Li hoje no UOL o seguinte artigo da agência inglesa de notícias BBC:
“Números chocantes. A bolsa de Nova York caiu 777 pontos, 7% numa tarde. A maior queda na história. US$ 1,2 trilhão evaporaram. Todos os americanos perderam.
Parecia 666, a chegada dos Cavalos do Apocalipse. No jogo do bicho, 777 é carneiro. 666 é cabra. Quem é mais manso? Os americanos estão bravos. Reagem nas vísceras contra a Wall Street e contra o Washington. Crédito para reformar a casa, comprar o carro, mandar o filho para a universidade? Dane-se! De quem é a culpa? São oito anos de Bush e republicanismo contra controle de bancos e financeiras. Os números são mais apocalípticos para McCain que, mesmo depois do início da quebradeira, disse que os fundamentos da economia eram sólidos.
Obama ganhou pontos nas pesquisas e no primeiro debate com McCain porque o tema, política externa, estava no território dele. Deu empate que, na opinião das maiorias das pequisas e analistas, é vitória para Obama.
Numa destas imprevisíveis decisões mac-maq, macainiana-maquiavélica, três dias antes do debate, o candidato republicano "suspendeu" a campanha e foi para Washington resolver a crise econômica. Não abriu a boca durante a reunião com o presidente e outros participantes da reunião, entre eles, o senador Obama e os líderes dos partidos mas, antes da derrota da proposta de ontem, McCain era louvado pelos partidários como o homem que tinha se comportado como um líder e convencido seus deputados a aceitar a proposta.
No fim da tarde, depois da rebelião da direita republicana e da derrota do pacote, a culpa era da líder do partido democrata - Nancy Pelosi - que, antes da votação, fez um discurso culpando o presidente Bush e os republicanos pela crise atual.
Dela e do senador Barack Obama, que não liderou sua ala liberal e quase 40% dos democratas que votaram contra a proposta. Se você acha difícil entender a lógica republicana não é culpa sua, nem minha, mas uma coisa é certa. Fogo republicano em Obama. O desespero de McCain vai ser transformado numa campanha implacável. O liberalismo do candidato democrata e suas conexões com rebeldes dos 60 vão ser o foco dos ataques.
Uma delas foi com Bill Ayers, um dos fundadores do movimento radical Weather Underground que, entre outras ações, plantou uma bomba no Pentágono. A campanha de Barack Obama para senador estadual em 95 foi lançada numa reunião na casa de Ayers. Durante anos na prisão, Ayers estudou educação primária. Durante quatro anos, a partir de 95, Obama foi líder de uma fundação chamada CAC, Chicago Annenberg Challenge, inspirada nas idéias de Ayers. Favoreciam uma educação que valorizava valores político-sociais e minimizava matérias convencionais.
Os professores, pelo plano de Ayers, funcionariam como líderes comunitários. Milhões de dólares foram investidos nestas escolas experimentais que desapareceram porque fracassaram nos testes convencionais. Não produziam líderes nem crianças bem educadas.
Nos seus dois livros, Barack Obama não menciona seu trabalho com a CAC. Os republicanos guardaram esta munição para as próximas semanas da campanha quando outras conexões esquerdistas e liberais de Obama serão expostas, distorcidas e multiplicadas. Você há de concordar que, mesmos exagerados, são argumentos comprometedores.
Vamos voltar para a crise da primeira página. Uma pesquisa dos candidatos republicanos que votaram contra o pacote econômico - dois terços do partido - mostra que quase todos ganharam no sufoco nas últimas eleições e não queriam correr o risco de contrariar o eleitorado enfurecido.
A margem de tefonemas e-mails era de 50 a 1 contra pacote. Em alguns Estados, de 90 a 1.
E que fizeram os deputados? Depois de acender o pavio decidiram respeitar o feriado judaico e suspender os trabalhos até quinta, embora já tenham trabalhado em dezenas de outros feriados religiosos e os judeus sejam minoria no Câmara. Os Cavalos do Apocalipse estão chegando? Não. Nem cabras nem carneiros. Nem jeito de bode.”
terça-feira, 30 de setembro de 2008
EMERGENTES NÃO PODEM PAGAR POR "CASSINO" FEITO NOS EUA, DIZ LULA
Ontem, o portal UOL postou o seguinte texto de Juliana Castro:
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou o governo norte-americano pela crise financeira que os Estados Unidos estão passando e disse que os demais países não podem pagar pelos efeitos deste problema.
"Os EUA precisam ter responsabilidade porque os países emergentes e os países pobres fizeram tudo para ter uma boa política fiscal e garantir a estabilidade e agora não podem ser vítimas do cassino que foi montado na economia americana", disse após evento na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro.
Em um comparativo, Lula disse que no Brasil, quando se trata de bancos de investimento, eles não podem alavancar mais de dez vezes seu patrimônio líquido, enquanto que nos Estados Unidos, isto não acontece.
"Lá não tem limite", afirmou.
Lula disse que fez uma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e que ambos estão "tranqüilos" com a situação.
"Sabemos que a crise é grave e que certamente vai diminuir o crédito no mundo. Mas nós estamos seguros porque nossas exportações estão indo bem e nossa indústria continua crescendo", afirmou.
O comentário de Lula aconteceu logo após a notícia de que o pacote anticrise foi rejeitado pela Câmara dos Estados Unidos e, segundo ele, houve esse entrave porque "a essa altura do campeonato tem gente querendo tirar proveito da situação".
"Está na hora de o Congresso e o governo norte-americano assumirem a responsabilidade que lhes cabe nessa história sem permitir que a disputa eleitoral que vai se dar em novembro prejudique a discussão do plano econômico. Os EUA têm que tampar esse buraco para deixar o mundo mais tranqüilo", concluiu”.
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou o governo norte-americano pela crise financeira que os Estados Unidos estão passando e disse que os demais países não podem pagar pelos efeitos deste problema.
"Os EUA precisam ter responsabilidade porque os países emergentes e os países pobres fizeram tudo para ter uma boa política fiscal e garantir a estabilidade e agora não podem ser vítimas do cassino que foi montado na economia americana", disse após evento na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro.
Em um comparativo, Lula disse que no Brasil, quando se trata de bancos de investimento, eles não podem alavancar mais de dez vezes seu patrimônio líquido, enquanto que nos Estados Unidos, isto não acontece.
"Lá não tem limite", afirmou.
Lula disse que fez uma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e que ambos estão "tranqüilos" com a situação.
"Sabemos que a crise é grave e que certamente vai diminuir o crédito no mundo. Mas nós estamos seguros porque nossas exportações estão indo bem e nossa indústria continua crescendo", afirmou.
O comentário de Lula aconteceu logo após a notícia de que o pacote anticrise foi rejeitado pela Câmara dos Estados Unidos e, segundo ele, houve esse entrave porque "a essa altura do campeonato tem gente querendo tirar proveito da situação".
"Está na hora de o Congresso e o governo norte-americano assumirem a responsabilidade que lhes cabe nessa história sem permitir que a disputa eleitoral que vai se dar em novembro prejudique a discussão do plano econômico. Os EUA têm que tampar esse buraco para deixar o mundo mais tranqüilo", concluiu”.
VIDA DE MACHADO DE ASSIS: CRONOLOGIA
Li no UOL ontem, data do centenário da morte do maior escritor brasileiro, a seguinte instrutiva matéria da Folha Online:
VEJA CRONOLOGIA DA VIDA DO ESCRITOR MACHADO DE ASSIS
“O escritor brasileiro Machado de Assis é figura central na literatura de língua portuguesa. O centenário de sua morte ocorre no dia 29 de setembro. Veja abaixo datas que marcam a vida do escritor:
1839 - Em 21 de junho, no Rio, nasce Joaquim Maria Machado de Assis, filho de Francisco José de Assis e Maria Leopoldina Machado de Assis.
1841 - Nasce sua única irmã, Maria Machado de Assis, que morre de sarampo aos 4 anos.
1849 - Morre sua mãe, Maria Leopoldina Machado de Assis.
1854 - Seu pai, Francisco José de Assis, casa-se com Maria Inês da Silva.
1855 - Publicação de seu primeiro poema, "Ela", na revista "Marmota Fluminense".
1856 - Começa a trabalhar como aprendiz de tipógrafo, na Tipografia Nacional.
1858 - Trabalha como revisor de provas na livraria Paula Brito, além de escrever para "O Paraíba", em Petrópolis.
1859 - Estréia como crítico teatral na revista "O Espelho".
1860 - Início de sua colaboração no "Diário do Rio de Janeiro".
1862 - Começa sua atuação como censor do Conservatório Dramático Brasileiro.
1863 - Publicação de "Teatro de Machado de Assis" com as comédias "O Protocolo" e "O Caminho da Porta".
1864 - Publicação de seu primeiro livro de poesia, "Crisálidas". No mesmo ano, morre seu pai.
1867 - Machado de Assis recebe de d. Pedro 2º a Ordem da Rosa.
1868 - José de Alencar apresenta Castro Alves a Machado de Assis por meio de carta publicada no "Correio Mercantil"
1869 - Casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novaes, em 12 de novembro.
1870 - Inicia a tradução de "Oliver Twist", de Charles Dickens, no "Jornal da Tarde".
1872 - Publicação do romance "Ressurreição".
1873 - Publica "Histórias da Meia-Noite" e é nomeado primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.
1874 - Em "O Globo", inicia a publicação de "A Mão e a Luva". Foi publicada em volume no mesmo ano.
1876 - É promovido a chefe da Seção da Secretaria de Agricultura e publica o romance "Helena", em "O Globo".
1878 - Publica, em "O Cruzeiro", o romance "Iaiá Garcia". Por motivo de doença nos olhos, vai para Friburgo e retorna em março do ano seguinte.
1880 - Início da publicação de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", na "Revista Brasileira". É nomeado oficial do gabinete do ministro da Agricultura, Manuel Buarque de Macedo.
1881 - Publicação em volume de "Memórias Póstumas de Brás Cubas". Passa a colaborar efetivamente na "Gazeta de Notícias".
1882 - Publica o livro de contos "Papéis Avulsos".
1883 - É eleito membro da Associação dos Homens de Letras do Brasil.
1884 - Publica o livro de contos "Histórias Sem Data". Ele e Carolina se mudam para a rua do Cosme Velho.
1886 - Início da publicação do romance "Quincas Borba" em "A Estação".
1888 - É elevado à categoria de oficial da Ordem da Rosa, por decreto imperial, durante comemoração da abolição da escravatura.
1889 - É promovido a diretor da Diretoria do Comércio, no Ministério da Agricultura.
1891 - Morre sua madrasta, Maria Inês da Silva. Publica em volume o romance "Quincas Borba".
1892 - Passa a diretor-geral do Ministério da Viação.
1894 - Faz parte da comissão em favor do monumento a José de Alencar.
1895 - Inicia sua colaboração na "Revista Brasileira".
1896 - Publica "Várias Histórias". Ajuda a fundar a Academia Brasileira de Letras.
1897 - É eleito presidente da Academia Brasileira de Letras, onde ocupa a cadeira 23.
1898 - Escreve seu primeiro testamento, nomeando Carolina herdeira única.
1899 - Publica "Dom Casmurro" e "Páginas Recolhidas". É firmado o contrato de venda de sua obra para François Hippolyte Garnier. Os livros são: "Páginas Recolhidas", "Dom Casmurro", "Memórias Póstumas de Brás Cubas", "Quincas Borba", "Iaiá Garcia", "Helena", "Ressurreição", "A Mão e a Luva", "Papéis Avulsos", "Histórias Sem Data", "Histórias da Meia-Noite", "Contos fluminenses", "Americanas", "Falenas" e "Crisálidas".
1901 - Publica "Poesias Completas".
1902 - É nomeado diretor-geral da Contabilidade do Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas.
1904 - Publicação do romance "Esaú e Jacó". Morre sua mulher, Carolina, de tumor no intestino.
1905 - Escreve seu segundo testamento.
1906 - Publica "Relíquias da Casa Velha".
1908 - Publica "Memorial de Aires". Em junho, Entra em licença, no Ministério da Viação, para tratamento de saúde. Em 29 de setembro, morre de arteriosclerose, às 3h20, em sua casa na rua do Cosme Velho, 18”.
VEJA CRONOLOGIA DA VIDA DO ESCRITOR MACHADO DE ASSIS
“O escritor brasileiro Machado de Assis é figura central na literatura de língua portuguesa. O centenário de sua morte ocorre no dia 29 de setembro. Veja abaixo datas que marcam a vida do escritor:
1839 - Em 21 de junho, no Rio, nasce Joaquim Maria Machado de Assis, filho de Francisco José de Assis e Maria Leopoldina Machado de Assis.
1841 - Nasce sua única irmã, Maria Machado de Assis, que morre de sarampo aos 4 anos.
1849 - Morre sua mãe, Maria Leopoldina Machado de Assis.
1854 - Seu pai, Francisco José de Assis, casa-se com Maria Inês da Silva.
1855 - Publicação de seu primeiro poema, "Ela", na revista "Marmota Fluminense".
1856 - Começa a trabalhar como aprendiz de tipógrafo, na Tipografia Nacional.
1858 - Trabalha como revisor de provas na livraria Paula Brito, além de escrever para "O Paraíba", em Petrópolis.
1859 - Estréia como crítico teatral na revista "O Espelho".
1860 - Início de sua colaboração no "Diário do Rio de Janeiro".
1862 - Começa sua atuação como censor do Conservatório Dramático Brasileiro.
1863 - Publicação de "Teatro de Machado de Assis" com as comédias "O Protocolo" e "O Caminho da Porta".
1864 - Publicação de seu primeiro livro de poesia, "Crisálidas". No mesmo ano, morre seu pai.
1867 - Machado de Assis recebe de d. Pedro 2º a Ordem da Rosa.
1868 - José de Alencar apresenta Castro Alves a Machado de Assis por meio de carta publicada no "Correio Mercantil"
1869 - Casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novaes, em 12 de novembro.
1870 - Inicia a tradução de "Oliver Twist", de Charles Dickens, no "Jornal da Tarde".
1872 - Publicação do romance "Ressurreição".
1873 - Publica "Histórias da Meia-Noite" e é nomeado primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.
1874 - Em "O Globo", inicia a publicação de "A Mão e a Luva". Foi publicada em volume no mesmo ano.
1876 - É promovido a chefe da Seção da Secretaria de Agricultura e publica o romance "Helena", em "O Globo".
1878 - Publica, em "O Cruzeiro", o romance "Iaiá Garcia". Por motivo de doença nos olhos, vai para Friburgo e retorna em março do ano seguinte.
1880 - Início da publicação de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", na "Revista Brasileira". É nomeado oficial do gabinete do ministro da Agricultura, Manuel Buarque de Macedo.
1881 - Publicação em volume de "Memórias Póstumas de Brás Cubas". Passa a colaborar efetivamente na "Gazeta de Notícias".
1882 - Publica o livro de contos "Papéis Avulsos".
1883 - É eleito membro da Associação dos Homens de Letras do Brasil.
1884 - Publica o livro de contos "Histórias Sem Data". Ele e Carolina se mudam para a rua do Cosme Velho.
1886 - Início da publicação do romance "Quincas Borba" em "A Estação".
1888 - É elevado à categoria de oficial da Ordem da Rosa, por decreto imperial, durante comemoração da abolição da escravatura.
1889 - É promovido a diretor da Diretoria do Comércio, no Ministério da Agricultura.
1891 - Morre sua madrasta, Maria Inês da Silva. Publica em volume o romance "Quincas Borba".
1892 - Passa a diretor-geral do Ministério da Viação.
1894 - Faz parte da comissão em favor do monumento a José de Alencar.
1895 - Inicia sua colaboração na "Revista Brasileira".
1896 - Publica "Várias Histórias". Ajuda a fundar a Academia Brasileira de Letras.
1897 - É eleito presidente da Academia Brasileira de Letras, onde ocupa a cadeira 23.
1898 - Escreve seu primeiro testamento, nomeando Carolina herdeira única.
1899 - Publica "Dom Casmurro" e "Páginas Recolhidas". É firmado o contrato de venda de sua obra para François Hippolyte Garnier. Os livros são: "Páginas Recolhidas", "Dom Casmurro", "Memórias Póstumas de Brás Cubas", "Quincas Borba", "Iaiá Garcia", "Helena", "Ressurreição", "A Mão e a Luva", "Papéis Avulsos", "Histórias Sem Data", "Histórias da Meia-Noite", "Contos fluminenses", "Americanas", "Falenas" e "Crisálidas".
1901 - Publica "Poesias Completas".
1902 - É nomeado diretor-geral da Contabilidade do Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas.
1904 - Publicação do romance "Esaú e Jacó". Morre sua mulher, Carolina, de tumor no intestino.
1905 - Escreve seu segundo testamento.
1906 - Publica "Relíquias da Casa Velha".
1908 - Publica "Memorial de Aires". Em junho, Entra em licença, no Ministério da Viação, para tratamento de saúde. Em 29 de setembro, morre de arteriosclerose, às 3h20, em sua casa na rua do Cosme Velho, 18”.
FRASES CÉLEBRES DE MACHADO DE ASSIS
O portal UOL postou ontem, em matéria da Folha Online, um interessante conjunto de frases do escritor que se tornaram famosas. As fontes de onde foram extraidas essas frases foram: "Machado de A a X - Um Dicionário de Citações", de Lucia Leite Ribeiro Prado Lopes (365 págs., editora 34, R$ 49); e "Pensamentos e Reflexões de Machado de Assis", de Gentil de Andrade (301 págs., Civilização Brasileira, esgotado).
LEIA FRASES DO ESCRITOR MACHADO DE ASSIS POR TEMAS
“O humor irônico é uma das marcas do escritor brasileiro Machado de Assis (1839-1908). Algumas frases do carioca ficaram célebres, veja uma seleção por temas.
ABOLIÇÃO
"A abolição é a aurora da liberdade; emancipado o preto, resta emancipar o branco."
Em "Esaú e Jacó" (1904)
ADOLESCÊNCIA
"Há em cada adolescente um mundo encoberto, um almirante e um sol de outubro."
Em "Dom Casmurro" (1899)
"Aos quinze anos, há até certa graça em ameaçar muito e não executar nada."
Em "Dom Casmurro" (1899)
ALEGRIA
"Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular."
Em "Memorial de Aires" (1908)
AMOR
"A falta de afeição é que traz a injustiça."
Em "Histórias da Meia Noite" (1873)
"Amor de mãe é a mais elevada forma de altruísmo."
Em "Páginas Recolhidas" (1899)
"É regra velha, creio eu, ou fica sendo nova, que só se faz bem o que se faz com amor. Tem ar de velha, tão justa e vulgar parece."
Em "Memorial de Aires" (1888)
"Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis..."
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
"Não se deliberam sentimentos; ama-se ou aborrece-se, conforme o coração quer."
Em "Helena" (1876)
"Os melhores amores nascem de um minuto."
Em carta a Salvador de Mendonça (1876)
"Só as grandes paixões são capazes de grandes ações."
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
"Para eu amar-te devias
Outra ser e não como eras."
Em "Erro", "Crisálidas" (1864)
BOATO
"O boato é um ente invisível e impalpável, que fala como um homem, está em toda a parte e em nenhuma, que ninguém vê de onde surge, nem onde se esconde, que traz consigo a célebre lanterna dos contos arábicos, a favor da qual se avantaja em poder e prestígio, a tudo o que é prestigioso e poderoso."
Em "Comentários da Semana" (série de crônicas, 7 de janeiro de 1862)
BRASIL
"Um dos defeitos mais gerais, entre nós, é achar sério o que é ridículo, e ridículo o que é sério, pois o tato para acertar nestas coisas é também uma virtude do povo."
Em "Ao Acaso" (28 de março 1865)
"Pátria brasileira (esta comparação é melhor) é como se disséssemos manteiga nacional, a qual pode ser excelente, sem impedir que os outros façam a sua."
Em "A Semana" (8 de maio de 1892)
CASAMENTO
"O casamento é a pior ou a melhor coisa do mundo; pura questão de temperamento."
Em "Helena" (1876)
ELOGIOS
"Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até o corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado"
Em "A Semana" (25 de setembro de 1892)
DEFEITOS
"Defeitos não fazem mal, quando há vontade e poder de os corrigir"
Em "Carta a Lucio de Mendonça" (24 de janeiro de 1872)
FILHOS
"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
"Encha uma pequena mala com idéias e frases feitas, se puder, abençoe o rapaz e deixe-o ir."
Em "Balas de Estalo" (3 de abril de 1885)
GLÓRIA
"As glórias de empréstimo, se não valem tanto como as de plena propriedade, merecem sempre algumas mostras de simpatia."
Em "A Semana" (16 de outubro de 1892)
HOMEM
"Antes do poeta mostra-se o homem, antes do talento o caráter."
Em "Comentários da Semana", (série de crônicas, 26 de janeiro de 1862)
IMITAÇÃO
"Quando a gente não pode imitar os grandes homens, imite ao menos as grandes ficções."
Em "A Semana" (19 de novembro de 1893)
INFERNO
"O inferno é um hospício de incuráveis."
Em "A Semana" (18 de fevereiro de 1894)
JUÍZO
"Em si mesma, a loucura é já uma rebelião. O juízo é a ordem, é a constituição, a justiça e as leis."
Em "A Semana" (17 de janeiro de 1897)
LADRÃO
"Não é a ocasião que faz o ladrão, dizia ele a alguém; o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: 'A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito.'"
Em "Esaú e Jacó" (1904)
LOUCURA
"A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente."
Em "O Alienista" (1882)
NATUREZA
"Não seria propriamente um efeito de arte, concordo, e sim da natureza; mas que é a natureza senão uma arte anterior?"
Em "A Semana" (18 de novembro de 1894)
OLHO
"As coisas têm o valor do aspecto, e o aspecto depende da retina."
Em "A Semana" (22 de novembro de 1896)
PAZ
"O melhor modo de viver em paz é nutrir o amor-próprio dos outros com pedaços do nosso."
Em "Helena" (1876)
PECADO
"O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado."
Em "Quincas Borba" (1891)
PERDÃO
"Quando estimo alguém, perdôo; quando não estimo, esqueço. Perdoar e esquecer é raro, mas não é possível; está nas tuas mãos."
Em "Iaiá Garcia" (1878)
PERIGO
"Quem escapa do perigo vive a vida com outra intensidade."
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
POLÍTICA
"Ouça-me este conselho: em política, não se perdoa nem se esquece nada."
Em "Quincas Borba" (1891)
"Venha, venha o voto feminino; eu o desejo, não somente porque é idéia de publicistas notáveis, mas porque é um elemento estético nas eleições, onde não há estética."
Em "Histórias de 15 Dias" (1º de abril de 1877)
POSSÍVEL
"Tudo é possível debaixo do sol --e a mesma coisa sucederá acima dele - Deus sabe."
Em "Memorial de Aires" (1908)
PRESENTE
"O presente que se ignora vale o futuro."
Em "A Cartomante", em "Várias Histórias" (1896)
PRÓLOGO
"O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado."
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
PURGATÓRIO
"Purgatório é uma casa de penhores, que empresta sobre todas as virtudes, a juro alto e prazo curto."
Em "Dom Casmurro" (1899)
REALIDADE
"Mas, onde cessava ali a realidade e começava a aparência? Vinha de tratar com um infeliz ou um hipócrita?"
Em "Helena" (1876)
"Esquece-se o real e palpa-se o impossível."
No prelúdio de "Falenas" (1870)
ROMANCE
"Não confunda o romance com a vida, ou viverá desgraçada."
Em "Ponto de vista", em "Histórias da Meia-Noite" (1873)
SEGREDO
"Que os segredos, amiga minha, também são gente; nascem, vivem e morrem."
Em "Esaú e Jacó" (1904)
SONHO
"O sonho é uma festa do espírito."
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
TEATRO
"Em uma terra onde tudo está por fazer, não seria o teatro, cópia continuada da sociedade, que estaria mais adiantado."
Em "Comentários da Semana", crônicas, (1º de dezembro de 1861)
"Não se comenta Shakespeare, admira-se."
Em "Revista dos Teatros", crítica teatral, (12 de novembro de 1859)
"Longe de educar o gosto, o teatro serve apenas para desfantasiar o espírito, nos dias de maior aborrecimento."
Em "Crítica Teatral" (1866)
TEMPO
"--Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos."
Em "Ressurreição" (1872)
"O acaso propusera-lhe um enigma; o tempo dava-lhe a decifração."
Em "Iaiá Garcia" (1878)
"Matamos o tempo; o tempo nos enterra."
