano. A partir de 2009, as informações devem ser repassadas para o governo em fevereiro e agosto de cada ano.
O novo mecanismo de fiscalização da Receita já está em vigor desde o primeiro dia deste ano. Editado em dezembro, foi alvo de críticas da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que entrou com uma Adin (ação direta de inconstitucionalidade) no Supremo, e de tributaristas, que consideraram o dispositivo como quebra de sigilo bancário.
Ontem, o secretário da Receita, Jorge Rachid, disse que a Receita não vai descumprir decisões judiciais, como a liminar obtida pela OAB do Ceará para que as informações dos advogados do Estado não sejam repassadas ao governo.
Mas afirmou que a Receita tem argumentos legais para manter a regra. (JR)"
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
O BRASIL DEVE RETORNAR AO NEOLIBERALISMO E AO “ESTADO FRACO”?
EVENTUAL RETORNO DO PSDB/DEM (PFL) AO PODER
A campanha eleitoral no Brasil para a sucessão do Presidente Lula está acirrada há muito tempo e será bem mais intensificada até 2010.
Os partidos PSDB/DEM (aos quais se agregou o PPS) contam com forte e permanente apoio da nossa grande mídia, a ponto de parecer que aqueles partidos é que seguem a pauta e as diretrizes da imprensa.
A parcela da população mais suscetível de acreditar nos ditames da mídia, principalmente das redes de TV, é a classe média, além, obviamente, da classe rica. Em conseqüência, votam predominantemente nos candidatos daqueles partidos. Assim, há algum risco do Brasil retornar às políticas dos governos do PSDB/PFL (“era FHC”).
Esse quadro me faz recordar a conduta neoliberal que foi implantada no Brasil pelo governo PSDB/DEM.
A DÉCADA DE 90
Aquela década de 90 foi demasiado esdrúxula no Brasil. Pressões marcantes desencadeadas do exterior, especialmente dos Estados Unidos (EUA) induziram radicais mudanças de pensamento e de procedimentos no Brasil. As induções vinham com forte apoio governamental e de significativa parte da mídia internacional e brasileira. Autoridades, jornais, publicações, programas de rádio e televisão reiteravam diariamente as mesmas mensagens.
Foram massificadas pela mídia concepções julgadas muito mais “modernas”. Diretrizes novas que nos levariam para o primeiro mundo. Exemplos: economia totalmente aberta, com livre circulação de capitais financeiros, serviços e mercadorias, sem barreiras tarifárias; total desregulamentação do mercado financeiro; regulamentação econômica tipo laissez faire; Estado-mínimo, não-regulador da atividade econômica, não-promotor do desenvolvimento, voltado apenas para o social; Estado-enxuto, onde o planejamento estratégico e o comando da economia também são funções do mercado e devem passar para os investidores privados (*); reforma admnistrativa do Estado para adequá-lo à Nova Ordem Mundial; e muitos outros “avançados” conceitos nos eram martelados. (*) OBS.: No ponto em que o Brasil chegou no final do século, os acima citados investidores privados brasileiros passaram a ser, principalmente, as multi e transnacionais estrangeiras que aqui operavam.
Uma das fórmulas político-sociológicas mágicas de a elite de então e de hoje continuar mantendo esse poder, fórmula aceita como legítima e democrática, é:
[fortes governos estrangeiros e grandes grupos econômicos (elite) manipulando a mídia + mídia manipulando a vontade do povo + povo pressionando o Congresso + Congresso cumprindo a vontade manipulada do povo] = [Poder com a elite].
Um ex-Ministro da época (C&T e Refoma do Estado), Luis Carlos Bresser-Pereira, hoje professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), expressou como via os rumos do Brasil na década de 90:
“A idéia de nação desapareceu. Os critérios para a administração do governo federal foram aqueles ditados por Washington e Nova York e têm como gestor o FMI (Fundo Monetário Internacional)” (Folha de S. Paulo (FSP), 01/05/2004). Em 23/05/2004, ele declarou ao mesmo jornal: “Nos anos 90 o Brasil se submeteu a uma ideologia antinacional e permitiu que essa ideologia desorganizasse o Estado brasileiro. O país paralisou-se e ficou sem o conceito de Nação”.
O jornal Folha S. Paulo (FSP), em 18/07/2004, também expressou:
“as regras em vigor desde 1974 transformaram o FMI num braço armado do governo dos EUA. Armado não com armas, mas de forma equivalente, para defender os interesses econômicos e financeiros norte-americanos e para atacar qualquer economia que tenha a veleidade de se opor a esses interesses. O braço do Congresso dos Estados Unidos que fiscaliza os atos do Executivo, textualmente, estabeleceu ao Diretor-Executivo do FMI (cargo privativo de representante dos EUA) que o comércio internacional de produtos e minerais deve ser submetido à absoluta prioridade dos produtos e minerais norte-americanos."
AÇÂO DA EMBAIXADA DOS EUA NO BRASIL
A nossa imprensa foi indispensável naquela luta pró-EUA. O ex-chefe no Brasil do “Federal Bureau of Investigation” (FBI) no período 1999-2003 declarou que “uma das importantes funções que a Embaixada dos EUA no Brasil tinha era influenciar, manipular, conduzir, controlar a imprensa brasileira, inclusive comprando-a para atender os nossos interesses” (depoimento à “Carta Capital” nos 283 e 284, de 24 e 31/03/2004).
A CAMPANHA DA MÍDIA
Não afirmo que foi nesse quadro informado pelo chefe do FBI que o “Jornal Nacional” de 05/04/96, transmitiu em “close” e em tom solene para todo o Brasil: “No mundo moderno, em que todos os países caminham fortemente para a globalização da economia, não tem mais sentido o Brasil proteger a sua indústria nacional, especialmente na área de tecnologia de ponta”.
A propaganda insistia prioritariamente na necessidade da nossa urgente e total abertura aos capitais, produtos e serviços estrangeiros. Eu julgava que o abrir o nosso mercado e ampliar o comércio não necessariamente seria em tudo ruim para o Brasil. O que estava errado era ele estar sendo radicalmente aberto, intempestiva e indiscriminadamente, e somente em um sentido. Aquele que interessava e favorecia os países já ricos, desenvolvidos e com seus produtos já competitivos e com alto valor agregado.
Insistiam que deveríamos deixar de se proteger, de querer se industrializar e de se desenvolver tecnologicamente. Deveríamos passar a lutar no mercado liberalizado em igualdade de condições com as potências econômicas mundiais.
Omitiam que aqueles países assim são desenvolvidos e ricos porque melhor protegeram suas indústrias e produtos; e ainda os amparam.
Aquelas doutrinas neoliberais então muito propaladas significavam, figurativamente, colocar para lutar no ringue o então campeão mundial peso-pesado Mike Tyson contra uma criança brasileira e com a justiça da total liberdade no duelo, da mesma ausência de regras (desregulamentação). Valia tudo igualmente para os dois, chute no fígado e quebrar o pescoço. O Brasil, como uma criança em desenvolvimento, teria que encontrar seu nicho na tal luta.
O CONSENSO DE WASHINGTON
Os EUA decidiram, em 1990, em Washington, consensualmente com vários políticos e dirigentes latino-americanos, que a América Latina deveria ser alvo de um moderno ajustamento estrutural. Assim resolveram (sem confessarem a eles, é lógico) que era primordial para a América Latina ajudar os EUA a conviver com o seu crescente déficit comercial, lá (nos EUA)criar empregos mais qualificados e estimular o setor exportador norte-americano de bens de alto valor agregado.
Resolveram os EUA, em consenso com os demais países do G-7, que cada país latino-americano, para o seu próprio bem, passaria a implantar as seguintes medidas progressistas:
abrir o seu mercado nacional, com baixos (ou ausentes) impostos de importação e com câmbio favorável à entrada de produtos estrangeiros; para esses produtos importados dos EUA e dos demais países industrializados, não criar barreiras tarifárias e não-tarifárias (sanitárias, técnicas, ambientais, trabalhistas, quotas e subsídios, como fazem as grandes potências); abandonar ultrapassadas políticas de desenvolvimento nacional industrial e tecnológico (ditas incompatíveis com o Estado moderno, enxuto, voltado apenas para a saúde, educação primária e média e para a segurança); vender (desnacionalizar) seus bancos e suas principais empresas privadas e estatais.
O CHILE PRECURSOR
É interessante recordar que o Chile também acreditou no novo modelo liberal. Pinochet, na década de 70, já havia sido o inaugurador (com o uso da força) do neoliberalismo econômico na América Latina, conduzido por seus “Chicago Boys”. Implantou, mais de vinte anos antes, um Plano Pinochet bem parecido com o nosso futuro Plano Real de Itamar Franco e FHC, em 1994. Como viemos a imitar no nosso plano, Pinochet escancarou as portas da economia chilena para os produtos importados, privatizou em grande escala, não apoiou com créditos a sua indústria e as empresas chilenas e segurou sobrevalorizado, por alguns anos, o “peso” em relação ao dólar. Com isso, o Chile teve, como todos nós, o seu momento de ilusão.
A FÓRMULA MATEMÁTICA
Em resumo, expurgando-se as eufemias daqueles conceitos intensamente propagados no Brasil, a equação lógica daquelas campanhas era matemática, cristalina:
[Estado mínimo (com Forças Armadas também mínimas)] = [Estado mais facilmente subjugado]. Subjugado pela elite dominante. No caso brasileiro, essa elite dominadora era (é) o resultado, principalmente, de uma soma: [empresas multinacionais ou estatais estrangeiras + grandes bancos internacionais + governantes dos EUA e dos países do G-7 + FMI/BID/BIRD + poucos brasileiros que lucravam com aquilo].
Essa é a essência da empulhação, muito bem disfarçada com magníficos discursos econômicos e sociológicos.
PERCEPÇÃO DE POUCOS
Alguns poucos jornalistas percebiam as armadilhas daquelas doutrinas. Por exemplo, Luis Nassif expressou no jornal FSP de 25/05/2004: “Todos os países desenvolvidos e ricos recorreram a medidas protecionistas para se firmarem como potências. Depois de consolidados nas novas posições, passaram a pregar para os demais o livre comércio como a única via para o desenvolvimento. Copiá-los era ridicularizado como ‘prática ultrapassada’. Aqui, a imprensa e nossos dirigentes diziam: ‘onde deu certo é assim’; mas não diziam ‘enquanto não dava certo não era assim’ ”.
Clovis Rossi, na FSP de 20/05/2004 escreveu: Vigorava a “ditadura intelectual imposta pelo pensamento único, que se transformou em crença absoluta, de que tudo que é privado é bom e tudo que é público é ruim”.
DEU CERTO?
Para os EUA (e para os outros países industrializados que vieram na esteira, aproveitando a nossa abertura), tudo aquilo implantado no Brasil e na América Latina na década de 90 deu muito certo.
Para os norte-americanos acarretou muitos novos empregos de alta qualificação. Já no terceiro ano da nossa mudança modernizante, 1993, a América Latina comprava mais dos EUA do que lá compravam o Japão ou a Alemanha (US$ 65 bilhões). A taxa de crescimento das exportações dos EUA para a América Latina foi três vezes maior do que para todas as demais regiões do planeta. Aquilo crescia exponencialmente.
Havia, por outro lado, somente insignificantes aumentos das nossas exportações para os EUA, em especial por causa das barreiras (tarifas, quotas, subsídios) decorrentes dos “lobbies” de diversos setores da economia estadunidense, que se protegiam com pressões eleitorais sobre o Congresso e ações diretas sobre o Executivo americano.
O FRACASSO DO NEOLIBERALISMO"
Um texto muito bom sobre o assunto foi publicado esta semana, em 26/01/2008, pela UOL e BBC Brasil. O artigo intitula-se “O fracasso do neoliberalismo”. Foi escrito por Phillip Blond*, em Lancaster, na Inglaterra. Ele descreve:
"A verdadeira história do sucesso do neoliberalismo não é a disseminação dos bens para todos, mas sim a enorme e desproporcional parcela de prosperidade obtida pelos muito ricos. Nos Estados Unidos, entre 1979 e 2004, o grupo formado pelos 1% mais ricos da população experimentou uma elevação de 78% da sua fatia da renda nacional, enquanto 80% da população amargou uma redução média da sua parcela de renda da ordem de 15%. Isto representa uma transferência de riqueza da grande maioria para uma minúscula minoria de cerca de US$ 664 bilhões.”
“Em termos de desenvolvimento econômico, o fundamentalismo do mercado livre tem sido um desastre. As soluções de mercado livre aplicada na Rússia durante os anos Yeltsin só causaram o empobrecimento maciço, a criação de uma classe oligárquica tremendamente rica e a ascensão de um governo autoritário.”
"Os índices de crescimento na América Latina e na África, que costumavam ser maiores do que os das outras nações em desenvolvimento, caíram mais de 60% depois que os países dessas regiões abraçaram o neoliberalismo patrocinado pelo Fundo Monetário Internacional na década de 1980. Atualmente essas economias encontram-se praticamente paralisadas.”
BRASIL: CASA DE NINGUÉM
Voltando a tratar do Brasil dos anos 90, recordo que a quase totalidade do capital estrangeiro que entrava no Brasil não era para investimentos em produção. Era de passagem, somente para o mercado financeiro, saindo com mais rapidez do que entrara e com os gordos lucros dos juros cada vez mais elevados que aquela situação impunha ao Brasil. Chegamos àquele ponto graças à moderna posição governamental brasileira de “flexibilização do ingresso e retorno”; “moderna filosofia laisser passer”.
Em conseqüência da quase total liberdade de entrada e saída no país que aqui teve que ser permitida ao capital estrangeiro, sem nenhum controle seletivo, sem restrições, somente no ano em pauta, 1999, foi possível o Brasil perder 70% de suas reservas internacionais!
Essa saída de divisas ocorreu na “Crise Brasil” que abalou o mundo. As bolsas de valores desabaram. A forte e repentina desvalorização do real surpreendera a (quase) todos.
Pouco antes, o Presidente FHC dissera: (Folha de São Paulo, 25 de junho de 1998, artigo “Lula quer desvalorizar o real, insinua FHC”): “Quem fica cacarejando aí o que não sabe, que precisa desvalorizar (o real), é porque não tem apreço pelo trabalho", afirmou o presidente, ao inaugurar conjunto habitacional em Osasco (SP).”
CRÍTICAS NO BRASIL
As críticas? As censuras ao modelo que nos foi induzido ou imposto pelos EUA , quando aqui surgiam no final dos anos 90, partiam somente daqueles que -como diziam professoralmente na imprensa os mais altos dirigentes nacionais- "não têm imaginação, neobobos que culpavam os EUA (e os brasileiros implantadores das medidas neoliberais) por muitas de suas frustrações e ficavam com nhenhenhém".
Didaticamente, explicavam-nos na TV que os EUA tinham as melhores intenções e ações em relação ao Brasil. Os únicos culpados pelos problemas eram os próprios brasileiros, que estavam tornando este país o mais injusto do mundo. Eram, nomeadamente, os funcionários públicos ("máquina inchada"), os sindicatos e os partidos a eles ligados (que não concordavam, por exemplo, com a "flexibilização do trabalho"), os aposentados (muitos deles "vagabundos, que se aposentaram antes dos 60 anos") e “os vinte anos de ditadura” dos militares.
RESULTADOS DA NEOLIBERALIZAÇÃO
Com aquela "modernização" da nossa economia, a participação do Brasil no comércio mundial, que já havia sido superior a 2% na década de setenta, baixara para 1,5% em 1984 e caiu para 0,8% em 1999.
As maiores facilidades para importar que foram implantadas na década, e as dificuldades ideológicas e práticas para estimular o desenvolvimento do nosso setor exportador de produtos industriais de maior valor agregado, contribuíram decisivamente para o Brasil duplicar a sua dívida externa. De US$ 123 bilhões em 1990 para US$ 235 bilhões ao final de 1999. Segundo o ex-ministro Delfim Netto (Carta Capital no 290, de 13/05/2004), ao término do governo FHC a dívida externa líquida brasileira alcançou o impressionante nível de US$ 430 bilhões!
Toda a nossa arrecadação passou a ficar comprometida com o pagamento da dívida externa. E ainda faltando cada vez mais recursos para pagá-la.
O país ficou imobilizado, muito mais frágil e, em conseqüência, muito mais obediente às pressões dos EUA, do FMI e de todas as outras potências industrializadas.
Até mesmo o próprio jornal Folha de S. Paulo (“Opinião”), em 12/07/2004, reconheceu que “o monstruoso endividamento público gerado ao longo do governo FHC é, realmente, uma “herança maldita” ao ter-se transformado num limitador persistente e fundamental do crescimento econômico”.
Segundo estudo da ONU recentemente divulgado, 44% da população latino-americana já mergulhara abaixo da linha de pobreza ao final da década.
A Fundação Getúlio Vargas divulgou em abril de 2004, que, de 1991 a 2000, a pobreza na região metropolitana de São Paulo aumentara 51%. Um em cada três brasileiros já vivia na miséria.
E assim ocorreu em toda a América Latina. Em 1990, nela havia 190 milhões de miseráveis. No final da década, havia quase o dobro.
Ao final dos anos 90, o país continuava afundando e praticamente impedido de voltar a crescer. O Brasil retraiu-se, desde 1990, de décima para a décima-terceira posição em PIB em 1999. E continuava submergindo, todavia ingenuamente ainda encantado com as “modernas políticas” impostas pelo G-7, sobretudo via FMI.
Em 1994, o PIB brasileiro equivalia a US$ 543,09 bilhões; em 1999, caíra para US$ 536,55 bilhões; em 2002, afundou para US$ 451,01 bilhões (R$ 1,321 trilhões). Apesar de, em reais, ter subido em 2003 para R$ 1,514 trilhões, continuava caindo no ranking mundial (em meados de 2003, o Brasil já estava na 16a posição), tendo sido ultrapassado, desde o início da década de noventa, pela China, Espanha, México, Austrália, India, Coréia do Sul, Holanda e pela Rússia (fonte: Banco Central).
Por fim, pergunto de novo: O BRASIL DEVE RETORNAR AO NEOLIBERALISMO E AO “ESTADO FRACO”?
A campanha eleitoral no Brasil para a sucessão do Presidente Lula está acirrada há muito tempo e será bem mais intensificada até 2010.
Os partidos PSDB/DEM (aos quais se agregou o PPS) contam com forte e permanente apoio da nossa grande mídia, a ponto de parecer que aqueles partidos é que seguem a pauta e as diretrizes da imprensa.
A parcela da população mais suscetível de acreditar nos ditames da mídia, principalmente das redes de TV, é a classe média, além, obviamente, da classe rica. Em conseqüência, votam predominantemente nos candidatos daqueles partidos. Assim, há algum risco do Brasil retornar às políticas dos governos do PSDB/PFL (“era FHC”).
Esse quadro me faz recordar a conduta neoliberal que foi implantada no Brasil pelo governo PSDB/DEM.
A DÉCADA DE 90
Aquela década de 90 foi demasiado esdrúxula no Brasil. Pressões marcantes desencadeadas do exterior, especialmente dos Estados Unidos (EUA) induziram radicais mudanças de pensamento e de procedimentos no Brasil. As induções vinham com forte apoio governamental e de significativa parte da mídia internacional e brasileira. Autoridades, jornais, publicações, programas de rádio e televisão reiteravam diariamente as mesmas mensagens.
Foram massificadas pela mídia concepções julgadas muito mais “modernas”. Diretrizes novas que nos levariam para o primeiro mundo. Exemplos: economia totalmente aberta, com livre circulação de capitais financeiros, serviços e mercadorias, sem barreiras tarifárias; total desregulamentação do mercado financeiro; regulamentação econômica tipo laissez faire; Estado-mínimo, não-regulador da atividade econômica, não-promotor do desenvolvimento, voltado apenas para o social; Estado-enxuto, onde o planejamento estratégico e o comando da economia também são funções do mercado e devem passar para os investidores privados (*); reforma admnistrativa do Estado para adequá-lo à Nova Ordem Mundial; e muitos outros “avançados” conceitos nos eram martelados. (*) OBS.: No ponto em que o Brasil chegou no final do século, os acima citados investidores privados brasileiros passaram a ser, principalmente, as multi e transnacionais estrangeiras que aqui operavam.
Uma das fórmulas político-sociológicas mágicas de a elite de então e de hoje continuar mantendo esse poder, fórmula aceita como legítima e democrática, é:
[fortes governos estrangeiros e grandes grupos econômicos (elite) manipulando a mídia + mídia manipulando a vontade do povo + povo pressionando o Congresso + Congresso cumprindo a vontade manipulada do povo] = [Poder com a elite].