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
UNIVERSAL
"O dia estava lindíssimo. Não era só um domingo cristão; era um imenso domingo universal."
Em "Uns Braços", "Várias Histórias" (1896)
"O que importa notar é que todas essas multidões de mortos --por uma causa justa ou injusta-- são os figurantes anônimos da tragédia universal e humana."
Em "A Semana" (23 de fevereiro de 1896)
VALSA
"A valsa é a primeira dança do mundo; pelo menos é a única dança em que há poesia."
Em "Ressurreição" (1872)
VERDADE
"Não é a verdade que vence, é a convicção."
Em "Esaú e Jacó" (1904)
"Eu sei que vossa excelência preferia uma delicada mentira; mas eu não conheço nada mais delicado que a verdade."
Em "Linha Reta e Linha Curva", "Contos Fluminenses" (1870)
VERSO
"Uma coisa é citar versos, outra é crer neles."
Em "Memorial de Aires" (1908)
VIÚVO
"Um viúvo sem filhos vale por um solteirão; aos sessenta, vale por dois ou três."
Em "Esaú e Jacó" (1904)
VIVER
"Variar é viver. São dois verbos que começam com 'v': profunda lição que nos dá a natureza da gramática."
No conto "Não é o Mel para a Boca do Asno" (1868)
XADREZ
"Das qualidades necessárias ao xadrez, Iaiá possuía as duas essenciais: vista pronta e paciência beneditina, qualidades preciosas na vida, que também é um xadrez, com seus problemas e partidas, umas ganhas, outras perdidas, outras nulas."
Em "A Semana"
LEIA FRASES DO ESCRITOR MACHADO DE ASSIS POR TEMAS
“O humor irônico é uma das marcas do escritor brasileiro Machado de Assis (1839-1908). Algumas frases do carioca ficaram célebres, veja uma seleção por temas.
ABOLIÇÃO
"A abolição é a aurora da liberdade; emancipado o preto, resta emancipar o branco."
Em "Esaú e Jacó" (1904)
ADOLESCÊNCIA
"Há em cada adolescente um mundo encoberto, um almirante e um sol de outubro."
Em "Dom Casmurro" (1899)
"Aos quinze anos, há até certa graça em ameaçar muito e não executar nada."
Em "Dom Casmurro" (1899)
ALEGRIA
"Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular."
Em "Memorial de Aires" (1908)
AMOR
"A falta de afeição é que traz a injustiça."
Em "Histórias da Meia Noite" (1873)
"Amor de mãe é a mais elevada forma de altruísmo."
Em "Páginas Recolhidas" (1899)
"É regra velha, creio eu, ou fica sendo nova, que só se faz bem o que se faz com amor. Tem ar de velha, tão justa e vulgar parece."
Em "Memorial de Aires" (1888)
"Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis..."
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
"Não se deliberam sentimentos; ama-se ou aborrece-se, conforme o coração quer."
Em "Helena" (1876)
"Os melhores amores nascem de um minuto."
Em carta a Salvador de Mendonça (1876)
"Só as grandes paixões são capazes de grandes ações."
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
"Para eu amar-te devias
Outra ser e não como eras."
Em "Erro", "Crisálidas" (1864)
BOATO
"O boato é um ente invisível e impalpável, que fala como um homem, está em toda a parte e em nenhuma, que ninguém vê de onde surge, nem onde se esconde, que traz consigo a célebre lanterna dos contos arábicos, a favor da qual se avantaja em poder e prestígio, a tudo o que é prestigioso e poderoso."
Em "Comentários da Semana" (série de crônicas, 7 de janeiro de 1862)
BRASIL
"Um dos defeitos mais gerais, entre nós, é achar sério o que é ridículo, e ridículo o que é sério, pois o tato para acertar nestas coisas é também uma virtude do povo."
Em "Ao Acaso" (28 de março 1865)
"Pátria brasileira (esta comparação é melhor) é como se disséssemos manteiga nacional, a qual pode ser excelente, sem impedir que os outros façam a sua."
Em "A Semana" (8 de maio de 1892)
CASAMENTO
"O casamento é a pior ou a melhor coisa do mundo; pura questão de temperamento."
Em "Helena" (1876)
ELOGIOS
"Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até o corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado"
Em "A Semana" (25 de setembro de 1892)
DEFEITOS
"Defeitos não fazem mal, quando há vontade e poder de os corrigir"
Em "Carta a Lucio de Mendonça" (24 de janeiro de 1872)
FILHOS
"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
"Encha uma pequena mala com idéias e frases feitas, se puder, abençoe o rapaz e deixe-o ir."
Em "Balas de Estalo" (3 de abril de 1885)
GLÓRIA
"As glórias de empréstimo, se não valem tanto como as de plena propriedade, merecem sempre algumas mostras de simpatia."
Em "A Semana" (16 de outubro de 1892)
HOMEM
"Antes do poeta mostra-se o homem, antes do talento o caráter."
Em "Comentários da Semana", (série de crônicas, 26 de janeiro de 1862)
IMITAÇÃO
"Quando a gente não pode imitar os grandes homens, imite ao menos as grandes ficções."
Em "A Semana" (19 de novembro de 1893)
INFERNO
"O inferno é um hospício de incuráveis."
Em "A Semana" (18 de fevereiro de 1894)
JUÍZO
"Em si mesma, a loucura é já uma rebelião. O juízo é a ordem, é a constituição, a justiça e as leis."
Em "A Semana" (17 de janeiro de 1897)
LADRÃO
"Não é a ocasião que faz o ladrão, dizia ele a alguém; o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: 'A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito.'"
Em "Esaú e Jacó" (1904)
LOUCURA
"A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente."
Em "O Alienista" (1882)
NATUREZA
"Não seria propriamente um efeito de arte, concordo, e sim da natureza; mas que é a natureza senão uma arte anterior?"
Em "A Semana" (18 de novembro de 1894)
OLHO
"As coisas têm o valor do aspecto, e o aspecto depende da retina."
Em "A Semana" (22 de novembro de 1896)
PAZ
"O melhor modo de viver em paz é nutrir o amor-próprio dos outros com pedaços do nosso."
Em "Helena" (1876)
PECADO
"O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado."
Em "Quincas Borba" (1891)
PERDÃO
"Quando estimo alguém, perdôo; quando não estimo, esqueço. Perdoar e esquecer é raro, mas não é possível; está nas tuas mãos."
Em "Iaiá Garcia" (1878)
PERIGO
"Quem escapa do perigo vive a vida com outra intensidade."
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
POLÍTICA
"Ouça-me este conselho: em política, não se perdoa nem se esquece nada."
Em "Quincas Borba" (1891)
"Venha, venha o voto feminino; eu o desejo, não somente porque é idéia de publicistas notáveis, mas porque é um elemento estético nas eleições, onde não há estética."
Em "Histórias de 15 Dias" (1º de abril de 1877)
POSSÍVEL
"Tudo é possível debaixo do sol --e a mesma coisa sucederá acima dele - Deus sabe."
Em "Memorial de Aires" (1908)
PRESENTE
"O presente que se ignora vale o futuro."
Em "A Cartomante", em "Várias Histórias" (1896)
PRÓLOGO
"O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado."
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
PURGATÓRIO
"Purgatório é uma casa de penhores, que empresta sobre todas as virtudes, a juro alto e prazo curto."
Em "Dom Casmurro" (1899)
REALIDADE
"Mas, onde cessava ali a realidade e começava a aparência? Vinha de tratar com um infeliz ou um hipócrita?"
Em "Helena" (1876)
"Esquece-se o real e palpa-se o impossível."
No prelúdio de "Falenas" (1870)
ROMANCE
"Não confunda o romance com a vida, ou viverá desgraçada."
Em "Ponto de vista", em "Histórias da Meia-Noite" (1873)
SEGREDO
"Que os segredos, amiga minha, também são gente; nascem, vivem e morrem."
Em "Esaú e Jacó" (1904)
SONHO
"O sonho é uma festa do espírito."
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
TEATRO
"Em uma terra onde tudo está por fazer, não seria o teatro, cópia continuada da sociedade, que estaria mais adiantado."
Em "Comentários da Semana", crônicas, (1º de dezembro de 1861)
"Não se comenta Shakespeare, admira-se."
Em "Revista dos Teatros", crítica teatral, (12 de novembro de 1859)
"Longe de educar o gosto, o teatro serve apenas para desfantasiar o espírito, nos dias de maior aborrecimento."
Em "Crítica Teatral" (1866)
TEMPO
"--Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos."
Em "Ressurreição" (1872)
"O acaso propusera-lhe um enigma; o tempo dava-lhe a decifração."
Em "Iaiá Garcia" (1878)
"Matamos o tempo; o tempo nos enterra."
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
UNIVERSAL
"O dia estava lindíssimo. Não era só um domingo cristão; era um imenso domingo universal."
Em "Uns Braços", "Várias Histórias" (1896)
"O que importa notar é que todas essas multidões de mortos --por uma causa justa ou injusta-- são os figurantes anônimos da tragédia universal e humana."
Em "A Semana" (23 de fevereiro de 1896)
VALSA
"A valsa é a primeira dança do mundo; pelo menos é a única dança em que há poesia."
Em "Ressurreição" (1872)
VERDADE
"Não é a verdade que vence, é a convicção."
Em "Esaú e Jacó" (1904)
"Eu sei que vossa excelência preferia uma delicada mentira; mas eu não conheço nada mais delicado que a verdade."
Em "Linha Reta e Linha Curva", "Contos Fluminenses" (1870)
VERSO
"Uma coisa é citar versos, outra é crer neles."
Em "Memorial de Aires" (1908)
VIÚVO
"Um viúvo sem filhos vale por um solteirão; aos sessenta, vale por dois ou três."
Em "Esaú e Jacó" (1904)
VIVER
"Variar é viver. São dois verbos que começam com 'v': profunda lição que nos dá a natureza da gramática."
No conto "Não é o Mel para a Boca do Asno" (1868)
XADREZ
"Das qualidades necessárias ao xadrez, Iaiá possuía as duas essenciais: vista pronta e paciência beneditina, qualidades preciosas na vida, que também é um xadrez, com seus problemas e partidas, umas ganhas, outras perdidas, outras nulas."
Em "A Semana"
AVALIAÇÃO PESSOAL DE LULA ATINGE RECORDE DE 80% EM SETEMBRO, DIZ CNI/IBOPE
O UOL ontem postou a seguinte matéria de Gabriela Guerreiro, da Folha Online, em Brasília:
“A avaliação pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva também atingiu recorde em setembro deste ano, subindo de 72%, em junho, para 80%, segundo aponta pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta segunda-feira.
A desaprovação recuou sete pontos percentuais na comparação com o mês de junho, descendo de 24% para 17%.
No Nordeste, a aprovação à maneira do presidente Lula governar chegou a 92%. A pesquisa registra que o único movimento negativo a Lula está entre os que ganham mais de dez salários mínimos mensais, grupo em que foi possível registrar redução no apoio ao presidente.
Na região Sudeste, a apoio ao presidente atingiu o índice de 74%. Na região Sul, chegou a 77% de aprovação e 19% de desaprovação, enquanto nas regiões Norte e Centro-Oeste o apoio a Lula chegou a 77%.
Na divisão por faixas salariais, o índice de aprovação ao presidente é maior entre os que ganham até um salário mínimo: 87%. Segundo a CNI/Ibope, a aprovação ao presidente cai ao ser elevado o nível de escolaridade dos entrevistados. Entre os que têm nível superior, a aprovação ao petista é de 66%. Já entre os que recebem mais de dez salários mínimos mensais, o percentual de apoio é de 56%.
A pesquisa foi realizada entre os dias 19 e 22 de setembro e ouviu 2.002 pessoas em 141 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos”.
“A avaliação pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva também atingiu recorde em setembro deste ano, subindo de 72%, em junho, para 80%, segundo aponta pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta segunda-feira.
A desaprovação recuou sete pontos percentuais na comparação com o mês de junho, descendo de 24% para 17%.
No Nordeste, a aprovação à maneira do presidente Lula governar chegou a 92%. A pesquisa registra que o único movimento negativo a Lula está entre os que ganham mais de dez salários mínimos mensais, grupo em que foi possível registrar redução no apoio ao presidente.
Na região Sudeste, a apoio ao presidente atingiu o índice de 74%. Na região Sul, chegou a 77% de aprovação e 19% de desaprovação, enquanto nas regiões Norte e Centro-Oeste o apoio a Lula chegou a 77%.
Na divisão por faixas salariais, o índice de aprovação ao presidente é maior entre os que ganham até um salário mínimo: 87%. Segundo a CNI/Ibope, a aprovação ao presidente cai ao ser elevado o nível de escolaridade dos entrevistados. Entre os que têm nível superior, a aprovação ao petista é de 66%. Já entre os que recebem mais de dez salários mínimos mensais, o percentual de apoio é de 56%.
A pesquisa foi realizada entre os dias 19 e 22 de setembro e ouviu 2.002 pessoas em 141 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos”.
CIENTISTA POLÍTICO EXIBE A CHAVE PARA A COMPREENSÃO DA AL
Há dois dias, o site “Vermelho” postou boa entrevista com o cientista político Marcelo Coutinho do IUPERJ, publicada no JB Online.
“Ao lado da professora Maria Regina Soares de Lima, o cientista político Marcelo Coutinho fundou, há cinco anos, o Observatório de Política Sul-Americana (OPSA) do Iuperj, transformado nesse período em uma das maiores referências nas análises da região.
Coutinho acaba de lançar o livro Crises institucionais e mudança política na América do Sul, resultado de sua tese de doutorado, defendida há três anos no próprio Iuperj.
No livro, exibe a chave para a compreensão das instituições da América Latina: a inclusão política é o eixo para a estabilização dos regimes democráticos.
A lição serve para os problemas enfrentados por governos como Evo Morales, na Bolívia, Hugo Chávez, na Venezuela, ou Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil.
O segredo da estabilidade, informa o livro, está na capacidade de definir acordos nacionais e estabelecer padrões de cooperação - coisa que, no caso boliviano, não se está conseguindo.
Nesta entrevista, Coutinho vai além. Mostra as raízes políticas e econômicas dos abalos institucionais em alguns países, compara Chávez e Morales e revela que a força política das populações mais pobres da região não é ideológica. À direita ou à esquerda, tanto faz: elas vão reagir se não forem atendidas.
SEU LIVRO ABORDA OS FATORES QUE CONDUZEM OS PAÍSES À INSTITUCIONALIZAÇÃO DA DEMOCRACIA. MOSTRA QUE A ACOMODAÇÃO DA DIVERSIDADE E A COOPERAÇÃO ENTRE OS ATORES POLÍTICOS FAVORECE ESSE CAMINHO. POR QUE ALGUNS PAÍSES CONSEGUIRAM MAIS ESTABILIDADE DEMOCRÁTICA DO QUE OUTROS? O QUE PESA PARA DAR CERTO?
- Tento justamente explicar por que algumas democracias da América do Sul conseguiram se estabilizar no período pós-autoritário e outros ainda vivem um ciclo de crises institucionais, como é o caso da Bolívia.
Em busca dessa explicação, comecei a estudar padrões de interação política de maneira comparada entre esses países e ficou bastante claro o fato de que países que tinham instituições e padrões de comportamento de interação política mais inclusivos foram justamente aqueles que conseguiram estabilizar e institucionalizar suas democracias nos últimos 10 anos ou 15 anos.
Há um grupo mais estável, Brasil, Chile e Uruguai. São aqueles que estabeleceram padrões de interação mais inclusivos. O Chile através da sua concertação no período de transição democrática, de 1990-91 até hoje. O Uruguai também. E Brasil alcançou esse patamar de maior estabilidade institucional a partir de 1989, com o processo de afastamento do presidente Collor. Naquele momento há uma virada da política brasileira em favor de uma maior institucionalização política. Ali houve uma crise muito séria, mas sem qualquer ameaça às instituições. Ao contrário, as instituições processaram a crise de uma maneira muito eficiente. E a própria crise gerou um comportamento mais inclusivo. Foi um marco nas relações políticas do país.
VOCÊ CITA A MEMÓRIA COMO UM FATOR IMPORTANTE. POR QUÊ?
- Veja aquela circunstância de 92. Ficou registrada na memória dos atores políticos, em geral na memória da nação, e aquilo passa a ser muito importante na maneira como vão enfrentar futuras crise. A crise de 92 é uma espécie de retrovisor por onde os atores políticos olham antes de tomar qualquer tipo de atitude.
OS PAÍSES ANDINOS SEGUIRAM TRILHAS MAIS TORTUOSAS. FALTOU-LHES ESSA COOPERAÇÃO E ESSA MEMÓRIA?
- Uma vez encontrado o momento-chave da virada institucional, me interessou também analisar o lado oposto, ou seja, casos em que a estabilidade política é menor, sobretudo nos países andinos: Bolívia, Peru, Colômbia, Equador e Venezuela.
O único país do Cone Sul que reproduz esse padrão de maior instabilidade é o Paraguai. Os países andinos são, em geral, mais instáveis e menos inclusivos. Nos casos desses países andinos há uma característica muito interessante: o esgotamento do seu sistema partidário nos últimos 20 anos. O sistema partidário entra em colapso.
Encontramos nos países andinos uma seqüência de crises institucionais, seja por revoltas sociais, como é o caso da Bolívia e do Peru, seja por intermédio de golpes ou tentativa de golpes, como foi mais recentemente o caso venezuelano.
Um outro sinal de crise institucional é a guerra civil interna, no caso colombiano. E a interação política e as instituições que lidam com esses processos mais críticos nos países andinos são interações excludentes, baseadas nos confrontos e não na cooperação.
Nesses países gera-se uma seqüência de crises porque nunca se chega ao um acordo de fato. Falo em acordos mínimos, com respeito à democracia do país. Sempre prevalece o padrão do confronto, do antagonismo e da exclusão.
NÃO SÓ PROTAGONIZADO PELA OPOSIÇÃO, MAS POR QUEM ESTÁ NO PODER.
- Exatamente. Enquanto Brasil e Chile, por exemplo, estabelecem governos de coalizão ampla, esses países, em geral, estabelecem coalizões muito restritas, quando não governos minoritários.
Dois casos se diferenciam: Bolívia e Colômbia, que tiveram grandes coalizões no período pós-autoritário. Acontece que eram coalizões montadas em bases que não correspondiam à diversidade política e social do país. Vou dar o exemplo da Bolívia mais uma vez, que viu ser deixada de fora das coalizões grande parte da diversidade social do país. Foi o caso do movimento indígena, o contingente populacional disperso em alguns movimentos sociais e organizações políticas.
No caso colombiano, embora alguns governos também tivessem estabelecido grandes coalizões parlamentares, a guerra interna diminuiu muito o esforço dessas coalizões porque grande parte desse contingente populacional ou mesmo territorial do país não está contemplada neste cálculo.
Quando se olha o mapa das Farc observa-se claramente que mais ou menos 30% ou 40% do território é tomado por forças não institucionalizadas, forças que estão para fora do processo político democrático.
Tudo isso para dizer que há nos Andes instituições e interações políticas menos inclusivas em comparação aos países do Cone Sul. No caso especificamente do Peru, eu me preocupei em entrar um pouco mais a fundo.
E NA COMPARAÇÃO COM O BRASIL, VOCÊ APONTA O PERU DE FUJIMORI COMO UM PAÍS DE POLARIZAÇÃO E RIVALIDADE, CONTRA A INCLUSÃO E A COMPOSIÇÃO BRASILEIRAS.
- Mais inclusão significa mais estabilidade. Isso fica bastante evidenciado nos primeiros testes de hipótese. Na segunda parte do livro há uma parte mais histórica comparativa. Comparo precisamente o caso brasileiro com o caso peruano, sobretudo porque são coincidentes no tempo. Ambas as crises acontecem em 1992. Mas não só por causa disso. Ambos apresentam padrões institucionais muito semelhantes, anteriores à crise de 92. São sistemas presidencialistas, multipartidários, com regras eleitorais muito semelhantes, um Executivo muito forte. São países que também passaram por regimes autoritários, tiveram sua transição para a democracia através de um processo muito negociado, ao contrário de outros padrões de transição na região, onde houve uma ruptura maior. São também países com uma desigualdade social muito grande.
Há diferença entre eles. O Brasil é uma economia mais diversificada, mas em termos políticos institucionais apresentam grandes semelhanças. Isso tudo me permitiu criar um quadro comparativo que me assegura que o que aconteceu em 92 foi decisivo para a trajetória política posterior de ambos os países.
Se no Brasil observamos uma gradativa cooperação, formação de um consenso nacional que leva ao afastamento do presidente, dentro das regras democráticas, no caso peruano observamos o oposto. Há um processo de polarização crescente que leva a um autogolpe dado pelo então presidente Fujimori, que rompe com as instituições democráticas e estabelece uma polarização muito aguda dentro do país, um confronto muito aberto. Esse padrão de polarização vai se seguir pelos anos seguintes.
Fujimori sofre, seis meses depois, a tentativa de um contragolpe e a partir disso há uma seqüência de deterioração institucional peruana que leva a um período autoritário, algo que destoa do cenário regional pós-transição.
Toda a América do Sul, a partir de 91, é uma região democrática. Um dos poucos contra exemplos é justamente este período fujimorista peruano. Mesmo depois do Fujimori, no caso o presidente Alejandro Toledo, observamos que essa memória institucional que ficou do conflito e do seu resultado de 92 continua a prevalecer, a condicionar ou a influenciar fortemente o comportamento político dos atores.
HÁ UM CÁLCULO POLÍTICO?
- Sim, um cálculo. O governo Toledo enfrentou grandes dificuldades institucionais. Chegou a ter menos de 10% de popularidade, sofreu revoltas sociais, decretou vários estados de sítio, estados de exceção, sempre rodeados de rumores de golpe, de processo de interrupção precoce, até assumir Garcia.
Veja que isso independe da ideologia do governo e do seu programa econômico. O governo Toledo é um governo de recuperação econômica.
Mesmo agora no caso boliviano, se pegamos as médias de crescimento econômico e de inflação, a média dos últimos anos é superior a qualquer coisa que você queira verificar, até mesmo no que diz respeito à renda derivada do petróleo e do gás que quintuplicou depois da nacionalização.
Uma coisa importante do livro é salientar que o problema institucional sul-americano não é de natureza econômica, mas de natureza política. Não há essa associação: crise econômica, crise institucional; crise institucional, crise econômica. As duas coisas não estão combinadas.
Uruguai e Argentina passaram talvez pela pior crise da história da América Latina, entre 1998 e 2003. A crise no Uruguai é tremenda, conduz a uma fuga dos jovens, mas as instituições políticas passam incólumes. Há uma alternância politica muito importante, que leva à ascensão de uma frente ampla de esquerda. As esquerdas chegam ao poder, mas sem qualquer fissura ou ameaça à estabilidade do país.
A virtude, portanto, está na capacidade de inclusão de novas frentes, de novos atores políticos. Ao incluir, esses regimes fazem com que se reproduzam de maneira mais estável no tempo.
NO BRASIL MUITAS ANÁLISES SE ACOSTUMARAM A IDENTIFICAR ASSOCIAÇÕES DE ELITES, NUM ACORDO PARA MANTER O STATUS QUO. A TESE AINDA É VÁLIDA? COM ELA, A IDÉIA DA INCORPORAÇÃO NÃO FICA ESMAECIDA?
- Essa aliança das elites é o padrão histórico da América Latina. Se olharmos para uma série de 100 ou 200 anos, fica claro que o padrão é de acordos de conveniência das elites. Agora há duas novidades na região. Esse acordo ocorre dentro das regras democráticas. Esse é o marco que diferencia a história política recente. Uma outra característica importante é ascensão de esquerdas, em muitos casos, e de nacionalistas, de outros, dentro das regras democráticas.
Foi um teste. Começou com o Chávez em 99 na Venezuela, depois vieram Lula no Brasil, Kirchner na Argentina, Vásquez no Uruguai, Bachelet no Chile, Correa no Equador, Morales na Bolívia e, por último, a vitória de Fernando Lugo no Paraguai, que finaliza 60 anos de domínio do Partido Colorado.
Esse é um teste decisivo. Não é um teste final, porque uma das contribuições do livro é mostrar que a democracia é algo vivo, um processo inacabado. É mais interessante trabalhar com a idéia de estabilidade do que de consolidação. Consolidação dá uma idéia de permanência, que não existe na democracia.
NO MEIO DO TESTE, PORÉM, HOUVE O GOLPE CONTRA HUGO CHÁVEZ.
- O golpe que afastou Chávez por 48 horas seguiu o modelo clássico, de conveniência das elites, com respaldo das Formas Armadas e em concordância com setores empresariais, corporativos e políticos. Até aí não houve novidade.
A novidade foi o que aconteceu depois: o retorno do presidente. O acordo entre as elites não foi suficiente para derrubar o presidente e resolver aquela questão.
Tanto foi assim que Chávez voltou pelo clamor popular. Não foram forças superiores, obscuras, mas o clamor popular que o levou a retornar ao poder.
Veja com isso que a democracia no país se torna completamente distinta do padrão anterior. Houve um empoderamento da sociedade, sobretudo da população mais carente, que sempre foi uma maioria, mas nunca se expressou coletivamente e de modo tão contundente. Foi justamente essa base popular que o fortaleceu tanto.
NO LIVRO VOCÊ CREDITA A ASCENSÃO DOS GOVERNOS DE ESQUERDA TAMBÉM AO FRACASSO DAS POLÍTICAS DE CORTE NEOLIBERAL.
- Sim, esse novo momento sul-americano é um processo de mudança resultado em grande parte do fracasso das políticas implementadas até o fim dos anos 90 de maneira muito radical, o chamado neoliberalismo, Consenso de Washington ou reformas econômicas em direção ao mercado. Essa agenda predominou do fim dos anos 80 até o fim dos anos 90.
O primeiro país da América do Sul a adotar essa agenda foi o Chile de Pinochet, que se tornou laboratório para o mundo inteiro. E o primeiro país democrático a adotar essa agenda foi justamente a Bolívia. O primeiro decreto neoliberal data de 1985 e se deu justamente na Bolívia.
De lá para cá, privatizações, abertura comercial, desregulamentação da economia, redução do Estado e assim por diante. Passados 20, 15 ou 10 anos, a depender do caso, o resultado final foi desastroso. A Argentina passou pela sua pior crise. O Uruguai também. O Brasil passou por duas crises muito sérias, em 98 e 2002. O mesmo acontece com a Bolívia, o Peru e a Venezuela.
MAS O QUE MUDA DO PONTO DE VISTA DEMOCRÁTICO?
- A Venezuela, por exemplo, sempre foi muito dependente do petróleo. Acontece que o pacto que regia as relações políticas no país até os anos 90 começou a se deteriorar a partir da capacidade desse pacto de se traduzir em benefícios econômicos. O pacto é importante para a institucionalização da democracia, mas ele tem limites. Esbarra na pobreza e na desigualdade social.
O caso venezuelano é exemplar nesse sentido. Levou à estabilidade no país por quase 40 anos e fez com que a Venezuela não experimentasse os regimes autoritários que a América Latina experimentou naquele momento. Mas houve um processo crescente de deterioração das instituições, resultado da incapacidade dessa democracia de se traduzir em um ganho substancial para as populações mais carentes.
Essas populações se tornam nos últimos anos mais autônomas, muito ciosas de seus interesses. Esse processo leva à ascensão de frentes mais à esquerda, ou mais de centro-esquerda, ou nacionalistas.
Começa aí a alternância.
MESMO COM ESSA ALTERNÂNIA, MESMO COM A RECUPERAÇÃO ECONÔMICA DOS ÚLTIMOS ANOS, O NÍVEL DE CONFIANÇA NA POLÍTICA NA AMÉRICA LATINA EM GERAL CONTINUOU BAIXO. OU SEJA, OS GOVERNOS DE ESQUERDA NÃO FORAM SUFICIENTES PARA RECUPERAR ESSA CONFIANÇA. POR QUÊ?
- Há um desgaste dos políticos, não da democracia. E isso ocorre não só na América Latina, mas também nos EUA e na Europa. Esse desgaste é resultado de outras forças, de outras esferas, que passam a concorrer com os políticos, com a maneira tradicional de representação política.
Uma segunda observação é que é preciso ver com cuidado o resultado dessas pesquisas, não levá-las em consideração de maneira tão severa por questões metodológicas que não vem ao caso.
A terceira observação é que a autonomia da sociedade verificada nos últimos anos vale para qualquer um. Não é uma autonomia ideológica. Não é uma autonomia de esquerda. A autonomia, sobretudo das populações mais carentes sempre alijadas do processo político e econômico, não é partidária. Se atende, ótimo. Se não atende, o problema começa.
Não à toa, os líderes que surgem desse ciclo político regional começam a gerar políticas voltadas para essas populações, com uma série de programas cujo foco são justamente essas populações mais carentes.
O que se destaca nas políticas sociais dos últimos seis, sete anos são as políticas focalizadas, que atendem a um setor da sociedade que hoje tem poder político e consciência do seu poder decisivo de escolha dos futuros governos.
EVO MORALES E HUGO CHÁVEZ SÃO A MESMA COISA?
- Não. Não são a mesma coisa, nem têm a mesma origem. Chávez é um ex-militar, um comandante. A sua inserção no processo político se inicia com um golpe. Não traz consigo um partido. Esse partido é construído à medida que ele governa e estabelece uma hegemonia política dentro do país.
Morales tem uma origem sindical. Ele se insere no processo político de maneira institucionalizada. Passa a participar das eleições, perde a primeira, há uma mobilização política crescente no país e vence em 2005.
Há também diferenças estruturais significativas entre ambos. A Venezuela conta com alguns recursos naturais que na Bolívia não se encontra. Por outro lado, a Bolívia enfrenta problemas internos de maneira bem distinta da Venezuela. Esta era estável e há um processo de desestabilização que leva à ascensão de Hugo Chávez.
No caso boliviano, essa estabilidade nunca ocorreu. A Bolívia é uma seqüência de crises históricas. Morales chegou ao poder e sua força política junto à população não pára de crescer. Há uma singularidade, a nacionalização do seu principal recurso estratégico, o gás. Isso o aproxima a Rafael Correa, do Equador. São governos que se elegem com o compromisso de adotarem outra agenda e utilizar essa receita oriunda dos hidrocarbonetos em benefício das populações mais carentes.
Mas há hoje na região um cenário mais diversificado, mais completo e mais democrático na região. Não dá para colocar tudo no mesmo saco.
CHÁVEZ É UM DEMOCRATA?
- É difícil classificá-lo como democrata ou não. A Venezuela vive hoje o que vivemos no Brasil, resguardadas as diferenças, nos anos 40 e 50: um político que rompe com oligarquias, um país em defesa de um recurso natural (no Brasil, era "o petróleo é nosso") e a convicção de que é preciso olhar mais de perto as populações mais pobres, ultrapassar os limites de um regime elitista.
Tudo o que observamos em meados do século 20 observa-se agora. Não em todos. Peru e Colômbia são casos específicos. Colômbia vive uma questão maior, que supera todos, que é o problema da segurança. Em 2007, o governo Chávez não foi democrático, ao defender a extensão do mandato.
Não estou entre aqueles que a reeleição é, por si, um problema. Reeleições foram inseridas na América do Sul pelos governos liberais.
MAS O PROBLEMA É A MUDANÇA DAS REGRAS COM O JOGO EM ANDAMENTO.
- Foi o que ocorreu nos anos 90. O Chávez hoje é mais democrático do que em 2007. E o Chávez de 2002 é muito mais democrático do que qualquer coisa que existia na Venezuela. Por isso é importante ter essa análise baseada nos atos, nos fatos, no processo político. Os primeiro anos do Chávez são muito democráticos. Ele rompe com um acordo oligárquico de pessoas que estavam alojadas no poder e na PDVSA. Era um governo legitimamente instituído com grande apoio popular. E sem crescimento econômico nos dois primeiros anos. Em 2007, há um período mais obscuro na Venezuela. Foi um ano decisivo. E o que a sociedade venezuelana fez? Disse não. É a sociedade mais autônoma que diz não à sua liderança mais carismática. Ela estabeleceu um limite. É um exemplo claríssimo da força alcançada pela sociedade sul-americana.
E MORALES? ELE ENFRENTA A FORÇA DOS AUTONOMISTAS?
- Com Morales há sem dúvida uma mobilização de setores da sociedade boliviana, até então desalojadas do processo político, e a incorporação de outras forças . A maioria, indígenas. Se acrescentarmos setores de trabalhadores, do proletariado, isso chega com facilidade a 60% da população ou mais. Uma maioria que surge com muita força. Não foi uma revolução, mas uma eleição que levou à vitória de Evo. Nesse sentido, a sociedade confere a esse novo governo a prerrogativa de mudar uma série de coisas.
A história da Bolívia é de expropriação de riquezas. O único bem que eles têm é o gás. A Bolívia compete com o Paraguai para ver quem é o país mais pobre da América do Sul. E a maioria da sociedade boliviana confere ao Evo a prerrogativa de mudar essa situação. Eles dizem: "Dessa vez é preciso que esse bem nos traga algum benefício concreto". Se o presidente Evo não executasse isso certamente ele cairia rápido. Ele tem consciência disso, não só porque é oriundo desses setores como também é um animal político.
MAS COMO ELE SAIRÁ DO IMPASSE?
- O livro mostra que o segredo da estabilidade da democracia na América Latina está na capacidade de inclusão política, no estabelecimento de acordos nacionais, de padrões cooperativos, de consensos mínimos, de ações orientadas para a cooperação e não para o confronto. Esse é o segredo institucional sul-americano.
A Bolívia está precisando resolver esse dilema institucional. Eu diria que nem ele nem a oposição estão conseguindo até aqui. Mas as crises institucionais são uma oportunidade para o início de processos virtuosos de estabilização política. Esse momento é decisivo. Temos o privilégio de poder assistir e verificar. Acredito que o estabelecimento de uma federação seja uma saída para o caso boliviano. Não uma federação com autonomia completa. Mas um equilíbrio entre o governo central, que responde à maioria maciça da população, e partes do país muito delimitadas que querem algum grau de autonomia para gestão dos negócios públicos. Se nessa mesa de concertação for alcançado o equilíbrio dessas duas coisas teremos a institucionalização de uma democracia não só multiétnica como federativa. Sairão todos ganhando. Se o padrão for outro, nenhum dos dois sairá vencedor. Seja a oposição, que não terá a autonomia almejada, seja o presidente que, embora tenha a maioria da população, não conseguirá implementar as suas políticas e garantir a vigência da nova Constituição.
Constituição esta preparada sob critérios não inclusivos. Lembre-se que a oposição não participou. Começou mal. Se não há um entendimento de todos, aquela Constituição sempre vai ficar sob suspeita, sempre será uma fonte de instabilidade muito grande.
A RECÉM-CRIADA UNASUL PODE AJUDAR?
- Esta é a grande novidade histórica, que está sendo decisiva para o estabelecimento do diálogo interno da Bolívia. Existe agora um fórum, um espaço que não havia. O conflito foi discutido entre os presidentes sul-americanos. Não foi levado para uma outra instância. Foi discutido em Santiago, não em Washington. Favorece esse diálogo interno porque estabelece um parâmetro. É como um alerta dos sul-americanos: "Não adianta porque não vamos aceitar golpes".
A Unasul constrange atitudes não institucionais e comportamentos não cooperativos. Auxilia a alcançar o segredo institucional sul-americano com mais velocidade. É uma novidade e tanta. Um marco regional. Podemos observar a institucionalização da democracia boliviana, a partir do entendimento nacional, mas que encontra respaldo de uma instância regional com países vizinhos, que compartilham ou compartilharam processos políticos muito semelhantes”
“Ao lado da professora Maria Regina Soares de Lima, o cientista político Marcelo Coutinho fundou, há cinco anos, o Observatório de Política Sul-Americana (OPSA) do Iuperj, transformado nesse período em uma das maiores referências nas análises da região.
Coutinho acaba de lançar o livro Crises institucionais e mudança política na América do Sul, resultado de sua tese de doutorado, defendida há três anos no próprio Iuperj.
No livro, exibe a chave para a compreensão das instituições da América Latina: a inclusão política é o eixo para a estabilização dos regimes democráticos.
A lição serve para os problemas enfrentados por governos como Evo Morales, na Bolívia, Hugo Chávez, na Venezuela, ou Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil.
O segredo da estabilidade, informa o livro, está na capacidade de definir acordos nacionais e estabelecer padrões de cooperação - coisa que, no caso boliviano, não se está conseguindo.
Nesta entrevista, Coutinho vai além. Mostra as raízes políticas e econômicas dos abalos institucionais em alguns países, compara Chávez e Morales e revela que a força política das populações mais pobres da região não é ideológica. À direita ou à esquerda, tanto faz: elas vão reagir se não forem atendidas.
SEU LIVRO ABORDA OS FATORES QUE CONDUZEM OS PAÍSES À INSTITUCIONALIZAÇÃO DA DEMOCRACIA. MOSTRA QUE A ACOMODAÇÃO DA DIVERSIDADE E A COOPERAÇÃO ENTRE OS ATORES POLÍTICOS FAVORECE ESSE CAMINHO. POR QUE ALGUNS PAÍSES CONSEGUIRAM MAIS ESTABILIDADE DEMOCRÁTICA DO QUE OUTROS? O QUE PESA PARA DAR CERTO?
- Tento justamente explicar por que algumas democracias da América do Sul conseguiram se estabilizar no período pós-autoritário e outros ainda vivem um ciclo de crises institucionais, como é o caso da Bolívia.
Em busca dessa explicação, comecei a estudar padrões de interação política de maneira comparada entre esses países e ficou bastante claro o fato de que países que tinham instituições e padrões de comportamento de interação política mais inclusivos foram justamente aqueles que conseguiram estabilizar e institucionalizar suas democracias nos últimos 10 anos ou 15 anos.
Há um grupo mais estável, Brasil, Chile e Uruguai. São aqueles que estabeleceram padrões de interação mais inclusivos. O Chile através da sua concertação no período de transição democrática, de 1990-91 até hoje. O Uruguai também. E Brasil alcançou esse patamar de maior estabilidade institucional a partir de 1989, com o processo de afastamento do presidente Collor. Naquele momento há uma virada da política brasileira em favor de uma maior institucionalização política. Ali houve uma crise muito séria, mas sem qualquer ameaça às instituições. Ao contrário, as instituições processaram a crise de uma maneira muito eficiente. E a própria crise gerou um comportamento mais inclusivo. Foi um marco nas relações políticas do país.
VOCÊ CITA A MEMÓRIA COMO UM FATOR IMPORTANTE. POR QUÊ?
- Veja aquela circunstância de 92. Ficou registrada na memória dos atores políticos, em geral na memória da nação, e aquilo passa a ser muito importante na maneira como vão enfrentar futuras crise. A crise de 92 é uma espécie de retrovisor por onde os atores políticos olham antes de tomar qualquer tipo de atitude.
OS PAÍSES ANDINOS SEGUIRAM TRILHAS MAIS TORTUOSAS. FALTOU-LHES ESSA COOPERAÇÃO E ESSA MEMÓRIA?
- Uma vez encontrado o momento-chave da virada institucional, me interessou também analisar o lado oposto, ou seja, casos em que a estabilidade política é menor, sobretudo nos países andinos: Bolívia, Peru, Colômbia, Equador e Venezuela.
O único país do Cone Sul que reproduz esse padrão de maior instabilidade é o Paraguai. Os países andinos são, em geral, mais instáveis e menos inclusivos. Nos casos desses países andinos há uma característica muito interessante: o esgotamento do seu sistema partidário nos últimos 20 anos. O sistema partidário entra em colapso.
Encontramos nos países andinos uma seqüência de crises institucionais, seja por revoltas sociais, como é o caso da Bolívia e do Peru, seja por intermédio de golpes ou tentativa de golpes, como foi mais recentemente o caso venezuelano.
Um outro sinal de crise institucional é a guerra civil interna, no caso colombiano. E a interação política e as instituições que lidam com esses processos mais críticos nos países andinos são interações excludentes, baseadas nos confrontos e não na cooperação.
Nesses países gera-se uma seqüência de crises porque nunca se chega ao um acordo de fato. Falo em acordos mínimos, com respeito à democracia do país. Sempre prevalece o padrão do confronto, do antagonismo e da exclusão.
NÃO SÓ PROTAGONIZADO PELA OPOSIÇÃO, MAS POR QUEM ESTÁ NO PODER.
- Exatamente. Enquanto Brasil e Chile, por exemplo, estabelecem governos de coalizão ampla, esses países, em geral, estabelecem coalizões muito restritas, quando não governos minoritários.
Dois casos se diferenciam: Bolívia e Colômbia, que tiveram grandes coalizões no período pós-autoritário. Acontece que eram coalizões montadas em bases que não correspondiam à diversidade política e social do país. Vou dar o exemplo da Bolívia mais uma vez, que viu ser deixada de fora das coalizões grande parte da diversidade social do país. Foi o caso do movimento indígena, o contingente populacional disperso em alguns movimentos sociais e organizações políticas.
No caso colombiano, embora alguns governos também tivessem estabelecido grandes coalizões parlamentares, a guerra interna diminuiu muito o esforço dessas coalizões porque grande parte desse contingente populacional ou mesmo territorial do país não está contemplada neste cálculo.
Quando se olha o mapa das Farc observa-se claramente que mais ou menos 30% ou 40% do território é tomado por forças não institucionalizadas, forças que estão para fora do processo político democrático.
Tudo isso para dizer que há nos Andes instituições e interações políticas menos inclusivas em comparação aos países do Cone Sul. No caso especificamente do Peru, eu me preocupei em entrar um pouco mais a fundo.
E NA COMPARAÇÃO COM O BRASIL, VOCÊ APONTA O PERU DE FUJIMORI COMO UM PAÍS DE POLARIZAÇÃO E RIVALIDADE, CONTRA A INCLUSÃO E A COMPOSIÇÃO BRASILEIRAS.
- Mais inclusão significa mais estabilidade. Isso fica bastante evidenciado nos primeiros testes de hipótese. Na segunda parte do livro há uma parte mais histórica comparativa. Comparo precisamente o caso brasileiro com o caso peruano, sobretudo porque são coincidentes no tempo. Ambas as crises acontecem em 1992. Mas não só por causa disso. Ambos apresentam padrões institucionais muito semelhantes, anteriores à crise de 92. São sistemas presidencialistas, multipartidários, com regras eleitorais muito semelhantes, um Executivo muito forte. São países que também passaram por regimes autoritários, tiveram sua transição para a democracia através de um processo muito negociado, ao contrário de outros padrões de transição na região, onde houve uma ruptura maior. São também países com uma desigualdade social muito grande.
Há diferença entre eles. O Brasil é uma economia mais diversificada, mas em termos políticos institucionais apresentam grandes semelhanças. Isso tudo me permitiu criar um quadro comparativo que me assegura que o que aconteceu em 92 foi decisivo para a trajetória política posterior de ambos os países.
Se no Brasil observamos uma gradativa cooperação, formação de um consenso nacional que leva ao afastamento do presidente, dentro das regras democráticas, no caso peruano observamos o oposto. Há um processo de polarização crescente que leva a um autogolpe dado pelo então presidente Fujimori, que rompe com as instituições democráticas e estabelece uma polarização muito aguda dentro do país, um confronto muito aberto. Esse padrão de polarização vai se seguir pelos anos seguintes.
Fujimori sofre, seis meses depois, a tentativa de um contragolpe e a partir disso há uma seqüência de deterioração institucional peruana que leva a um período autoritário, algo que destoa do cenário regional pós-transição.
Toda a América do Sul, a partir de 91, é uma região democrática. Um dos poucos contra exemplos é justamente este período fujimorista peruano. Mesmo depois do Fujimori, no caso o presidente Alejandro Toledo, observamos que essa memória institucional que ficou do conflito e do seu resultado de 92 continua a prevalecer, a condicionar ou a influenciar fortemente o comportamento político dos atores.
HÁ UM CÁLCULO POLÍTICO?
- Sim, um cálculo. O governo Toledo enfrentou grandes dificuldades institucionais. Chegou a ter menos de 10% de popularidade, sofreu revoltas sociais, decretou vários estados de sítio, estados de exceção, sempre rodeados de rumores de golpe, de processo de interrupção precoce, até assumir Garcia.
Veja que isso independe da ideologia do governo e do seu programa econômico. O governo Toledo é um governo de recuperação econômica.
Mesmo agora no caso boliviano, se pegamos as médias de crescimento econômico e de inflação, a média dos últimos anos é superior a qualquer coisa que você queira verificar, até mesmo no que diz respeito à renda derivada do petróleo e do gás que quintuplicou depois da nacionalização.
Uma coisa importante do livro é salientar que o problema institucional sul-americano não é de natureza econômica, mas de natureza política. Não há essa associação: crise econômica, crise institucional; crise institucional, crise econômica. As duas coisas não estão combinadas.
Uruguai e Argentina passaram talvez pela pior crise da história da América Latina, entre 1998 e 2003. A crise no Uruguai é tremenda, conduz a uma fuga dos jovens, mas as instituições políticas passam incólumes. Há uma alternância politica muito importante, que leva à ascensão de uma frente ampla de esquerda. As esquerdas chegam ao poder, mas sem qualquer fissura ou ameaça à estabilidade do país.
A virtude, portanto, está na capacidade de inclusão de novas frentes, de novos atores políticos. Ao incluir, esses regimes fazem com que se reproduzam de maneira mais estável no tempo.
NO BRASIL MUITAS ANÁLISES SE ACOSTUMARAM A IDENTIFICAR ASSOCIAÇÕES DE ELITES, NUM ACORDO PARA MANTER O STATUS QUO. A TESE AINDA É VÁLIDA? COM ELA, A IDÉIA DA INCORPORAÇÃO NÃO FICA ESMAECIDA?
- Essa aliança das elites é o padrão histórico da América Latina. Se olharmos para uma série de 100 ou 200 anos, fica claro que o padrão é de acordos de conveniência das elites. Agora há duas novidades na região. Esse acordo ocorre dentro das regras democráticas. Esse é o marco que diferencia a história política recente. Uma outra característica importante é ascensão de esquerdas, em muitos casos, e de nacionalistas, de outros, dentro das regras democráticas.
Foi um teste. Começou com o Chávez em 99 na Venezuela, depois vieram Lula no Brasil, Kirchner na Argentina, Vásquez no Uruguai, Bachelet no Chile, Correa no Equador, Morales na Bolívia e, por último, a vitória de Fernando Lugo no Paraguai, que finaliza 60 anos de domínio do Partido Colorado.
Esse é um teste decisivo. Não é um teste final, porque uma das contribuições do livro é mostrar que a democracia é algo vivo, um processo inacabado. É mais interessante trabalhar com a idéia de estabilidade do que de consolidação. Consolidação dá uma idéia de permanência, que não existe na democracia.
NO MEIO DO TESTE, PORÉM, HOUVE O GOLPE CONTRA HUGO CHÁVEZ.
- O golpe que afastou Chávez por 48 horas seguiu o modelo clássico, de conveniência das elites, com respaldo das Formas Armadas e em concordância com setores empresariais, corporativos e políticos. Até aí não houve novidade.
A novidade foi o que aconteceu depois: o retorno do presidente. O acordo entre as elites não foi suficiente para derrubar o presidente e resolver aquela questão.
Tanto foi assim que Chávez voltou pelo clamor popular. Não foram forças superiores, obscuras, mas o clamor popular que o levou a retornar ao poder.
Veja com isso que a democracia no país se torna completamente distinta do padrão anterior. Houve um empoderamento da sociedade, sobretudo da população mais carente, que sempre foi uma maioria, mas nunca se expressou coletivamente e de modo tão contundente. Foi justamente essa base popular que o fortaleceu tanto.
NO LIVRO VOCÊ CREDITA A ASCENSÃO DOS GOVERNOS DE ESQUERDA TAMBÉM AO FRACASSO DAS POLÍTICAS DE CORTE NEOLIBERAL.
- Sim, esse novo momento sul-americano é um processo de mudança resultado em grande parte do fracasso das políticas implementadas até o fim dos anos 90 de maneira muito radical, o chamado neoliberalismo, Consenso de Washington ou reformas econômicas em direção ao mercado. Essa agenda predominou do fim dos anos 80 até o fim dos anos 90.
O primeiro país da América do Sul a adotar essa agenda foi o Chile de Pinochet, que se tornou laboratório para o mundo inteiro. E o primeiro país democrático a adotar essa agenda foi justamente a Bolívia. O primeiro decreto neoliberal data de 1985 e se deu justamente na Bolívia.
De lá para cá, privatizações, abertura comercial, desregulamentação da economia, redução do Estado e assim por diante. Passados 20, 15 ou 10 anos, a depender do caso, o resultado final foi desastroso. A Argentina passou pela sua pior crise. O Uruguai também. O Brasil passou por duas crises muito sérias, em 98 e 2002. O mesmo acontece com a Bolívia, o Peru e a Venezuela.