Um ex-Ministro da época (C&T e Refoma do Estado), Luis Carlos Bresser-Pereira, hoje professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), expressou como via os rumos do Brasil na década de 90:
“A idéia de nação desapareceu. Os critérios para a administração do governo federal foram aqueles ditados por Washington e Nova York e têm como gestor o FMI (Fundo Monetário Internacional)” (Folha de S. Paulo (FSP), 01/05/2004). Em 23/05/2004, ele declarou ao mesmo jornal: “Nos anos 90 o Brasil se submeteu a uma ideologia antinacional e permitiu que essa ideologia desorganizasse o Estado brasileiro. O país paralisou-se e ficou sem o conceito de Nação”.
O jornal Folha S. Paulo (FSP), em 18/07/2004, também expressou:
“as regras em vigor desde 1974 transformaram o FMI num braço armado do governo dos EUA. Armado não com armas, mas de forma equivalente, para defender os interesses econômicos e financeiros norte-americanos e para atacar qualquer economia que tenha a veleidade de se opor a esses interesses. O braço do Congresso dos Estados Unidos que fiscaliza os atos do Executivo, textualmente, estabeleceu ao Diretor-Executivo do FMI (cargo privativo de representante dos EUA) que o comércio internacional de produtos e minerais deve ser submetido à absoluta prioridade dos produtos e minerais norte-americanos."
AÇÂO DA EMBAIXADA DOS EUA NO BRASIL
A nossa imprensa foi indispensável naquela luta pró-EUA. O ex-chefe no Brasil do “Federal Bureau of Investigation” (FBI) no período 1999-2003 declarou que “uma das importantes funções que a Embaixada dos EUA no Brasil tinha era influenciar, manipular, conduzir, controlar a imprensa brasileira, inclusive comprando-a para atender os nossos interesses” (depoimento à “Carta Capital” nos 283 e 284, de 24 e 31/03/2004).
A CAMPANHA DA MÍDIA
Não afirmo que foi nesse quadro informado pelo chefe do FBI que o “Jornal Nacional” de 05/04/96, transmitiu em “close” e em tom solene para todo o Brasil: “No mundo moderno, em que todos os países caminham fortemente para a globalização da economia, não tem mais sentido o Brasil proteger a sua indústria nacional, especialmente na área de tecnologia de ponta”.
A propaganda insistia prioritariamente na necessidade da nossa urgente e total abertura aos capitais, produtos e serviços estrangeiros. Eu julgava que o abrir o nosso mercado e ampliar o comércio não necessariamente seria em tudo ruim para o Brasil. O que estava errado era ele estar sendo radicalmente aberto, intempestiva e indiscriminadamente, e somente em um sentido. Aquele que interessava e favorecia os países já ricos, desenvolvidos e com seus produtos já competitivos e com alto valor agregado.
Insistiam que deveríamos deixar de se proteger, de querer se industrializar e de se desenvolver tecnologicamente. Deveríamos passar a lutar no mercado liberalizado em igualdade de condições com as potências econômicas mundiais.
Omitiam que aqueles países assim são desenvolvidos e ricos porque melhor protegeram suas indústrias e produtos; e ainda os amparam.
Aquelas doutrinas neoliberais então muito propaladas significavam, figurativamente, colocar para lutar no ringue o então campeão mundial peso-pesado Mike Tyson contra uma criança brasileira e com a justiça da total liberdade no duelo, da mesma ausência de regras (desregulamentação). Valia tudo igualmente para os dois, chute no fígado e quebrar o pescoço. O Brasil, como uma criança em desenvolvimento, teria que encontrar seu nicho na tal luta.
O CONSENSO DE WASHINGTON
Os EUA decidiram, em 1990, em Washington, consensualmente com vários políticos e dirigentes latino-americanos, que a América Latina deveria ser alvo de um moderno ajustamento estrutural. Assim resolveram (sem confessarem a eles, é lógico) que era primordial para a América Latina ajudar os EUA a conviver com o seu crescente déficit comercial, lá (nos EUA)criar empregos mais qualificados e estimular o setor exportador norte-americano de bens de alto valor agregado.
Resolveram os EUA, em consenso com os demais países do G-7, que cada país latino-americano, para o seu próprio bem, passaria a implantar as seguintes medidas progressistas:
abrir o seu mercado nacional, com baixos (ou ausentes) impostos de importação e com câmbio favorável à entrada de produtos estrangeiros; para esses produtos importados dos EUA e dos demais países industrializados, não criar barreiras tarifárias e não-tarifárias (sanitárias, técnicas, ambientais, trabalhistas, quotas e subsídios, como fazem as grandes potências); abandonar ultrapassadas políticas de desenvolvimento nacional industrial e tecnológico (ditas incompatíveis com o Estado moderno, enxuto, voltado apenas para a saúde, educação primária e média e para a segurança); vender (desnacionalizar) seus bancos e suas principais empresas privadas e estatais.
O CHILE PRECURSOR
É interessante recordar que o Chile também acreditou no novo modelo liberal. Pinochet, na década de 70, já havia sido o inaugurador (com o uso da força) do neoliberalismo econômico na América Latina, conduzido por seus “Chicago Boys”. Implantou, mais de vinte anos antes, um Plano Pinochet bem parecido com o nosso futuro Plano Real de Itamar Franco e FHC, em 1994. Como viemos a imitar no nosso plano, Pinochet escancarou as portas da economia chilena para os produtos importados, privatizou em grande escala, não apoiou com créditos a sua indústria e as empresas chilenas e segurou sobrevalorizado, por alguns anos, o “peso” em relação ao dólar. Com isso, o Chile teve, como todos nós, o seu momento de ilusão.
A FÓRMULA MATEMÁTICA
Em resumo, expurgando-se as eufemias daqueles conceitos intensamente propagados no Brasil, a equação lógica daquelas campanhas era matemática, cristalina:
[Estado mínimo (com Forças Armadas também mínimas)] = [Estado mais facilmente subjugado]. Subjugado pela elite dominante. No caso brasileiro, essa elite dominadora era (é) o resultado, principalmente, de uma soma: [empresas multinacionais ou estatais estrangeiras + grandes bancos internacionais + governantes dos EUA e dos países do G-7 + FMI/BID/BIRD + poucos brasileiros que lucravam com aquilo].
Essa é a essência da empulhação, muito bem disfarçada com magníficos discursos econômicos e sociológicos.
PERCEPÇÃO DE POUCOS
Alguns poucos jornalistas percebiam as armadilhas daquelas doutrinas. Por exemplo, Luis Nassif expressou no jornal FSP de 25/05/2004: “Todos os países desenvolvidos e ricos recorreram a medidas protecionistas para se firmarem como potências. Depois de consolidados nas novas posições, passaram a pregar para os demais o livre comércio como a única via para o desenvolvimento. Copiá-los era ridicularizado como ‘prática ultrapassada’. Aqui, a imprensa e nossos dirigentes diziam: ‘onde deu certo é assim’; mas não diziam ‘enquanto não dava certo não era assim’ ”.
Clovis Rossi, na FSP de 20/05/2004 escreveu: Vigorava a “ditadura intelectual imposta pelo pensamento único, que se transformou em crença absoluta, de que tudo que é privado é bom e tudo que é público é ruim”.
DEU CERTO?
Para os EUA (e para os outros países industrializados que vieram na esteira, aproveitando a nossa abertura), tudo aquilo implantado no Brasil e na América Latina na década de 90 deu muito certo.
Para os norte-americanos acarretou muitos novos empregos de alta qualificação. Já no terceiro ano da nossa mudança modernizante, 1993, a América Latina comprava mais dos EUA do que lá compravam o Japão ou a Alemanha (US$ 65 bilhões). A taxa de crescimento das exportações dos EUA para a América Latina foi três vezes maior do que para todas as demais regiões do planeta. Aquilo crescia exponencialmente.
Havia, por outro lado, somente insignificantes aumentos das nossas exportações para os EUA, em especial por causa das barreiras (tarifas, quotas, subsídios) decorrentes dos “lobbies” de diversos setores da economia estadunidense, que se protegiam com pressões eleitorais sobre o Congresso e ações diretas sobre o Executivo americano.
O FRACASSO DO NEOLIBERALISMO"
Um texto muito bom sobre o assunto foi publicado esta semana, em 26/01/2008, pela UOL e BBC Brasil. O artigo intitula-se “O fracasso do neoliberalismo”. Foi escrito por Phillip Blond*, em Lancaster, na Inglaterra. Ele descreve:
"A verdadeira história do sucesso do neoliberalismo não é a disseminação dos bens para todos, mas sim a enorme e desproporcional parcela de prosperidade obtida pelos muito ricos. Nos Estados Unidos, entre 1979 e 2004, o grupo formado pelos 1% mais ricos da população experimentou uma elevação de 78% da sua fatia da renda nacional, enquanto 80% da população amargou uma redução média da sua parcela de renda da ordem de 15%. Isto representa uma transferência de riqueza da grande maioria para uma minúscula minoria de cerca de US$ 664 bilhões.”
“Em termos de desenvolvimento econômico, o fundamentalismo do mercado livre tem sido um desastre. As soluções de mercado livre aplicada na Rússia durante os anos Yeltsin só causaram o empobrecimento maciço, a criação de uma classe oligárquica tremendamente rica e a ascensão de um governo autoritário.”
"Os índices de crescimento na América Latina e na África, que costumavam ser maiores do que os das outras nações em desenvolvimento, caíram mais de 60% depois que os países dessas regiões abraçaram o neoliberalismo patrocinado pelo Fundo Monetário Internacional na década de 1980. Atualmente essas economias encontram-se praticamente paralisadas.”
BRASIL: CASA DE NINGUÉM
Voltando a tratar do Brasil dos anos 90, recordo que a quase totalidade do capital estrangeiro que entrava no Brasil não era para investimentos em produção. Era de passagem, somente para o mercado financeiro, saindo com mais rapidez do que entrara e com os gordos lucros dos juros cada vez mais elevados que aquela situação impunha ao Brasil. Chegamos àquele ponto graças à moderna posição governamental brasileira de “flexibilização do ingresso e retorno”; “moderna filosofia laisser passer”.
Em conseqüência da quase total liberdade de entrada e saída no país que aqui teve que ser permitida ao capital estrangeiro, sem nenhum controle seletivo, sem restrições, somente no ano em pauta, 1999, foi possível o Brasil perder 70% de suas reservas internacionais!
Essa saída de divisas ocorreu na “Crise Brasil” que abalou o mundo. As bolsas de valores desabaram. A forte e repentina desvalorização do real surpreendera a (quase) todos.
Pouco antes, o Presidente FHC dissera: (Folha de São Paulo, 25 de junho de 1998, artigo “Lula quer desvalorizar o real, insinua FHC”): “Quem fica cacarejando aí o que não sabe, que precisa desvalorizar (o real), é porque não tem apreço pelo trabalho", afirmou o presidente, ao inaugurar conjunto habitacional em Osasco (SP).”
CRÍTICAS NO BRASIL
As críticas? As censuras ao modelo que nos foi induzido ou imposto pelos EUA , quando aqui surgiam no final dos anos 90, partiam somente daqueles que -como diziam professoralmente na imprensa os mais altos dirigentes nacionais- "não têm imaginação, neobobos que culpavam os EUA (e os brasileiros implantadores das medidas neoliberais) por muitas de suas frustrações e ficavam com nhenhenhém".
Didaticamente, explicavam-nos na TV que os EUA tinham as melhores intenções e ações em relação ao Brasil. Os únicos culpados pelos problemas eram os próprios brasileiros, que estavam tornando este país o mais injusto do mundo. Eram, nomeadamente, os funcionários públicos ("máquina inchada"), os sindicatos e os partidos a eles ligados (que não concordavam, por exemplo, com a "flexibilização do trabalho"), os aposentados (muitos deles "vagabundos, que se aposentaram antes dos 60 anos") e “os vinte anos de ditadura” dos militares.
RESULTADOS DA NEOLIBERALIZAÇÃO
Com aquela "modernização" da nossa economia, a participação do Brasil no comércio mundial, que já havia sido superior a 2% na década de setenta, baixara para 1,5% em 1984 e caiu para 0,8% em 1999.
As maiores facilidades para importar que foram implantadas na década, e as dificuldades ideológicas e práticas para estimular o desenvolvimento do nosso setor exportador de produtos industriais de maior valor agregado, contribuíram decisivamente para o Brasil duplicar a sua dívida externa. De US$ 123 bilhões em 1990 para US$ 235 bilhões ao final de 1999. Segundo o ex-ministro Delfim Netto (Carta Capital no 290, de 13/05/2004), ao término do governo FHC a dívida externa líquida brasileira alcançou o impressionante nível de US$ 430 bilhões!
Toda a nossa arrecadação passou a ficar comprometida com o pagamento da dívida externa. E ainda faltando cada vez mais recursos para pagá-la.
O país ficou imobilizado, muito mais frágil e, em conseqüência, muito mais obediente às pressões dos EUA, do FMI e de todas as outras potências industrializadas.
Até mesmo o próprio jornal Folha de S. Paulo (“Opinião”), em 12/07/2004, reconheceu que “o monstruoso endividamento público gerado ao longo do governo FHC é, realmente, uma “herança maldita” ao ter-se transformado num limitador persistente e fundamental do crescimento econômico”.
Segundo estudo da ONU recentemente divulgado, 44% da população latino-americana já mergulhara abaixo da linha de pobreza ao final da década.
A Fundação Getúlio Vargas divulgou em abril de 2004, que, de 1991 a 2000, a pobreza na região metropolitana de São Paulo aumentara 51%. Um em cada três brasileiros já vivia na miséria.
E assim ocorreu em toda a América Latina. Em 1990, nela havia 190 milhões de miseráveis. No final da década, havia quase o dobro.
Ao final dos anos 90, o país continuava afundando e praticamente impedido de voltar a crescer. O Brasil retraiu-se, desde 1990, de décima para a décima-terceira posição em PIB em 1999. E continuava submergindo, todavia ingenuamente ainda encantado com as “modernas políticas” impostas pelo G-7, sobretudo via FMI.
Em 1994, o PIB brasileiro equivalia a US$ 543,09 bilhões; em 1999, caíra para US$ 536,55 bilhões; em 2002, afundou para US$ 451,01 bilhões (R$ 1,321 trilhões). Apesar de, em reais, ter subido em 2003 para R$ 1,514 trilhões, continuava caindo no ranking mundial (em meados de 2003, o Brasil já estava na 16a posição), tendo sido ultrapassado, desde o início da década de noventa, pela China, Espanha, México, Austrália, India, Coréia do Sul, Holanda e pela Rússia (fonte: Banco Central).
Por fim, pergunto de novo: O BRASIL DEVE RETORNAR AO NEOLIBERALISMO E AO “ESTADO FRACO”?
domingo, 27 de janeiro de 2008
"JORNALISMO FEBRIL"
Muito interessante, apesar de muito atrasada, a mea culpa que o jornal Folha de São Paulo apresenta aos seus leitores, hoje, sobre o comportamente dos seus jornalistas no tocante à febre amarela.
Parece que o Presidente Lula é muito bem vacinado. Nenhuma das epidemias criadas ou magnificadas pela mídia o contagiam.
Vejamos o artigo do ombudsman do jornal:
"Jornalismo febril
Não cabe ao jornalismo sabujar autoridades, mas não é seu papel alarmar; o tom predominante foi o de escalada.
Se crianças começam a assuntar sobre a vacinação contra a febre amarela, é sinal de que o temor da doença -e da injeção- se disseminou.
Não é para menos: no princípio do ano, parcela expressiva do jornalismo sugeriu que o mal ameaça o país. A Folha não ficou de fora. Como se vê ao lado, do dia 8 até a quinta-feira passada o assunto ganhou espaço na primeira página, 14 presenças em 17 dias.
Há mesmo interesse público em saber que houve contaminação em áreas rurais. A morte em decorrência de picada de mosquito na floresta é tão trágica como a de alguém infectado nas cidades.
Acontece que desde 1942 não se conhece no Brasil transmissão de febre amarela em reduto urbano. A informação foi veiculada, mas o tom predominante, mostram os títulos da capa, foi o de escalada.
Sob uma manchete, o jornal relativizou a opinião do ministro da Saúde: "No dia em que o número de notificações de casos suspeitos de febre amarela no país subiu de 15 para 24, (...) José Gomes Temporão foi à TV fazer um pronunciamento (...) para dizer que não há risco de epidemia".
Não cabe ao jornalismo sabujar autoridades, mas não é seu papel alarmar. Quando consultou quem entende, a Folha prestou bons serviços. Na contramão de leigos que proclamavam a urgência de imunização universal, infectologistas a condenaram.
Até a quinta, contavam-se dez mortos por febre amarela silvestre, desde 30 de dezembro. Todos a teriam contraído na mata de Goiás. O exagero da Folha em 2008 contrasta com outro, o de 2001, quando os 22 óbitos se concentraram no primeiro trimestre. Em nenhum dia daquele ano a primeira página se referiu à moléstia.Em março, notinha de rodapé com oito linhas noticiou: "Morre a 15ª vítima da febre amarela". Outra nota anunciara semanas antes as 39 mortes do ano anterior (mais uma se somaria à estatística).Os registros não trouxeram a opinião do então ministro da Saúde, José Serra. Em 2000, nenhum título da capa falou em morte pela doença.
A Redação discorda: "Os números dos anos recentes justificam a cobertura que a Folha vem dando à febre amarela. Em 2004 e 2005, houve três mortes confirmadas em cada ano; em 2006, foram duas mortes; em 2007, cinco". "Em 2008, apenas no primeiro mês do ano, já há dez mortes confirmadas (uma delas ocorrida em 30 de dezembro, mas só confirmada agora).
Acresce que a Folha tem dado amplo espaço a autoridades e especialistas, com diferentes visões sobre a dimensão do problema. E a única manchete relativa ao tema tratou do pronunciamento do ministro da Saúde em que ele procurava tranqüilizar a população.
"Não entendi por que os números de 2000 e 2001 não "justificaram" destaque. Sobre isso, minhas perguntas não mereceram respostas.
Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007."
Parece que o Presidente Lula é muito bem vacinado. Nenhuma das epidemias criadas ou magnificadas pela mídia o contagiam.
Vejamos o artigo do ombudsman do jornal:
"Jornalismo febril
Não cabe ao jornalismo sabujar autoridades, mas não é seu papel alarmar; o tom predominante foi o de escalada.
Se crianças começam a assuntar sobre a vacinação contra a febre amarela, é sinal de que o temor da doença -e da injeção- se disseminou.
Não é para menos: no princípio do ano, parcela expressiva do jornalismo sugeriu que o mal ameaça o país. A Folha não ficou de fora. Como se vê ao lado, do dia 8 até a quinta-feira passada o assunto ganhou espaço na primeira página, 14 presenças em 17 dias.
Há mesmo interesse público em saber que houve contaminação em áreas rurais. A morte em decorrência de picada de mosquito na floresta é tão trágica como a de alguém infectado nas cidades.
Acontece que desde 1942 não se conhece no Brasil transmissão de febre amarela em reduto urbano. A informação foi veiculada, mas o tom predominante, mostram os títulos da capa, foi o de escalada.
Sob uma manchete, o jornal relativizou a opinião do ministro da Saúde: "No dia em que o número de notificações de casos suspeitos de febre amarela no país subiu de 15 para 24, (...) José Gomes Temporão foi à TV fazer um pronunciamento (...) para dizer que não há risco de epidemia".
Não cabe ao jornalismo sabujar autoridades, mas não é seu papel alarmar. Quando consultou quem entende, a Folha prestou bons serviços. Na contramão de leigos que proclamavam a urgência de imunização universal, infectologistas a condenaram.
Até a quinta, contavam-se dez mortos por febre amarela silvestre, desde 30 de dezembro. Todos a teriam contraído na mata de Goiás. O exagero da Folha em 2008 contrasta com outro, o de 2001, quando os 22 óbitos se concentraram no primeiro trimestre. Em nenhum dia daquele ano a primeira página se referiu à moléstia.Em março, notinha de rodapé com oito linhas noticiou: "Morre a 15ª vítima da febre amarela". Outra nota anunciara semanas antes as 39 mortes do ano anterior (mais uma se somaria à estatística).Os registros não trouxeram a opinião do então ministro da Saúde, José Serra. Em 2000, nenhum título da capa falou em morte pela doença.
A Redação discorda: "Os números dos anos recentes justificam a cobertura que a Folha vem dando à febre amarela. Em 2004 e 2005, houve três mortes confirmadas em cada ano; em 2006, foram duas mortes; em 2007, cinco". "Em 2008, apenas no primeiro mês do ano, já há dez mortes confirmadas (uma delas ocorrida em 30 de dezembro, mas só confirmada agora).
Acresce que a Folha tem dado amplo espaço a autoridades e especialistas, com diferentes visões sobre a dimensão do problema. E a única manchete relativa ao tema tratou do pronunciamento do ministro da Saúde em que ele procurava tranqüilizar a população.
"Não entendi por que os números de 2000 e 2001 não "justificaram" destaque. Sobre isso, minhas perguntas não mereceram respostas.
Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007."