MAS O QUE MUDA DO PONTO DE VISTA DEMOCRÁTICO?
- A Venezuela, por exemplo, sempre foi muito dependente do petróleo. Acontece que o pacto que regia as relações políticas no país até os anos 90 começou a se deteriorar a partir da capacidade desse pacto de se traduzir em benefícios econômicos. O pacto é importante para a institucionalização da democracia, mas ele tem limites. Esbarra na pobreza e na desigualdade social.
O caso venezuelano é exemplar nesse sentido. Levou à estabilidade no país por quase 40 anos e fez com que a Venezuela não experimentasse os regimes autoritários que a América Latina experimentou naquele momento. Mas houve um processo crescente de deterioração das instituições, resultado da incapacidade dessa democracia de se traduzir em um ganho substancial para as populações mais carentes.
Essas populações se tornam nos últimos anos mais autônomas, muito ciosas de seus interesses. Esse processo leva à ascensão de frentes mais à esquerda, ou mais de centro-esquerda, ou nacionalistas.
Começa aí a alternância.
MESMO COM ESSA ALTERNÂNIA, MESMO COM A RECUPERAÇÃO ECONÔMICA DOS ÚLTIMOS ANOS, O NÍVEL DE CONFIANÇA NA POLÍTICA NA AMÉRICA LATINA EM GERAL CONTINUOU BAIXO. OU SEJA, OS GOVERNOS DE ESQUERDA NÃO FORAM SUFICIENTES PARA RECUPERAR ESSA CONFIANÇA. POR QUÊ?
- Há um desgaste dos políticos, não da democracia. E isso ocorre não só na América Latina, mas também nos EUA e na Europa. Esse desgaste é resultado de outras forças, de outras esferas, que passam a concorrer com os políticos, com a maneira tradicional de representação política.
Uma segunda observação é que é preciso ver com cuidado o resultado dessas pesquisas, não levá-las em consideração de maneira tão severa por questões metodológicas que não vem ao caso.
A terceira observação é que a autonomia da sociedade verificada nos últimos anos vale para qualquer um. Não é uma autonomia ideológica. Não é uma autonomia de esquerda. A autonomia, sobretudo das populações mais carentes sempre alijadas do processo político e econômico, não é partidária. Se atende, ótimo. Se não atende, o problema começa.
Não à toa, os líderes que surgem desse ciclo político regional começam a gerar políticas voltadas para essas populações, com uma série de programas cujo foco são justamente essas populações mais carentes.
O que se destaca nas políticas sociais dos últimos seis, sete anos são as políticas focalizadas, que atendem a um setor da sociedade que hoje tem poder político e consciência do seu poder decisivo de escolha dos futuros governos.
EVO MORALES E HUGO CHÁVEZ SÃO A MESMA COISA?
- Não. Não são a mesma coisa, nem têm a mesma origem. Chávez é um ex-militar, um comandante. A sua inserção no processo político se inicia com um golpe. Não traz consigo um partido. Esse partido é construído à medida que ele governa e estabelece uma hegemonia política dentro do país.
Morales tem uma origem sindical. Ele se insere no processo político de maneira institucionalizada. Passa a participar das eleições, perde a primeira, há uma mobilização política crescente no país e vence em 2005.
Há também diferenças estruturais significativas entre ambos. A Venezuela conta com alguns recursos naturais que na Bolívia não se encontra. Por outro lado, a Bolívia enfrenta problemas internos de maneira bem distinta da Venezuela. Esta era estável e há um processo de desestabilização que leva à ascensão de Hugo Chávez.
No caso boliviano, essa estabilidade nunca ocorreu. A Bolívia é uma seqüência de crises históricas. Morales chegou ao poder e sua força política junto à população não pára de crescer. Há uma singularidade, a nacionalização do seu principal recurso estratégico, o gás. Isso o aproxima a Rafael Correa, do Equador. São governos que se elegem com o compromisso de adotarem outra agenda e utilizar essa receita oriunda dos hidrocarbonetos em benefício das populações mais carentes.
Mas há hoje na região um cenário mais diversificado, mais completo e mais democrático na região. Não dá para colocar tudo no mesmo saco.
CHÁVEZ É UM DEMOCRATA?
- É difícil classificá-lo como democrata ou não. A Venezuela vive hoje o que vivemos no Brasil, resguardadas as diferenças, nos anos 40 e 50: um político que rompe com oligarquias, um país em defesa de um recurso natural (no Brasil, era "o petróleo é nosso") e a convicção de que é preciso olhar mais de perto as populações mais pobres, ultrapassar os limites de um regime elitista.
Tudo o que observamos em meados do século 20 observa-se agora. Não em todos. Peru e Colômbia são casos específicos. Colômbia vive uma questão maior, que supera todos, que é o problema da segurança. Em 2007, o governo Chávez não foi democrático, ao defender a extensão do mandato.
Não estou entre aqueles que a reeleição é, por si, um problema. Reeleições foram inseridas na América do Sul pelos governos liberais.
MAS O PROBLEMA É A MUDANÇA DAS REGRAS COM O JOGO EM ANDAMENTO.
- Foi o que ocorreu nos anos 90. O Chávez hoje é mais democrático do que em 2007. E o Chávez de 2002 é muito mais democrático do que qualquer coisa que existia na Venezuela. Por isso é importante ter essa análise baseada nos atos, nos fatos, no processo político. Os primeiro anos do Chávez são muito democráticos. Ele rompe com um acordo oligárquico de pessoas que estavam alojadas no poder e na PDVSA. Era um governo legitimamente instituído com grande apoio popular. E sem crescimento econômico nos dois primeiros anos. Em 2007, há um período mais obscuro na Venezuela. Foi um ano decisivo. E o que a sociedade venezuelana fez? Disse não. É a sociedade mais autônoma que diz não à sua liderança mais carismática. Ela estabeleceu um limite. É um exemplo claríssimo da força alcançada pela sociedade sul-americana.
E MORALES? ELE ENFRENTA A FORÇA DOS AUTONOMISTAS?
- Com Morales há sem dúvida uma mobilização de setores da sociedade boliviana, até então desalojadas do processo político, e a incorporação de outras forças . A maioria, indígenas. Se acrescentarmos setores de trabalhadores, do proletariado, isso chega com facilidade a 60% da população ou mais. Uma maioria que surge com muita força. Não foi uma revolução, mas uma eleição que levou à vitória de Evo. Nesse sentido, a sociedade confere a esse novo governo a prerrogativa de mudar uma série de coisas.
A história da Bolívia é de expropriação de riquezas. O único bem que eles têm é o gás. A Bolívia compete com o Paraguai para ver quem é o país mais pobre da América do Sul. E a maioria da sociedade boliviana confere ao Evo a prerrogativa de mudar essa situação. Eles dizem: "Dessa vez é preciso que esse bem nos traga algum benefício concreto". Se o presidente Evo não executasse isso certamente ele cairia rápido. Ele tem consciência disso, não só porque é oriundo desses setores como também é um animal político.
MAS COMO ELE SAIRÁ DO IMPASSE?
- O livro mostra que o segredo da estabilidade da democracia na América Latina está na capacidade de inclusão política, no estabelecimento de acordos nacionais, de padrões cooperativos, de consensos mínimos, de ações orientadas para a cooperação e não para o confronto. Esse é o segredo institucional sul-americano.
A Bolívia está precisando resolver esse dilema institucional. Eu diria que nem ele nem a oposição estão conseguindo até aqui. Mas as crises institucionais são uma oportunidade para o início de processos virtuosos de estabilização política. Esse momento é decisivo. Temos o privilégio de poder assistir e verificar. Acredito que o estabelecimento de uma federação seja uma saída para o caso boliviano. Não uma federação com autonomia completa. Mas um equilíbrio entre o governo central, que responde à maioria maciça da população, e partes do país muito delimitadas que querem algum grau de autonomia para gestão dos negócios públicos. Se nessa mesa de concertação for alcançado o equilíbrio dessas duas coisas teremos a institucionalização de uma democracia não só multiétnica como federativa. Sairão todos ganhando. Se o padrão for outro, nenhum dos dois sairá vencedor. Seja a oposição, que não terá a autonomia almejada, seja o presidente que, embora tenha a maioria da população, não conseguirá implementar as suas políticas e garantir a vigência da nova Constituição.
Constituição esta preparada sob critérios não inclusivos. Lembre-se que a oposição não participou. Começou mal. Se não há um entendimento de todos, aquela Constituição sempre vai ficar sob suspeita, sempre será uma fonte de instabilidade muito grande.
A RECÉM-CRIADA UNASUL PODE AJUDAR?
- Esta é a grande novidade histórica, que está sendo decisiva para o estabelecimento do diálogo interno da Bolívia. Existe agora um fórum, um espaço que não havia. O conflito foi discutido entre os presidentes sul-americanos. Não foi levado para uma outra instância. Foi discutido em Santiago, não em Washington. Favorece esse diálogo interno porque estabelece um parâmetro. É como um alerta dos sul-americanos: "Não adianta porque não vamos aceitar golpes".
A Unasul constrange atitudes não institucionais e comportamentos não cooperativos. Auxilia a alcançar o segredo institucional sul-americano com mais velocidade. É uma novidade e tanta. Um marco regional. Podemos observar a institucionalização da democracia boliviana, a partir do entendimento nacional, mas que encontra respaldo de uma instância regional com países vizinhos, que compartilham ou compartilharam processos políticos muito semelhantes”
DEPOIS DA DIÁSTOLE (1985-2010) HAVERÁ RISCO DE NOVA SÍSTOLE?
INSPIRAR (SÍSTOLE), EXPIRAR (DIÁSTOLE); OU: SÍSTOLE CARDÍACA: OS VENTRÍCULOS SE CONTRAEM E IMPULSIONAM O SANGUE ATRAVÉS DAS ARTÉRIAS PULMONAR E AORTA; DIÁSTOLE CARDÍACA: O SANGUE RETORNA AO CORAÇÃO ATRAVÉS DAS VEIAS CAVAS E VEIAS PULMONARES E CHEGA AOS ÁTRIOS.
Como metáfora, esses conceitos são freqüentemente utilizados em análises políticas.
O Correio Braziliense de domingo, em texto de Luiz Carlos Azedo, publicou:
Sístoles e diástoles: o Executivo passou a substituir o Legislativo e o Judiciário.
Foram 20 anos de centralização e autoritarismo [1964-1984]
“Coube ao general Golbery do Couto e Silva, em célebre palestra na Escola Superior de Guerra (ESG), em 1980, resumir a ópera: a história política do Brasil é pendular, oscila entre a centralização e a descentralização. Não era uma idéia inovadora, porque Alberto Torres, no começo do século passado, e Oliveira Viana, pouco depois, já haviam registrado o fenômeno. Mas foi sistematizada para servir à política de Estado. Com base na célebre metáfora cardíaca da sístole (contração) e diástole (dilatação), Golbery formulou a estratégia de abertura política do governo Geisel: os militares se retiraram da política de forma organizada e tutelaram a longa transição à democracia.
IMPÉRIO
As Constituições brasileiras são bons retratos da centralização e descentralização políticas. A primeira sístole foi protagonizada por Dom Pedro I, que dissolveu a Constituinte de 1923 e outorgou a nossa primeira Carta Magna, a Constituição de 1824. A grande inovação liberal foi o direito à propriedade privada, transformado num entrave legal à abolição. Toda vez que se falava em acabar com a escravidão, se invocava a dogma liberal. O “Poder Moderador” do imperador estava acima do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Os presidentes das províncias eram nomeados, votavam apenas homens livres e proprietários.
A Constituição de 1923 foi reformada duas vezes. Primeiro, no Ato Adicional de 1934, que criou as assembléias legislativas provinciais, com certa autonomia, fruto das pressões antiabsolutistas despertadas pela abdicação de Pedro I, três anos antes. Manteve, porém, o caráter unitário do Estado brasileiro. A segunda ocorreu em 1881, quando D. Pedro II já estava desgastado pelo abolicicionismo. Introduziu as eleições diretas e acabou com a divisão entre eleitores de paróquia e de província. Apenas a aristocracia, uma ínfima parte da população, tinha direito a voto.
REPÚBLICA
A grande diástole foi a proclamação da República. A Constituição de 1891 foi inspirada nos Estados Unidos. Conferiu autonomia aos estados da federação e liberdade partidária. Foram estabelecidas eleições diretas para a Câmara, o Senado e a escolha do Presidente da República, mas soldados, religiosos, analfabetos e mulheres também não votavam. As eleições “a bico de pena” eram fraudulentas. Tudo veio abaixo na Revolução de 1930.
Com Getúlio Vargas, a Constituição de 1934 fortaleceu o governo federal, garantiu direito de voto às mulheres e aos jovens com mais de 18 anos, além de criar a Justiça Eleitoral e a Justiça do Trabalho. Mas durou pouco. Em 1937, Getúlio implantou o Estado Novo, com uma Constituição de inspiração fascista, a “Polaca”. A eleição para presidente passou a ser indireta, a imunidade parlamentar foi extinta. Era a grande sístole.
O fim da II Guerra Mundial patrocinou nova diástole. A Constituição de 1945 consagrou os princípios da democracia. Estados e municípios recuperaram a autonomia. Os poderes Legislativo e Judiciário voltaram ser independentes. A eleição para presidente da República voltou a ser direta. Em 1961, o Congresso impôs a João Goulart o parlamentarismo, sem o qual não tomaria posse o vice do presidente Jânio Quadros, que havia renunciado. Em 1963, um plebiscito restabeleceu o presidencialismo.
Estava em marcha, porém, nova sístole: o golpe militar de 1964. A Constituição de 1967 institucionalizou o regime militar. Manteve o bipartidarismo criado pelo Ato Adicional nº 2 e estabeleceu eleições indiretas para presidente da República. A sístole foi ainda maior com a Emenda Constitucional nº1, de 1969, que incorporou o Ato Institucional nº5. Dava ao presidente da República o direito de cassar mandatos de parlamentares e magistrados, suspender os direitos políticos dos cidadãos e legislar sobre matéria política, eleitoral, tributária e econômica. O Executivo passou a substituir o Legislativo e o Judiciário. Foram 20 anos de centralização e autoritarismo.
Li essa matéria no Correio Braziliense de ontem. A pergunta que me vem é: DEPOISDA DIÁSTOLE (1985-2010) HAVERÁ RISCO DE NOVA SÍSTOLE?
Como metáfora, esses conceitos são freqüentemente utilizados em análises políticas.
O Correio Braziliense de domingo, em texto de Luiz Carlos Azedo, publicou:
Sístoles e diástoles: o Executivo passou a substituir o Legislativo e o Judiciário.
Foram 20 anos de centralização e autoritarismo [1964-1984]
“Coube ao general Golbery do Couto e Silva, em célebre palestra na Escola Superior de Guerra (ESG), em 1980, resumir a ópera: a história política do Brasil é pendular, oscila entre a centralização e a descentralização. Não era uma idéia inovadora, porque Alberto Torres, no começo do século passado, e Oliveira Viana, pouco depois, já haviam registrado o fenômeno. Mas foi sistematizada para servir à política de Estado. Com base na célebre metáfora cardíaca da sístole (contração) e diástole (dilatação), Golbery formulou a estratégia de abertura política do governo Geisel: os militares se retiraram da política de forma organizada e tutelaram a longa transição à democracia.
IMPÉRIO
As Constituições brasileiras são bons retratos da centralização e descentralização políticas. A primeira sístole foi protagonizada por Dom Pedro I, que dissolveu a Constituinte de 1923 e outorgou a nossa primeira Carta Magna, a Constituição de 1824. A grande inovação liberal foi o direito à propriedade privada, transformado num entrave legal à abolição. Toda vez que se falava em acabar com a escravidão, se invocava a dogma liberal. O “Poder Moderador” do imperador estava acima do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Os presidentes das províncias eram nomeados, votavam apenas homens livres e proprietários.
A Constituição de 1923 foi reformada duas vezes. Primeiro, no Ato Adicional de 1934, que criou as assembléias legislativas provinciais, com certa autonomia, fruto das pressões antiabsolutistas despertadas pela abdicação de Pedro I, três anos antes. Manteve, porém, o caráter unitário do Estado brasileiro. A segunda ocorreu em 1881, quando D. Pedro II já estava desgastado pelo abolicicionismo. Introduziu as eleições diretas e acabou com a divisão entre eleitores de paróquia e de província. Apenas a aristocracia, uma ínfima parte da população, tinha direito a voto.
REPÚBLICA
A grande diástole foi a proclamação da República. A Constituição de 1891 foi inspirada nos Estados Unidos. Conferiu autonomia aos estados da federação e liberdade partidária. Foram estabelecidas eleições diretas para a Câmara, o Senado e a escolha do Presidente da República, mas soldados, religiosos, analfabetos e mulheres também não votavam. As eleições “a bico de pena” eram fraudulentas. Tudo veio abaixo na Revolução de 1930.
Com Getúlio Vargas, a Constituição de 1934 fortaleceu o governo federal, garantiu direito de voto às mulheres e aos jovens com mais de 18 anos, além de criar a Justiça Eleitoral e a Justiça do Trabalho. Mas durou pouco. Em 1937, Getúlio implantou o Estado Novo, com uma Constituição de inspiração fascista, a “Polaca”. A eleição para presidente passou a ser indireta, a imunidade parlamentar foi extinta. Era a grande sístole.
O fim da II Guerra Mundial patrocinou nova diástole. A Constituição de 1945 consagrou os princípios da democracia. Estados e municípios recuperaram a autonomia. Os poderes Legislativo e Judiciário voltaram ser independentes. A eleição para presidente da República voltou a ser direta. Em 1961, o Congresso impôs a João Goulart o parlamentarismo, sem o qual não tomaria posse o vice do presidente Jânio Quadros, que havia renunciado. Em 1963, um plebiscito restabeleceu o presidencialismo.
Estava em marcha, porém, nova sístole: o golpe militar de 1964. A Constituição de 1967 institucionalizou o regime militar. Manteve o bipartidarismo criado pelo Ato Adicional nº 2 e estabeleceu eleições indiretas para presidente da República. A sístole foi ainda maior com a Emenda Constitucional nº1, de 1969, que incorporou o Ato Institucional nº5. Dava ao presidente da República o direito de cassar mandatos de parlamentares e magistrados, suspender os direitos políticos dos cidadãos e legislar sobre matéria política, eleitoral, tributária e econômica. O Executivo passou a substituir o Legislativo e o Judiciário. Foram 20 anos de centralização e autoritarismo.
Li essa matéria no Correio Braziliense de ontem. A pergunta que me vem é: DEPOISDA DIÁSTOLE (1985-2010) HAVERÁ RISCO DE NOVA SÍSTOLE?
RUBENS RICUPERO: “REFLEXÕES CREPUSCULARES”
“PARA ALGUNS, NÃO HÁ DÚVIDA: ESTE É O FIM, OU O COMEÇO DO FIM DO IMPÉRIO AMERICANO; NÃO TENHO TANTA CERTEZA... “
Li o seguinte artigo de Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco), na “Folha de São Paulo” de domingo:
“Qual será o limite para que os custos de erros evitáveis do governo norte-americano provoquem processo irreversível de declínio dos Estados Unidos?
Três trilhões de dólares seriam o custo real da Guerra do Iraque, estima um livro de Joseph Stiglitz e Linda Birnes. O prejuízo ocasionado pela crise financeira pode chegar a mais de 30% do PIB (Produto Interno Bruto), entre US$ 3 trilhões e US$ 4 trilhões, segundo julgam certos analistas. Será possível que isso não passe de um piscar de olhos na alegre irresponsabilidade do país?
Pode-se discutir se essas são as cifras verdadeiras ou se parte do que se vai gastar para salvar o sistema financeiro não será recuperado. De qualquer forma, os números serão gigantescos e não representam mais do que uma pálida indicação das perdas humanas e morais: vidas sacrificadas, seres mutilados, esperanças desenganadas.
Para alguns, não há dúvida: este é o fim ou, ao menos, o começo do fim do império americano. Não tenho tanta certeza, pois vivi de perto episódio anterior, por alguns aspectos até mais grave do que o atual. Cheguei a Washington como conselheiro da Embaixada do Brasil em 1974, quando o processo de Watergate se encaminhava para seu inexorável desfecho. Em manhã de garoa cinzenta e triste, assisti ao discurso de renúncia de Nixon e confesso que me deixei tocar pela solene gravidade do momento.
Acompanhei pela TV as cenas dramáticas dos helicópteros partindo do terraço da Embaixada dos Estados Unidos, cachos humanos pendurados das rodas, enquanto as tropas do Vietcongue entravam em Saigon. A humilhação, a impotência, a frustração dos americanos eram patéticas: para que tinha servido o sacrifício de 55 mil de seus soldados e de 2 milhões de vietnamitas? Nem faltava o ingrediente econômico sob a forma dos choques do petróleo, a explosão de preços, as filas intermináveis nos postos de gasolina, a inflação, o abandono abrupto do sistema monetário do lastro ouro.
Comentei com meu chefe, o sempre pranteado embaixador Araujo Castro, que tudo aquilo me parecia um estrago irreparável no prestígio e no poderio dos Estados Unidos, a começar pela Ásia, onde tanto se temia o "efeito dominó" que se seguiria à derrota. "Engano seu", disse-me o embaixador, "não se passará muito tempo antes que o Vietnã implore aos americanos a oportunidade de comerciar com eles." Foi o que se deu. Os vietnamitas, que se converteram no mais recente e agressivo dos tigres asiáticos, assinaram com Washington um acordo duríssimo, no qual aceitaram tudo e algo mais, inclusive cláusulas ambientais e trabalhistas.
Explicou-me então sua teoria do "overdraft" ou "saque a descoberto". "Como os indivíduos, os países têm limites diferentes para o que podem sacar a descoberto no banco da história.
Para o Brasil, a margem em que pode errar sem conseqüências irreversíveis é estreita. O limite dos Estados Unidos é incomensurável." Conto a conversa porque a imagem do "overdraft" se adapta às mil maravilhas a um colapso financeiro em que todo o mundo sacou o que não tinha. Daquela vez, deu certo: a crise levou ao poder Reagan, e todos conhecem o resto da história da recuperação do moral e do poder dos Estados Unidos. E agora, até quando os chineses, na euforia da Olimpíada, do saldo comercial e de sua estação espacial, deixarão que os americanos continuem a sacar das reservas deles para viver muito além dos próprios meios?”
Li o seguinte artigo de Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco), na “Folha de São Paulo” de domingo:
“Qual será o limite para que os custos de erros evitáveis do governo norte-americano provoquem processo irreversível de declínio dos Estados Unidos?
Três trilhões de dólares seriam o custo real da Guerra do Iraque, estima um livro de Joseph Stiglitz e Linda Birnes. O prejuízo ocasionado pela crise financeira pode chegar a mais de 30% do PIB (Produto Interno Bruto), entre US$ 3 trilhões e US$ 4 trilhões, segundo julgam certos analistas. Será possível que isso não passe de um piscar de olhos na alegre irresponsabilidade do país?
Pode-se discutir se essas são as cifras verdadeiras ou se parte do que se vai gastar para salvar o sistema financeiro não será recuperado. De qualquer forma, os números serão gigantescos e não representam mais do que uma pálida indicação das perdas humanas e morais: vidas sacrificadas, seres mutilados, esperanças desenganadas.
Para alguns, não há dúvida: este é o fim ou, ao menos, o começo do fim do império americano. Não tenho tanta certeza, pois vivi de perto episódio anterior, por alguns aspectos até mais grave do que o atual. Cheguei a Washington como conselheiro da Embaixada do Brasil em 1974, quando o processo de Watergate se encaminhava para seu inexorável desfecho. Em manhã de garoa cinzenta e triste, assisti ao discurso de renúncia de Nixon e confesso que me deixei tocar pela solene gravidade do momento.
Acompanhei pela TV as cenas dramáticas dos helicópteros partindo do terraço da Embaixada dos Estados Unidos, cachos humanos pendurados das rodas, enquanto as tropas do Vietcongue entravam em Saigon. A humilhação, a impotência, a frustração dos americanos eram patéticas: para que tinha servido o sacrifício de 55 mil de seus soldados e de 2 milhões de vietnamitas? Nem faltava o ingrediente econômico sob a forma dos choques do petróleo, a explosão de preços, as filas intermináveis nos postos de gasolina, a inflação, o abandono abrupto do sistema monetário do lastro ouro.
Comentei com meu chefe, o sempre pranteado embaixador Araujo Castro, que tudo aquilo me parecia um estrago irreparável no prestígio e no poderio dos Estados Unidos, a começar pela Ásia, onde tanto se temia o "efeito dominó" que se seguiria à derrota. "Engano seu", disse-me o embaixador, "não se passará muito tempo antes que o Vietnã implore aos americanos a oportunidade de comerciar com eles." Foi o que se deu. Os vietnamitas, que se converteram no mais recente e agressivo dos tigres asiáticos, assinaram com Washington um acordo duríssimo, no qual aceitaram tudo e algo mais, inclusive cláusulas ambientais e trabalhistas.
Explicou-me então sua teoria do "overdraft" ou "saque a descoberto". "Como os indivíduos, os países têm limites diferentes para o que podem sacar a descoberto no banco da história.
Para o Brasil, a margem em que pode errar sem conseqüências irreversíveis é estreita. O limite dos Estados Unidos é incomensurável." Conto a conversa porque a imagem do "overdraft" se adapta às mil maravilhas a um colapso financeiro em que todo o mundo sacou o que não tinha. Daquela vez, deu certo: a crise levou ao poder Reagan, e todos conhecem o resto da história da recuperação do moral e do poder dos Estados Unidos. E agora, até quando os chineses, na euforia da Olimpíada, do saldo comercial e de sua estação espacial, deixarão que os americanos continuem a sacar das reservas deles para viver muito além dos próprios meios?”
ESTATIZAÇÕES EM CURSO NA INGLATERRA
Li na Folha de São Paulo:
“GOVERNO DO REINO UNIDO VAI NACIONALIZAR MAIS UM BANCO, DIZ TV
O governo britânico vai nacionalizar o banco especializado em empréstimos imobiliários Bradford & Bingley, de acordo com a BBC. As autoridades do país, no entanto, disseram que ainda discutem uma solução para a instituição. Segundo a rede de TV, a medida será anunciada ainda na noite de hoje ou amanhã e as cerca de 200 agências do Bradford & Bingley serão vendidas para um ou mais bancos comerciais.
Em fevereiro, o governo do Reino Unido já havia nacionalizado a financiadora de hipotecas Northern Rock.”
“GOVERNO DO REINO UNIDO VAI NACIONALIZAR MAIS UM BANCO, DIZ TV
O governo britânico vai nacionalizar o banco especializado em empréstimos imobiliários Bradford & Bingley, de acordo com a BBC. As autoridades do país, no entanto, disseram que ainda discutem uma solução para a instituição. Segundo a rede de TV, a medida será anunciada ainda na noite de hoje ou amanhã e as cerca de 200 agências do Bradford & Bingley serão vendidas para um ou mais bancos comerciais.
Em fevereiro, o governo do Reino Unido já havia nacionalizado a financiadora de hipotecas Northern Rock.”
O IMPORTANTE: A TERRA OU O SOL?
REPENSANDO A GRANDE REVOLUÇÃO
Li esse interessante artigo de MARCELO GLEISER na Folha de São Paulo de domingo. O autor é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo".
Copérnico não foi o único a propor o Sol como centro do cosmo
“Antes de mais nada, defino que grande revolução é essa. Não falo de Garibaldi, de Che Guevara, ou de Lênin. Para esta coluna, a grande revolução é a revolução copernicana, que, conforme conta o mito, ocorreu quando o polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) "pôs" o Sol no centro do cosmo, mudando para sempre a história do conhecimento.
Ainda segundo o mito, antes de o sábio renascentista publicar o livro "Sobre as Revoluções das Esferas Celestes", ou seja, dos babilônios até 1543, todo mundo achava que a Terra era o centro de tudo e que o Sol, a Lua e os planetas giravam à sua volta.
Também se acredita que Copérnico tenha enfrentado uma grande resistência por parte da Igreja Católica. Tem gente que acha até que ele tenha sofrido nas mãos da Inquisição.
Não há dúvida de que a obra de Copérnico é extremamente importante na história da astronomia. Mas vale a pena revisitar certas asserções comumente feitas sobre a dita revolução, não só como esclarecimento, mas, também, pelo seu enorme interesse histórico e pedagógico.
A revolução copernicana não é obra apenas de Copérnico. Ela se deve principalmente aos trabalhos do grande astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601), do alemão Johannes Kepler (1571-1670) e do italiano Galileu Galilei (1564-1642). Podemos dizer que Copérnico plantou as sementes que foram gerar frutos devido à coragem e à dedicação desses três.
Copérnico também não foi o único a propor o Sol como centro do cosmo.
Mais de 15 séculos antes dele, e como ele mesmo afirma na dedicação de seu livro ao papa Paulo 3º, alguns filósofos gregos haviam proposto que a Terra girasse em torno de si mesma e que não fosse o centro das órbitas. Em particular, Aristarco de Samos (cerca de 300 a.C.) propôs um modelo essencialmente idêntico ao que seria proposto depois por Copérnico.
O fato de Copérnico ter dedicado seu livro ao papa mostra que não tinha nada a temer com relação à Igreja Católica. As maiores críticas ao heliocentrismo de Copérnico vieram de Martinho Lutero, que o acusou de paganismo. A igreja só irá adotar uma posição oficial contrária ao heliocentrismo em 1616, devido à insistência de Galileu (inspirado diretamente em Copérnico) de que a Bíblia não deve ser usada para estudar astronomia e que os teólogos que teimam em pôr a Terra no centro não entendem nem de astronomia nem de teologia. Numa época em que a Igreja Católica via a sua autoridade erodida pelas correntes protestantes, criticar o poder dos cardeais e dos bispos não era um boa política.
Mas era necessário.
Apesar de Copérnico ter publicado o seu livro em 1543, o primeiro a defender abertamente o heliocentrismo foi Kepler. Muita gente afirma que o monge italiano Giordano Bruno foi queimado na fogueira em 1600 pelo seu copernicanismo. Mesmo que ele defendesse as idéias de Copérnico, o seu maior problema com a Inquisição era de natureza teológica; ele duvidada da plausibilidade da Santíssima Trindade, da transmigração das almas e da virgindade de Maria.
Em 1597, Kepler publica o seu primeiro livro, onde toma o heliocentrismo como ponto de partida. Em 1609, usando os dados de Tycho Brahe, publica "Astronomia Nova", onde obtém as três leis do movimento planetário.
Na primeira delas, afirma que as órbitas planetárias são elipses e não círculos. Nesse mesmo ano, Galileu aponta o seu telescópio para os céus, mostrando que as idéias de Copérnico merecem ser levadas a sério. A partir daí, a grande revolução toma rumo, 66 anos após ter sido iniciada por Nicolau Copérnico. E o cosmo nunca mais foi o mesmo”.
Li esse interessante artigo de MARCELO GLEISER na Folha de São Paulo de domingo. O autor é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo".
Copérnico não foi o único a propor o Sol como centro do cosmo
“Antes de mais nada, defino que grande revolução é essa. Não falo de Garibaldi, de Che Guevara, ou de Lênin. Para esta coluna, a grande revolução é a revolução copernicana, que, conforme conta o mito, ocorreu quando o polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) "pôs" o Sol no centro do cosmo, mudando para sempre a história do conhecimento.
Ainda segundo o mito, antes de o sábio renascentista publicar o livro "Sobre as Revoluções das Esferas Celestes", ou seja, dos babilônios até 1543, todo mundo achava que a Terra era o centro de tudo e que o Sol, a Lua e os planetas giravam à sua volta.
Também se acredita que Copérnico tenha enfrentado uma grande resistência por parte da Igreja Católica. Tem gente que acha até que ele tenha sofrido nas mãos da Inquisição.
Não há dúvida de que a obra de Copérnico é extremamente importante na história da astronomia. Mas vale a pena revisitar certas asserções comumente feitas sobre a dita revolução, não só como esclarecimento, mas, também, pelo seu enorme interesse histórico e pedagógico.
A revolução copernicana não é obra apenas de Copérnico. Ela se deve principalmente aos trabalhos do grande astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601), do alemão Johannes Kepler (1571-1670) e do italiano Galileu Galilei (1564-1642). Podemos dizer que Copérnico plantou as sementes que foram gerar frutos devido à coragem e à dedicação desses três.
Copérnico também não foi o único a propor o Sol como centro do cosmo.
Mais de 15 séculos antes dele, e como ele mesmo afirma na dedicação de seu livro ao papa Paulo 3º, alguns filósofos gregos haviam proposto que a Terra girasse em torno de si mesma e que não fosse o centro das órbitas. Em particular, Aristarco de Samos (cerca de 300 a.C.) propôs um modelo essencialmente idêntico ao que seria proposto depois por Copérnico.
O fato de Copérnico ter dedicado seu livro ao papa mostra que não tinha nada a temer com relação à Igreja Católica. As maiores críticas ao heliocentrismo de Copérnico vieram de Martinho Lutero, que o acusou de paganismo. A igreja só irá adotar uma posição oficial contrária ao heliocentrismo em 1616, devido à insistência de Galileu (inspirado diretamente em Copérnico) de que a Bíblia não deve ser usada para estudar astronomia e que os teólogos que teimam em pôr a Terra no centro não entendem nem de astronomia nem de teologia. Numa época em que a Igreja Católica via a sua autoridade erodida pelas correntes protestantes, criticar o poder dos cardeais e dos bispos não era um boa política.
Mas era necessário.
Apesar de Copérnico ter publicado o seu livro em 1543, o primeiro a defender abertamente o heliocentrismo foi Kepler. Muita gente afirma que o monge italiano Giordano Bruno foi queimado na fogueira em 1600 pelo seu copernicanismo. Mesmo que ele defendesse as idéias de Copérnico, o seu maior problema com a Inquisição era de natureza teológica; ele duvidada da plausibilidade da Santíssima Trindade, da transmigração das almas e da virgindade de Maria.
Em 1597, Kepler publica o seu primeiro livro, onde toma o heliocentrismo como ponto de partida. Em 1609, usando os dados de Tycho Brahe, publica "Astronomia Nova", onde obtém as três leis do movimento planetário.
Na primeira delas, afirma que as órbitas planetárias são elipses e não círculos. Nesse mesmo ano, Galileu aponta o seu telescópio para os céus, mostrando que as idéias de Copérnico merecem ser levadas a sério. A partir daí, a grande revolução toma rumo, 66 anos após ter sido iniciada por Nicolau Copérnico. E o cosmo nunca mais foi o mesmo”.
A EXCESSIVA COMPRA DE TERRAS POR ESTRANGEIROS
Li no blog “Por um sem mídia”, de Carlos Dória, o importante artigo do MST publicado sábado no jornal “O Estado de São Paulo”:
REFORMA AGRÁRIA - COMPRA DE TERRAS POR ESTRANGEIROS.
Compra de terras por estrangeiros é mais um empecilho para Reforma Agrária
Dados do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) mostram que, nos últimos sete meses, 203 mil hectares de terras foram parar nas mãos de estrangeiros. Esses números, adverte o presidente do Incra, Rolf Hackbart, certamente estão subestimados, porque os cartórios não se vêem obrigados a registrar separadamente as terras compradas por estrangeiros e repassar as informações para o órgão.
O aumento na busca, afirma o Incra, naturalmente eleva o preço das terras e obriga o governo a pagar mais caro por áreas rurais desapropriadas para reforma agrária. No ano passado, de acordo com dados do Instituto FNP, o preço médio das terras subiu 17,83%. Essa, de acordo com o presidente do Incra, é uma das razões para a restrição à compra de terras por estrangeiros. “Eu não quero concentração de renda só nas mãos dos estrangeiros”, afirmou Hackbart.
A proposta, porém, encontra resistência entre os produtores rurais, que receiam a diminuição dos investimentos estrangeiros no campo depois de aprovadas as novas regras. “Isso me parece um pouco de xenofobia”, afirmou o presidente da Comissão de Assuntos Fundiários da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), Leôncio Britto. “Essa mudança de classificação poderá afetar a entrada de capitais estrangeiros no Brasil. E o que nós ficamos sem entender é que, quando entra o capital limpo, para produzir, gerar emprego e renda, querem colocar restrições, mas quando entra o capital especulativo, há facilitação”, acrescentou.
A crítica é rechaçado pelo presidente do Incra. “Isso não é xenofobia, é soberania. Isso é uma questão de impor limites, porque essas terras são patrimônio do País”, afirmou. O argumento é referendado pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI). “O Brasil não está num estágio de leilão. O que nós precisamos é de investimento seguro, que não nos cause problemas depois.”
A idéia do governo é encaminhar ao Congresso um projeto de lei com as novas regras. Assessores chegaram a sugerir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o assunto seja tratado por medida provisória, pois durante a tramitação do projeto na Câmara e no Senado haveria o risco de aumento vertiginoso na busca por terras. Mas a idéia não foi encampada por Lula.
Nessa proposta, o governo deve criar restrições para a compra de terras por empresas brasileiras controladas por estrangeiras e diminuir o tamanho das terras que cidadãos estrangeiros podem comprar. Atualmente, não há restrições para a compra de terra por essas empresas”
REFORMA AGRÁRIA - COMPRA DE TERRAS POR ESTRANGEIROS.
Compra de terras por estrangeiros é mais um empecilho para Reforma Agrária
Dados do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) mostram que, nos últimos sete meses, 203 mil hectares de terras foram parar nas mãos de estrangeiros. Esses números, adverte o presidente do Incra, Rolf Hackbart, certamente estão subestimados, porque os cartórios não se vêem obrigados a registrar separadamente as terras compradas por estrangeiros e repassar as informações para o órgão.
O aumento na busca, afirma o Incra, naturalmente eleva o preço das terras e obriga o governo a pagar mais caro por áreas rurais desapropriadas para reforma agrária. No ano passado, de acordo com dados do Instituto FNP, o preço médio das terras subiu 17,83%. Essa, de acordo com o presidente do Incra, é uma das razões para a restrição à compra de terras por estrangeiros. “Eu não quero concentração de renda só nas mãos dos estrangeiros”, afirmou Hackbart.
A proposta, porém, encontra resistência entre os produtores rurais, que receiam a diminuição dos investimentos estrangeiros no campo depois de aprovadas as novas regras. “Isso me parece um pouco de xenofobia”, afirmou o presidente da Comissão de Assuntos Fundiários da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), Leôncio Britto. “Essa mudança de classificação poderá afetar a entrada de capitais estrangeiros no Brasil. E o que nós ficamos sem entender é que, quando entra o capital limpo, para produzir, gerar emprego e renda, querem colocar restrições, mas quando entra o capital especulativo, há facilitação”, acrescentou.
A crítica é rechaçado pelo presidente do Incra. “Isso não é xenofobia, é soberania. Isso é uma questão de impor limites, porque essas terras são patrimônio do País”, afirmou. O argumento é referendado pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI). “O Brasil não está num estágio de leilão. O que nós precisamos é de investimento seguro, que não nos cause problemas depois.”
A idéia do governo é encaminhar ao Congresso um projeto de lei com as novas regras. Assessores chegaram a sugerir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o assunto seja tratado por medida provisória, pois durante a tramitação do projeto na Câmara e no Senado haveria o risco de aumento vertiginoso na busca por terras. Mas a idéia não foi encampada por Lula.
Nessa proposta, o governo deve criar restrições para a compra de terras por empresas brasileiras controladas por estrangeiras e diminuir o tamanho das terras que cidadãos estrangeiros podem comprar. Atualmente, não há restrições para a compra de terra por essas empresas”
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
“NAÇÕES INDÌGENAS”: CONFLITOS POTENCIAIS CRESCENTES
O jornal “O Estado de São Paulo” em artigo de João Paulo Charleaux, ontem publicou:
NACIONALISMO INDÍGENA GANHA FÔLEGO NA AMÉRICA DO SUL
Decisões de Evo e Correa inflamam reivindicações por recursos naturais
“A decisão do governo equatoriano de expulsar a construtora Norberto Odebrecht do país, na última terça-feira, deu novo fôlego a grupos indígenas da América do Sul, que vêem a exploração dos recursos naturais como a última fronteira de uma guerra que começou com a colonização.
Em pelo menos seis países sul-americanos, movimentos indígenas organizados voltaram a falar sobre “propriedade ancestral dos recursos” e a manifestar contrariedade com a presença de empresas estrangeiras, como aconteceu com o gás boliviano explorado, principalmente, pela Petrobrás na Bolívia de Evo Morales.
Das 18 grandes obras que a Odebrecht toca hoje na América do Sul, 14 estão em países onde grupos indígenas provocam instabilidade ou governos populistas tornam as regras incertas para os negócios. “Não nos metemos nos assuntos locais, levamos sempre em conta que somos estrangeiros” disse ao Estado o diretor de Relações Institucionais da Construtora Norberto Odebrecht, Roberto Dias. “Da mesma forma, dizemos aos nossos funcionários que não se trata de morder e sair, mas de lançar bases parar ficar 50 anos.”
Para o presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), Marlon Santi, “as empresas transnacionais negociam nossa mãe-terra e nos roubam o petróleo e os minerais. Nossa proposta é de que tudo isso seja nosso”.
Em maio, Santi havia retirado o apoio ao governo depois que o presidente anunciou que a nova Constituição não daria aos indígenas o direito de decidir sobre a exploração dos recursos naturais. Agora, há um novo aceno de Correa aos movimentos indígenas, com a decisão de impedir que executivos da Odebrecht deixem o país e as Forças Armadas ocupem as instalações da empresa.
Há apenas quatro anos, a influência desses grupos na política equatoriana foi determinante para a queda do então presidente, Lucio Gutiérrez. Eleito em 2002, Gutiérrez não resistiu depois que o partido indígena Pachakutik passou para a oposição, elevando o índice de rejeição ao seu governo para 70%.
O Brasil deu asilo ao presidente deposto e acabou alvo de protestos. “Nosso objetivo era contribuir para o processo de paz social num país que vivia uma crise político-institucional de extrema gravidade”, disse na época o então embaixador do Brasil em Quito, Sérgio Florencio.
AUTONOMIA TOTAL
No Peru, onde a construtora brasileira participa da construção de um porto e duas rodovias no sul do país, orçadas em quase US$ 2 bilhões, o ambiente político também pode se deteriorar, já que a reprovação ao governo na região chega a 96%.
O presidente regional de Puno, Hernán Fuentes, prega a autonomia indígena e a aliança com os vizinhos de mesma etnia que vivem do lado boliviano.
Em sua página na internet, Fuentes elogia Hugo Chávez, Fidel Castro e Evo Morales e diz “entender” o ponto de vista das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Ao sul, no Chile, os mapuches pregam a autonomia total de 3 das 12 regiões que formam o país - numa área que corresponde a 20% do território continental chileno -, justamente onde está concentrado o maior potencial hidrelétrico do país.
“Minha posição é de absoluto rechaço (às hidrelétricas)”, disse o líder indígena Aucán Huilcamán Pillama. Ele anunciou também sua intenção de candidatar-se à presidência do Chile nas próximas eleições, com a bandeira da “autodeterminação e do autogoverno mapuche”.
Por autonomia, os indígenas chilenos entendem “governo próprio e leis próprias, sem a presença da força pública”, explica Jorge Huenchullán, líder mapuche na cidade de Temucuicui. “Se me perguntam se sou chileno, digo que sou mapuche”, diz Huenchullán.
Atento ao risco que a proposta representa para a integridade territorial, o governo local já deteve 25 mapuches, alguns deles enquadrados na lei antiterrorismo, criada durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Sem vencer a resistência dos mapuches às hidrelétricas, o Chile continua preso á dependência do gás boliviano. Nos meses de inverno, o produto chega a faltar por causa do aumento da demanda dos vizinhos argentinos”.
NACIONALISMO INDÍGENA GANHA FÔLEGO NA AMÉRICA DO SUL
Decisões de Evo e Correa inflamam reivindicações por recursos naturais
“A decisão do governo equatoriano de expulsar a construtora Norberto Odebrecht do país, na última terça-feira, deu novo fôlego a grupos indígenas da América do Sul, que vêem a exploração dos recursos naturais como a última fronteira de uma guerra que começou com a colonização.
Em pelo menos seis países sul-americanos, movimentos indígenas organizados voltaram a falar sobre “propriedade ancestral dos recursos” e a manifestar contrariedade com a presença de empresas estrangeiras, como aconteceu com o gás boliviano explorado, principalmente, pela Petrobrás na Bolívia de Evo Morales.
Das 18 grandes obras que a Odebrecht toca hoje na América do Sul, 14 estão em países onde grupos indígenas provocam instabilidade ou governos populistas tornam as regras incertas para os negócios. “Não nos metemos nos assuntos locais, levamos sempre em conta que somos estrangeiros” disse ao Estado o diretor de Relações Institucionais da Construtora Norberto Odebrecht, Roberto Dias. “Da mesma forma, dizemos aos nossos funcionários que não se trata de morder e sair, mas de lançar bases parar ficar 50 anos.”
Para o presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), Marlon Santi, “as empresas transnacionais negociam nossa mãe-terra e nos roubam o petróleo e os minerais. Nossa proposta é de que tudo isso seja nosso”.
Em maio, Santi havia retirado o apoio ao governo depois que o presidente anunciou que a nova Constituição não daria aos indígenas o direito de decidir sobre a exploração dos recursos naturais. Agora, há um novo aceno de Correa aos movimentos indígenas, com a decisão de impedir que executivos da Odebrecht deixem o país e as Forças Armadas ocupem as instalações da empresa.
Há apenas quatro anos, a influência desses grupos na política equatoriana foi determinante para a queda do então presidente, Lucio Gutiérrez. Eleito em 2002, Gutiérrez não resistiu depois que o partido indígena Pachakutik passou para a oposição, elevando o índice de rejeição ao seu governo para 70%.
O Brasil deu asilo ao presidente deposto e acabou alvo de protestos. “Nosso objetivo era contribuir para o processo de paz social num país que vivia uma crise político-institucional de extrema gravidade”, disse na época o então embaixador do Brasil em Quito, Sérgio Florencio.
AUTONOMIA TOTAL
No Peru, onde a construtora brasileira participa da construção de um porto e duas rodovias no sul do país, orçadas em quase US$ 2 bilhões, o ambiente político também pode se deteriorar, já que a reprovação ao governo na região chega a 96%.
O presidente regional de Puno, Hernán Fuentes, prega a autonomia indígena e a aliança com os vizinhos de mesma etnia que vivem do lado boliviano.
Em sua página na internet, Fuentes elogia Hugo Chávez, Fidel Castro e Evo Morales e diz “entender” o ponto de vista das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Ao sul, no Chile, os mapuches pregam a autonomia total de 3 das 12 regiões que formam o país - numa área que corresponde a 20% do território continental chileno -, justamente onde está concentrado o maior potencial hidrelétrico do país.
“Minha posição é de absoluto rechaço (às hidrelétricas)”, disse o líder indígena Aucán Huilcamán Pillama. Ele anunciou também sua intenção de candidatar-se à presidência do Chile nas próximas eleições, com a bandeira da “autodeterminação e do autogoverno mapuche”.
Por autonomia, os indígenas chilenos entendem “governo próprio e leis próprias, sem a presença da força pública”, explica Jorge Huenchullán, líder mapuche na cidade de Temucuicui. “Se me perguntam se sou chileno, digo que sou mapuche”, diz Huenchullán.
Atento ao risco que a proposta representa para a integridade territorial, o governo local já deteve 25 mapuches, alguns deles enquadrados na lei antiterrorismo, criada durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Sem vencer a resistência dos mapuches às hidrelétricas, o Chile continua preso á dependência do gás boliviano. Nos meses de inverno, o produto chega a faltar por causa do aumento da demanda dos vizinhos argentinos”.
A INDISPENSÁVEL DEFESA DA “AMAZÔNIA AZUL”
O jornal “O Estado de São Paulo”, em reportagem de Roberto Godoy, publicou ontem:
PROJETO DA MARINHA PREVÊ COMPRA DE NAVIOS, SUBMARINO E SENSORES
A vigilância do tesouro submarino brasileiro - jazidas de petróleo com 70 bilhões de barris, depósitos de manganês, cobre, cobalto, níquel, ouro, diamante, enxofre, monazita, minerais estratégicos e uma imensa reserva de recursos pesqueiros, capaz de produzir 1,5 milhão de toneladas por ano - será feita por meio de uma sofisticada rede de sensores eletrônicos distribuídos ao longo dos 4,5 milhões de quilômetros quadrados, a porção do Atlântico Sul sob controle do País. A área equivale a mais da metade do território nacional.