PONTO-DE-VISTA DE UM ISRAELENSE SOBRE O BLOQUEIO DE GAZA
No blog Grupo Beatrice de hoje, 27/01/08, li um artigo do israelense Uri Avnery, que traz uma visão completamente diferente daquela homogênea divulgada na imprensa internacional e na brasileira. Para melhor conhecermos a verdade, é bom estarmos atentos para opiniões diversificadas. Transcrevo:
Bloqueio de Gaza é "pior que crime"
PARECEU a queda do muro de Berlim. Não ‘pareceu’, apenas. Por um momento, o cruzamento em Rafah foi o Portão de Brandenburg.
É impossível não se emocionar quando a multidão de oprimidos e famintos rompe um muro que os impede de avançar, olhos brilhantes, todos se abraçando –, emocionar-se muito, mesmo que se saiba que foi nosso governo, o governo de Israel, que construiu aquele muro.
A Faixa de Ghazaa é a maior prisão da Terra. Abrir uma passagem no muro, em Rafah, foi um ato de libertação.
Provou-se que políticas desumanas são sempre políticas de estupidez: nenhum poder conseguirá jamais conter uma multidão que já tenha cruzado a fronteira do desespero absoluto.Esta é a lição de Ghazaa, janeiro, 2008.
Caberia aqui a frase famosa do estadista francês, do tempo de Napoleão I, Boulay de la Meurthe, com pequena adaptação: “É pior que crime de guerra: é uma estupidez!”
Há vários meses, os dois Ehuds – Barak e Olmert – impuseram um bloqueio à Faixa de Ghazaa e vangloriaram-se muito. Depois, foram apertando o nó mortal cada vez mais, até que já praticamente nada entrava na Faixa. Semana passada tornaram absoluto o bloqueio – nem comida, nem remédios. As coisas chegaram ao paroxismo quando suspenderam também o fornecimento de combustíveis. Grandes áreas de Ghazaa ficaram sem eletricidade – para as incubadoras para bebês prematuros, para máquinas de diálise, para bombas de água e para evacuar esgotos. Centenas de milhares de pessoas ficaram sem calefação, sob frio intenso, sem poder cozinhar, sem o que comer.
Vezes sem conta a Rede Aljazeera levou aquelas imagens para milhões de lares em todo o mundo árabe. Muitas outras redes de televisão exibiram as mesmas imagens. De Casablanca a Aman, explodiram protestos de massa nas ruas que assustaram os regimes árabes autoritários.
Hosny Mubarak telefonou em pânico para Ehud Barak. Na mesma noite, Barak foi obrigado a suspender, pelo menos temporariamente, o bloqueio que, desde a manhã, impedia a entrega de combustível na Faixa. Exceto por isto, o bloqueio continuou total.
Difícil imaginar ato político mais estúpido.
A razão apresentada para matar de fome e frio 1,5 milhão de seres humanos confinados num território de 365 km2 é o continuado bombardeio de foguetes Qassam sobre cidade de Sderot e arredores. É razão cuidadosamente pensada para unir o que há de mais primitivo e o que há de mais pobre na opinião pública em Israel. Faz calar as críticas que viriam da ONU e de governos em todo o mundo que, de outro modo, protestariam contra uma punição coletivamente aplicada a populações civis que, sem dúvida alguma, configura crime de guerra nos termos da lei internacional. Apresenta-se ao mundo um quadro simplificado: o regime de terror do Hamás lança mísseis contra inocentes civis israelenses. Nenhum governo pode tolerar que seus cidadãos sejam bombardeados dentro de suas fronteiras. O exército de Israel não tem resposta militar para enfrentar os foguetes Qassam. Portanto, não lhe resta outra saída além de pressionar a população de Ghazaa, na esperança de que se levante contra o Hamás e faça parar o bombardeio de Qassams. No dia em que Ghazaa ficou totalmente sem eletricidade, os correspondentes militares israelenses festejaram: só dois foguetes Qassams foram disparados de dentro da Faixa. Então o bloqueio funciona! Ehud Barak é um gênio! No dia seguinte, com 17 Qassams lançados contra Israel, a alegria sumiu. Políticos e generais israelenses estavam (literalmente) frenéticos, fora de si: um político propôs “ações mais loucas que as deles”; outro propôs "bombardear a área urbana de Ghazaa indiscriminadamente, a cada Qassam disparado", um famoso professor (conhecido por ser ligeiramente perturbado) propôs que se adotasse "o mal absoluto".
O modo de atuar do governo israelense é hoje uma repetição do que já fizeram na Segunda Guerra do Líbano (espera-se para os próximos dias a publicação do relatório sobre aqueles dias). Daquela vez: o Hizbullah capturou dois soldados israelenses, em território de Israel. Hoje: o Hamás bombardeia casas e cidades em território de Israel. Daquela vez: precipitadamente, o governo decidiu entrar em guerra. Hoje: precipitadamente, o governo decidiu impor bloqueio total. Daquela vez: o governo ordenou bombardeio massivo contra civis, para pressionar o Hizbullah. Hoje: o governo ordena o massacre, pela fome e pelo frio, de população civil, para pressionar o Hamás.
Os resultados são os mesmos, nos dois casos.
Daquela vez: a população não se levantou contra o Hizbullah; aconteceu exatamente o contrário: pessoas de todos os credos e grupos religiosos reuniram-se numa mesma organização xiita. Hassan Nasrallah tornou-se herói de todo o mundo árabe. E hoje: a população cada vez mais unida num Hamás cada vez mais forte, acusa Máhmoude Abbás de colaborar com o inimigo. Uma mãe que não tenha comida para dar aos filhos não maldiz Ismail Haniyeh. Ela maldiz Olmert, Abbas e Mubarak.
Então, o que fazer? Afinal de contas, não se pode tolerar o sofrimento dos habitantes de Sderot, que vivem sob fogo constante.
O que todos ocultam da opinião pública é que é possível fazer parar o bombardeio de Qassams amanhã de manhã. Há vários meses, o Hamás propôs um cessar-fogo. Esta semana, eles repetiram a mesma proposta. Para o Hamás, cessar-fogo significa: os palestinos cessam o fogo de Qassams e morteiros; e o exército de Israel cessa as incursões em Ghazaa, os assassinatos por armas ‘inteligentes’ em alvos ‘selecionados’ e o bloqueio.
Por que o governo israelense não aceita imediatamente esta proposta? É simples: para aceitar esta proposta, o governo de Israel tem de falar com o Hamás, direta ou indiretamente. Isto, precisamente, é o que o governo de Israel recusa-se a fazer. Por quê?
Outra vez, é muito simples: porque Sderot é apenas um pretexto – como também os dois soldados capturados foram apenas um pretexto – para coisa muito diferente. O objetivo geral de toda a ‘operação’ é derrubar o regime do Hamás em Ghazaa e evitar que o Hamás tome toda a Cisjordânia. Em palavras simples e claras: o governo de Israel está sacrificando toda a população de Sderot, em nome de uma idéia de antemão condenada ao fracasso. O governo de Israel está muito mais interessado em pressionar o Hamás – que é, hoje, a cabeça de ponte de toda a resistência palestina – do que em proteger os habitantes de Sderot. E toda a mídia colabora para difundir a farsa.
Já se disse que é muito perigoso escrever sátiras em Israel – porque muitas vezes a sátira torna-se realidade. Alguns leitores talvez lembrem de um artigo satírico que escrevi há alguns meses. Lá, descrevi a situação em Ghazaa como uma experiência científica para descobrir até que ponto conseguiríamos chegar, em matéria de matar de fome populações civis e fazer da vida humana um inferno... antes de termos de levantar as mãos e nos render, derrotados. Esta semana, a sátira virou política oficial do Estado de Israel.
Comentaristas respeitados declararam explicitamente que Ehud Barak e os chefes militares estão trabalhando na linha de “tentativa e erro” e mudam diariamente seus métodos conforme os resultados. Param de fornecer combustível a Ghazaa, vêem o que acontece e desfazem tudo quando a reação internacional é negativa demais. Suspendem o fornecimento de remédios, vêem o que acontece, etc. etc. O objetivo científico justifica os meios. O homem encarregado deste experimento é o Ministro da Defesa, Ehud Barak, homem de muitas idéias e poucos escrúpulos, homem cujo modo de raciocinar é basicamente pré-humano. Ehud Barak é hoje, provavelmente, o ser mais perigoso que há em Israel, mais perigoso que Ehud Olmert e Binyamin Netanyahu, perigoso até para a sobrevivência de Israel no longo prazo. O homem encarregado de executar o experimento é o Comandante em Chefe do Exército de Israel. Esta semana, ouvimos os discursos de dois de seus predecessores no cargo, os generais Moshe Ya'alon e Shaul Mofaz, num fórum que teve as mais infladas pretensões intelectuais. Descobriu-se ali que ambos têm idéias que os colocam em algum ponto entre a extrema Direita e a ultra-Direita. São, os dois, homens de cabeça assustadoramente primitiva. Desnecessário desperdiçar sequer uma palavra sobre as qualidades morais e intelectuais do sucessor imediato de ambos, Dan Halutz. Se estas são as vozes dos três últimos Comandantes do Exército de Israel, o que dizer do atual, que não pode falar abertamente como os outros? Que maçã cairia muito longe da mesma árvore? Até há três dias, os generais ainda podiam defender a opinião de que o experimento estaria dando certo. A miséria atingira o clímax na Faixa de Ghazaa. Centenas de milhares de seres humanos enfrentavam a fome total. O chefe da Agência de Apoio Humanitário da ONU para a Palestina (UNRWA) denunciou o risco de catástrofe humana absoluta. Só os mais ricos ainda tinham combustível para seus carros, para aquecer as residências e para cozinhar.
O mundo não parou de girar e ouviu-se apenas um murmúrio planetário. Os líderes dos Estados árabes enunciaram frases ocas e não moveram um dedo. Barak, que tem talentos matemáticos, podia até calcular o dia em que a população finalmente entraria em colapso.
E então, de repente, aconteceu algo que nenhum deles previu, embora fosse o evento mais facilmente previsível do planeta. Quando alguém põe 1,5 milhão de seres humanos numa panela de pressão e não pára de pôr fogo no palheiro, é certo que tudo explodirá. Foi o que aconteceu na fronteira entre Ghazaa e o Egito. Primeiro, foi uma explosão pequena. Uma multidão juntou-se no posto de fronteira e os policiais egípcios abriram fogo. Houve dúzias de feridos. Foi um sinal de alerta. Dia seguinte veio o grande assalto. Combatentes palestinos furaram o muro em vários pontos. Centenas de milhares de palestinos entraram em território egípcio e respiraram fundo. Estava quebrado o bloqueio.
Já antes disto, a posição de Mubarak era insustentável. Centenas de milhões de árabes, um bilhão de muçulmanos viram que o exército de Israel fechava apenas três pontos da fronteira de Ghazaa: pelo norte, pelo leste e pelo mar. O quarto ponto do bloqueio estava entregue ao exército egípcio. O presidente do Egito, que se apresenta como líder de todo o mundo árabe foi exposto como colaborador numa operação desumana liderada por um inimigo, e apenas para obter os favores (e o dinheiro) dos norte-americanos. Seus inimigos internos, a Irmandade Muçulmana, exploraram esta situação e o denunciaram, publicamente, aos olhos de seu próprio povo. Dificilmente Mubarak teria podido manter-se na posição em que estava.
Mas a multidão palestina livrou-o da tarefa de decidir. Decidiram por ele. Os palestinos irromperam no Egito como um tsunami. Agora, Mubarak que decida quando sucumbirá completamente a Israel e reimporá o bloqueio contra seus irmãos árabes.
E quanto ao experimento de Barak? O que acontecerá agora? Barak tem poucas opções:
(a) Reocupar Ghazaa. O exército não gosta desta idéia. Para os comandantes militares, a reocupação exporá milhares de soldados israelenses a uma guerra de guerrilhas cruel, diferente de todas as intifadas conhecidas.
(b) Apertar novamente o bloqueio e pressionar Mubarak o mais possível, inclusive com o lobby israelense no Congresso dos EUA, para privá-lo dos bilhões que recebe anualmente em troca de serviços prestados.
(c) Fazer do castigo um prêmio, e entregar a Faixa de Ghazaa a Mubarak, como se este fosse o objetivo secreto de Barak, desde o começo. Passaria a ser tarefa do Egito garantir a segurança de Israel, evitar a chuva de Qassams e expor seus próprios soldados à guerra de guerrilhas na Palestina – depois de o Egito ter imaginado que se havia livrado definitivamente desta área de conflito, e depois de toda a infra-estrutura da Palestina ter sido destruída pela ocupação israelense.
É provável que Mubarak responda: “É muita gentileza sua, mas, não, não, muito obrigado.” O bloqueio da Faixa de Ghazaa é crime de guerra. E é pior que isto: é uma estupidez brutal."
Bloqueio de Gaza é "pior que crime"
PARECEU a queda do muro de Berlim. Não ‘pareceu’, apenas. Por um momento, o cruzamento em Rafah foi o Portão de Brandenburg.
É impossível não se emocionar quando a multidão de oprimidos e famintos rompe um muro que os impede de avançar, olhos brilhantes, todos se abraçando –, emocionar-se muito, mesmo que se saiba que foi nosso governo, o governo de Israel, que construiu aquele muro.
A Faixa de Ghazaa é a maior prisão da Terra. Abrir uma passagem no muro, em Rafah, foi um ato de libertação.
Provou-se que políticas desumanas são sempre políticas de estupidez: nenhum poder conseguirá jamais conter uma multidão que já tenha cruzado a fronteira do desespero absoluto.Esta é a lição de Ghazaa, janeiro, 2008.
Caberia aqui a frase famosa do estadista francês, do tempo de Napoleão I, Boulay de la Meurthe, com pequena adaptação: “É pior que crime de guerra: é uma estupidez!”
Há vários meses, os dois Ehuds – Barak e Olmert – impuseram um bloqueio à Faixa de Ghazaa e vangloriaram-se muito. Depois, foram apertando o nó mortal cada vez mais, até que já praticamente nada entrava na Faixa. Semana passada tornaram absoluto o bloqueio – nem comida, nem remédios. As coisas chegaram ao paroxismo quando suspenderam também o fornecimento de combustíveis. Grandes áreas de Ghazaa ficaram sem eletricidade – para as incubadoras para bebês prematuros, para máquinas de diálise, para bombas de água e para evacuar esgotos. Centenas de milhares de pessoas ficaram sem calefação, sob frio intenso, sem poder cozinhar, sem o que comer.
Vezes sem conta a Rede Aljazeera levou aquelas imagens para milhões de lares em todo o mundo árabe. Muitas outras redes de televisão exibiram as mesmas imagens. De Casablanca a Aman, explodiram protestos de massa nas ruas que assustaram os regimes árabes autoritários.
Hosny Mubarak telefonou em pânico para Ehud Barak. Na mesma noite, Barak foi obrigado a suspender, pelo menos temporariamente, o bloqueio que, desde a manhã, impedia a entrega de combustível na Faixa. Exceto por isto, o bloqueio continuou total.
Difícil imaginar ato político mais estúpido.
A razão apresentada para matar de fome e frio 1,5 milhão de seres humanos confinados num território de 365 km2 é o continuado bombardeio de foguetes Qassam sobre cidade de Sderot e arredores. É razão cuidadosamente pensada para unir o que há de mais primitivo e o que há de mais pobre na opinião pública em Israel. Faz calar as críticas que viriam da ONU e de governos em todo o mundo que, de outro modo, protestariam contra uma punição coletivamente aplicada a populações civis que, sem dúvida alguma, configura crime de guerra nos termos da lei internacional. Apresenta-se ao mundo um quadro simplificado: o regime de terror do Hamás lança mísseis contra inocentes civis israelenses. Nenhum governo pode tolerar que seus cidadãos sejam bombardeados dentro de suas fronteiras. O exército de Israel não tem resposta militar para enfrentar os foguetes Qassam. Portanto, não lhe resta outra saída além de pressionar a população de Ghazaa, na esperança de que se levante contra o Hamás e faça parar o bombardeio de Qassams. No dia em que Ghazaa ficou totalmente sem eletricidade, os correspondentes militares israelenses festejaram: só dois foguetes Qassams foram disparados de dentro da Faixa. Então o bloqueio funciona! Ehud Barak é um gênio! No dia seguinte, com 17 Qassams lançados contra Israel, a alegria sumiu. Políticos e generais israelenses estavam (literalmente) frenéticos, fora de si: um político propôs “ações mais loucas que as deles”; outro propôs "bombardear a área urbana de Ghazaa indiscriminadamente, a cada Qassam disparado", um famoso professor (conhecido por ser ligeiramente perturbado) propôs que se adotasse "o mal absoluto".
O modo de atuar do governo israelense é hoje uma repetição do que já fizeram na Segunda Guerra do Líbano (espera-se para os próximos dias a publicação do relatório sobre aqueles dias). Daquela vez: o Hizbullah capturou dois soldados israelenses, em território de Israel. Hoje: o Hamás bombardeia casas e cidades em território de Israel. Daquela vez: precipitadamente, o governo decidiu entrar em guerra. Hoje: precipitadamente, o governo decidiu impor bloqueio total. Daquela vez: o governo ordenou bombardeio massivo contra civis, para pressionar o Hizbullah. Hoje: o governo ordena o massacre, pela fome e pelo frio, de população civil, para pressionar o Hamás.
Os resultados são os mesmos, nos dois casos.
Daquela vez: a população não se levantou contra o Hizbullah; aconteceu exatamente o contrário: pessoas de todos os credos e grupos religiosos reuniram-se numa mesma organização xiita. Hassan Nasrallah tornou-se herói de todo o mundo árabe. E hoje: a população cada vez mais unida num Hamás cada vez mais forte, acusa Máhmoude Abbás de colaborar com o inimigo. Uma mãe que não tenha comida para dar aos filhos não maldiz Ismail Haniyeh. Ela maldiz Olmert, Abbas e Mubarak.
Então, o que fazer? Afinal de contas, não se pode tolerar o sofrimento dos habitantes de Sderot, que vivem sob fogo constante.
O que todos ocultam da opinião pública é que é possível fazer parar o bombardeio de Qassams amanhã de manhã. Há vários meses, o Hamás propôs um cessar-fogo. Esta semana, eles repetiram a mesma proposta. Para o Hamás, cessar-fogo significa: os palestinos cessam o fogo de Qassams e morteiros; e o exército de Israel cessa as incursões em Ghazaa, os assassinatos por armas ‘inteligentes’ em alvos ‘selecionados’ e o bloqueio.
Por que o governo israelense não aceita imediatamente esta proposta? É simples: para aceitar esta proposta, o governo de Israel tem de falar com o Hamás, direta ou indiretamente. Isto, precisamente, é o que o governo de Israel recusa-se a fazer. Por quê?
Outra vez, é muito simples: porque Sderot é apenas um pretexto – como também os dois soldados capturados foram apenas um pretexto – para coisa muito diferente. O objetivo geral de toda a ‘operação’ é derrubar o regime do Hamás em Ghazaa e evitar que o Hamás tome toda a Cisjordânia. Em palavras simples e claras: o governo de Israel está sacrificando toda a população de Sderot, em nome de uma idéia de antemão condenada ao fracasso. O governo de Israel está muito mais interessado em pressionar o Hamás – que é, hoje, a cabeça de ponte de toda a resistência palestina – do que em proteger os habitantes de Sderot. E toda a mídia colabora para difundir a farsa.
Já se disse que é muito perigoso escrever sátiras em Israel – porque muitas vezes a sátira torna-se realidade. Alguns leitores talvez lembrem de um artigo satírico que escrevi há alguns meses. Lá, descrevi a situação em Ghazaa como uma experiência científica para descobrir até que ponto conseguiríamos chegar, em matéria de matar de fome populações civis e fazer da vida humana um inferno... antes de termos de levantar as mãos e nos render, derrotados. Esta semana, a sátira virou política oficial do Estado de Israel.
Comentaristas respeitados declararam explicitamente que Ehud Barak e os chefes militares estão trabalhando na linha de “tentativa e erro” e mudam diariamente seus métodos conforme os resultados. Param de fornecer combustível a Ghazaa, vêem o que acontece e desfazem tudo quando a reação internacional é negativa demais. Suspendem o fornecimento de remédios, vêem o que acontece, etc. etc. O objetivo científico justifica os meios. O homem encarregado deste experimento é o Ministro da Defesa, Ehud Barak, homem de muitas idéias e poucos escrúpulos, homem cujo modo de raciocinar é basicamente pré-humano. Ehud Barak é hoje, provavelmente, o ser mais perigoso que há em Israel, mais perigoso que Ehud Olmert e Binyamin Netanyahu, perigoso até para a sobrevivência de Israel no longo prazo. O homem encarregado de executar o experimento é o Comandante em Chefe do Exército de Israel. Esta semana, ouvimos os discursos de dois de seus predecessores no cargo, os generais Moshe Ya'alon e Shaul Mofaz, num fórum que teve as mais infladas pretensões intelectuais. Descobriu-se ali que ambos têm idéias que os colocam em algum ponto entre a extrema Direita e a ultra-Direita. São, os dois, homens de cabeça assustadoramente primitiva. Desnecessário desperdiçar sequer uma palavra sobre as qualidades morais e intelectuais do sucessor imediato de ambos, Dan Halutz. Se estas são as vozes dos três últimos Comandantes do Exército de Israel, o que dizer do atual, que não pode falar abertamente como os outros? Que maçã cairia muito longe da mesma árvore? Até há três dias, os generais ainda podiam defender a opinião de que o experimento estaria dando certo. A miséria atingira o clímax na Faixa de Ghazaa. Centenas de milhares de seres humanos enfrentavam a fome total. O chefe da Agência de Apoio Humanitário da ONU para a Palestina (UNRWA) denunciou o risco de catástrofe humana absoluta. Só os mais ricos ainda tinham combustível para seus carros, para aquecer as residências e para cozinhar.
O mundo não parou de girar e ouviu-se apenas um murmúrio planetário. Os líderes dos Estados árabes enunciaram frases ocas e não moveram um dedo. Barak, que tem talentos matemáticos, podia até calcular o dia em que a população finalmente entraria em colapso.
E então, de repente, aconteceu algo que nenhum deles previu, embora fosse o evento mais facilmente previsível do planeta. Quando alguém põe 1,5 milhão de seres humanos numa panela de pressão e não pára de pôr fogo no palheiro, é certo que tudo explodirá. Foi o que aconteceu na fronteira entre Ghazaa e o Egito. Primeiro, foi uma explosão pequena. Uma multidão juntou-se no posto de fronteira e os policiais egípcios abriram fogo. Houve dúzias de feridos. Foi um sinal de alerta. Dia seguinte veio o grande assalto. Combatentes palestinos furaram o muro em vários pontos. Centenas de milhares de palestinos entraram em território egípcio e respiraram fundo. Estava quebrado o bloqueio.
Já antes disto, a posição de Mubarak era insustentável. Centenas de milhões de árabes, um bilhão de muçulmanos viram que o exército de Israel fechava apenas três pontos da fronteira de Ghazaa: pelo norte, pelo leste e pelo mar. O quarto ponto do bloqueio estava entregue ao exército egípcio. O presidente do Egito, que se apresenta como líder de todo o mundo árabe foi exposto como colaborador numa operação desumana liderada por um inimigo, e apenas para obter os favores (e o dinheiro) dos norte-americanos. Seus inimigos internos, a Irmandade Muçulmana, exploraram esta situação e o denunciaram, publicamente, aos olhos de seu próprio povo. Dificilmente Mubarak teria podido manter-se na posição em que estava.
Mas a multidão palestina livrou-o da tarefa de decidir. Decidiram por ele. Os palestinos irromperam no Egito como um tsunami. Agora, Mubarak que decida quando sucumbirá completamente a Israel e reimporá o bloqueio contra seus irmãos árabes.
E quanto ao experimento de Barak? O que acontecerá agora? Barak tem poucas opções:
(a) Reocupar Ghazaa. O exército não gosta desta idéia. Para os comandantes militares, a reocupação exporá milhares de soldados israelenses a uma guerra de guerrilhas cruel, diferente de todas as intifadas conhecidas.
(b) Apertar novamente o bloqueio e pressionar Mubarak o mais possível, inclusive com o lobby israelense no Congresso dos EUA, para privá-lo dos bilhões que recebe anualmente em troca de serviços prestados.
(c) Fazer do castigo um prêmio, e entregar a Faixa de Ghazaa a Mubarak, como se este fosse o objetivo secreto de Barak, desde o começo. Passaria a ser tarefa do Egito garantir a segurança de Israel, evitar a chuva de Qassams e expor seus próprios soldados à guerra de guerrilhas na Palestina – depois de o Egito ter imaginado que se havia livrado definitivamente desta área de conflito, e depois de toda a infra-estrutura da Palestina ter sido destruída pela ocupação israelense.
É provável que Mubarak responda: “É muita gentileza sua, mas, não, não, muito obrigado.” O bloqueio da Faixa de Ghazaa é crime de guerra. E é pior que isto: é uma estupidez brutal."
O "APAGÃO" DE ENERGIA ELÉTRICA
Em muitas redes de TV e em grandes jornais foi dito recentemente que ainda não ocorreu o “apagão” de energia elétrica no Brasil graças ao governo FHC, do PSDB/DEM, que adquiriu várias usinas termoelétricas.
Para melhor esclarecimento desse assunto, é oportuno lermos alguns trechos do artigo de Maurício Tolmasquim, doutor em socioeconomia do desenvolvimento e presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética). Foi publicado na Folha de São Paulo de hoje:
“O atual cenário indica uma crise no setor energético? NÃO
Há margem de manobra
É inegável que o Brasil tem vivido um atraso no seu período chuvoso com impacto sobre o nível dos reservatórios do Sistema Interligado Nacional.
Apesar disso, a situação atual é muito diferente daquela de 2001, quando houve restrição compulsória ao consumo de energia. Assentadas nos alicerces do novo modelo, as margens de manobra criadas pelo lado da oferta permitem afirmar que não haverá racionamento no país.
Em 2001, a energia que sobrava no Sul não podia ser transferida para o Sudeste, por insuficiência de transmissão. Desde 2003, foram agregados à rede de alta tensão 14.700 km de novas linhas, o que representou, na prática, a duplicação da capacidade de intercâmbio energético entre essas regiões e um aumento de 2,5 vezes da capacidade de transferência de energia para o Nordeste.
Isso possibilita aproveitar melhor a diversidade entre as regiões e diminuir a vulnerabilidade do sistema em situações de escassez de chuvas.
Não é só pelo lado da transmissão que o sistema está mais bem preparado para enfrentar problemas decorrentes das dificuldades climáticas. Houve também aumento da capacidade de geração, sobretudo a partir de 2003. Os números: houve uma expansão de 16.400 MW na potência instalada, com aumento significativo da participação de termelétricas, de 11% para 20% da capacidade total.
A importância desse crescimento está no fato de que as térmicas são acionadas sempre que é preciso poupar a água dos reservatórios, como agora.
Mas há uma preocupação no ar: há gás suficiente para as termelétricas? A demanda potencial por gás é, de fato, superior à capacidade de oferta, fruto de um crescimento vertiginoso da demanda de gás, a taxas de 17% ao ano desde 2001. Por isso, este governo lançou um programa de expansão da oferta de gás natural que começará a dar frutos a partir deste ano.
Já em fevereiro, será inaugurado o gasoduto Cabiúnas-Vitória, que, ao transportar até 5,5 milhões de m2/dia, permitirá aumentar a capacidade de geração de eletricidade em 1.000 MW. E, graças aos investimentos nas bacias do Espírito Santo, de Campos e de Santos, a oferta de gás no Sudeste passará de 16 milhões para 40 milhões de m2/dia ainda em 2008. Além disso, estão sendo construídas duas estações de processamento de gás natural liquefeito: uma em Pecém, no Ceará, e outra na baía de Guanabara, no Rio. A primeira delas será inaugurada em julho, e a segunda, no fim deste ano. Até 2010, só na região Sudeste, a oferta de gás nacional será multiplicada por quatro!"
Para melhor esclarecimento desse assunto, é oportuno lermos alguns trechos do artigo de Maurício Tolmasquim, doutor em socioeconomia do desenvolvimento e presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética). Foi publicado na Folha de São Paulo de hoje:
“O atual cenário indica uma crise no setor energético? NÃO
Há margem de manobra
É inegável que o Brasil tem vivido um atraso no seu período chuvoso com impacto sobre o nível dos reservatórios do Sistema Interligado Nacional.
Apesar disso, a situação atual é muito diferente daquela de 2001, quando houve restrição compulsória ao consumo de energia. Assentadas nos alicerces do novo modelo, as margens de manobra criadas pelo lado da oferta permitem afirmar que não haverá racionamento no país.
Em 2001, a energia que sobrava no Sul não podia ser transferida para o Sudeste, por insuficiência de transmissão. Desde 2003, foram agregados à rede de alta tensão 14.700 km de novas linhas, o que representou, na prática, a duplicação da capacidade de intercâmbio energético entre essas regiões e um aumento de 2,5 vezes da capacidade de transferência de energia para o Nordeste.
Isso possibilita aproveitar melhor a diversidade entre as regiões e diminuir a vulnerabilidade do sistema em situações de escassez de chuvas.
Não é só pelo lado da transmissão que o sistema está mais bem preparado para enfrentar problemas decorrentes das dificuldades climáticas. Houve também aumento da capacidade de geração, sobretudo a partir de 2003. Os números: houve uma expansão de 16.400 MW na potência instalada, com aumento significativo da participação de termelétricas, de 11% para 20% da capacidade total.
A importância desse crescimento está no fato de que as térmicas são acionadas sempre que é preciso poupar a água dos reservatórios, como agora.
Mas há uma preocupação no ar: há gás suficiente para as termelétricas? A demanda potencial por gás é, de fato, superior à capacidade de oferta, fruto de um crescimento vertiginoso da demanda de gás, a taxas de 17% ao ano desde 2001. Por isso, este governo lançou um programa de expansão da oferta de gás natural que começará a dar frutos a partir deste ano.
Já em fevereiro, será inaugurado o gasoduto Cabiúnas-Vitória, que, ao transportar até 5,5 milhões de m2/dia, permitirá aumentar a capacidade de geração de eletricidade em 1.000 MW. E, graças aos investimentos nas bacias do Espírito Santo, de Campos e de Santos, a oferta de gás no Sudeste passará de 16 milhões para 40 milhões de m2/dia ainda em 2008. Além disso, estão sendo construídas duas estações de processamento de gás natural liquefeito: uma em Pecém, no Ceará, e outra na baía de Guanabara, no Rio. A primeira delas será inaugurada em julho, e a segunda, no fim deste ano. Até 2010, só na região Sudeste, a oferta de gás nacional será multiplicada por quatro!"
sábado, 26 de janeiro de 2008
A TRANSFERÊNCIA PARA ESTRANGEIROS DA PROPRIEDADE DE EMPRESAS ESTRATÉGICAS
O câncer de entregar (para estados ou empresas estrangeiras) as empresas brasileiras estratégicas não foi extirpado.
Essa doença foi dolosamente inoculada no Brasil e em outros países especialmente na década de 90, disfarçada com eufemismos: "modernidade", nova ordem mundial", "globalização", “Consenso de Washington” etc.
Diziam que "deveríamos deixar de se proteger, de querer se industrializar e de se desenvolver tecnologicamente. Deveríamos passar a lutar no mercado liberalizado em igualdade de condições com as potências econômicas mundiais. Porque assim encontraríamos os nichos de oportunidade e o progresso que nos fosse possível na nova ordem internacional. A mágica do mercado solucionaria tudo sozinha, sem intervenção dos Estados". Haveria aqui, em conseqüência, segundo eles, "o violento e benéfico choque de competição com produtos importados dos países já desenvolvidos, mais competitivos". Omitiam que aqueles países hoje são desenvolvidos e ricos porque melhor protegeram suas indústrias e produtos; e ainda os amparam fortemente. Neles, dizem o contrário, mas o Estado é forte e intervencionista.
A "modernidade" nos foi imposta, como aconteceu nos diversos acordos com o FMI.
Os poucos países que não obedeceram plenamente aquelas diretrizes tornaram-se os bem-sucedidos, especialmente a China, Índia, Coréia do Sul.
Por absurdo, os mesmos brasileiros que contribuíram na década de 90 para o nosso distanciamento dessas novas potências emergentes, são os mesmos que hoje debocham e cobram do governo atual não termos os mesmos sucessos da China...
O pior é que, apesar da quase falência que causou em muitos países (como Argentina e Brasil), a moléstia ainda persiste no Brasil, nas mentes e corações de muitos brasileiros, especialmente nos que se intitulam "elite conservadora" e na grande mídia que a apóia radicalmente.
Em resumo, no nosso caso, qual a maldade por trás daquelas imposições dos EUA, FMI, G-7?
Ela nunca era explicitada. Contudo, era evidente que, entre os principais motivos, estava o seguinte: não queriam no Brasil o Estado empresário, ou forte e regulador.
Por quê? Porque o Estado forte é o único com alguma dimensão econômica para fazer empresas brasileiras ao menos competirem internamente com as grandes empresas dos EUA e do Primeiro Mundo no mercado nacional e em setores estratégicos ou altamente lucrativos.
Assim, na década de 90 veio a ocorrer no Brasil o ápice da doença. A prioridade era vender, desestatizar e desnacionalizar prioritariamente as empresas estrategicamente mais importantes para o desenvolvimento nacional e as mais lucrativas, especialmente as que vendem em moeda forte (ex.: EMBRAER, Vale do Rio Doce, EMBRATEL).
A muito estimulada e arrojada desnacionalização do parque industrial brasileiro e do setor público de serviços foi financiada com dinheiro nacional, em sua maior parte. Foram utilizados recursos públicos como os do BNDES, a serem pagos com juros baixos, suavemente, com fracas ou inócuas exigências de garantias.
O pior de tudo até hoje é omitido. Muitas empresas não foram "privatizadas" como dizem. Elas foram REESTATIZADAS para empresas estatais estrangeiras! Os brasileiros não sabem, mas a EMBRAER, por exemplo, no governo FHC praticamente passou para o controle do Estado Francês. Hoje, a sua propriedade, a maior parte das suas ações ordinárias, está em mãos estrangeiras!
Felizmente, muitos brasileiros já acordaram para o problema e percebem as maldades em negócios que nos arrastam para o terceiro mundo e somente beneficiam os países ricos, as grandes potências. Não caem mais tão docilmente na armadilha eufemística de "Estado Mínimo" e em outras balelas.
Nesse cenário aqui relembrado, se insere a notícia abaixo transcrita. Ela foi obtida no jornal Folha de São Paulo de hoje. Devemos lê-la lembrando das capciosas entrelinhas sempre presentes nessas "parcerias estratégicas", nas polêmicas de intervenções ou não do Estado:
"Governo teme "efeito AmBev" na Vale
Planalto receia que compra da Xstrata pela empresa brasileira possa transferir decisões da mineradora para o exterior
Governo faz restrições ao negócio avaliado em US$ 90 bi e pode usar BNDES e fundos de pensão de estatais para tentar barrá-lo
KENNEDY ALENCAR, DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As restrições do governo à possibilidade de a Vale comprar a mineradora anglo-suíça Xstrata se devem ao temor da repetição do "efeito AmBev", segundo disse ontem à Folha um auxiliar direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por "efeito AmBev", leia-se: o negócio Vale-Xstrata poderia ser o primeiro passo para que o centro de decisão da companhia se transfira do Brasil para o exterior, o que aconteceu com a cervejaria.
Criada em 1999, a AmBev foi resultado da fusão da Antarctica com a Brahma. Na época, a Kaiser e os defensores do negócio travaram dura disputa comercial. O governo brasileiro, comandado então pelo tucano Fernando Henrique Cardoso, viabilizou a operação por meio de autorização do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão do Ministério da Justiça.Um dos argumentos favoráveis à fusão era o de criação de uma grande empresa nacional que pudesse atuar globalmente.
Em 2004, a AmBev se fundiu com a Interbrew, um grupo belga. Na avaliação do governo atual, petista e adversário do tucano FHC, o resultado é hoje desfavorável ao consumidor. A AmBev tem 70% do mercado nacional de cerveja, não enfrenta forte concorrência e seu centro de decisão não é mais nacional.
O receio de que a eventual compra da Xstrata dê à Vale o mesmo destino é um dos principais motivos para Lula e a cúpula do governo resistirem ao negócio entre as grandes mineradoras. Lula tem se queixado publicamente de que a Vale, o maior grupo privado do país, investe pouco no país. Um auxiliar do presidente disse que ele pode ser convencido de que o negócio traria benefícios.
Anteontem, Lula jantou com o presidente da Vale, Roger Agnelli, no Rio.
A Vale já confirmou interesse na compra da Xstrata e o início de tratativas nesse sentido, sob o argumento de que seria melhor para sobrevivência global da empresa. O valor do negócio seria de US$ 90 bilhões -US$ 30 bilhões dos quais seriam quitados com a oferta de ações preferenciais da Vale. No mercado, estima-se o valor da companhia brasileira em US$ 120 bilhões.
Na opinião de integrantes da cúpula do governo, o negócio poderia transferir para propriedade estrangeira grande parte de uma empresa nacional que o governo julga estratégica para o desenvolvimento. A Vale foi privatizada em 1997.
O Palácio do Planalto poderia tentar inviabilizar a compra da Xstrata por meio do BNDESPar, subsidiária do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que tem participações em empresas, e pela Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil). BNDESPar e Previ têm participação na Vale e representantes no Conselho de Administração.
Integrantes do governo brasileiro afirmam que a operação Vale-Xstrata é diferente da fusão entre Brasil Telecom e a Oi (antiga Telemar) -este negócio conta com simpatia do governo e depende de aval político e econômico do Planalto. Motivo: o governo sustenta que a operação BrT-Oi seria benéfica ao consumidor, porque criaria uma empresa mais apta a competir com a Embratel e a Telefônica no mercado nacional. O controle da empresa também ficaria em mãos nacionais. O governo avalia ainda que as duas empresas são complementares, pois atuam em regiões diferentes do país. Acredita que, juntas, terão capacidade de competir com a mexicana Embratel e a espanhola Telefônica na área de transmissão de dados, por exemplo.
Para dar aval ao negócio, Lula insistiu em criar um mecanismo que permita aos fundos de pensão de empresas públicas e ao BNDES ter poder de decisão no processo de governança da nova empresa. O Planalto disse ter convencido o presidente da Previ, Sérgio Rosa, a apoiar a negociação. A Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, tem participação relevante na Oi e na BrT."
Essa doença foi dolosamente inoculada no Brasil e em outros países especialmente na década de 90, disfarçada com eufemismos: "modernidade", nova ordem mundial", "globalização", “Consenso de Washington” etc.
Diziam que "deveríamos deixar de se proteger, de querer se industrializar e de se desenvolver tecnologicamente. Deveríamos passar a lutar no mercado liberalizado em igualdade de condições com as potências econômicas mundiais. Porque assim encontraríamos os nichos de oportunidade e o progresso que nos fosse possível na nova ordem internacional. A mágica do mercado solucionaria tudo sozinha, sem intervenção dos Estados". Haveria aqui, em conseqüência, segundo eles, "o violento e benéfico choque de competição com produtos importados dos países já desenvolvidos, mais competitivos". Omitiam que aqueles países hoje são desenvolvidos e ricos porque melhor protegeram suas indústrias e produtos; e ainda os amparam fortemente. Neles, dizem o contrário, mas o Estado é forte e intervencionista.
A "modernidade" nos foi imposta, como aconteceu nos diversos acordos com o FMI.
Os poucos países que não obedeceram plenamente aquelas diretrizes tornaram-se os bem-sucedidos, especialmente a China, Índia, Coréia do Sul.
Por absurdo, os mesmos brasileiros que contribuíram na década de 90 para o nosso distanciamento dessas novas potências emergentes, são os mesmos que hoje debocham e cobram do governo atual não termos os mesmos sucessos da China...
O pior é que, apesar da quase falência que causou em muitos países (como Argentina e Brasil), a moléstia ainda persiste no Brasil, nas mentes e corações de muitos brasileiros, especialmente nos que se intitulam "elite conservadora" e na grande mídia que a apóia radicalmente.
Em resumo, no nosso caso, qual a maldade por trás daquelas imposições dos EUA, FMI, G-7?
Ela nunca era explicitada. Contudo, era evidente que, entre os principais motivos, estava o seguinte: não queriam no Brasil o Estado empresário, ou forte e regulador.
Por quê? Porque o Estado forte é o único com alguma dimensão econômica para fazer empresas brasileiras ao menos competirem internamente com as grandes empresas dos EUA e do Primeiro Mundo no mercado nacional e em setores estratégicos ou altamente lucrativos.
Assim, na década de 90 veio a ocorrer no Brasil o ápice da doença. A prioridade era vender, desestatizar e desnacionalizar prioritariamente as empresas estrategicamente mais importantes para o desenvolvimento nacional e as mais lucrativas, especialmente as que vendem em moeda forte (ex.: EMBRAER, Vale do Rio Doce, EMBRATEL).
A muito estimulada e arrojada desnacionalização do parque industrial brasileiro e do setor público de serviços foi financiada com dinheiro nacional, em sua maior parte. Foram utilizados recursos públicos como os do BNDES, a serem pagos com juros baixos, suavemente, com fracas ou inócuas exigências de garantias.
O pior de tudo até hoje é omitido. Muitas empresas não foram "privatizadas" como dizem. Elas foram REESTATIZADAS para empresas estatais estrangeiras! Os brasileiros não sabem, mas a EMBRAER, por exemplo, no governo FHC praticamente passou para o controle do Estado Francês. Hoje, a sua propriedade, a maior parte das suas ações ordinárias, está em mãos estrangeiras!