Ainda “em forma de projeto”, segundo o comandante da Marinha, almirante Júlio Moura Neto, o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul é comparável ao Sivam, criado para monitorar a Amazônia, ao custo total de US$ 1,4 bilhão.
Não é o único recurso previsto para a tarefa. Um amplo programa de reequipamento, com execução prevista para o período de seis anos entre 2008 e 2014, está em curso. O pacote prevê a compra de 27 navios-patrulha de 500 toneladas, a construção de um novo submarino convencional e a modernização dos cinco navios do tipo em uso atualmente. Cuida, também, da aquisição de torpedos, helicópteros, patrulheiros oceânicos, embarcações de escolta e de uso em grandes rios.
Entram no inventário a revitalização de parte da frota - inclusive do porta-aviões São Paulo - e a atualização tecnológica de 12 dos 23 caças Skyhawk, contratada da Embraer.
O Comando da Marinha não arrisca previsões de investimento. Mas, segundo fornecedores internacionais ouvidos pelo Estado na Europa e nos Estados Unidos, o Sistema de Gerenciamento em desenvolvimento pode custar US$ 2 bilhões. O valor, todavia, depende das especificações técnicas, das dimensões do conjunto e do cronograma das etapas de implantação.
“Trata-se de uma ferramenta que permitirá ao País o exercício de sua soberania e direitos sobre espaços marítimos”, explica o almirante Júlio Moura. Para o comandante, “o caráter multidisciplinar torna possível o controle efetivo, não só do aspecto da Defesa, mas, com igual intensidade, nas questões ambientais, socioeconômicas e político-estratégicas relacionadas com temas diversos como pesca, transporte geral, pesquisa científica e, claro, a exploração de petróleo e gás”.
A Marinha dispõe de dois sistemas - de Comando e Controle e de Informações sobre o Tráfego. Ambos serão integrados ao complexo da Amazônia Azul. O grupo vai contribuir para a repressão ao contrabando, segurança no mar, prevenção e combate à poluição. Boa parte será empregada na previsão e alerta antecipado de fenômenos climáticos - tempestades e ciclones, por exemplo.
De acordo com engenheiros especializados, o Sistema de Vigilância exigirá de três a quatro Centros Regionais. Um deles, o mais bem equipado, seria dedicado ao acompanhamento permanente das bacias de Santos, Campos e Espirito Santo, onde estão os bolsões de gás e campos de petróleo mais importantes. A província do pré-sal, com 800 quilômetros de extensão e 200 quilômetros de largura, está lá, armazenando talvez 70 bilhões de barris de óleo cru.
Tanta riqueza fica a 300 km da costa e exigirá perfurações a mais de 6 mil metros em torno de um ponto chamado Tupi, no meio do oceano, longe de tudo. Outro núcleo de importância estratégica teria de ser montado na Foz do Rio Amazonas, voltado para um amplo arco no norte-nordeste. Os outros pontos estariam focados no sul e centro-leste. A blindagem eletrônica será formada por radares digitais de longo alcance, rastreadores de satélite, unidades de busca, estações de rádio protegidas e sofisticados equipamentos de reconhecimento de atividade submarina clandestina.
Boa parte do dinheiro necessário o Comando da Marinha tem, embora sob o contingenciamento do governo. Os royalties vinculados ao petróleo e retidos para formação do superávit primário somavam, até dezembro de 2007, consideráveis R$ 3,159 bilhões. Para 2008, a Lei Orçamentária Anual prevê montante de R$ 1,7 bilhão desses direitos, mas com repasse de R$ 994 milhões e bloqueio de R$ 706 milhões. O total congelado acumulado chega a R$ 3,865 bilhões. A Marinha poderia iniciar o programa de reaparelhamento com recursos próprios se essas verbas fossem liberadas.
Simultaneamente ao processo de recuperação de meios e de finanças, a Força Naval defende na ONU a proposta de acréscimo de 950 mil km² às águas do Brasil, algo como a soma dos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Combinado com a faixa litorânea de 200 milhas, o novo espaço expande em 52% os limites brasileiros. Por ele circulam 95% do comércio exterior e se dá o acesso aos 40 portos nacionais de entrada e saída de mercadorias”.
O BRASIL PRECISA DE SUBMARINOS
Sobre o mesmo assunto de Segurança Nacional, ontem o “Jornal do Commercio”, em reportagem de Alexandre Rodrigues da Agência Estado, publicou bom texto que complementa o acima exposto. Reproduzo parcialmente:
“A proposta é dobrar o total de navios-patrulha até 2018 e construir quatro submarinos, mas as atenções se voltam principalmente para o submarino nuclear que deverá vigiar toda a costa brasileira a partir de 2020
“Mais do que dobrar a atual frota de 27 navios-patrulha, a prioridade da Marinha para alcançar condições efetivas de segurança nas áreas de prospecção de petróleo na costa brasileira, como as recém-descobertas reservas na camada pré-sal, é a construção de pelo menos quatro novos submarinos até 2018. A meta principal é o aguardado submarino nuclear, que colocaria o controle da costa em outro patamar. No entanto, os oficiais não contam com ele antes de 2020.
“TIMBIRA” É CAPAZ DE DESTRUIR NAVIOS EM POUCOS SEGUNDOS
“A missão do submarino Timbira durante a Operação Atlântico encerrada na última sexta-feira foi impedir o movimento, no litoral do Rio, da esquadra formada por quatro navios de transporte apinhados de fuzileiros navais, escoltados por uma dezena de corvetas e fragatas com a tarefa de simular um ataque anfíbio à costa capixaba.
Equipado com sofisticados sonares, o submarino tem condições de mapear a disposição da esquadra a ponto de identificar até o número de pás de um navio e surpreender ao mirar no elemento de maior valor para o inimigo. Navios de guerra equipados com canhões e mísseis podem se partir ao meio em poucos segundos com um único torpedo de um submarino.
O efeito inibidor que um submarino como o Timbira provoca seria muito maior no caso de uma unidade nuclear. A propulsão atômica dá uma velocidade muito superior à diesel-elétrica dos submarinos convencionais, que precisam subir à superfície para recarregar baterias. É nesse momento que os navios de guerra podem abatê-los para ir em frente. A ilimitada autonomia do reator nuclear lhe dá condições de pousar “invisível” no fundo do mar, por quanto tempo for necessário e de se deslocar rapidamente por toda a costa. No entanto, ele é mais ruidoso, o que faz mais difícil o desafio da ocultação.
Por causa da dificuldade em ser detectado, a presença de um submarino é motivo suficiente para imobilizar toda uma esquadra. Por esse caráter de dissuasão é que a construção de novos submarinos é prioridade. Um novo leva quatro anos para sair do estaleiro. Com as necessidades de manutenção, a atual frota baseada no Rio não tem condições de cobrir toda a costa. Segundo o almirante Bento, o Timbira levaria mais de dez dias para chegar à foz do Amazonas.
A Marinha tem o ano que vem como limite para retomar a construção de submarinos convencionais para chegar ao nuclear, sob pena de perder o domínio da tecnologia de produção nacional desenvolvida no Arsenal de Marinha do Rio a partir do projeto alemão que deu origem aos quatro navios da classe Tupi, entre eles o Timbira. O último que saiu de lá, o quinto da frota brasileira, foi o Tikuna, resultado do aprimoramento do Tupi, em 2006.
“Nossa expectativa é construir pelo menos quatro novos submarinos convencionais a partir de 2009, iniciando um a cada dois anos”, diz o almirante. O Brasil deveria ter várias bases submarinas espalhadas pelo litoral, mas a Marinha quer suprir essa carência com o submarino nuclear. Mais velozes e com autonomia ilimitada, poderiam cobrir toda a costa.
REATOR NUCLEAR
Enquanto o Centro Tecnológico da Marinha no interior de São Paulo desenvolve o reator nuclear, os militares precisam de um projeto com dimensões adequadas para recebê-lo.
O Tikuna, por exemplo, pesa 1.500 toneladas. Para um reator nuclear, a Marinha tem que construir unidades convencionais maiores para chegar até gigantes de 3 a 4 mil toneladas. Assim, quando o reator estiver pronto, haverá um projeto para envolvê-lo.
Iniciado há quase 30 anos, o programa nuclear da Marinha perdeu quase dez anos com a falta de verba, apesar de já ter consumido cerca de R$ 2 bilhões. Revigorado com recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia, custará ainda mais R$ 1 bilhão, mas agora precisa mesmo é de tempo.
Na sexta-feira passada, foi ativada no Rio de Janeiro, a Coordenadoria do Programa de Desenvolvimento de Submarino de Propulsão Nuclear. A coordenação do programa ficará a cargo do almirante-de-esquadra José Alberto Accioly Fragelli.
“Se as coisas correrem bem, teremos o submarino nuclear em 2020. Agora não é questão só de dinheiro, mas de tempo para alcançar um conhecimento que os países que têm não dividem. Não há dinheiro capaz de acelerar esse processo”, explica o almirante Bento”.
PROJETO DA MARINHA PREVÊ COMPRA DE NAVIOS, SUBMARINO E SENSORES
A vigilância do tesouro submarino brasileiro - jazidas de petróleo com 70 bilhões de barris, depósitos de manganês, cobre, cobalto, níquel, ouro, diamante, enxofre, monazita, minerais estratégicos e uma imensa reserva de recursos pesqueiros, capaz de produzir 1,5 milhão de toneladas por ano - será feita por meio de uma sofisticada rede de sensores eletrônicos distribuídos ao longo dos 4,5 milhões de quilômetros quadrados, a porção do Atlântico Sul sob controle do País. A área equivale a mais da metade do território nacional.
Ainda “em forma de projeto”, segundo o comandante da Marinha, almirante Júlio Moura Neto, o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul é comparável ao Sivam, criado para monitorar a Amazônia, ao custo total de US$ 1,4 bilhão.
Não é o único recurso previsto para a tarefa. Um amplo programa de reequipamento, com execução prevista para o período de seis anos entre 2008 e 2014, está em curso. O pacote prevê a compra de 27 navios-patrulha de 500 toneladas, a construção de um novo submarino convencional e a modernização dos cinco navios do tipo em uso atualmente. Cuida, também, da aquisição de torpedos, helicópteros, patrulheiros oceânicos, embarcações de escolta e de uso em grandes rios.
Entram no inventário a revitalização de parte da frota - inclusive do porta-aviões São Paulo - e a atualização tecnológica de 12 dos 23 caças Skyhawk, contratada da Embraer.
O Comando da Marinha não arrisca previsões de investimento. Mas, segundo fornecedores internacionais ouvidos pelo Estado na Europa e nos Estados Unidos, o Sistema de Gerenciamento em desenvolvimento pode custar US$ 2 bilhões. O valor, todavia, depende das especificações técnicas, das dimensões do conjunto e do cronograma das etapas de implantação.
“Trata-se de uma ferramenta que permitirá ao País o exercício de sua soberania e direitos sobre espaços marítimos”, explica o almirante Júlio Moura. Para o comandante, “o caráter multidisciplinar torna possível o controle efetivo, não só do aspecto da Defesa, mas, com igual intensidade, nas questões ambientais, socioeconômicas e político-estratégicas relacionadas com temas diversos como pesca, transporte geral, pesquisa científica e, claro, a exploração de petróleo e gás”.
A Marinha dispõe de dois sistemas - de Comando e Controle e de Informações sobre o Tráfego. Ambos serão integrados ao complexo da Amazônia Azul. O grupo vai contribuir para a repressão ao contrabando, segurança no mar, prevenção e combate à poluição. Boa parte será empregada na previsão e alerta antecipado de fenômenos climáticos - tempestades e ciclones, por exemplo.
De acordo com engenheiros especializados, o Sistema de Vigilância exigirá de três a quatro Centros Regionais. Um deles, o mais bem equipado, seria dedicado ao acompanhamento permanente das bacias de Santos, Campos e Espirito Santo, onde estão os bolsões de gás e campos de petróleo mais importantes. A província do pré-sal, com 800 quilômetros de extensão e 200 quilômetros de largura, está lá, armazenando talvez 70 bilhões de barris de óleo cru.
Tanta riqueza fica a 300 km da costa e exigirá perfurações a mais de 6 mil metros em torno de um ponto chamado Tupi, no meio do oceano, longe de tudo. Outro núcleo de importância estratégica teria de ser montado na Foz do Rio Amazonas, voltado para um amplo arco no norte-nordeste. Os outros pontos estariam focados no sul e centro-leste. A blindagem eletrônica será formada por radares digitais de longo alcance, rastreadores de satélite, unidades de busca, estações de rádio protegidas e sofisticados equipamentos de reconhecimento de atividade submarina clandestina.
Boa parte do dinheiro necessário o Comando da Marinha tem, embora sob o contingenciamento do governo. Os royalties vinculados ao petróleo e retidos para formação do superávit primário somavam, até dezembro de 2007, consideráveis R$ 3,159 bilhões. Para 2008, a Lei Orçamentária Anual prevê montante de R$ 1,7 bilhão desses direitos, mas com repasse de R$ 994 milhões e bloqueio de R$ 706 milhões. O total congelado acumulado chega a R$ 3,865 bilhões. A Marinha poderia iniciar o programa de reaparelhamento com recursos próprios se essas verbas fossem liberadas.
Simultaneamente ao processo de recuperação de meios e de finanças, a Força Naval defende na ONU a proposta de acréscimo de 950 mil km² às águas do Brasil, algo como a soma dos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Combinado com a faixa litorânea de 200 milhas, o novo espaço expande em 52% os limites brasileiros. Por ele circulam 95% do comércio exterior e se dá o acesso aos 40 portos nacionais de entrada e saída de mercadorias”.
O BRASIL PRECISA DE SUBMARINOS
Sobre o mesmo assunto de Segurança Nacional, ontem o “Jornal do Commercio”, em reportagem de Alexandre Rodrigues da Agência Estado, publicou bom texto que complementa o acima exposto. Reproduzo parcialmente:
“A proposta é dobrar o total de navios-patrulha até 2018 e construir quatro submarinos, mas as atenções se voltam principalmente para o submarino nuclear que deverá vigiar toda a costa brasileira a partir de 2020
“Mais do que dobrar a atual frota de 27 navios-patrulha, a prioridade da Marinha para alcançar condições efetivas de segurança nas áreas de prospecção de petróleo na costa brasileira, como as recém-descobertas reservas na camada pré-sal, é a construção de pelo menos quatro novos submarinos até 2018. A meta principal é o aguardado submarino nuclear, que colocaria o controle da costa em outro patamar. No entanto, os oficiais não contam com ele antes de 2020.
“TIMBIRA” É CAPAZ DE DESTRUIR NAVIOS EM POUCOS SEGUNDOS
“A missão do submarino Timbira durante a Operação Atlântico encerrada na última sexta-feira foi impedir o movimento, no litoral do Rio, da esquadra formada por quatro navios de transporte apinhados de fuzileiros navais, escoltados por uma dezena de corvetas e fragatas com a tarefa de simular um ataque anfíbio à costa capixaba.
Equipado com sofisticados sonares, o submarino tem condições de mapear a disposição da esquadra a ponto de identificar até o número de pás de um navio e surpreender ao mirar no elemento de maior valor para o inimigo. Navios de guerra equipados com canhões e mísseis podem se partir ao meio em poucos segundos com um único torpedo de um submarino.
O efeito inibidor que um submarino como o Timbira provoca seria muito maior no caso de uma unidade nuclear. A propulsão atômica dá uma velocidade muito superior à diesel-elétrica dos submarinos convencionais, que precisam subir à superfície para recarregar baterias. É nesse momento que os navios de guerra podem abatê-los para ir em frente. A ilimitada autonomia do reator nuclear lhe dá condições de pousar “invisível” no fundo do mar, por quanto tempo for necessário e de se deslocar rapidamente por toda a costa. No entanto, ele é mais ruidoso, o que faz mais difícil o desafio da ocultação.
Por causa da dificuldade em ser detectado, a presença de um submarino é motivo suficiente para imobilizar toda uma esquadra. Por esse caráter de dissuasão é que a construção de novos submarinos é prioridade. Um novo leva quatro anos para sair do estaleiro. Com as necessidades de manutenção, a atual frota baseada no Rio não tem condições de cobrir toda a costa. Segundo o almirante Bento, o Timbira levaria mais de dez dias para chegar à foz do Amazonas.
A Marinha tem o ano que vem como limite para retomar a construção de submarinos convencionais para chegar ao nuclear, sob pena de perder o domínio da tecnologia de produção nacional desenvolvida no Arsenal de Marinha do Rio a partir do projeto alemão que deu origem aos quatro navios da classe Tupi, entre eles o Timbira. O último que saiu de lá, o quinto da frota brasileira, foi o Tikuna, resultado do aprimoramento do Tupi, em 2006.
“Nossa expectativa é construir pelo menos quatro novos submarinos convencionais a partir de 2009, iniciando um a cada dois anos”, diz o almirante. O Brasil deveria ter várias bases submarinas espalhadas pelo litoral, mas a Marinha quer suprir essa carência com o submarino nuclear. Mais velozes e com autonomia ilimitada, poderiam cobrir toda a costa.
REATOR NUCLEAR
Enquanto o Centro Tecnológico da Marinha no interior de São Paulo desenvolve o reator nuclear, os militares precisam de um projeto com dimensões adequadas para recebê-lo.
O Tikuna, por exemplo, pesa 1.500 toneladas. Para um reator nuclear, a Marinha tem que construir unidades convencionais maiores para chegar até gigantes de 3 a 4 mil toneladas. Assim, quando o reator estiver pronto, haverá um projeto para envolvê-lo.
Iniciado há quase 30 anos, o programa nuclear da Marinha perdeu quase dez anos com a falta de verba, apesar de já ter consumido cerca de R$ 2 bilhões. Revigorado com recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia, custará ainda mais R$ 1 bilhão, mas agora precisa mesmo é de tempo.
Na sexta-feira passada, foi ativada no Rio de Janeiro, a Coordenadoria do Programa de Desenvolvimento de Submarino de Propulsão Nuclear. A coordenação do programa ficará a cargo do almirante-de-esquadra José Alberto Accioly Fragelli.
“Se as coisas correrem bem, teremos o submarino nuclear em 2020. Agora não é questão só de dinheiro, mas de tempo para alcançar um conhecimento que os países que têm não dividem. Não há dinheiro capaz de acelerar esse processo”, explica o almirante Bento”.
O ACIDENTE DA TAM EM CONGONHAS
O Correio Braziliense de ontem publicou a seguinte reportagem da Agência Brasil:
LAUDO DO INSTITUTO DE CRIMINALÍSTICA SOBRE ACIDENTE DA TAM JÁ FOI CONCLUÍDO
O laudo do Instituto Nacional de Criminalística sobre o acidente com o vôo JJ3054 da TAM já foi concluído e o delegado responsável pelo inquérito policial, em andamento em São Paulo, promete apresentar suas conclusões ao Ministério Público Federal na capital paulista no próximo mês.
Ao participar neste sábado (27/09) do encontro de parentes e amigos das vítimas da tragédia, que ocorre em Porto Alegre (RS), o delegado Antônio Carlos Barbosa prometeu concluir seu relatório durante os dias de férias que pretende tirar a partir do início do próximo mês. As informações foram repassadas à Agência Brasil pelo jornalista Roberto Gomes, irmão de uma das vítimas do acidente.
Segundo Gomes, assessor de imprensa voluntário da Associação dos Familiares das Vítimas do Vôo JJ 3054, o delegado reafirmou aos parentes das vítimas que embora possam não ter sido as principais causas do acidente, as condições da pista do Aeroporto de Congonhas e o descumprimento de normas de segurança, como a que proibia que aviões com problemas no reverso pousassem em Congonhas em dias de chuva, contribuíram para que o Airbus A320 não conseguisse parar, atravessando toda a pista e indo se chocar com o prédio onde funcionava o terminal de cargas da própria TAM.
Ainda de acordo com Gomes, o delegado confirmou informação divulgada pela revista IstoÉ deste fim de semana. A publicação diz que teve acesso a relatório confidencial em que técnicos do Instituto de Criminalística concluem que, depois de o piloto tentar pousar a aeronave, o sistema automático de frenagem do avião teria respondido de forma “inesperada”, conseqüência da não-abertura dos freios aerodinâmicos (spoilers) durante o pouso.
Gomes, no entanto, afirmou que, a partir das informações registradas pelo computador de bordo do avião, o delegado sugeriu que os spoilers teriam deixado de abrir devido ao posicionamento assimétrico das manetes.
Pelo registro do computador, no instante do pouso uma das manetes estava em posição de acelerar (climbing) e a outra em ponto morto (idle). Dessa forma, houve uma descompensação que impulsionou o avião para o lado esquerdo da pista. “A pergunta é até que ponto esse registro está correto e até que ponto pode ter havido uma interpretação equivocada por parte do computador?”, questionou Gomes.
Na última reunião dos parentes das vítimas, realizada no mês passado em Brasília, o perito do Instituto de Criminalística Antônio Nogueira afirmou que não era possível dizer que as manetes das aeronaves estivessem na posição errada no momento do pouso. “Com o que sobrou do mecanismo das manetes, não dá para determinar a posição delas. Pela interpretação da caixa-preta, a única coisa que dá para determinar é que uma [manete] ficou em climb e outra acionou para máximo reverso”. Na ocasião, o perito disse preferir não fazer suposição sobre se houve ou não falha do piloto”.
LAUDO DO INSTITUTO DE CRIMINALÍSTICA SOBRE ACIDENTE DA TAM JÁ FOI CONCLUÍDO
O laudo do Instituto Nacional de Criminalística sobre o acidente com o vôo JJ3054 da TAM já foi concluído e o delegado responsável pelo inquérito policial, em andamento em São Paulo, promete apresentar suas conclusões ao Ministério Público Federal na capital paulista no próximo mês.
Ao participar neste sábado (27/09) do encontro de parentes e amigos das vítimas da tragédia, que ocorre em Porto Alegre (RS), o delegado Antônio Carlos Barbosa prometeu concluir seu relatório durante os dias de férias que pretende tirar a partir do início do próximo mês. As informações foram repassadas à Agência Brasil pelo jornalista Roberto Gomes, irmão de uma das vítimas do acidente.
Segundo Gomes, assessor de imprensa voluntário da Associação dos Familiares das Vítimas do Vôo JJ 3054, o delegado reafirmou aos parentes das vítimas que embora possam não ter sido as principais causas do acidente, as condições da pista do Aeroporto de Congonhas e o descumprimento de normas de segurança, como a que proibia que aviões com problemas no reverso pousassem em Congonhas em dias de chuva, contribuíram para que o Airbus A320 não conseguisse parar, atravessando toda a pista e indo se chocar com o prédio onde funcionava o terminal de cargas da própria TAM.
Ainda de acordo com Gomes, o delegado confirmou informação divulgada pela revista IstoÉ deste fim de semana. A publicação diz que teve acesso a relatório confidencial em que técnicos do Instituto de Criminalística concluem que, depois de o piloto tentar pousar a aeronave, o sistema automático de frenagem do avião teria respondido de forma “inesperada”, conseqüência da não-abertura dos freios aerodinâmicos (spoilers) durante o pouso.
Gomes, no entanto, afirmou que, a partir das informações registradas pelo computador de bordo do avião, o delegado sugeriu que os spoilers teriam deixado de abrir devido ao posicionamento assimétrico das manetes.
Pelo registro do computador, no instante do pouso uma das manetes estava em posição de acelerar (climbing) e a outra em ponto morto (idle). Dessa forma, houve uma descompensação que impulsionou o avião para o lado esquerdo da pista. “A pergunta é até que ponto esse registro está correto e até que ponto pode ter havido uma interpretação equivocada por parte do computador?”, questionou Gomes.
Na última reunião dos parentes das vítimas, realizada no mês passado em Brasília, o perito do Instituto de Criminalística Antônio Nogueira afirmou que não era possível dizer que as manetes das aeronaves estivessem na posição errada no momento do pouso. “Com o que sobrou do mecanismo das manetes, não dá para determinar a posição delas. Pela interpretação da caixa-preta, a única coisa que dá para determinar é que uma [manete] ficou em climb e outra acionou para máximo reverso”. Na ocasião, o perito disse preferir não fazer suposição sobre se houve ou não falha do piloto”.