Felizmente, muitos brasileiros já acordaram para o problema e percebem as maldades em negócios que nos arrastam para o terceiro mundo e somente beneficiam os países ricos, as grandes potências. Não caem mais tão docilmente na armadilha eufemística de "Estado Mínimo" e em outras balelas.
Nesse cenário aqui relembrado, se insere a notícia abaixo transcrita. Ela foi obtida no jornal Folha de São Paulo de hoje. Devemos lê-la lembrando das capciosas entrelinhas sempre presentes nessas "parcerias estratégicas", nas polêmicas de intervenções ou não do Estado:
"Governo teme "efeito AmBev" na Vale
Planalto receia que compra da Xstrata pela empresa brasileira possa transferir decisões da mineradora para o exterior
Governo faz restrições ao negócio avaliado em US$ 90 bi e pode usar BNDES e fundos de pensão de estatais para tentar barrá-lo
KENNEDY ALENCAR, DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As restrições do governo à possibilidade de a Vale comprar a mineradora anglo-suíça Xstrata se devem ao temor da repetição do "efeito AmBev", segundo disse ontem à Folha um auxiliar direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por "efeito AmBev", leia-se: o negócio Vale-Xstrata poderia ser o primeiro passo para que o centro de decisão da companhia se transfira do Brasil para o exterior, o que aconteceu com a cervejaria.
Criada em 1999, a AmBev foi resultado da fusão da Antarctica com a Brahma. Na época, a Kaiser e os defensores do negócio travaram dura disputa comercial. O governo brasileiro, comandado então pelo tucano Fernando Henrique Cardoso, viabilizou a operação por meio de autorização do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão do Ministério da Justiça.Um dos argumentos favoráveis à fusão era o de criação de uma grande empresa nacional que pudesse atuar globalmente.
Em 2004, a AmBev se fundiu com a Interbrew, um grupo belga. Na avaliação do governo atual, petista e adversário do tucano FHC, o resultado é hoje desfavorável ao consumidor. A AmBev tem 70% do mercado nacional de cerveja, não enfrenta forte concorrência e seu centro de decisão não é mais nacional.
O receio de que a eventual compra da Xstrata dê à Vale o mesmo destino é um dos principais motivos para Lula e a cúpula do governo resistirem ao negócio entre as grandes mineradoras. Lula tem se queixado publicamente de que a Vale, o maior grupo privado do país, investe pouco no país. Um auxiliar do presidente disse que ele pode ser convencido de que o negócio traria benefícios.
Anteontem, Lula jantou com o presidente da Vale, Roger Agnelli, no Rio.
A Vale já confirmou interesse na compra da Xstrata e o início de tratativas nesse sentido, sob o argumento de que seria melhor para sobrevivência global da empresa. O valor do negócio seria de US$ 90 bilhões -US$ 30 bilhões dos quais seriam quitados com a oferta de ações preferenciais da Vale. No mercado, estima-se o valor da companhia brasileira em US$ 120 bilhões.
Na opinião de integrantes da cúpula do governo, o negócio poderia transferir para propriedade estrangeira grande parte de uma empresa nacional que o governo julga estratégica para o desenvolvimento. A Vale foi privatizada em 1997.
O Palácio do Planalto poderia tentar inviabilizar a compra da Xstrata por meio do BNDESPar, subsidiária do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que tem participações em empresas, e pela Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil). BNDESPar e Previ têm participação na Vale e representantes no Conselho de Administração.
Integrantes do governo brasileiro afirmam que a operação Vale-Xstrata é diferente da fusão entre Brasil Telecom e a Oi (antiga Telemar) -este negócio conta com simpatia do governo e depende de aval político e econômico do Planalto. Motivo: o governo sustenta que a operação BrT-Oi seria benéfica ao consumidor, porque criaria uma empresa mais apta a competir com a Embratel e a Telefônica no mercado nacional. O controle da empresa também ficaria em mãos nacionais. O governo avalia ainda que as duas empresas são complementares, pois atuam em regiões diferentes do país. Acredita que, juntas, terão capacidade de competir com a mexicana Embratel e a espanhola Telefônica na área de transmissão de dados, por exemplo.
Para dar aval ao negócio, Lula insistiu em criar um mecanismo que permita aos fundos de pensão de empresas públicas e ao BNDES ter poder de decisão no processo de governança da nova empresa. O Planalto disse ter convencido o presidente da Previ, Sérgio Rosa, a apoiar a negociação. A Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, tem participação relevante na Oi e na BrT."
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
PSDB E TSE: INTERESSE ELEITORAL QUER DERRUBAR PAC DA SEGURANÇA!
PSDB protocola ação no STF contra criação de 650 mil bolsas do Pronasci
Surpreendente notícia foi divulgada hoje pela Folha Online, da Folha de S.Paulo.
Será então verdadeira a afirmação de que, para o PSDB/DEM/PPS, a estratégia eleitoral é "quanto pior melhor"?
O argumento dos partidos da oposição e do Presidente do TSE para impedir em todo o país qualquer nova medida de melhoria para o povo, no caso a melhoria da segurança, é que neste ano haverá eleições municipais...
Analisemos o texto da Folha para tentar identificar se o PSDB e o Ministro Marco Aurélio Mello, do TSE, estão agindo visando prioritáriamente o bem para a população:
"O PSDB protocolou na tarde desta sexta-feira no STF (Supremo Tribunal Federal) uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra a MP (medida provisória) que cria cerca de 650 mil bolsas do Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), o "PAC da Segurança".
Na ação, o PSDB pede que sejam suspensos os artigos da MP que alteram a lei que instituiu o Pronasci para criar as bolsas até o julgamento definitivo da ação.
A medida provisória concede auxílios de R$ 100 a R$ 400. As bolsas vão beneficiar policiais, jovens que vivem nas ruas, mulheres que exerçam liderança em áreas violentas e reservistas.
O programa de distribuição de bolsas foi criticado pelo presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Marco Aurélio Mello, e pela oposição. Isso porque a lei 11.300, de 2006, que passou a vigorar em 1º de janeiro, veda a distribuição gratuita de "bens, valores ou benefícios" pela administração pública em ano eleitoral. A exceção é para os casos de calamidade pública, estado de emergência e "programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior".
Lula editou uma MP ampliando o Bolsa Família nos últimos dias de 2007 para evitar problemas com a legislação eleitoral. O ministro da Justiça, Tarso Genro, defendeu a expansão do Pronasci, que, diz ele, conta com propostas da oposição.
A MP que amplia o Pronasci foi retirada do Congresso em 2007 para não atrasar a votação da emenda sobre a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). O Pronasci atende as 11 regiões metropolitanas mais violentas, beneficiando direta e indiretamente cerca de 3,5 milhões de pessoas.
Surpreendente notícia foi divulgada hoje pela Folha Online, da Folha de S.Paulo.
Será então verdadeira a afirmação de que, para o PSDB/DEM/PPS, a estratégia eleitoral é "quanto pior melhor"?
O argumento dos partidos da oposição e do Presidente do TSE para impedir em todo o país qualquer nova medida de melhoria para o povo, no caso a melhoria da segurança, é que neste ano haverá eleições municipais...
Analisemos o texto da Folha para tentar identificar se o PSDB e o Ministro Marco Aurélio Mello, do TSE, estão agindo visando prioritáriamente o bem para a população:
"O PSDB protocolou na tarde desta sexta-feira no STF (Supremo Tribunal Federal) uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra a MP (medida provisória) que cria cerca de 650 mil bolsas do Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), o "PAC da Segurança".
Na ação, o PSDB pede que sejam suspensos os artigos da MP que alteram a lei que instituiu o Pronasci para criar as bolsas até o julgamento definitivo da ação.
A medida provisória concede auxílios de R$ 100 a R$ 400. As bolsas vão beneficiar policiais, jovens que vivem nas ruas, mulheres que exerçam liderança em áreas violentas e reservistas.
O programa de distribuição de bolsas foi criticado pelo presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Marco Aurélio Mello, e pela oposição. Isso porque a lei 11.300, de 2006, que passou a vigorar em 1º de janeiro, veda a distribuição gratuita de "bens, valores ou benefícios" pela administração pública em ano eleitoral. A exceção é para os casos de calamidade pública, estado de emergência e "programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior".
Lula editou uma MP ampliando o Bolsa Família nos últimos dias de 2007 para evitar problemas com a legislação eleitoral. O ministro da Justiça, Tarso Genro, defendeu a expansão do Pronasci, que, diz ele, conta com propostas da oposição.
A MP que amplia o Pronasci foi retirada do Congresso em 2007 para não atrasar a votação da emenda sobre a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). O Pronasci atende as 11 regiões metropolitanas mais violentas, beneficiando direta e indiretamente cerca de 3,5 milhões de pessoas.
SONEGADORES ALCANÇAM MAIS UMA VITÓRIA
Este blog já comentou mais de uma vez que o fim da CPMF, inegável e explicitamente, beneficiou em muito maior escala aqueles que mais movimentam dinheiro: empresários, instituições financeiras, bancos, narcotraficantes, sonegadores, corruptos, os quais exercem forte pressão sobre a mídia e os três Poderes, especialmente sobre o Congresso Nacional.
Sobre esses dois últimos grupos citados, alto representante da Receita Federal já havia comentado que cerca de 60 dos 100 maiores movimentadores de dinheiro no Brasil somente foram descobertos e taxados graças à CPMF, pois eles se declaravam isentos...
Para enfrentar essa vitória dos sonegadores, a Receita Federal adotou, posteriormente, medida alternativa que permitiria conhecer movimentações bancárias acima de um determinado valor. Os defensores dos grupos beneficiados com o fim da CPMF, no entanto, já se mobilizam nos mais altos níveis, como na OAB e no Supremo Tribunal Federal.
Hoje, na "Folha On Line", lí a seguinte notícia preocupante:
OAB recorre ao STF para derrubar decreto que quebra de sigilo bancário
"LÍSIA GUSMÃO - Colaboração para a Folha Online, em Brasília
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) protocolou nesta sexta-feira no STF (Supremo Tribunal Federal) uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra o repasse dos dados bancários dos contribuintes à Receita Federal. O novo instrumento de fiscalização foi adotado pela Receita Federal após a extinção da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).
Na ação, a OAB pede a inconstitucionalidade do artigo 5º da lei que originou o decreto editado pelo governo para manter a fiscalização e flagrar eventuais sonegadores. A OAB avalia que, se for derrubado o artigo, o decreto também será anulado.
Os bancos passaram a ser obrigados a repassar à Receita os dados de todas as pessoas físicas que movimentam mais de R$ 5.000 por semestre em conta corrente ou poupança. As empresas que movimentarem mais de R$ 10 mil a cada seis meses também estão na mira da Receita.
Segundo o presidente da OAB, Cezar Britto, a quebra de sigilo --bancário, fiscal ou telefônico-- depende de decisão judicial. Além disso, acrescentou, o repasse de informações sobre as operações financeiras "atinge a intimidade e a vida privada" dos contribuintes.
"Ninguém se sente bem na condição de investigado, sem motivação e por tempo indeterminado", disse o advogado Rocha Barros Júnior, que protocolou a ação no STF.
O advogado-geral da União, José Antonio Dias Toffoli, defendeu a medida adotada pelo governo para fiscalizar os contribuintes. Segundo ele, trata-se de "transferência" e não quebra de sigilo bancário.
A AGU está preparando um parecer para regulamentar a troca de informações sigilosas entre órgãos do governo, como Banco Central, Controladoria Geral da União, Tribunal de Contas da União e Receita Federal. "
Sobre esses dois últimos grupos citados, alto representante da Receita Federal já havia comentado que cerca de 60 dos 100 maiores movimentadores de dinheiro no Brasil somente foram descobertos e taxados graças à CPMF, pois eles se declaravam isentos...
Para enfrentar essa vitória dos sonegadores, a Receita Federal adotou, posteriormente, medida alternativa que permitiria conhecer movimentações bancárias acima de um determinado valor. Os defensores dos grupos beneficiados com o fim da CPMF, no entanto, já se mobilizam nos mais altos níveis, como na OAB e no Supremo Tribunal Federal.
Hoje, na "Folha On Line", lí a seguinte notícia preocupante:
OAB recorre ao STF para derrubar decreto que quebra de sigilo bancário
"LÍSIA GUSMÃO - Colaboração para a Folha Online, em Brasília
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) protocolou nesta sexta-feira no STF (Supremo Tribunal Federal) uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra o repasse dos dados bancários dos contribuintes à Receita Federal. O novo instrumento de fiscalização foi adotado pela Receita Federal após a extinção da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).
Na ação, a OAB pede a inconstitucionalidade do artigo 5º da lei que originou o decreto editado pelo governo para manter a fiscalização e flagrar eventuais sonegadores. A OAB avalia que, se for derrubado o artigo, o decreto também será anulado.
Os bancos passaram a ser obrigados a repassar à Receita os dados de todas as pessoas físicas que movimentam mais de R$ 5.000 por semestre em conta corrente ou poupança. As empresas que movimentarem mais de R$ 10 mil a cada seis meses também estão na mira da Receita.
Segundo o presidente da OAB, Cezar Britto, a quebra de sigilo --bancário, fiscal ou telefônico-- depende de decisão judicial. Além disso, acrescentou, o repasse de informações sobre as operações financeiras "atinge a intimidade e a vida privada" dos contribuintes.
"Ninguém se sente bem na condição de investigado, sem motivação e por tempo indeterminado", disse o advogado Rocha Barros Júnior, que protocolou a ação no STF.
O advogado-geral da União, José Antonio Dias Toffoli, defendeu a medida adotada pelo governo para fiscalizar os contribuintes. Segundo ele, trata-se de "transferência" e não quebra de sigilo bancário.
A AGU está preparando um parecer para regulamentar a troca de informações sigilosas entre órgãos do governo, como Banco Central, Controladoria Geral da União, Tribunal de Contas da União e Receita Federal. "
DAVOS: PRESIDENTE DO AFGANISTÃO COMPARA LULA A NEHRU
Lula, diz o líder afegão, "tem uma visão, não apenas para o Brasil, mas para o mundo"
O jornal Folha de São Paulo de hoje, no artigo de Clovis Rossi, expõe o elevado conceito do Presidente Lula no meio internacional, segundo a visão do Presidente do Afganistão, HamiKarsai.
Lula, Karzai, Nehru
"DAVOS - Hamid Karzai preside um país, o Afeganistão, que é uma permanente usina de notícias ruins, muito ruins. Por isso Karzai surpreende imensamente pela tranqüilidade e auto-confiança que exibe, tema de reportagem que o leitor encontrará algumas páginas adiante. Até brinquei com ele, dizendo que, para o presidente de um país ensangüentado há anos por guerras, terrorismo, pobreza etc., "o senhor parece um monge budista". Resposta, talvez desconfiada: "O budismo é uma bela religião".
Karzai depois se descontrai. Comenta que ficou sabendo em Davos que o Brasil fabrica aviões, bons aviões. "Mas são muito caros para um país pobre como o Afeganistão", emenda. Brinco que vou sugerir ao presidente Lula que doe um avião ao Afeganistão.
É o gancho para Karzai fazer ao presidente brasileiro um elogio que nunca ninguém neste mundo alguém lhe fez: "Lula lembra muito antigos políticos indianos". "Ghandi?", pergunto. "Nehru", responde Karzai (Jawaharlal Nehru, pai da independência da Índia). Lula, prossegue o líder afegão, "tem uma visão, não apenas para o Brasil, mas para o mundo", impressão que Karzai adquiriu de cinco ou seis encontros com o presidente brasileiro nas Nações Unidas.
Quando comecei a trabalhar em jornalismo, já faz 45 anos, Afeganistão era apenas verbete de aula de geografia: Afeganistão, capital Cabul. A globalização aproximou-o até do remoto Brasil.
E, definitivamente, Davos torna o mundo ainda menor.
PS - A pedido de um punhado de leitores, perguntei a Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA, se ele repetiria para o dólar enfraquecido a piada que fez em 1999 sobre o real ("uma moeda virtual", não real). Resposta: "Talvez. Certamente é uma moeda menos forte". "
O jornal Folha de São Paulo de hoje, no artigo de Clovis Rossi, expõe o elevado conceito do Presidente Lula no meio internacional, segundo a visão do Presidente do Afganistão, HamiKarsai.
Lula, Karzai, Nehru
"DAVOS - Hamid Karzai preside um país, o Afeganistão, que é uma permanente usina de notícias ruins, muito ruins. Por isso Karzai surpreende imensamente pela tranqüilidade e auto-confiança que exibe, tema de reportagem que o leitor encontrará algumas páginas adiante. Até brinquei com ele, dizendo que, para o presidente de um país ensangüentado há anos por guerras, terrorismo, pobreza etc., "o senhor parece um monge budista". Resposta, talvez desconfiada: "O budismo é uma bela religião".
Karzai depois se descontrai. Comenta que ficou sabendo em Davos que o Brasil fabrica aviões, bons aviões. "Mas são muito caros para um país pobre como o Afeganistão", emenda. Brinco que vou sugerir ao presidente Lula que doe um avião ao Afeganistão.
É o gancho para Karzai fazer ao presidente brasileiro um elogio que nunca ninguém neste mundo alguém lhe fez: "Lula lembra muito antigos políticos indianos". "Ghandi?", pergunto. "Nehru", responde Karzai (Jawaharlal Nehru, pai da independência da Índia). Lula, prossegue o líder afegão, "tem uma visão, não apenas para o Brasil, mas para o mundo", impressão que Karzai adquiriu de cinco ou seis encontros com o presidente brasileiro nas Nações Unidas.
Quando comecei a trabalhar em jornalismo, já faz 45 anos, Afeganistão era apenas verbete de aula de geografia: Afeganistão, capital Cabul. A globalização aproximou-o até do remoto Brasil.
E, definitivamente, Davos torna o mundo ainda menor.
PS - A pedido de um punhado de leitores, perguntei a Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA, se ele repetiria para o dólar enfraquecido a piada que fez em 1999 sobre o real ("uma moeda virtual", não real). Resposta: "Talvez. Certamente é uma moeda menos forte". "
NOTÍCIA BOA SOBRE O BRASIL NA NOSSA IMPRENSA!
O resultado da pesquisa do IBGE sobre a taxa de desemprego foi publicado hoje em vários meios de comunicação. Ele traz muitas notícias boas para o Brasil. Publicar a pesquisa já não mais é notícia nova.
O que realmente é novidade é o fato de ter ocorrido a sua ampla publicação. A grande imprensa também o divulgou e com poucas conjunções coordenativas adversativas (mas, porém, todavia,...)!
O jornal Folha de São Paulo de hoje, por exemplo, escreveu (extraído da sinopse da Radiobrás, com grifos nossos):
“A taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do país fechou 2007 em 9,3%, mais baixo patamar da nova pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cujo primeiro ano completo é 2003 (12,3%).
Em 2006, havia sido de 10%. Em dezembro, a taxa chegou à menor marca mensal de toda a série histórica do IBGE, iniciada em março de 2002: 7,4%. Em novembro, havia sido de 8,2%, o recorde anterior.
Para Cimar Azeredo Pereira, do IBGE, o cenário de aquecimento da economia -proporcionado especialmente por juros menores, crédito em expansão e crescimento da renda- permitiu "ao mercado de trabalho encerrar 2007 com resultados muito positivos".
No ano passado, o número de pessoas ocupadas cresceu 3% e atingiu 20,9 milhões nas seis regiões -São Paulo, Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Recife.
Já o total de desempregados caiu 4,8%, para 2,1 milhões de pessoas.
Ainda no rol das boas notícias, Cimar destacou o aumento da formalização do mercado de trabalho e o crescimento da renda -3,2% em 2007."
O que realmente é novidade é o fato de ter ocorrido a sua ampla publicação. A grande imprensa também o divulgou e com poucas conjunções coordenativas adversativas (mas, porém, todavia,...)!
O jornal Folha de São Paulo de hoje, por exemplo, escreveu (extraído da sinopse da Radiobrás, com grifos nossos):
“A taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do país fechou 2007 em 9,3%, mais baixo patamar da nova pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cujo primeiro ano completo é 2003 (12,3%).
Em 2006, havia sido de 10%. Em dezembro, a taxa chegou à menor marca mensal de toda a série histórica do IBGE, iniciada em março de 2002: 7,4%. Em novembro, havia sido de 8,2%, o recorde anterior.
Para Cimar Azeredo Pereira, do IBGE, o cenário de aquecimento da economia -proporcionado especialmente por juros menores, crédito em expansão e crescimento da renda- permitiu "ao mercado de trabalho encerrar 2007 com resultados muito positivos".
No ano passado, o número de pessoas ocupadas cresceu 3% e atingiu 20,9 milhões nas seis regiões -São Paulo, Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Recife.
Já o total de desempregados caiu 4,8%, para 2,1 milhões de pessoas.
Ainda no rol das boas notícias, Cimar destacou o aumento da formalização do mercado de trabalho e o crescimento da renda -3,2% em 2007."
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
HÁ CENSURA NA NOSSA IMPRENSA?
Há censura por parte da grande mídia brasileira para determinados assuntos ou posicionamentos?
O tema tornou-se atual com a censura prévia, por decisão judicial, que entrou em vigor recentemente contra aparições do governador do Paraná, Roberto Requião, na TV Educativa daquele estado.
Outro fato interessante de censura foi exposto hoje no “Blog do Mello”. Trata da omissão proposital da imprensa para os aspectos positivos do governo do Presidente da Bolívia, Evo Morales.
Transcrevo o texto do referido blog:
“Dois anos de governo Evo Morales. O que você nunca leu
Evo Morales assumiu o poder em 22 de janeiro de 2006 [Ok, isso você já leu...].
Gás boliviano, por ano: 2003: 451 milhões de dólares. 2004: 685 milhões. 2005: 987 milhões. Com Evo. 2006:1 bilhão e oitocentos milhões de dólares. 2007: 1 bilhão e 930 milhões de dólares.
Dívida externa: A dívida externa da Bolívia baixou de 4,9 bilhões de dólares para 2,1 bilhões, menos da metade.
O PIB per capita da Bolívia, em 2005, era de 876 dólares. Em 2006, passou a 1153 e em 2007, a 1308 dólares.
Superávit comercial. Em 2005, 605 milhões de dólares. Em 2006, mais que dobrou: 1,3 milhão de dólares. Em 2007, 1,4 milhão.
Terras. Em dois anos de governo, Evo Morales titulou mais de 10 milhões de hectares. Mais do que os 9,2 milhões titulados pelos governos neoliberais, no período de dez anos, entre 1996 e janeiro de 2006.
Em dois anos, diminuiu em mais de 60% o analfabetismo na Bolívia.
Em conjunto com um programa solidário de Cuba, denominado Operacion Milagro, devolveu a visão a 200 mil pessoas de baixa renda, com operações gratuitas.
Com os novos recursos dos impostos dos hidrocarbonetos, criou dois programas: um voltado para a infância e outro para os idosos.
O Juancito Pinto é um bônus, para manter a criança na escola. Beneficia mais de 1,4 milhão de crianças.
O Renda Dignidade garante aos idosos acima de 60 anos que não têm direito à aposentadoria cerca de 310 dólares por ano, enquanto os aposentados ganharão aproximadamente 235 dólares. Antes, somente os aposentados acima de 65 anos tinham direito a 235 dólares.
É contra esses chamados desvios populistas e assistencialistas - o Juancito Pinto e O renda Dignidade - que se bate a direita racista, preconceituosa e golpista.
Você, meu arguto leitor, minha sagaz leitora, havia tomado conhecimento de alguma dessas informações na nossa mídia democrática?Não quero perpetuar-me no poder, nem que meu passado se repita em milhões de pobres, em indígenas marginalizados. Queremos vencer esse passado colonial com a arma da justiça e da igualdade. [Evo Morales, em seus discurso de dois anos de governo]"
O tema tornou-se atual com a censura prévia, por decisão judicial, que entrou em vigor recentemente contra aparições do governador do Paraná, Roberto Requião, na TV Educativa daquele estado.
Outro fato interessante de censura foi exposto hoje no “Blog do Mello”. Trata da omissão proposital da imprensa para os aspectos positivos do governo do Presidente da Bolívia, Evo Morales.
Transcrevo o texto do referido blog:
“Dois anos de governo Evo Morales. O que você nunca leu
Evo Morales assumiu o poder em 22 de janeiro de 2006 [Ok, isso você já leu...].
Gás boliviano, por ano: 2003: 451 milhões de dólares. 2004: 685 milhões. 2005: 987 milhões. Com Evo. 2006:1 bilhão e oitocentos milhões de dólares. 2007: 1 bilhão e 930 milhões de dólares.
Dívida externa: A dívida externa da Bolívia baixou de 4,9 bilhões de dólares para 2,1 bilhões, menos da metade.
O PIB per capita da Bolívia, em 2005, era de 876 dólares. Em 2006, passou a 1153 e em 2007, a 1308 dólares.
Superávit comercial. Em 2005, 605 milhões de dólares. Em 2006, mais que dobrou: 1,3 milhão de dólares. Em 2007, 1,4 milhão.
Terras. Em dois anos de governo, Evo Morales titulou mais de 10 milhões de hectares. Mais do que os 9,2 milhões titulados pelos governos neoliberais, no período de dez anos, entre 1996 e janeiro de 2006.
Em dois anos, diminuiu em mais de 60% o analfabetismo na Bolívia.
Em conjunto com um programa solidário de Cuba, denominado Operacion Milagro, devolveu a visão a 200 mil pessoas de baixa renda, com operações gratuitas.
Com os novos recursos dos impostos dos hidrocarbonetos, criou dois programas: um voltado para a infância e outro para os idosos.
O Juancito Pinto é um bônus, para manter a criança na escola. Beneficia mais de 1,4 milhão de crianças.
O Renda Dignidade garante aos idosos acima de 60 anos que não têm direito à aposentadoria cerca de 310 dólares por ano, enquanto os aposentados ganharão aproximadamente 235 dólares. Antes, somente os aposentados acima de 65 anos tinham direito a 235 dólares.
É contra esses chamados desvios populistas e assistencialistas - o Juancito Pinto e O renda Dignidade - que se bate a direita racista, preconceituosa e golpista.
Você, meu arguto leitor, minha sagaz leitora, havia tomado conhecimento de alguma dessas informações na nossa mídia democrática?Não quero perpetuar-me no poder, nem que meu passado se repita em milhões de pobres, em indígenas marginalizados. Queremos vencer esse passado colonial com a arma da justiça e da igualdade. [Evo Morales, em seus discurso de dois anos de governo]"
EUA E O PETRÓLEO – VALE TUDO?
Este blog tratou ontem de declarações surpreendentes do ex-presidente da Itália Cossiga ao jornal italiano "Corriere della Sera". Ele denunciou que o atentado de 11 de setembro de 2001 em Nova York foi obra da CIA e do Mossad.
O jornal Folha de São Paulo (FSP) de hoje expõem a metódica falsificação de informações conduzida pelo governo dos EUA para justificar a Guerra do Iraque.
Antes de reproduzir o artigo de hoje da Folha, façamos uma retrospectiva das invasões norte-americanas naquele país.
A PRIMEIRA GUERRA DOS EUA CONTRA O IRAQUE EM 1991
O Iraque, na ocasião da primeira invasão, estava muito enfraquecido por longa guerra contra o Irã terminada pouco antes, em 1988.
Em 1991, sob o oportuno pretexto presenteado pelo Iraque ao invadir o Kwait, o Iraque foi maciçamente bombardeado pelos EUA, com o espetáculo transmitido em tempo real para todo o mundo (CNN, etc).
Vários países, Inglaterra, Itália e outros, aproveitaram para também bombardear o Iraque.
Foi ótimo para o ego dos norte-americanos. Em nível baixo após a derrota no Vietnan, o orgulho norte-americano subiu muito com aquela (por eles) julgada magnífica, rápida e estrondosa vitória militar sobre o Iraque.
Em termos puramente econômicos, aquela primeira invasão no início da década foi muito lucrativa para os EUA. Para eles, resultou, segundo divulgado pela imprensa norte-americana, um saldo positivo de mais de dez bilhões de dólares. Esse montante foi auferido após o balanço de despesas militares por um lado e, por outro, de contribuições financeiras recebidas de seus aliados (principalmente da Alemanha e Japão), somadas aos posteriores ganhos com exportações pelos EUA de armamentos lá empregados e que foram objeto de muita propaganda: "armas inteligentes", "com precisão cirúrgica", "provadas em combate" etc.
A SEGUNDA GUERRA DOS EUA CONTRA O IRAQUE EM 2003
Os EUA a Inglaterra e alguns poucos aliados atacaram de novo o Iraque em 2003.
A reedição da guerra de 1991 foi ainda mais violenta, efetuada dessa vez contrariando a maioria dos países do mundo, a ONU e todas as normas do Direito Internacional.
As estatísticas mais favoráveis aos norte-americanos e ingleses (a da Organização Mundial da Saúde) dizem que “somente” mataram, até agora, uns 151.000 civis iraqueanos.
O Primeiro-Ministro Blair, em Londres, o Presidente Bush e autoridades dos EUA comunicavam freqüentemente que aquela nova invasão era para levar a paz, a democracia e a liberdade para os países árabes; para tirar do Iraque um ditador mau, não-democrático, que anos antes havia matado separatistas curdos com armas químicas proibidas pelos EUA para os demais países; aquele ditador torturara iraqueanos na prisão de Abu Ghraib; que o Iraque poderia ter ligações com o terrorista Bin-Laden e poderia ser uma forte e imediata ameaça para toda a civilização ocidental, com o seu grande arsenal de bombas atômicas, químicas e biológicas, pronto para ser acionado e lançado por grandes mísseis em quarenta e cinco minutos.
Até as próprias tropas americanas (cada vez mais negras, latinas e pobres) e as de seus aliados eram enganadas em discursos presidenciais ufanistas, na festiva e patriótica hora dos embarques para o Iraque. Toda a imprensa dos EUA dava ampla e eufórica cobertura.
Diziam aos soldados que eles eram super-heróis, que estavam partindo para defender o bem contra o mal; estavam “salvando a civilização ocidental superior do islamismo bárbaro” (disse o Premier Silvio Berlusconi, da Itália); estavam salvando a democracia e a liberdade, lutando contra o terror. Que estavam tirando dos iraqueanos as suas armas de destruição em massa. Como até hoje não acharam as tais armas, passaram, então, a divulgar que o problema não era o Iraque ter (ou não) aquelas armas, mas a possibilidade de que o seu odioso tirano não-democrático pudesse vir a ter intenções malévolas de desenvolvê-las; somente isso já justificaria o ataque... Saddam Hussein foi enforcado.
Um intrigante aspecto. Foi publicado que as tropas invasoras também tinham, e têm, o objetivo de aumentar a proteção ao Estado de Israel. A guerra foi impulsionada pelo poderoso lobby judaico dos setores financeiro e industrial militar dos EUA e da Inglaterra. “Era óbvio que a guerra servia a interesses de Israel”, expressou o Brig. Gen. Shlomo Brom, ex-chefe de planejamento estratégico das Forças de Defesa israelenses (“Defense News”, Washington, 19/01/2004).
Hoje, o aspecto econômico, da invasão iniciada na noite de 19/03/2003, não está nada favorável para os EUA. Ao contrário. É uma tragédia econômica.
Porém, muitos nos EUA acham que valeu a pena.
O “Washington Post” afirmou, em 12/05/2004, que “a ocupação do Iraque criou muitos empregos nos EUA, foi responsável por 16 % do crescimento da economia norte-americana somente no 1o trimestre de 2004 e trouxe muitos votos decisivos para a reeleição do presidente Bush em regiões mais beneficiadas pela ‘guerra’, como Ohio”.
O DOD expôs ao Congresso que os custos norte-americanos com a guerra se pagariam com os recursos que tirariam do próprio petróleo iraqueano e sob o título de ajuda financeira para a reconstrução daquele país. Erraram fragorosamente.
A imprensa dos EUA, embriagada de tanto patriotismo no início dos ataques, externou que tudo valeria a pena, inclusive porque o petróleo voltaria a ser bombeado sob o controle de empresas norte-americanas.
Em 13/04/2004, o presidente Bush declarou: “The oil revenues are. Is pretty darn significant. They’re now up and running” (Financial Times, 14/04/2004). Foi emocionantemente aplaudido de pé.
Era difícil, e continua sendo, esconder os principais verdadeiros objetivos norte-americanos: a garantia para eles das reservas de petróleo e do seu barato suprimento por muitas décadas; a criação de um Estado visceralmente pró-americano no Golfo Pérsico; como também a expansão geopolítica e econômica dos EUA baseada na submissão dos outros países pelo medo de sua força e pela certeza da impossibilidade de confrontá-los militarmente.
Uma pequena parte da imprensa dos EUA dizia que a invasão também aconteceu porque estavam em jogo interesses particulares da família Bush, ligada a empresas petrolíferas do Texas e da Arábia Saudita.
No Brasil, nos grandes jornais era constante nos anos 90, e ainda se vê, a defesa apaixonada dos EUA. Por exemplo, o jornal Folha de S. Paulo (FSP) criticou a “capciosa campanha antiamericana na imprensa sobre supostas crueldades odiosas dos soldados norte-americanos contra prisioneiros iraqueanos. Os militares dos EUA despem, humilham e até dão alguns sopapos nos prisioneiros, isto é inevitável em toda guerra. Os iraqueanos os esfolam, queimam vivos ou os degolam. As críticas aos EUA são obra de espertalhões conscientes e de milhares de idiotas úteis que não têm idéia da origem remota das suas opiniões” (Olavo de Carvalho, FSP, 20/05/2004).
Esse assunto vem à baila hoje, 24/01/2008, com a publicação no jornal Folha de São Paulo do seguinte artigo, da Associated Press:
"Governo Bush fez 935 declarações falsas de 2001 a 2003, diz estudo
Com discurso sobre Iraque, presidente encabeça lista, compilada após o 11/9
Um estudo do Centro pela Integridade Pública e do Fundo pela Independência no Jornalismo, organizações sem fins lucrativos, constatou que o presidente George W. Bush e funcionários importantes de seu governo fizeram 935 declarações falsas sobre a ameaça que o Iraque representava à segurança dos EUA nos dois anos seguintes aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
O estudo, divulgado na noite de anteontem, conclui que as declarações eram "parte de uma campanha orquestrada que galvanizou a opinião pública e, no processo, levou o país à guerra sob pretextos incontestavelmente falsos".
Os pesquisadores descobriram que discursos, briefings, entrevistas e outras ocasiões serviram para que Bush e outros funcionários do governo declarassem inequivocamente em ao menos 532 ocasiões que o Iraque tinha armas de destruição em massa, estava tentando produzi-las ou obtê-las, ou que mantinha laços com a rede terrorista Al Qaeda.
"Tornou-se inquestionável, hoje, que o Iraque não possuía armas de destruição em massa nem tinha vínculos com a Al Qaeda", escrevem Charles Lewis e Mark Reading-Smith na sinopse do estudo.
"O governo Bush conduziu o país à guerra com base em informações errôneas que as autoridades propagaram metodicamente, em um processo que culminou com a ação militar contra o Iraque em 19 de março de 2003."
Além de Bush, o estudo cita o vice-presidente Dick Cheney, a então assessora de segurança nacional Condoleezza Rice, o secretário da Defesa Donald Rumsfeld, o secretário de Estado Colin Powell, o secretário-assistente da Defesa Paul Wolfowitz e os porta-vozes da Casa Branca Ari Fleischer e Scott McClellan -com exceção de Rice, que substituiu Powell, todos já deixaram o governo.
Bush está no topo da lista, com 259 falsas declarações, seguido por Powell. Os números advêm de um banco de dados que compilou declarações públicas nos dois anos após o 11 de Setembro, bem como relatórios do governo, livros, reportagens, discursos e entrevistas. "O efeito cumulativo dessas declarações falsas, amplificadas por milhares de reportagens em mídia impressa e eletrônica, foi imenso, e a cobertura de mídia criou um ruído quase impenetrável por diversos meses", diz o estudo. "Alguns jornalistas e organizações noticiosas admitiram que sua cobertura nos meses que precederam a guerra foi deferente e acrítica demais. Boa parte dessa cobertura abrangente sobre o tema ofereceu validação adicional, "independente", às falsas declarações do governo Bush. Tradução de Paulo Migliaci"
O jornal Folha de São Paulo (FSP) de hoje expõem a metódica falsificação de informações conduzida pelo governo dos EUA para justificar a Guerra do Iraque.
Antes de reproduzir o artigo de hoje da Folha, façamos uma retrospectiva das invasões norte-americanas naquele país.
A PRIMEIRA GUERRA DOS EUA CONTRA O IRAQUE EM 1991
O Iraque, na ocasião da primeira invasão, estava muito enfraquecido por longa guerra contra o Irã terminada pouco antes, em 1988.
Em 1991, sob o oportuno pretexto presenteado pelo Iraque ao invadir o Kwait, o Iraque foi maciçamente bombardeado pelos EUA, com o espetáculo transmitido em tempo real para todo o mundo (CNN, etc).
Vários países, Inglaterra, Itália e outros, aproveitaram para também bombardear o Iraque.
Foi ótimo para o ego dos norte-americanos. Em nível baixo após a derrota no Vietnan, o orgulho norte-americano subiu muito com aquela (por eles) julgada magnífica, rápida e estrondosa vitória militar sobre o Iraque.
Em termos puramente econômicos, aquela primeira invasão no início da década foi muito lucrativa para os EUA. Para eles, resultou, segundo divulgado pela imprensa norte-americana, um saldo positivo de mais de dez bilhões de dólares. Esse montante foi auferido após o balanço de despesas militares por um lado e, por outro, de contribuições financeiras recebidas de seus aliados (principalmente da Alemanha e Japão), somadas aos posteriores ganhos com exportações pelos EUA de armamentos lá empregados e que foram objeto de muita propaganda: "armas inteligentes", "com precisão cirúrgica", "provadas em combate" etc.
A SEGUNDA GUERRA DOS EUA CONTRA O IRAQUE EM 2003
Os EUA a Inglaterra e alguns poucos aliados atacaram de novo o Iraque em 2003.
A reedição da guerra de 1991 foi ainda mais violenta, efetuada dessa vez contrariando a maioria dos países do mundo, a ONU e todas as normas do Direito Internacional.
As estatísticas mais favoráveis aos norte-americanos e ingleses (a da Organização Mundial da Saúde) dizem que “somente” mataram, até agora, uns 151.000 civis iraqueanos.
O Primeiro-Ministro Blair, em Londres, o Presidente Bush e autoridades dos EUA comunicavam freqüentemente que aquela nova invasão era para levar a paz, a democracia e a liberdade para os países árabes; para tirar do Iraque um ditador mau, não-democrático, que anos antes havia matado separatistas curdos com armas químicas proibidas pelos EUA para os demais países; aquele ditador torturara iraqueanos na prisão de Abu Ghraib; que o Iraque poderia ter ligações com o terrorista Bin-Laden e poderia ser uma forte e imediata ameaça para toda a civilização ocidental, com o seu grande arsenal de bombas atômicas, químicas e biológicas, pronto para ser acionado e lançado por grandes mísseis em quarenta e cinco minutos.
Até as próprias tropas americanas (cada vez mais negras, latinas e pobres) e as de seus aliados eram enganadas em discursos presidenciais ufanistas, na festiva e patriótica hora dos embarques para o Iraque. Toda a imprensa dos EUA dava ampla e eufórica cobertura.
Diziam aos soldados que eles eram super-heróis, que estavam partindo para defender o bem contra o mal; estavam “salvando a civilização ocidental superior do islamismo bárbaro” (disse o Premier Silvio Berlusconi, da Itália); estavam salvando a democracia e a liberdade, lutando contra o terror. Que estavam tirando dos iraqueanos as suas armas de destruição em massa. Como até hoje não acharam as tais armas, passaram, então, a divulgar que o problema não era o Iraque ter (ou não) aquelas armas, mas a possibilidade de que o seu odioso tirano não-democrático pudesse vir a ter intenções malévolas de desenvolvê-las; somente isso já justificaria o ataque... Saddam Hussein foi enforcado.
Um intrigante aspecto. Foi publicado que as tropas invasoras também tinham, e têm, o objetivo de aumentar a proteção ao Estado de Israel. A guerra foi impulsionada pelo poderoso lobby judaico dos setores financeiro e industrial militar dos EUA e da Inglaterra. “Era óbvio que a guerra servia a interesses de Israel”, expressou o Brig. Gen. Shlomo Brom, ex-chefe de planejamento estratégico das Forças de Defesa israelenses (“Defense News”, Washington, 19/01/2004).
Hoje, o aspecto econômico, da invasão iniciada na noite de 19/03/2003, não está nada favorável para os EUA. Ao contrário. É uma tragédia econômica.
Porém, muitos nos EUA acham que valeu a pena.
O “Washington Post” afirmou, em 12/05/2004, que “a ocupação do Iraque criou muitos empregos nos EUA, foi responsável por 16 % do crescimento da economia norte-americana somente no 1o trimestre de 2004 e trouxe muitos votos decisivos para a reeleição do presidente Bush em regiões mais beneficiadas pela ‘guerra’, como Ohio”.
O DOD expôs ao Congresso que os custos norte-americanos com a guerra se pagariam com os recursos que tirariam do próprio petróleo iraqueano e sob o título de ajuda financeira para a reconstrução daquele país. Erraram fragorosamente.
A imprensa dos EUA, embriagada de tanto patriotismo no início dos ataques, externou que tudo valeria a pena, inclusive porque o petróleo voltaria a ser bombeado sob o controle de empresas norte-americanas.
Em 13/04/2004, o presidente Bush declarou: “The oil revenues are. Is pretty darn significant. They’re now up and running” (Financial Times, 14/04/2004). Foi emocionantemente aplaudido de pé.