FAUSTO DE SANCTIS - "PEDIRAM QUE EU VOLTASSE ATRÁS"
Li ontem no Blog do Noblat: “DEU NA REVISTA ÉPOCA”:
O juiz afirma que sofreu pressão para recuar no caso que levou à prisão de Daniel Dantas
ÉPOCA – A DESEMBARGADORA SUZANA CAMARGO DISSE EM DEPOIMENTO À PF QUE OUVIU DO SENHOR O CONTEÚDO DE CONVERSAS GRAVADAS ILEGALMENTE ENVOLVENDO O PRESIDENTE DO STF, GILMAR MENDES. ISSO ACONTECEU?
FAUSTO DE SANCTIS – Nunca soube da existência de grampo ilegal ou clandestino. Evidentemente, não determinei nenhuma interceptação telefônica ou telemática (de e-mail ou de dados digitais) do ministro Gilmar Mendes ou de seu gabinete, até porque não tenho tal competência. Também nunca recebi “informes” nesse sentido. As únicas interceptações telefônicas ou telemáticas por mim autorizadas tinham como alvo pessoas supostamente ligadas ao grupo Opportunity.
ÉPOCA – MAS O SENHOR CONVERSOU COM A DESEMBARGADORA?
DE SANCTIS – Sim, na tarde de 10 de julho. Ela telefonou, mas não pude atendê-la. Retornei depois sua ligação.
ÉPOCA – SOBRE O QUE VOCÊS CONVERSARAM?
DE SANCTIS – Não gostaria de fazer qualquer juízo sobre a conduta de meus colegas, que sempre admirei e respeitei, aí incluindo a desembargadora Suzana Camargo. Mas eu me surpreendi com o teor da conversa, já que a desembargadora começou o diálogo invocando sua condição de amiga pessoal do ministro Gilmar Mendes. Ela me disse que ele estava irado com a notícia de que eu teria decretado a prisão preventiva de Daniel Dantas e gostaria de confirmar essa decisão. Confirmei que havia, de fato, decretado a prisão preventiva. Disse quais eram as bases legais e, principalmente, que havia fatos novos, elementos obtidos na busca e apreensão.
ÉPOCA – ACABOU AÍ A CONVERSA?
DE SANCTIS – Em seguida fui novamente surpreendido com o apelo da desembargadora para que eu voltasse atrás em minha decisão. Ela insistia que o ministro Gilmar Mendes estava irado. Respondi-lhe que minha decisão estava fundamentada, era fruto de minha convicção e que, em hipótese alguma, voltaria atrás. Diante de uma última insistência da desembargadora, reafirmei que não reconsideraria e que, inclusive, o mandado de prisão já havia sido expedido e encaminhado. Estavam presentes na minha sala três servidores que, com certeza, ouviram as respostas que eu dava às perguntas formuladas pela desembargadora.
ÉPOCA – ELA DIZ NO DEPOIMENTO QUE OUVIU DO SENHOR A AFIRMAÇÃO DE QUE HAVERIA “SUJEIRA” NO STF E DE QUE O MINISTRO GILMAR MENDES O TERIA CHAMADO DE “INCOMPETENTE”. É VERDADE?
DE SANCTIS – Também não houve isso. Em momento algum eu disse à desembargadora que sabia que o ministro me qualificara como incompetente.
ÉPOCA – FOI NOTICIADO PELA IMPRENSA QUE EXISTIRIA UMA GRAVAÇÃO EM VÍDEO DE UM JANTAR ENTRE ADVOGADOS DOS INVESTIGADOS E ASSESSORES DO MINISTRO GILMAR MENDES. O SENHOR SOUBE DE ALGO?
DE SANCTIS – Nunca soube. O que sei é o conteúdo das investigações. Tive conhecimento de tal fato pela imprensa.
ÉPOCA – NA INVESTIGAÇÃO HÁ ALGUMA CITAÇÃO AO MINISTRO GILMAR MENDES?
DE SANCTIS – Minha convicção pessoal é no sentido de que essas informações, por sua natureza, não podem ser reveladas, pois configuraria uma quebra do sigilo do processo e, inclusive, nesse sentido foram as minhas informações prestadas em habeas corpus ao TRF da 3a Região, ao Superior Tribunal de Justiça e ao STF. Reforço que nenhuma informação obtida das investigações constante dos autos decorreu de interceptação telefônica ou telemática de linhas ou computadores do gabinete do ministro Gilmar Mendes ou de qualquer outra autoridade com prerrogativa de função”.
O juiz afirma que sofreu pressão para recuar no caso que levou à prisão de Daniel Dantas
ÉPOCA – A DESEMBARGADORA SUZANA CAMARGO DISSE EM DEPOIMENTO À PF QUE OUVIU DO SENHOR O CONTEÚDO DE CONVERSAS GRAVADAS ILEGALMENTE ENVOLVENDO O PRESIDENTE DO STF, GILMAR MENDES. ISSO ACONTECEU?
FAUSTO DE SANCTIS – Nunca soube da existência de grampo ilegal ou clandestino. Evidentemente, não determinei nenhuma interceptação telefônica ou telemática (de e-mail ou de dados digitais) do ministro Gilmar Mendes ou de seu gabinete, até porque não tenho tal competência. Também nunca recebi “informes” nesse sentido. As únicas interceptações telefônicas ou telemáticas por mim autorizadas tinham como alvo pessoas supostamente ligadas ao grupo Opportunity.
ÉPOCA – MAS O SENHOR CONVERSOU COM A DESEMBARGADORA?
DE SANCTIS – Sim, na tarde de 10 de julho. Ela telefonou, mas não pude atendê-la. Retornei depois sua ligação.
ÉPOCA – SOBRE O QUE VOCÊS CONVERSARAM?
DE SANCTIS – Não gostaria de fazer qualquer juízo sobre a conduta de meus colegas, que sempre admirei e respeitei, aí incluindo a desembargadora Suzana Camargo. Mas eu me surpreendi com o teor da conversa, já que a desembargadora começou o diálogo invocando sua condição de amiga pessoal do ministro Gilmar Mendes. Ela me disse que ele estava irado com a notícia de que eu teria decretado a prisão preventiva de Daniel Dantas e gostaria de confirmar essa decisão. Confirmei que havia, de fato, decretado a prisão preventiva. Disse quais eram as bases legais e, principalmente, que havia fatos novos, elementos obtidos na busca e apreensão.
ÉPOCA – ACABOU AÍ A CONVERSA?
DE SANCTIS – Em seguida fui novamente surpreendido com o apelo da desembargadora para que eu voltasse atrás em minha decisão. Ela insistia que o ministro Gilmar Mendes estava irado. Respondi-lhe que minha decisão estava fundamentada, era fruto de minha convicção e que, em hipótese alguma, voltaria atrás. Diante de uma última insistência da desembargadora, reafirmei que não reconsideraria e que, inclusive, o mandado de prisão já havia sido expedido e encaminhado. Estavam presentes na minha sala três servidores que, com certeza, ouviram as respostas que eu dava às perguntas formuladas pela desembargadora.
ÉPOCA – ELA DIZ NO DEPOIMENTO QUE OUVIU DO SENHOR A AFIRMAÇÃO DE QUE HAVERIA “SUJEIRA” NO STF E DE QUE O MINISTRO GILMAR MENDES O TERIA CHAMADO DE “INCOMPETENTE”. É VERDADE?
DE SANCTIS – Também não houve isso. Em momento algum eu disse à desembargadora que sabia que o ministro me qualificara como incompetente.
ÉPOCA – FOI NOTICIADO PELA IMPRENSA QUE EXISTIRIA UMA GRAVAÇÃO EM VÍDEO DE UM JANTAR ENTRE ADVOGADOS DOS INVESTIGADOS E ASSESSORES DO MINISTRO GILMAR MENDES. O SENHOR SOUBE DE ALGO?
DE SANCTIS – Nunca soube. O que sei é o conteúdo das investigações. Tive conhecimento de tal fato pela imprensa.
ÉPOCA – NA INVESTIGAÇÃO HÁ ALGUMA CITAÇÃO AO MINISTRO GILMAR MENDES?
DE SANCTIS – Minha convicção pessoal é no sentido de que essas informações, por sua natureza, não podem ser reveladas, pois configuraria uma quebra do sigilo do processo e, inclusive, nesse sentido foram as minhas informações prestadas em habeas corpus ao TRF da 3a Região, ao Superior Tribunal de Justiça e ao STF. Reforço que nenhuma informação obtida das investigações constante dos autos decorreu de interceptação telefônica ou telemática de linhas ou computadores do gabinete do ministro Gilmar Mendes ou de qualquer outra autoridade com prerrogativa de função”.
PRESIDENTE LULA APOIOU SÃO PAULO MAIS DO QUE FHC
Para desmerecer esse fato, o Blog do Noblat, coerente em ser parte da GLOBO, trata a notícia como “gabolice”.
Vejamos o texto do Noblat:
“Lula tem novo ataque de gabolice
Dessa vez foi em Guarulhos, na Grande São Paulo, em comício para cinco mil pessoas onde ele pediu para que o candidato do PT a prefeitura fosse eleito no primeiro turno.
- De 1980 a 2002, a categoria dos metalúrgicos perdeu 700 mil postos de trabalho e hoje já voltamos a ver placas de precisa-se de metalúrgico na porta das fábricas.
Empresários do setor da construção civil me dizem que faltam pedreiros, faltam azulejistas.
- Perguntem ao Serra se o Fernando Henrique deu para o Covas 10% do que eu dei para o Serra. Perguntem ao Alckmin se Fernando Henrique deu 10% do que eu dei para São Paulo. Perguntem a qualquer governador do Nordeste o que estamos fazendo pelos governos estaduais e prefeituras.
- Eu não entendia porque o pobre não votava em mim. Uma vez uma mulher pobre de uma usina de cana-de-açúcar me disse que não votava em mim porque eu iria tomar tudo o que ela tinha. E ela só tinha um barraquinho. Cheguei a pensar em abandonar tudo e ir para casa. Então, quando isso acontecia, a Marisa me estimulava a trabalhar mais.
E hoje como presidente não posso fracassar, porque tenho que provar que um operário pode governar melhor do que doutor.
- Inteligência não se aprende na escola. Inteligência nasce dentro de nós e ela só pode ser aperfeiçoada. Eu sei exatamente o que o povo quer”.
Vejamos o texto do Noblat:
“Lula tem novo ataque de gabolice
Dessa vez foi em Guarulhos, na Grande São Paulo, em comício para cinco mil pessoas onde ele pediu para que o candidato do PT a prefeitura fosse eleito no primeiro turno.
- De 1980 a 2002, a categoria dos metalúrgicos perdeu 700 mil postos de trabalho e hoje já voltamos a ver placas de precisa-se de metalúrgico na porta das fábricas.
Empresários do setor da construção civil me dizem que faltam pedreiros, faltam azulejistas.
- Perguntem ao Serra se o Fernando Henrique deu para o Covas 10% do que eu dei para o Serra. Perguntem ao Alckmin se Fernando Henrique deu 10% do que eu dei para São Paulo. Perguntem a qualquer governador do Nordeste o que estamos fazendo pelos governos estaduais e prefeituras.
- Eu não entendia porque o pobre não votava em mim. Uma vez uma mulher pobre de uma usina de cana-de-açúcar me disse que não votava em mim porque eu iria tomar tudo o que ela tinha. E ela só tinha um barraquinho. Cheguei a pensar em abandonar tudo e ir para casa. Então, quando isso acontecia, a Marisa me estimulava a trabalhar mais.
E hoje como presidente não posso fracassar, porque tenho que provar que um operário pode governar melhor do que doutor.
- Inteligência não se aprende na escola. Inteligência nasce dentro de nós e ela só pode ser aperfeiçoada. Eu sei exatamente o que o povo quer”.
"É PRECISO FAZER JUSTIÇA FISCAL", DIZ RECEITA FEDERAL
O jornal “Folha de São Paulo”, em texto de Fátima Fernandes e Claudia Rolli, ontem publicou:
LUIZ SÉRGIO FONSECA SOARES, NOVO SUPERINTENDENTE DO FISCO EM SP, DIZ QUE A INSTITUIÇÃO QUER CORRIGIR DISTORÇÕES NO IR
ENTRE AS MAIORES DISPARIDADES DO SISTEMA TRIBUTÁRIO DO BRASIL, ESTÁ A DE QUE O POBRE PAGA, PROPORCIONALMENTE, MAIS IMPOSTO DO QUE O RICO
O mineiro Luiz Sérgio Fonseca Soares, 60, assume a Superintendência da Receita Federal em São Paulo com a perspectiva de o órgão arrecadar, neste ano, R$ 45 bilhões a mais dos paulistas -aumento de cerca de 20% sobre a receita de R$ 232,5 bilhões obtida em 2007 no Estado de São Paulo.
Em sintonia com a secretária da Receita Federal, Lina Maria Vieira, Soares diz que vai intensificar o combate à sonegação e ao contrabando em parceria com outras instituições do Estado e que o foco não será só o comércio de produtos populares, mas também o de luxo.
Soares, que ocupava a presidência da Delegacia Sindical de Belo Horizonte (MG), ligada ao Unafisco (sindicato dos auditores fiscais), diz que a Receita vai chamar a sociedade para discutir formas de promover justiça fiscal no país, já que "o pobre paga, proporcionalmente, mais IR do que o rico no Brasil".
A seguir, os principais trechos da entrevista.
FOLHA - O SR. CHEGA PARA ADMINISTRAR A SUPERINTENDÊNCIA DA RECEITA EM UM ESTADO QUE DEVE ARRECADAR R$ 277 BILHÕES NESTE ANO. QUAIS SERÃO SUAS PRIORIDADES?
LUIZ SÉRGIO FONSECA SOARES - De fato, a maior parte da arrecadação está em São Paulo, mas, ainda assim, os recursos são escassos se considerarmos o que é preciso fazer em São Paulo.
Minha tarefa é tirar desses recursos o máximo possível. A Receita quer ser mais proativa, trabalhar mais em conjunto com representantes da sociedade, com associações, federações para, por exemplo, diminuir a concorrência desleal que atinge alguns setores.
FOLHA - QUAIS SERIAM AS AÇÕES PARA COMBATER A CONCORRÊNCIA DESLEAL?
SOARES - Em alguns setores, por exemplo, contribuintes do mesmo tamanho pagam volumes bem diferentes de tributos. Faremos uma investigação mais intensa nesses contribuintes e alguns setores na Receita vão planejar as ações.
FOLHA - ESSAS AÇÕES TAMBÉM SERÃO FEITAS COM OUTROS ÓRGÃOS DO GOVERNO?
SOARES - Sim. O Estado desorganizado não consegue enfrentar o crime organizado. Vamos melhorar nossa comunicação com os contribuintes, mostrar o que estamos fazendo, divulgar mais nosso trabalho.
FOLHA - O QUE PODEMOS ESPERAR DA RECEITA EM SÃO PAULO NA QUESTÃO DE FISCALIZAÇÃO DE CONTRIBUINTES?
SOARES - Vamos operar de forma integrada com outros Estados, aperfeiçoar o que já existe e fazer mais rodízio de funcionários nas aduanas. É bom para o próprio funcionário. Queremos aumentar o trabalho em equipe. Nossa ação é feita com base no gerenciamento de risco, trabalhamos com amostragens, porque não é possível fiscalizar tudo o que entra no país. Vamos mostrar que ninguém é intocável para a Receita.
FOLHA - FISCAIS FECHAM UM SHOPPING HOJE E ELE REABRE AMANHÃ. EMPRESÁRIOS E ADVOGADOS DIZEM QUE ISSO É REFLEXO DA ALTA CARGA TRIBUTÁRIA...
SOARES - A formulação da política tributária é do governo. A tarefa da Receita é ajudar na elaboração dessa política, cuidar de arrecadar os recursos e combater a sonegação, o descaminho e a corrupção. Precisamos aperfeiçoar os estudos para combater a informalidade, que é imensa no Brasil.
FOLHA - A FISCALIZAÇÃO FICARÁ CONCENTRADA EM SHOPPINGS POPULARES OU SE ESTENDERÁ A OUTROS SETORES?
SOARES - Não ficará e não está só em cima do comércio popular. Na operação "Anúbis", a fiscalização chegou a um galpão de 5.000 metros quadrados com R$ 15 milhões em mercadorias. Não sabemos se esses produtos iriam só para o comércio popular. A inteligência da Receita está trabalhando para identificar quem traz e quem compra esses produtos. O foco da Receita não é e não será somente os shoppings populares.
FOLHA - QUANDO O SR. EXAMINA SEU CONTRACHEQUE E VÊ O DESCONTO DO IR NO SEU SALÁRIO, O QUE O SR. PENSA?
SOARES - Estou na Receita desde dezembro de 1977, então a minha visão de mundo muda. Estou pagando civilização. Mas seria mais desejável que não tivesse de pagar o mesmo tributo que paga um multimilionário ou um grande empresário. O imposto é desigual para o pobre e para o rico; há estudos que mostram isso. Estamos dispostos a discutir essa questão e vamos chamar acadêmicos e representantes da sociedade para apresentar propostas. Defendo mudança nas alíquotas do IR.
FOLHA - O SR. CONHECEU A ADUANA NOS EUA, ONDE MOROU POR SEIS MESES. QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS DO TRABALHO LÁ EM RELAÇÃO AO DO BRASIL?
SOARES - A economia e a cultura dos Estados Unidos são diferentes das do Brasil. O americano tem acesso a qualquer produto na loja da esquina com imposto barato, um fator de desestímulo ao contrabando. Mas a hora em que você tem um produto com grande diferença de preço, fica mais interessante o contrabando. Nos EUA, quem for pego com contrabando vai preso, a pessoa é condenada socialmente. No Brasil, há certa tolerância com a sonegação e o contrabando. Se pago o que devo para o fisco, estou livre.
FOLHA - O SR. VEIO DO MEIO SINDICAL E PARECE ESTAR PREOCUPADO COM A VALORIZAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS...
SOARES - De fato, não temos como premiar bons funcionários, e isso é ruim. Temos dificuldade para recrutar pessoas. Estou com essa dificuldade em São Paulo. Oferecemos pouco para quem será um administrador e terá responsabilidades”.
LUIZ SÉRGIO FONSECA SOARES, NOVO SUPERINTENDENTE DO FISCO EM SP, DIZ QUE A INSTITUIÇÃO QUER CORRIGIR DISTORÇÕES NO IR
ENTRE AS MAIORES DISPARIDADES DO SISTEMA TRIBUTÁRIO DO BRASIL, ESTÁ A DE QUE O POBRE PAGA, PROPORCIONALMENTE, MAIS IMPOSTO DO QUE O RICO
O mineiro Luiz Sérgio Fonseca Soares, 60, assume a Superintendência da Receita Federal em São Paulo com a perspectiva de o órgão arrecadar, neste ano, R$ 45 bilhões a mais dos paulistas -aumento de cerca de 20% sobre a receita de R$ 232,5 bilhões obtida em 2007 no Estado de São Paulo.
Em sintonia com a secretária da Receita Federal, Lina Maria Vieira, Soares diz que vai intensificar o combate à sonegação e ao contrabando em parceria com outras instituições do Estado e que o foco não será só o comércio de produtos populares, mas também o de luxo.
Soares, que ocupava a presidência da Delegacia Sindical de Belo Horizonte (MG), ligada ao Unafisco (sindicato dos auditores fiscais), diz que a Receita vai chamar a sociedade para discutir formas de promover justiça fiscal no país, já que "o pobre paga, proporcionalmente, mais IR do que o rico no Brasil".
A seguir, os principais trechos da entrevista.
FOLHA - O SR. CHEGA PARA ADMINISTRAR A SUPERINTENDÊNCIA DA RECEITA EM UM ESTADO QUE DEVE ARRECADAR R$ 277 BILHÕES NESTE ANO. QUAIS SERÃO SUAS PRIORIDADES?
LUIZ SÉRGIO FONSECA SOARES - De fato, a maior parte da arrecadação está em São Paulo, mas, ainda assim, os recursos são escassos se considerarmos o que é preciso fazer em São Paulo.
Minha tarefa é tirar desses recursos o máximo possível. A Receita quer ser mais proativa, trabalhar mais em conjunto com representantes da sociedade, com associações, federações para, por exemplo, diminuir a concorrência desleal que atinge alguns setores.
FOLHA - QUAIS SERIAM AS AÇÕES PARA COMBATER A CONCORRÊNCIA DESLEAL?
SOARES - Em alguns setores, por exemplo, contribuintes do mesmo tamanho pagam volumes bem diferentes de tributos. Faremos uma investigação mais intensa nesses contribuintes e alguns setores na Receita vão planejar as ações.
FOLHA - ESSAS AÇÕES TAMBÉM SERÃO FEITAS COM OUTROS ÓRGÃOS DO GOVERNO?
SOARES - Sim. O Estado desorganizado não consegue enfrentar o crime organizado. Vamos melhorar nossa comunicação com os contribuintes, mostrar o que estamos fazendo, divulgar mais nosso trabalho.
FOLHA - O QUE PODEMOS ESPERAR DA RECEITA EM SÃO PAULO NA QUESTÃO DE FISCALIZAÇÃO DE CONTRIBUINTES?
SOARES - Vamos operar de forma integrada com outros Estados, aperfeiçoar o que já existe e fazer mais rodízio de funcionários nas aduanas. É bom para o próprio funcionário. Queremos aumentar o trabalho em equipe. Nossa ação é feita com base no gerenciamento de risco, trabalhamos com amostragens, porque não é possível fiscalizar tudo o que entra no país. Vamos mostrar que ninguém é intocável para a Receita.
FOLHA - FISCAIS FECHAM UM SHOPPING HOJE E ELE REABRE AMANHÃ. EMPRESÁRIOS E ADVOGADOS DIZEM QUE ISSO É REFLEXO DA ALTA CARGA TRIBUTÁRIA...
SOARES - A formulação da política tributária é do governo. A tarefa da Receita é ajudar na elaboração dessa política, cuidar de arrecadar os recursos e combater a sonegação, o descaminho e a corrupção. Precisamos aperfeiçoar os estudos para combater a informalidade, que é imensa no Brasil.
FOLHA - A FISCALIZAÇÃO FICARÁ CONCENTRADA EM SHOPPINGS POPULARES OU SE ESTENDERÁ A OUTROS SETORES?
SOARES - Não ficará e não está só em cima do comércio popular. Na operação "Anúbis", a fiscalização chegou a um galpão de 5.000 metros quadrados com R$ 15 milhões em mercadorias. Não sabemos se esses produtos iriam só para o comércio popular. A inteligência da Receita está trabalhando para identificar quem traz e quem compra esses produtos. O foco da Receita não é e não será somente os shoppings populares.
FOLHA - QUANDO O SR. EXAMINA SEU CONTRACHEQUE E VÊ O DESCONTO DO IR NO SEU SALÁRIO, O QUE O SR. PENSA?
SOARES - Estou na Receita desde dezembro de 1977, então a minha visão de mundo muda. Estou pagando civilização. Mas seria mais desejável que não tivesse de pagar o mesmo tributo que paga um multimilionário ou um grande empresário. O imposto é desigual para o pobre e para o rico; há estudos que mostram isso. Estamos dispostos a discutir essa questão e vamos chamar acadêmicos e representantes da sociedade para apresentar propostas. Defendo mudança nas alíquotas do IR.
FOLHA - O SR. CONHECEU A ADUANA NOS EUA, ONDE MOROU POR SEIS MESES. QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS DO TRABALHO LÁ EM RELAÇÃO AO DO BRASIL?
SOARES - A economia e a cultura dos Estados Unidos são diferentes das do Brasil. O americano tem acesso a qualquer produto na loja da esquina com imposto barato, um fator de desestímulo ao contrabando. Mas a hora em que você tem um produto com grande diferença de preço, fica mais interessante o contrabando. Nos EUA, quem for pego com contrabando vai preso, a pessoa é condenada socialmente. No Brasil, há certa tolerância com a sonegação e o contrabando. Se pago o que devo para o fisco, estou livre.
FOLHA - O SR. VEIO DO MEIO SINDICAL E PARECE ESTAR PREOCUPADO COM A VALORIZAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS...
SOARES - De fato, não temos como premiar bons funcionários, e isso é ruim. Temos dificuldade para recrutar pessoas. Estou com essa dificuldade em São Paulo. Oferecemos pouco para quem será um administrador e terá responsabilidades”.