Era difícil, e continua sendo, esconder os principais verdadeiros objetivos norte-americanos: a garantia para eles das reservas de petróleo e do seu barato suprimento por muitas décadas; a criação de um Estado visceralmente pró-americano no Golfo Pérsico; como também a expansão geopolítica e econômica dos EUA baseada na submissão dos outros países pelo medo de sua força e pela certeza da impossibilidade de confrontá-los militarmente.
Uma pequena parte da imprensa dos EUA dizia que a invasão também aconteceu porque estavam em jogo interesses particulares da família Bush, ligada a empresas petrolíferas do Texas e da Arábia Saudita.
No Brasil, nos grandes jornais era constante nos anos 90, e ainda se vê, a defesa apaixonada dos EUA. Por exemplo, o jornal Folha de S. Paulo (FSP) criticou a “capciosa campanha antiamericana na imprensa sobre supostas crueldades odiosas dos soldados norte-americanos contra prisioneiros iraqueanos. Os militares dos EUA despem, humilham e até dão alguns sopapos nos prisioneiros, isto é inevitável em toda guerra. Os iraqueanos os esfolam, queimam vivos ou os degolam. As críticas aos EUA são obra de espertalhões conscientes e de milhares de idiotas úteis que não têm idéia da origem remota das suas opiniões” (Olavo de Carvalho, FSP, 20/05/2004).
Esse assunto vem à baila hoje, 24/01/2008, com a publicação no jornal Folha de São Paulo do seguinte artigo, da Associated Press:
"Governo Bush fez 935 declarações falsas de 2001 a 2003, diz estudo
Com discurso sobre Iraque, presidente encabeça lista, compilada após o 11/9
Um estudo do Centro pela Integridade Pública e do Fundo pela Independência no Jornalismo, organizações sem fins lucrativos, constatou que o presidente George W. Bush e funcionários importantes de seu governo fizeram 935 declarações falsas sobre a ameaça que o Iraque representava à segurança dos EUA nos dois anos seguintes aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
O estudo, divulgado na noite de anteontem, conclui que as declarações eram "parte de uma campanha orquestrada que galvanizou a opinião pública e, no processo, levou o país à guerra sob pretextos incontestavelmente falsos".
Os pesquisadores descobriram que discursos, briefings, entrevistas e outras ocasiões serviram para que Bush e outros funcionários do governo declarassem inequivocamente em ao menos 532 ocasiões que o Iraque tinha armas de destruição em massa, estava tentando produzi-las ou obtê-las, ou que mantinha laços com a rede terrorista Al Qaeda.
"Tornou-se inquestionável, hoje, que o Iraque não possuía armas de destruição em massa nem tinha vínculos com a Al Qaeda", escrevem Charles Lewis e Mark Reading-Smith na sinopse do estudo.
"O governo Bush conduziu o país à guerra com base em informações errôneas que as autoridades propagaram metodicamente, em um processo que culminou com a ação militar contra o Iraque em 19 de março de 2003."
Além de Bush, o estudo cita o vice-presidente Dick Cheney, a então assessora de segurança nacional Condoleezza Rice, o secretário da Defesa Donald Rumsfeld, o secretário de Estado Colin Powell, o secretário-assistente da Defesa Paul Wolfowitz e os porta-vozes da Casa Branca Ari Fleischer e Scott McClellan -com exceção de Rice, que substituiu Powell, todos já deixaram o governo.
Bush está no topo da lista, com 259 falsas declarações, seguido por Powell. Os números advêm de um banco de dados que compilou declarações públicas nos dois anos após o 11 de Setembro, bem como relatórios do governo, livros, reportagens, discursos e entrevistas. "O efeito cumulativo dessas declarações falsas, amplificadas por milhares de reportagens em mídia impressa e eletrônica, foi imenso, e a cobertura de mídia criou um ruído quase impenetrável por diversos meses", diz o estudo. "Alguns jornalistas e organizações noticiosas admitiram que sua cobertura nos meses que precederam a guerra foi deferente e acrítica demais. Boa parte dessa cobertura abrangente sobre o tema ofereceu validação adicional, "independente", às falsas declarações do governo Bush. Tradução de Paulo Migliaci"
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
RECEITA FEDERAL: O DIFÍCIL COMBATE À SONEGAÇÃO
O fim da CPMF, inegável e explicitamente, beneficiou em muito maior escala aqueles que mais movimentam dinheiro: empresários, instituições financeiras, bancos, sonegadores, corruptos.
Sobre esses dois últimos grupos citados, alto representante da Receita Federal já havia comentado que cerca de 60 dos 100 maiores movimentadores de dinheiro no Brasil somente foram descobertos e taxados graças à CPMF, pois eles se declaravam isentos...
Para enfrentar essa vitória dos sonegadores, a Receita Federal adotou, posteriormente, medida alternativa que permitiria conhecer movimentações bancárias acima de um determinado valor.
Os defensores dos grupos beneficiados com o fim da CPMF, no entanto, já se mobilizam nos mais altos níveis.
O jornal Gazeta Mercantil de hoje noticia que, segundo Ives Gandra Martins, "a quebra de sigilo bancário pela Receita é inconstitucional e o ministro Marco Aurélio de Mello já mandou um recado para a Receita."
Sobre esses dois últimos grupos citados, alto representante da Receita Federal já havia comentado que cerca de 60 dos 100 maiores movimentadores de dinheiro no Brasil somente foram descobertos e taxados graças à CPMF, pois eles se declaravam isentos...
Para enfrentar essa vitória dos sonegadores, a Receita Federal adotou, posteriormente, medida alternativa que permitiria conhecer movimentações bancárias acima de um determinado valor.
Os defensores dos grupos beneficiados com o fim da CPMF, no entanto, já se mobilizam nos mais altos níveis.
O jornal Gazeta Mercantil de hoje noticia que, segundo Ives Gandra Martins, "a quebra de sigilo bancário pela Receita é inconstitucional e o ministro Marco Aurélio de Mello já mandou um recado para a Receita."
UNICEF: BRASIL MELHORA O ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Brasil melhora no ranking do Índice de Desenvolvimento Infantil divulga o Fundo de Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
A queda, acentuada a partir de 2004, fez o país melhorar 27 posições no ranking desse indicador, que foi divulgado ontem no relatório "Situação Mundial da Infância 2008", do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Em 2006, o Brasil aparece na 113ª posição entre 196 países -o primeiro colocado, Serra Leoa, é o que apresenta pior índice. Em 2004, estava em 88º e, em 1990, em 86º.
Os países com os melhores índices são, empatados, Suécia, Cingapura, San Marino, Liechtenstein, Islândia e Andorra.
Entre 2004 e 2006, o declínio no Brasil foi de 41% -morriam 34 crianças a cada mil nascidos vivos, contra 20 em 2006, os últimos dados disponíveis.
O índice é superior aos 40% de queda registrados de 1990, quando morriam 57 a cada mil nascidos vivos, para 2004."
O jornal Folha de São Paulo de hoje publicou o seguinte (grifos nossos):
"A mortalidade de crianças com menos de cinco anos caiu 65% entre 1990 e 2006.A queda, acentuada a partir de 2004, fez o país melhorar 27 posições no ranking desse indicador, que foi divulgado ontem no relatório "Situação Mundial da Infância 2008", do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Em 2006, o Brasil aparece na 113ª posição entre 196 países -o primeiro colocado, Serra Leoa, é o que apresenta pior índice. Em 2004, estava em 88º e, em 1990, em 86º.
Os países com os melhores índices são, empatados, Suécia, Cingapura, San Marino, Liechtenstein, Islândia e Andorra.
Entre 2004 e 2006, o declínio no Brasil foi de 41% -morriam 34 crianças a cada mil nascidos vivos, contra 20 em 2006, os últimos dados disponíveis.
O índice é superior aos 40% de queda registrados de 1990, quando morriam 57 a cada mil nascidos vivos, para 2004."
GRAMÁTICA NA MÍDIA: EXCESSO DE GERUNDISMOS E DE CONJUNÇÕES ADVERSATIVAS
Há pouco tempo recebeu destaque na nossa mídia o combate do governador do Distrito Federal (DEM) ao excesso no uso do gerúndio, especialmente em documentos oficiais: “vou estar mandando” em vez de “mandarei” etc.
Outro uso desmedido tem passado despercebido. É o excesso que também acomete a nossa mídia, nos últimos cinco anos, de uso abusivo das conjunções e locuções conjuntivas coordenativas adversativas: mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto, não obstante, ainda assim, por outro lado...
Essas conjunções agora têm sido empregadas sempre associadas à uma boa notícia.
Esse uso abusivo, contrariamente ao gerundismo, parece-me ser incentivado pelas redações dos grandes jornais brasileiros escritos e falados. Até mesmo, obrigatório.
Exemplos de hoje e ontem:
1) O Estado de São Paulo: ..."De 2005 a 2006, o Brasil reduziu a mortalidade infantil e passou do 86% para o 113% lugar num ranking de 194 países feito pelo Unicef. De 1990 a 2006, as mortes de crianças caíram pela metade no país. Mas o Brasil ainda tem anualmente 74 mil mortes de menores de 5 anos e foi incluído pelo Unicef entre os 60 países prioritários para o combate à mortalidade infantil".
2) Jornal do Brasil- “O mercado brasileiro reagiu bem à decisão do Federal Reserve de cortar, em reunião extraordinária, a taxa básica de juros dos Estados Unidos para estimular a economia, mas as incertezas com o futuro do país ainda preocupam.”
3) Correio Braziliense: “O Brasil melhorou 27 posições no ranking da redução da mortalidade infantil divulgado pelo Unicef. O estudo alerta, porém, para a saúde das mães. Ranielle de Souza, 14 anos, passou por gravidez de risco para dar à luz Gabriella e Grazielly”.
E assim por diante. Basta ler os jornais diários e escutar os noticiários das TV que encontraremos centenas de outros exemplos semelhantes.
Será uma orientação recebida pelos redatores e repórteres?
Outro uso desmedido tem passado despercebido. É o excesso que também acomete a nossa mídia, nos últimos cinco anos, de uso abusivo das conjunções e locuções conjuntivas coordenativas adversativas: mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto, não obstante, ainda assim, por outro lado...
Essas conjunções agora têm sido empregadas sempre associadas à uma boa notícia.
Esse uso abusivo, contrariamente ao gerundismo, parece-me ser incentivado pelas redações dos grandes jornais brasileiros escritos e falados. Até mesmo, obrigatório.
Exemplos de hoje e ontem:
1) O Estado de São Paulo: ..."De 2005 a 2006, o Brasil reduziu a mortalidade infantil e passou do 86% para o 113% lugar num ranking de 194 países feito pelo Unicef. De 1990 a 2006, as mortes de crianças caíram pela metade no país. Mas o Brasil ainda tem anualmente 74 mil mortes de menores de 5 anos e foi incluído pelo Unicef entre os 60 países prioritários para o combate à mortalidade infantil".
2) Jornal do Brasil- “O mercado brasileiro reagiu bem à decisão do Federal Reserve de cortar, em reunião extraordinária, a taxa básica de juros dos Estados Unidos para estimular a economia, mas as incertezas com o futuro do país ainda preocupam.”
3) Correio Braziliense: “O Brasil melhorou 27 posições no ranking da redução da mortalidade infantil divulgado pelo Unicef. O estudo alerta, porém, para a saúde das mães. Ranielle de Souza, 14 anos, passou por gravidez de risco para dar à luz Gabriella e Grazielly”.
E assim por diante. Basta ler os jornais diários e escutar os noticiários das TV que encontraremos centenas de outros exemplos semelhantes.
Será uma orientação recebida pelos redatores e repórteres?
NOTÍCIAS BOAS SOBRE O BRASIL? LEIA NA IMPRENSA ESTRANGEIRA!
Anteontem, neste blog, expressei a estranheza pela omissão da mídia brasileira nos grandes feitos de brasileiros, nos últimos anos. Para ler boas notícias sobre o Brasil e os brasileiros, agora temos que recorrer à imprensa estrangeira. Citei neste blog em 21/01/2008 dois casos referentes ao Dr. Miguel Nicolelis (ver a seguir).
Hoje, foi a vez do jornal mais conceituado pela direita brasileira, o “Financial Times”, de Londres, destacar um fato bombástico para o mundo, mas que aqui foi divulgado modestamente. Trata o jornal inglês das novas descobertas da PETROBRÁS e de a nossa estatal já ser a 6ª gigante do petróleo no mundo.
Vejamos essas notícias:
1º) “CIÊNCIA BRASILEIRA - NOSSA FRIEZA COM OS SUCESSOS
Há poucos dias mereceu enorme destaque na mídia mundial o feito de um cientista, Dr. Miguel Nicolelis. Ele conseguiu transmitir a energia do pensamento de um macaco de um laboratório nos Estados Unidos para o Japão, onde essa energia mexeu um braço robótico.
Essa notícia também aqui foi divulgada com relevância.
O que me surpreendeu, contudo, foi o fato de a nossa imprensa omitir, não divulgar, que aquele cientista em destaque no mundo todo formou-se no Brasil em universidade pública (USP) e aqui atua em projetos que são relevantes para os mais exigentes meios de comunicação científica.
Por que a nossa imprensa tem omitido nossos sucessos? Modéstia brasileira? Não compreendo a repentina e radical mudança...Há dez anos a imprensa brasileira era fortemente ufanista com coisas de menor importância. Por exemplo, repetia várias vezes por dia e por meses e anos seguidos que tínhamos "o melhor ministro da saúde do mundo", e outras jactâncias.
Coisas estranhas estão acontecendo no Brasil..."
2º) "PROJETO PIONEIRO DO BRASIL É CELEBRADO NO MUNDO MAS RECEBIDO COM FRIEZA EM CASA
(Luis Carlos Azenha)
O doutor Miguel Nicolelis não precisa de promoção. Nem de holofotes. Ele é um dos principais neurocientistas do mundo. Na semana passada o New York Times deu a ele meia página de jornal.
Como cientista da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, o mais recente feito de Nicolelis foi conseguir transmitir a energia do pensamento de um macaco de um laboratório nos Estados Unidos para o Japão, onde essa energia mexeu um braço robótico.Você leu direito. O doutor Nicolelis trabalha com a "força do pensamento"......
...”Ele vai apresentar, no Fórum de Davos, na semana que vem, o projeto de educação científica que está desenvolvendo com dinheiro da iniciativa privada e em parceria com o governo brasileiro. Um projeto que ele define como "Ciência com missão social".
O projeto-piloto, que já funciona no Rio Grande do Norte, nos próximos três anos pretende levar educação científica a 1 milhão de crianças de escolas públicas brasileiras, que terão acesso a laboratórios dos quais nem mesmo as escolas privadas do país dispõem.
O projeto foi celebrado na edição mais recente da revista Scientific American, inclusive com a publicação de um editorial assinado pelo doutor Nicolelis com o presidente Lula . O editor da revista revelou surpresa com o interesse de um presidente da República pelo assunto, já que esse tipo de projeto não existe nem mesmo nos Estados Unidos”.
3ª) “PETROBRÁS SE TORNA 6ª MAIOR PETROLEIRA DO MUNDO
(BBCBRASIL.com)
A Petrobras subiu de 11º para 6º lugar no ranking PFC Energy 50, das maiores empresas de petróleo do mundo, segundo reportagem publicada nesta quarta-feira pelo jornal britânico "Financial Times".
"O ranking anual PFC, que deve ser publicado nesta quarta-feira, reforça a percepção de que as companhias internacionais de petróleo estão perdendo acesso aos recursos globais e seus futuros não são tão definidos como o das concorrentes estatais", afirma o "FT".
A empresa com melhores resultados no ano passado foi a Petro-China, cujo valor aumentou 181%, ultrapassando a ExxonMobil e se tornando a maior empresa de energia segundo os mercados. "A capitalização da Petro-China no mercado, com base nas ações da Bolsa de Xangai, foi de US$ 723,2 bilhões contra US$ 511 bilhões da Exxon, cujo preço das ações subiu 22% no ano passado." O jornal afirma, no entanto, que, se for levado em conta o valor das ações da Petro-China no mercado global, a Exxon permanece em primeiro lugar do ranking.
"A Petrobras, a empresa brasileira com duas grandes descobertas em seu nome nos últimos meses, subiu de 11ª para sexta, com alta de 93% no preço de suas ações, substituindo a Total, que caiu para o oitavo lugar, com apenas 4% de aumento no preço de suas ações."
A Chevron caiu de sétimo para décimo lugar, com alta de 27% no preço de suas ações.
A ConocoPhillips não figura mais entre as dez primeiras, tendo caído do nono lugar, no último ranking, para 12º.
A ENI caiu de oitavo para 11º.
Segundo a reportagem do "FT", Robin West - o presidente da PFC Energy, a consultoria que publica o ranking - disse que "apesar de seus enormes lucros, os mercados de capitais estão dizendo que as companhias internacionais de petróleo têm que oferecer uma nova visão de crescimento". "As perspectivas para as companhias internacionais de petróleo caíram desde os anos 70, quando elas controlavam 85% das reservas mundiais. Hoje, as companhias nacionais controlam 80% dessas reservas", afirma o jornal.”
Hoje, foi a vez do jornal mais conceituado pela direita brasileira, o “Financial Times”, de Londres, destacar um fato bombástico para o mundo, mas que aqui foi divulgado modestamente. Trata o jornal inglês das novas descobertas da PETROBRÁS e de a nossa estatal já ser a 6ª gigante do petróleo no mundo.
Vejamos essas notícias:
1º) “CIÊNCIA BRASILEIRA - NOSSA FRIEZA COM OS SUCESSOS
Há poucos dias mereceu enorme destaque na mídia mundial o feito de um cientista, Dr. Miguel Nicolelis. Ele conseguiu transmitir a energia do pensamento de um macaco de um laboratório nos Estados Unidos para o Japão, onde essa energia mexeu um braço robótico.
Essa notícia também aqui foi divulgada com relevância.
O que me surpreendeu, contudo, foi o fato de a nossa imprensa omitir, não divulgar, que aquele cientista em destaque no mundo todo formou-se no Brasil em universidade pública (USP) e aqui atua em projetos que são relevantes para os mais exigentes meios de comunicação científica.
Por que a nossa imprensa tem omitido nossos sucessos? Modéstia brasileira? Não compreendo a repentina e radical mudança...Há dez anos a imprensa brasileira era fortemente ufanista com coisas de menor importância. Por exemplo, repetia várias vezes por dia e por meses e anos seguidos que tínhamos "o melhor ministro da saúde do mundo", e outras jactâncias.
Coisas estranhas estão acontecendo no Brasil..."
2º) "PROJETO PIONEIRO DO BRASIL É CELEBRADO NO MUNDO MAS RECEBIDO COM FRIEZA EM CASA
(Luis Carlos Azenha)
O doutor Miguel Nicolelis não precisa de promoção. Nem de holofotes. Ele é um dos principais neurocientistas do mundo. Na semana passada o New York Times deu a ele meia página de jornal.
Como cientista da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, o mais recente feito de Nicolelis foi conseguir transmitir a energia do pensamento de um macaco de um laboratório nos Estados Unidos para o Japão, onde essa energia mexeu um braço robótico.Você leu direito. O doutor Nicolelis trabalha com a "força do pensamento"......
...”Ele vai apresentar, no Fórum de Davos, na semana que vem, o projeto de educação científica que está desenvolvendo com dinheiro da iniciativa privada e em parceria com o governo brasileiro. Um projeto que ele define como "Ciência com missão social".
O projeto-piloto, que já funciona no Rio Grande do Norte, nos próximos três anos pretende levar educação científica a 1 milhão de crianças de escolas públicas brasileiras, que terão acesso a laboratórios dos quais nem mesmo as escolas privadas do país dispõem.
O projeto foi celebrado na edição mais recente da revista Scientific American, inclusive com a publicação de um editorial assinado pelo doutor Nicolelis com o presidente Lula . O editor da revista revelou surpresa com o interesse de um presidente da República pelo assunto, já que esse tipo de projeto não existe nem mesmo nos Estados Unidos”.
3ª) “PETROBRÁS SE TORNA 6ª MAIOR PETROLEIRA DO MUNDO
(BBCBRASIL.com)
A Petrobras subiu de 11º para 6º lugar no ranking PFC Energy 50, das maiores empresas de petróleo do mundo, segundo reportagem publicada nesta quarta-feira pelo jornal britânico "Financial Times".
"O ranking anual PFC, que deve ser publicado nesta quarta-feira, reforça a percepção de que as companhias internacionais de petróleo estão perdendo acesso aos recursos globais e seus futuros não são tão definidos como o das concorrentes estatais", afirma o "FT".
A empresa com melhores resultados no ano passado foi a Petro-China, cujo valor aumentou 181%, ultrapassando a ExxonMobil e se tornando a maior empresa de energia segundo os mercados. "A capitalização da Petro-China no mercado, com base nas ações da Bolsa de Xangai, foi de US$ 723,2 bilhões contra US$ 511 bilhões da Exxon, cujo preço das ações subiu 22% no ano passado." O jornal afirma, no entanto, que, se for levado em conta o valor das ações da Petro-China no mercado global, a Exxon permanece em primeiro lugar do ranking.
"A Petrobras, a empresa brasileira com duas grandes descobertas em seu nome nos últimos meses, subiu de 11ª para sexta, com alta de 93% no preço de suas ações, substituindo a Total, que caiu para o oitavo lugar, com apenas 4% de aumento no preço de suas ações."
A Chevron caiu de sétimo para décimo lugar, com alta de 27% no preço de suas ações.
A ConocoPhillips não figura mais entre as dez primeiras, tendo caído do nono lugar, no último ranking, para 12º.
A ENI caiu de oitavo para 11º.
Segundo a reportagem do "FT", Robin West - o presidente da PFC Energy, a consultoria que publica o ranking - disse que "apesar de seus enormes lucros, os mercados de capitais estão dizendo que as companhias internacionais de petróleo têm que oferecer uma nova visão de crescimento". "As perspectivas para as companhias internacionais de petróleo caíram desde os anos 70, quando elas controlavam 85% das reservas mundiais. Hoje, as companhias nacionais controlam 80% dessas reservas", afirma o jornal.”
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
AINDA A FEBRE AMARELA
Este blog já postou alguns artigos sobre esse problema que ainda aflige e assusta a população.
Não pretendia voltar tão já ao assunto. Contudo, ao ler o artigo do Dr Adib Jatene na Folha de São Paulo de hoje, identifiquei muitas informações que devem ser difundidas o quanto antes para o bem da saúde dos brasileiros:
"Febre amarela
ADIB D. JATENE
A corrida pela vacina por pessoas que não precisam dela reduz a disponibilidade para os que efetivamente têm necessidade.
No período em que estive à frente do Ministério da Saúde, tomei conhecimento da importância da relação entre dengue e febre amarela silvestre e o eventual risco da reurbanização desta última.
Desde 1942, não ocorreu nenhum caso de febre amarela urbana. Entretanto, persiste, e é impossível eliminar, sua forma silvestre.
É por essa razão que o Ministério da Saúde vem vacinando sistematicamente toda a população das áreas de risco, onde há ocorrência de casos humanos, adquiridos sempre nas áreas de mata. Já vacinamos, nos últimos 12 anos, mais de 60 milhões de pessoas. Nas matas, existe alta concentração de mosquito transmissor e animais, principalmente macacos, portadores do vírus. Daí o risco de pessoas não vacinadas incursionarem em regiões com alta concentração de mosquito, onde alguns estão contaminados e, por isso, são capazes de transmitir a doença. Assinale-se que, nos últimos 12 anos, tivemos 349 casos confirmados, com 161 óbitos, todos adquiridos por pessoas não vacinadas que freqüentaram áreas de mata.
A incidência desses casos variou de ano a ano. Tivemos anos com apenas três casos, enquanto em outros, como 1999, 2000 e 2003, ocorreram, respectivamente, 76, 85 e 64 casos, com mortes de 29, 40 e 23 pacientes.
Por que com essas três centenas e meia de casos, em doze anos, não tivemos transmissão urbana, já que, nas cidades, existe o Aedes aegypti, transmissor da dengue e da febre amarela? As razões são três: em primeiro lugar, o número de doentes com febre amarela silvestre no mesmo espaço urbano e ao mesmo tempo é muito pequeno, o que reduz significativamente a chance de infectar o mosquito Aedes aegypti; em segundo lugar, é preciso alta concentração de mosquito, ao redor de 40% de infestação, o que corresponde a 40 habitações em cada 100 com a presença do mosquito, segundo a OMS, para que seja possível a transmissão da febre amarela; e em terceiro lugar, porque temos altos índices de cobertura vacinal na área endêmica, portanto, sem susceptíveis em número suficiente para sustentar uma transmissão.
A concentração do Aedes aegypti nas cidades brasileiras onde ocorre a dengue não ultrapassa, em média, 5 domicílios infestados em cada 100, suficiente para transmitir a dengue devido ao número alto de doentes, mas absolutamente insuficiente para transmitir a febre amarela urbana. Os que retornam às cidades afetados pela febre amarela silvestre são hospitalizados e têm desenlace, seja para cura, seja para óbito, em prazo relativamente curto. Não há, portanto, nenhuma razão para vacinar as pessoas que não residem em área endêmica nem pretendem adentrar a mata dessas áreas.
Vi na televisão pessoas que sempre residiram na cidade de São Paulo e que não pretendem viajar desesperadas, em filas para se vacinarem, alegando que tinham direito. Certamente não tinham necessidade e se expõem aos efeitos adversos de uma vacina com vírus vivo.
Nos últimos quatro anos, foram registrados pelo sistema de informação de efeitos adversos pós-vacinação 478 casos (muito mais que os 349 casos de febre amarela registrados em 12 anos), desde reações simples até exantemas generalizados, febre alta e, em dois casos, meningite.
Em relação à vacina contra a febre amarela, a Fiocruz é, praticamente, a única produtora em todo o mundo. Há só um outro laboratório privado no exterior, produzindo cerca de 5 milhões de doses por ano, enquanto a produção da Fiocruz é o dobro.
A corrida pela vacina por pessoas que não precisam dela reduz sua disponibilidade para os que efetivamente têm necessidade. Diante da imunização da quase totalidade da população de áreas de risco, o que vem sendo feita há décadas, as recomendações do Ministério da Saúde são suficientes, ratificadas por especialistas e pela própria OMS, para garantir que o país não corre risco de reintrodução de febre amarela urbana, o que seria catastrófico.
Em um país em que freqüentemente se busca desmoralizar iniciativas governamentais, disseminando desconfiança na palavra oficial, que se preserve a seriedade com que são tratados assuntos como a febre amarela.
Nunca é demais ressaltar a luta por recursos para o setor, seriamente afetada pela decisão -inegavelmente democrática, mas, sem dúvida, perversa- que permitiu retirar R$ 40 bilhões destinados a atender a população de baixa renda e entregá-los a empresas e parcelas da população mais bem aquinhoadas, causando sério risco ao esquema financeiro para o setor.
ADIB D. JATENE , 78, cardiologista, é professor emérito da Faculdade de Medicina da USP e diretor-geral do Hospital do Coração. Foi ministro da Saúde (governos Collor e FHC), secretário da Saúde do Estado de São Paulo (governo Maluf) e diretor do InCor. "
Não pretendia voltar tão já ao assunto. Contudo, ao ler o artigo do Dr Adib Jatene na Folha de São Paulo de hoje, identifiquei muitas informações que devem ser difundidas o quanto antes para o bem da saúde dos brasileiros:
"Febre amarela
ADIB D. JATENE
A corrida pela vacina por pessoas que não precisam dela reduz a disponibilidade para os que efetivamente têm necessidade.
No período em que estive à frente do Ministério da Saúde, tomei conhecimento da importância da relação entre dengue e febre amarela silvestre e o eventual risco da reurbanização desta última.
Desde 1942, não ocorreu nenhum caso de febre amarela urbana. Entretanto, persiste, e é impossível eliminar, sua forma silvestre.
É por essa razão que o Ministério da Saúde vem vacinando sistematicamente toda a população das áreas de risco, onde há ocorrência de casos humanos, adquiridos sempre nas áreas de mata. Já vacinamos, nos últimos 12 anos, mais de 60 milhões de pessoas. Nas matas, existe alta concentração de mosquito transmissor e animais, principalmente macacos, portadores do vírus. Daí o risco de pessoas não vacinadas incursionarem em regiões com alta concentração de mosquito, onde alguns estão contaminados e, por isso, são capazes de transmitir a doença. Assinale-se que, nos últimos 12 anos, tivemos 349 casos confirmados, com 161 óbitos, todos adquiridos por pessoas não vacinadas que freqüentaram áreas de mata.
A incidência desses casos variou de ano a ano. Tivemos anos com apenas três casos, enquanto em outros, como 1999, 2000 e 2003, ocorreram, respectivamente, 76, 85 e 64 casos, com mortes de 29, 40 e 23 pacientes.
Por que com essas três centenas e meia de casos, em doze anos, não tivemos transmissão urbana, já que, nas cidades, existe o Aedes aegypti, transmissor da dengue e da febre amarela? As razões são três: em primeiro lugar, o número de doentes com febre amarela silvestre no mesmo espaço urbano e ao mesmo tempo é muito pequeno, o que reduz significativamente a chance de infectar o mosquito Aedes aegypti; em segundo lugar, é preciso alta concentração de mosquito, ao redor de 40% de infestação, o que corresponde a 40 habitações em cada 100 com a presença do mosquito, segundo a OMS, para que seja possível a transmissão da febre amarela; e em terceiro lugar, porque temos altos índices de cobertura vacinal na área endêmica, portanto, sem susceptíveis em número suficiente para sustentar uma transmissão.
A concentração do Aedes aegypti nas cidades brasileiras onde ocorre a dengue não ultrapassa, em média, 5 domicílios infestados em cada 100, suficiente para transmitir a dengue devido ao número alto de doentes, mas absolutamente insuficiente para transmitir a febre amarela urbana. Os que retornam às cidades afetados pela febre amarela silvestre são hospitalizados e têm desenlace, seja para cura, seja para óbito, em prazo relativamente curto. Não há, portanto, nenhuma razão para vacinar as pessoas que não residem em área endêmica nem pretendem adentrar a mata dessas áreas.
Vi na televisão pessoas que sempre residiram na cidade de São Paulo e que não pretendem viajar desesperadas, em filas para se vacinarem, alegando que tinham direito. Certamente não tinham necessidade e se expõem aos efeitos adversos de uma vacina com vírus vivo.
Nos últimos quatro anos, foram registrados pelo sistema de informação de efeitos adversos pós-vacinação 478 casos (muito mais que os 349 casos de febre amarela registrados em 12 anos), desde reações simples até exantemas generalizados, febre alta e, em dois casos, meningite.
Em relação à vacina contra a febre amarela, a Fiocruz é, praticamente, a única produtora em todo o mundo. Há só um outro laboratório privado no exterior, produzindo cerca de 5 milhões de doses por ano, enquanto a produção da Fiocruz é o dobro.
A corrida pela vacina por pessoas que não precisam dela reduz sua disponibilidade para os que efetivamente têm necessidade. Diante da imunização da quase totalidade da população de áreas de risco, o que vem sendo feita há décadas, as recomendações do Ministério da Saúde são suficientes, ratificadas por especialistas e pela própria OMS, para garantir que o país não corre risco de reintrodução de febre amarela urbana, o que seria catastrófico.
Em um país em que freqüentemente se busca desmoralizar iniciativas governamentais, disseminando desconfiança na palavra oficial, que se preserve a seriedade com que são tratados assuntos como a febre amarela.
Nunca é demais ressaltar a luta por recursos para o setor, seriamente afetada pela decisão -inegavelmente democrática, mas, sem dúvida, perversa- que permitiu retirar R$ 40 bilhões destinados a atender a população de baixa renda e entregá-los a empresas e parcelas da população mais bem aquinhoadas, causando sério risco ao esquema financeiro para o setor.
ADIB D. JATENE , 78, cardiologista, é professor emérito da Faculdade de Medicina da USP e diretor-geral do Hospital do Coração. Foi ministro da Saúde (governos Collor e FHC), secretário da Saúde do Estado de São Paulo (governo Maluf) e diretor do InCor. "
CPMF: A OPOSIÇÃO DEU UM TIRO NO PÉ?
Uma boa análise sobre esse assunto foi publicada hoje no jornal Folha de São Paulo em artigo de autoria do cientista político e professor da USP André Singer:
"Momento de virar à esquerda
ANDRÉ SINGER
A oposição criou condições propícias para o governo alterar, em alguns graus para a esquerda, o percurso seguido até aqui
Talvez sem consciência do que fazia, a oposição criou as condições mais propícias, desde 2003, para o governo alterar, em alguns graus para a esquerda, o percurso seguido até aqui.
É que, ao decretar o fim da CPMF no final do ano passado, PSDB e DEM tiraram um dos suportes sobre os quais estava apoiada a estratégia de fazer distribuição de renda sem confrontar o capital.
Quem sabe esses partidos, com o beneplácito de alguns senadores que formalmente fazem parte da bancada governista, tenham agido em causa própria (de olho apenas no desgaste político do governo), sem perceber que atingiam simultaneamente o interesse dos capitalistas.
Mas ocorre que, ao implodir o status quo, serraram um galho no qual a burguesia também estava sentada.
É verdade que, pela reação de parte do empresariado de São Paulo, animado com a derrota imposta ao presidente, ou o acordo anterior só servia ao setor financeiro -o que não parece ser o caso, a julgar pelas altas taxas de lucro e índices de atividade do setor industrial-, ou não foi só a direita senatorial que deu um tiro no pé.
Parece que certas entidades patronais até agora não entenderam de maneira precisa o caráter e o sentido da coalizão conduzida por Lula.
Em todo caso, não terá sido a primeira, nem certamente a última, vez que classes sociais e seus representantes se deixam enganar por preconceitos e refrações ideológicas.
De tanto afirmar a urgência de aliviar a carga tributária, escapou-lhes que a CPMF era parte essencial de um modelo que, longe de representar "gastança" inútil, garante a margem necessária para, ao mesmo tempo, aumentar o investimento social e pagar juros que, embora declinantes até setembro de 2007, ainda consomem parte muito significativa do orçamento público.
Com a súbita desaparição de quase R$ 40 bilhões de arrecadação, a direita obriga o governo a rever os termos do acordo imaginado para vigorar até o fim do segundo mandato.
Ou corta gastos que, direta ou indiretamente, interessam ao trabalhador, ou reduz o superávit primário e determina que o BC reduza a taxa de juros e, portanto, o montante gasto com a rubrica que diz respeito aos rentistas e bancos.
Qualquer diminuição do investimento público prejudica as classes populares.
Bolsa Família, vencimento dos funcionários públicos e salário mínimo pago pelo INSS são transferências diretas do Tesouro para o bolso de assalariados e aposentados. A reação rápida do funcionalismo, antes até da definição sobre onde passaria a tesoura, mostra que os possíveis afetados perceberam imediatamente o sentido da pressão a favor de um "ajuste fiscal".
Do mesmo modo, eventuais restrições a concursos ou obras do PAC acabarão sempre por afetar mais os que possuem menos, seja pela diminuição de serviços estatais, seja pelo aumento de tarifas.
No caso da infra-estrutura, atingiria a sustentabilidade do crescimento econômico, que, embora beneficie também empresários que apoiaram o fim da CPMF, é prioridade absoluta para os que dependem de um emprego para sair do inferno e ingressar em uma vida mais ou menos civilizada.
Isso explica a adesão do bispo que dirige o Serviço de Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB à iniciativa de mobilizar os movimentos sociais para evitar o que seria um retrocesso inaceitável do ponto de vista dos pobres (ver o manifesto "Por uma reforma tributária justa", publicado neste espaço em 10/1).
Em resumo, o gesto talvez impensado da oposição produziu uma polarização das opções governamentais. Imaginar que se consiga economizar R$ 40 bilhões diminuindo o número de membros do governo que viajam de avião é daquelas mitologias que só continuam a se propagar pois há interesse em manter cidadãos confusos.
Fortalecido pela nítida manifestação popular no segundo turno de 2006, pelo bom desempenho da economia em 2007 e pela compreensão que sindicatos e movimentos sociais mostram da conjuntura, a situação objetiva permite que o Executivo escolha o caminho da esquerda para resolver o impasse criado pelos conservadores no Senado. Ao fazê-lo, ajudaria, mesmo em um cenário de incertezas internacionais, a que o país mantivesse o ritmo de expansão em 2008 e a que os setores progressistas pudessem fazer das eleições municipais oportunidade de conscientizar o povo sobre o conteúdo da disputa hoje existente no Brasil.
Cabe ao PT, como maior partido do governo, mas também principal partido socialista do país, cujo novo Diretório Nacional se reúne pela primeira vez no próximo dia 9, deixar claro qual caminho convém aos trabalhadores.
ANDRÉ SINGER , 49, jornalista e cientista político, é professor do Departamento de Ciência Política da USP. Foi secretário de Redação da Folha e secretário de Imprensa e Porta-voz da Presidência da República"
"Momento de virar à esquerda
ANDRÉ SINGER
A oposição criou condições propícias para o governo alterar, em alguns graus para a esquerda, o percurso seguido até aqui
Talvez sem consciência do que fazia, a oposição criou as condições mais propícias, desde 2003, para o governo alterar, em alguns graus para a esquerda, o percurso seguido até aqui.
É que, ao decretar o fim da CPMF no final do ano passado, PSDB e DEM tiraram um dos suportes sobre os quais estava apoiada a estratégia de fazer distribuição de renda sem confrontar o capital.
Quem sabe esses partidos, com o beneplácito de alguns senadores que formalmente fazem parte da bancada governista, tenham agido em causa própria (de olho apenas no desgaste político do governo), sem perceber que atingiam simultaneamente o interesse dos capitalistas.
Mas ocorre que, ao implodir o status quo, serraram um galho no qual a burguesia também estava sentada.
É verdade que, pela reação de parte do empresariado de São Paulo, animado com a derrota imposta ao presidente, ou o acordo anterior só servia ao setor financeiro -o que não parece ser o caso, a julgar pelas altas taxas de lucro e índices de atividade do setor industrial-, ou não foi só a direita senatorial que deu um tiro no pé.
Parece que certas entidades patronais até agora não entenderam de maneira precisa o caráter e o sentido da coalizão conduzida por Lula.
Em todo caso, não terá sido a primeira, nem certamente a última, vez que classes sociais e seus representantes se deixam enganar por preconceitos e refrações ideológicas.
De tanto afirmar a urgência de aliviar a carga tributária, escapou-lhes que a CPMF era parte essencial de um modelo que, longe de representar "gastança" inútil, garante a margem necessária para, ao mesmo tempo, aumentar o investimento social e pagar juros que, embora declinantes até setembro de 2007, ainda consomem parte muito significativa do orçamento público.
Com a súbita desaparição de quase R$ 40 bilhões de arrecadação, a direita obriga o governo a rever os termos do acordo imaginado para vigorar até o fim do segundo mandato.
Ou corta gastos que, direta ou indiretamente, interessam ao trabalhador, ou reduz o superávit primário e determina que o BC reduza a taxa de juros e, portanto, o montante gasto com a rubrica que diz respeito aos rentistas e bancos.
Qualquer diminuição do investimento público prejudica as classes populares.
Bolsa Família, vencimento dos funcionários públicos e salário mínimo pago pelo INSS são transferências diretas do Tesouro para o bolso de assalariados e aposentados. A reação rápida do funcionalismo, antes até da definição sobre onde passaria a tesoura, mostra que os possíveis afetados perceberam imediatamente o sentido da pressão a favor de um "ajuste fiscal".
Do mesmo modo, eventuais restrições a concursos ou obras do PAC acabarão sempre por afetar mais os que possuem menos, seja pela diminuição de serviços estatais, seja pelo aumento de tarifas.
No caso da infra-estrutura, atingiria a sustentabilidade do crescimento econômico, que, embora beneficie também empresários que apoiaram o fim da CPMF, é prioridade absoluta para os que dependem de um emprego para sair do inferno e ingressar em uma vida mais ou menos civilizada.
Isso explica a adesão do bispo que dirige o Serviço de Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB à iniciativa de mobilizar os movimentos sociais para evitar o que seria um retrocesso inaceitável do ponto de vista dos pobres (ver o manifesto "Por uma reforma tributária justa", publicado neste espaço em 10/1).
Em resumo, o gesto talvez impensado da oposição produziu uma polarização das opções governamentais. Imaginar que se consiga economizar R$ 40 bilhões diminuindo o número de membros do governo que viajam de avião é daquelas mitologias que só continuam a se propagar pois há interesse em manter cidadãos confusos.
Fortalecido pela nítida manifestação popular no segundo turno de 2006, pelo bom desempenho da economia em 2007 e pela compreensão que sindicatos e movimentos sociais mostram da conjuntura, a situação objetiva permite que o Executivo escolha o caminho da esquerda para resolver o impasse criado pelos conservadores no Senado. Ao fazê-lo, ajudaria, mesmo em um cenário de incertezas internacionais, a que o país mantivesse o ritmo de expansão em 2008 e a que os setores progressistas pudessem fazer das eleições municipais oportunidade de conscientizar o povo sobre o conteúdo da disputa hoje existente no Brasil.
Cabe ao PT, como maior partido do governo, mas também principal partido socialista do país, cujo novo Diretório Nacional se reúne pela primeira vez no próximo dia 9, deixar claro qual caminho convém aos trabalhadores.
ANDRÉ SINGER , 49, jornalista e cientista político, é professor do Departamento de Ciência Política da USP. Foi secretário de Redação da Folha e secretário de Imprensa e Porta-voz da Presidência da República"