DESVANTAGEM DO BRASIL PODE VIRAR VANTAGEM NA CRISE
Li ontem o seguinte texto de Érica Fraga no jornal “Folha de São Paulo”. Érica Fraga é editora de América Latina da consultoria britânica Economist Intelligence Unit:
“POR TER CRESCIDO MENOS QUE OUTROS BRICS E SER MAIS FECHADO, PAÍS DEVE GANHAR COM AGRAVAMENTO DA SITUAÇÃO EXTERNA
SISTEMA FINANCEIRO DO PAÍS É MAIS SÓLIDO QUE O DE CHINA, RÚSSIA E ÍNDIA; PERIGO MAIOR ESTÁ NUMA QUEDA BRUSCA NO PREÇO DAS COMMODITIES
O agravamento da crise financeira global nas últimas semanas enterrou de vez a tese de que as chamadas economias emergentes, como a brasileira, poderiam ter se descolado ("decoupled", em inglês) daquelas dos países desenvolvidos e, com isso, estariam quase imunes ao furacão que se aproximava. Mas é fato que a maioria dos emergentes está menos vulnerável hoje do que há uma década. E o Brasil, que nos últimos anos de bonança sempre foi considerado o patinho feio dos Brics (expressão cunhada pelo Goldman Sachs em 2003 em referência às grandes economias "do futuro": Brasil, Rússia, Índia e China), pode ter uma história melhor para contar nestes tempos difíceis.
O fato de que a economia brasileira ainda é bastante fechada contribuiu para que o país crescesse de forma bem menos exuberante do que Rússia, Índia e China em anos recentes.
Mas agora o que era desvantagem virou seguro: o país pode acabar suportando melhor os efeitos negativos da crise do que os "Rics", desde que não haja um colapso nos preços das commodities.
Embora os problemas que levaram à crise atual tenham sido gerados no mundo desenvolvido, vão continuar afetando os emergentes por dois canais: o da economia real e o dos mercados financeiros. O principal dado que já depunha contra a tese do descolamento se refere ao peso que os países desenvolvidos ainda têm na demanda global. Juntos, Estados Unidos e Europa Ocidental representam mais da metade (52%) do consumo privado mundial.
É verdade que as fatias representadas por China, Brasil, Índia, Rússia e outros vêm aumentando. Mas não o suficiente para evitar que uma brutal desaceleração da demanda por bens e serviços por parte dos países desenvolvidos fosse pouco sentida no mundo emergente. E esse impacto negativo tende a ser ainda maior porque o peso das exportações no PIB dos países emergentes aumentou sem parar nas últimas décadas: passando de 26% em 1990 para quase 44% em 2007.
Ou seja, o crescimento nos países emergentes se tornou muito dependente da performance de suas exportações. E, agora, os mercados que costumavam absorver boa parte dessas exportações caminham para a recessão: vão consumir menos, importar menos, quem vendia para eles vai crescer menos.
O Brasil obviamente não está imune, descolado, dessa tendência, mas é menos vulnerável que a maioria dos seus pares à forte desaceleração da demanda privada dos países ricos. Isso porque enquanto as exportações têm um peso de mais de 40% no PIB da média dos emergentes (41% na China, 31% na Rússia, 21% na Índia), no Brasil representam apenas 14%. Embora esse percentual seja bem maior que os cerca de 7% registrados em 1995-98, ainda caracteriza uma economia bastante fechada, menos vulnerável a choques como o que vem pela frente, principalmente se a desaceleração econômica no mundo desenvolvido for ainda pior do que se espera hoje. Um risco que, dada a forte turbulência nos mercados globais nas últimas semanas, não é nada desprezível.
Isso não quer dizer que o Brasil deva se orgulhar de ter uma economia ainda bastante fechada (na qual o peso de exportações e importações no PIB é relativamente baixo).
Graus maiores de abertura tendem a vir acompanhados de maior concorrência e ganhos de produtividade que beneficiam os consumidores e tornam a economia mais eficiente.
O fato de que o Brasil parece seguir rumo a uma maior abertura da economia é positivo, ainda que, neste momento, a menor importância relativa das exportações para o crescimento econômico ajude a amortecer os efeitos negativos da crise externa.
Mas há outros indicadores que podem fazer o Brasil menos vulnerável aos desdobramentos da crise atual, esses, sim, positivos "per se". De forma geral, os indicadores que medem a solidez do sistema financeiro brasileiro-o outro canal pelo qual a turbulência externa continuará se propagando- são melhores que os dos outros três Brics. Os bancos brasileiros possuem altos níveis de solvência e liquidez e o regime de supervisão do setor é eficiente.
Diferentemente da China, o risco de grandes colapsos no sistema financeiro brasileiro é relativamente pequeno. Ao contrário do que ocorre em China e Índia, não existem bolhas significativas nos preços de ativos (como casas) no Brasil. O nível de inadimplência em empréstimos bancários na China (próximo de 6%) é pouco menos do que o dobro da média registrada no Brasil e quase certamente é subestimado.
Além disso, inflação no Brasil preocupa, mas bem menos que na Rússia e na Índia. Na verdade, talvez o risco maior para o Brasil nessa área seja que um excesso de cautela por parte do Banco Central leve a uma desaceleração excessiva da demanda doméstica.
O perigo de desvalorização muito forte do real é bem menor que o da moeda russa (o rublo), que está bastante sobrevalorizada. As empresas russas contraíram crédito em moeda estrangeira de forma excessiva nos últimos anos. O estoque de dívida privada externa na Rússia pulou de US$ 64 bilhões em 2004 para quase US$ 300 bilhões neste ano, o que representa um risco grande de possível dificuldade de rolagem neste momento de forte retração do crédito.
RISCO
Tudo isso quer dizer que o Brasil está blindado contra a crise? Certamente, não. Se os preços de commodities, por exemplo, desabarem, o país será um dos mais negativamente afetados, dado o alto peso das mesmas (por volta de 50%) na pauta de exportação brasileira.
Mas esse risco ainda parece ser relativamente pequeno. Fatores estruturais que sustentam os preços nos altos níveis atuais (como muito mais gente consumindo mais comida na Ásia) dificilmente desaparecerão.
Tampouco os dados que fazem com que o Brasil esteja menos sensível que outros emergentes a riscos associados à crise atual querem dizer que o potencial de crescimento de longo prazo do país seja melhor que os dos demais. Isso vai depender de muitos outros fatores, como progresso na área de educação e reformas estruturais. Mas os dados, sim, chamam atenção para o fato de que o Brasil não é mais (talvez nunca tenha sido) o pior dos Brics”.
“POR TER CRESCIDO MENOS QUE OUTROS BRICS E SER MAIS FECHADO, PAÍS DEVE GANHAR COM AGRAVAMENTO DA SITUAÇÃO EXTERNA
SISTEMA FINANCEIRO DO PAÍS É MAIS SÓLIDO QUE O DE CHINA, RÚSSIA E ÍNDIA; PERIGO MAIOR ESTÁ NUMA QUEDA BRUSCA NO PREÇO DAS COMMODITIES
O agravamento da crise financeira global nas últimas semanas enterrou de vez a tese de que as chamadas economias emergentes, como a brasileira, poderiam ter se descolado ("decoupled", em inglês) daquelas dos países desenvolvidos e, com isso, estariam quase imunes ao furacão que se aproximava. Mas é fato que a maioria dos emergentes está menos vulnerável hoje do que há uma década. E o Brasil, que nos últimos anos de bonança sempre foi considerado o patinho feio dos Brics (expressão cunhada pelo Goldman Sachs em 2003 em referência às grandes economias "do futuro": Brasil, Rússia, Índia e China), pode ter uma história melhor para contar nestes tempos difíceis.
O fato de que a economia brasileira ainda é bastante fechada contribuiu para que o país crescesse de forma bem menos exuberante do que Rússia, Índia e China em anos recentes.
Mas agora o que era desvantagem virou seguro: o país pode acabar suportando melhor os efeitos negativos da crise do que os "Rics", desde que não haja um colapso nos preços das commodities.
Embora os problemas que levaram à crise atual tenham sido gerados no mundo desenvolvido, vão continuar afetando os emergentes por dois canais: o da economia real e o dos mercados financeiros. O principal dado que já depunha contra a tese do descolamento se refere ao peso que os países desenvolvidos ainda têm na demanda global. Juntos, Estados Unidos e Europa Ocidental representam mais da metade (52%) do consumo privado mundial.
É verdade que as fatias representadas por China, Brasil, Índia, Rússia e outros vêm aumentando. Mas não o suficiente para evitar que uma brutal desaceleração da demanda por bens e serviços por parte dos países desenvolvidos fosse pouco sentida no mundo emergente. E esse impacto negativo tende a ser ainda maior porque o peso das exportações no PIB dos países emergentes aumentou sem parar nas últimas décadas: passando de 26% em 1990 para quase 44% em 2007.
Ou seja, o crescimento nos países emergentes se tornou muito dependente da performance de suas exportações. E, agora, os mercados que costumavam absorver boa parte dessas exportações caminham para a recessão: vão consumir menos, importar menos, quem vendia para eles vai crescer menos.
O Brasil obviamente não está imune, descolado, dessa tendência, mas é menos vulnerável que a maioria dos seus pares à forte desaceleração da demanda privada dos países ricos. Isso porque enquanto as exportações têm um peso de mais de 40% no PIB da média dos emergentes (41% na China, 31% na Rússia, 21% na Índia), no Brasil representam apenas 14%. Embora esse percentual seja bem maior que os cerca de 7% registrados em 1995-98, ainda caracteriza uma economia bastante fechada, menos vulnerável a choques como o que vem pela frente, principalmente se a desaceleração econômica no mundo desenvolvido for ainda pior do que se espera hoje. Um risco que, dada a forte turbulência nos mercados globais nas últimas semanas, não é nada desprezível.
Isso não quer dizer que o Brasil deva se orgulhar de ter uma economia ainda bastante fechada (na qual o peso de exportações e importações no PIB é relativamente baixo).
Graus maiores de abertura tendem a vir acompanhados de maior concorrência e ganhos de produtividade que beneficiam os consumidores e tornam a economia mais eficiente.
O fato de que o Brasil parece seguir rumo a uma maior abertura da economia é positivo, ainda que, neste momento, a menor importância relativa das exportações para o crescimento econômico ajude a amortecer os efeitos negativos da crise externa.
Mas há outros indicadores que podem fazer o Brasil menos vulnerável aos desdobramentos da crise atual, esses, sim, positivos "per se". De forma geral, os indicadores que medem a solidez do sistema financeiro brasileiro-o outro canal pelo qual a turbulência externa continuará se propagando- são melhores que os dos outros três Brics. Os bancos brasileiros possuem altos níveis de solvência e liquidez e o regime de supervisão do setor é eficiente.
Diferentemente da China, o risco de grandes colapsos no sistema financeiro brasileiro é relativamente pequeno. Ao contrário do que ocorre em China e Índia, não existem bolhas significativas nos preços de ativos (como casas) no Brasil. O nível de inadimplência em empréstimos bancários na China (próximo de 6%) é pouco menos do que o dobro da média registrada no Brasil e quase certamente é subestimado.
Além disso, inflação no Brasil preocupa, mas bem menos que na Rússia e na Índia. Na verdade, talvez o risco maior para o Brasil nessa área seja que um excesso de cautela por parte do Banco Central leve a uma desaceleração excessiva da demanda doméstica.
O perigo de desvalorização muito forte do real é bem menor que o da moeda russa (o rublo), que está bastante sobrevalorizada. As empresas russas contraíram crédito em moeda estrangeira de forma excessiva nos últimos anos. O estoque de dívida privada externa na Rússia pulou de US$ 64 bilhões em 2004 para quase US$ 300 bilhões neste ano, o que representa um risco grande de possível dificuldade de rolagem neste momento de forte retração do crédito.
RISCO
Tudo isso quer dizer que o Brasil está blindado contra a crise? Certamente, não. Se os preços de commodities, por exemplo, desabarem, o país será um dos mais negativamente afetados, dado o alto peso das mesmas (por volta de 50%) na pauta de exportação brasileira.
Mas esse risco ainda parece ser relativamente pequeno. Fatores estruturais que sustentam os preços nos altos níveis atuais (como muito mais gente consumindo mais comida na Ásia) dificilmente desaparecerão.
Tampouco os dados que fazem com que o Brasil esteja menos sensível que outros emergentes a riscos associados à crise atual querem dizer que o potencial de crescimento de longo prazo do país seja melhor que os dos demais. Isso vai depender de muitos outros fatores, como progresso na área de educação e reformas estruturais. Mas os dados, sim, chamam atenção para o fato de que o Brasil não é mais (talvez nunca tenha sido) o pior dos Brics”.
RECESSÃO NOS EUA PODE "BATER NO BRASIL", DIZ LULA
Mas, para ele, país está mais preparado contra crise
Li no jornal Folha de São Paulo a seguinte matéria de Fábio Amato produzida pela Agência Folha, em São José dos Campos
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que uma eventual recessão da economia dos EUA "vai bater em todo mundo, da China ao Brasil".
O presidente afirmou que conversa todos os dias com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, sobre a crise financeira. Disse que seus efeitos precisam ser acompanhados "com lupa".
Segundo ele, porém, o Brasil agora está preparado para enfrentar a crise, diferentemente de experiências anteriores, em que "o país entrava em coma". Apontou que o país tem hoje US$ 207 bilhões em reservas e conta com um mercado interno aquecido.
Lula disse ainda que o Brasil não sofreu até agora grandes efeitos da crise financeira dos EUA porque a economia "não depende mais" das exportações feitas para os americanos.
"Quando entramos, era de quase 30% [a participação dos EUA nas exportações]. Agora, é só 14,5%. Aumentamos as nossas exportações para a América do Sul, a América Latina, a África e a Ásia", disse Lula em São José dos Campos”.
Li no jornal Folha de São Paulo a seguinte matéria de Fábio Amato produzida pela Agência Folha, em São José dos Campos
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que uma eventual recessão da economia dos EUA "vai bater em todo mundo, da China ao Brasil".
O presidente afirmou que conversa todos os dias com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, sobre a crise financeira. Disse que seus efeitos precisam ser acompanhados "com lupa".
Segundo ele, porém, o Brasil agora está preparado para enfrentar a crise, diferentemente de experiências anteriores, em que "o país entrava em coma". Apontou que o país tem hoje US$ 207 bilhões em reservas e conta com um mercado interno aquecido.
Lula disse ainda que o Brasil não sofreu até agora grandes efeitos da crise financeira dos EUA porque a economia "não depende mais" das exportações feitas para os americanos.
"Quando entramos, era de quase 30% [a participação dos EUA nas exportações]. Agora, é só 14,5%. Aumentamos as nossas exportações para a América do Sul, a América Latina, a África e a Ásia", disse Lula em São José dos Campos”.
CRISE: ENTREVISTA COM HENRIQUE MEIRELLES, PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL
BRASIL ESTÁ FORTE, MAS DEVE PASSAR POR ACOMODAÇÃO
Presidente do BC diz que intervenções no câmbio e na liquidez dos bancos podem voltar a ocorrer e defende que relação dívida/PIB siga trajetória cadente
Li no jornal Folha de São Paulo de domingo a seguinte reportagem de Sérgio Malbergier, editor de DINHEIRO, e Valdo Cruz:
“Na pior semana até aqui na crise financeira dos EUA, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, comandou duas intervenções no mercado brasileiro: injetou liquidez para socorrer bancos médios e vendeu dólares para conter a alta da moeda americana.
Ele diz que as intervenções não têm ligação com a política monetária, foram "adequadas", e podem voltar a ocorrer. "Não devemos confundir isso [política monetária] com a gestão de liquidez", afirma.
Para Meirelles, o ponto mais fraco do país, neste momento, é a falta de liquidez causada pela brutal contração do mercado de crédito global.
Mas repete seu mantra de que o Brasil está muito mais forte para enfrentar a crise externa. Admite, porém, que a economia do país passará por processo de "acomodação da atividade", eufemismo para prever um crescimento menor em 2009.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista, concedida por telefone, na sexta-feira.
FOLHA - NESTA SEMANA, O BC INJETOU REAIS NA ECONOMIA COM A REDUÇÃO DOS DEPÓSITOS COMPULSÓRIOS E VOLTOU A VENDER US$ 500 MILHÕES. A CRISE CHEGOU COM MAIS FORÇA?
HENRIQUE MEIRELLES - A crise financeira, pela primeira vez nos anos recentes centrada nos Estados Unidos e não nos mercados emergentes, é de fato severa. E tem tido repercussão sobre a disponibilidade de crédito e as condições de liquidez em diversas economias. O Brasil, por estar inserido nas correntes financeiras internacionais, não está totalmente isolado desse desenvolvimento. Entretanto, cabe notar que, com as políticas adotadas nos últimos anos, com o aumento das reservas internacionais e a eliminação da dívida interna dolarizada, foi reduzida substancialmente a nossa vulnerabilidade a esses períodos de estresse.
FOLHA - E AS PERDAS REGISTRADAS POR EMPRESAS COMO SADIA E ARACRUZ? HÁ RISCO DE UM CONTÁGIO MAIOR NO BRASIL, NO SETOR EXPORTADOR?
MEIRELLES - Os episódios me parecem pontuais. Essas empresas perderam em razão de estarem em posição de derivativos que geravam prejuízos com a depreciação do real. No entanto, de uma forma geral, os exportadores tendem a ser beneficiados com a queda do real.
FOLHA - OUTRAS EMPRESAS NÃO PODEM ESTAR NA MESMA SITUAÇÃO?
MEIRELLES - Algumas empresas podem ter posições em derivativos que geram prejuízos pontuais e específicos, mas não significa uma tendência.
FOLHA - QUAL A MAIOR PREOCUPAÇÃO DO BC: A INFLAÇÃO, A TAXA DE CÂMBIO OU A SOLIDEZ DO SISTEMA BANCÁRIO?
MEIRELLES - O Banco Central tem como missão fundamental manter a inflação consistente com a trajetória de metas e manter a solidez do sistema financeiro nacional. Ambas são prioridades.
FOLHA - QUAL ESTÁ MAIS AMEAÇADA?
MEIRELLES - A solidez do sistema financeiro brasileiro não está ameaçada por uma restrição de liquidez. Ela existe em razão dos fundamentos do sistema, que está bem capitalizado. As perdas de crédito, de acordo com os indicadores, não mostram avanços significativos, portanto é uma situação completamente diferente da dos EUA, em que existem prejuízos substanciais no sistema. O que existe é uma restrição de liquidez no Brasil, como no mundo todo, em razão da crise do sistema bancário americano, uma redução da liquidez das linhas externas em dólares. E o Banco Central está tomando medidas para fazer com que as condições de liquidez voltem à normalidade, seja em dólares ou em reais. Quanto à inflação, o Banco Central tem como meta trazê-la para 4,5% em 2009.
FOLHA - AS ÚLTIMAS MEDIDAS DO BC INDICAM MUDANÇA NA AVALIAÇÃO DO CENÁRIO ECONÔMICO CAPAZ DE ALTERAR O RITMO DA POLÍTICA MONETÁRIA?
MEIRELLES - Existe uma evolução na condução da política monetária, cambial e de gestão de liquidez no mundo de maneira a diferenciar os diversos instrumentos e suas finalidades. Política monetária visa controlar a inflação com seu instrumento fundamental que é a taxa de juros base. Não devemos confundir isso com a gestão de liquidez.
FOLHA - MAS A CRISE NO BRASIL ATINGIU BANCOS PEQUENOS, POR EXEMPLO. AS MEDIDAS ADOTADAS SÃO SUFICIENTES PARA QUE ELES VOLTEM A CAPTAR RECURSOS NO MERCADO A CUSTO RAZOÁVEL?
MEIRELLES - Nós tomamos medidas de liquidez em dólares em razão da restrição da oferta de linhas de crédito em dólares.
E em reais em virtude de ser o real a contrapartida dessas operações em dólares. Dentro da nossa avaliação, as medidas são adequadas, mas estaremos sempre monitorando os mercados e preparados para tomar qualquer medida para manter o bom funcionamento.
FOLHA - O SR. ACHA QUE O PAÍS VAI CRESCER MENOS EM 2009?
MEIRELLES - É natural que, num contexto de desaceleração do crescimento mundial, a economia brasileira passe também por alguma acomodação da atividade. No entanto, temos que apontar que as políticas da redução da vulnerabilidade a choques externos têm tido êxito. Em outras palavras, embora pouco sincronizado, nosso ciclo não é totalmente independente do das economias maduras. Isso não significa que devemos esperar uma interrupção da expansão da economia em função dos eventos externos.
FOLHA - MAS UMA REDUÇÃO DE RITMO É ESPERADA?
MEIRELLES - Uma acomodação é natural.
FOLHA - ISSO AJUDA O BANCO CENTRAL NO COMBATE À INFLAÇÃO?
MEIRELLES - Na reunião do Copom levamos em conta uma série de fatores, inclusive esse.
FOLHA - QUAL SERIA O NOSSO PONTO FRÁGIL HOJE?
MEIRELLES - Olha, hoje o maior ponto de atenção não só do Brasil como de todos os países são as condições de liquidez do sistema financeiro internacional. Por isso, estamos atentos, tomando medidas necessárias, mas felizmente nossos fundamentos da economia estão sólidos e temos reservas internacionais elevadas.
FOLHA - O QUE O GOVERNO BRASILEIRO PODE FAZER PARA CONTORNAR AS RESTRIÇÕES DE CRÉDITO EXTERNO?
MEIRELLES - Vai depender dos termos desse plano de recuperação de ativos do governo americano. É um pouco prematuro. À medida que esse plano funcione, a retomada do crédito internacional pode ser gradual e acontecer em maior ou menor velocidade. O Brasil está em condições extremamente favoráveis e com isso pode ter conseqüências menores do que outros países, principalmente porque o mercado interno está forte. Agora, evidentemente, ninguém está imune, não se trata de minimizar uma crise internacional que é severa.
FOLHA - O SR. ACHA QUE O GOVERNO DEVERIA REDUZIR GASTOS?
MEIRELLES - É importante, não há dúvida, que o superávit primário [economia do governo para pagar juros da dívida pública] seja mantido, e as metas sejam cumpridas, de maneira que a relação de dívida pública sobre produto siga cadente.
FOLHA - O SR. ESTEVE EM NOVA YORK NA SEMANA PASSADA E VEM CONVERSANDO COM OS PRESIDENTES DOS PRINCIPAIS BCS DO MUNDO. O QUE O SR. TEM OUVIDO DELES?
MEIRELLES - São avaliações diferentes, dependendo de cada país. Uma das coisas que temos mencionado é que não se faz política monetária por analogia. Cada país está fazendo sua política monetária ou de gestão de liquidez de acordo com suas questões específicas.
FOLHA - ONDE ESSA CRISE VAI PARAR? QUEM FALHOU?
MEIRELLES - Hoje, em retrospectiva, vê-se que medidas prudenciais poderiam ter sido adotadas e certamente serão adotadas no futuro visando evitar o grau de endividamento excessivo e de exposição excessivo de instituições financeiras. Não existe instituição financeira invulnerável. Por maior e mais poderosa que seja. Gestões prudenciais são sempre absolutamente necessárias para manter a saúde dessas instituições.
Não há dúvida de que o sistema americano estava desequilibrado e que seria necessário um ajuste. Sua dimensão e severidade não eram previstas”.
Presidente do BC diz que intervenções no câmbio e na liquidez dos bancos podem voltar a ocorrer e defende que relação dívida/PIB siga trajetória cadente
Li no jornal Folha de São Paulo de domingo a seguinte reportagem de Sérgio Malbergier, editor de DINHEIRO, e Valdo Cruz:
“Na pior semana até aqui na crise financeira dos EUA, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, comandou duas intervenções no mercado brasileiro: injetou liquidez para socorrer bancos médios e vendeu dólares para conter a alta da moeda americana.
Ele diz que as intervenções não têm ligação com a política monetária, foram "adequadas", e podem voltar a ocorrer. "Não devemos confundir isso [política monetária] com a gestão de liquidez", afirma.
Para Meirelles, o ponto mais fraco do país, neste momento, é a falta de liquidez causada pela brutal contração do mercado de crédito global.
Mas repete seu mantra de que o Brasil está muito mais forte para enfrentar a crise externa. Admite, porém, que a economia do país passará por processo de "acomodação da atividade", eufemismo para prever um crescimento menor em 2009.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista, concedida por telefone, na sexta-feira.
FOLHA - NESTA SEMANA, O BC INJETOU REAIS NA ECONOMIA COM A REDUÇÃO DOS DEPÓSITOS COMPULSÓRIOS E VOLTOU A VENDER US$ 500 MILHÕES. A CRISE CHEGOU COM MAIS FORÇA?
HENRIQUE MEIRELLES - A crise financeira, pela primeira vez nos anos recentes centrada nos Estados Unidos e não nos mercados emergentes, é de fato severa. E tem tido repercussão sobre a disponibilidade de crédito e as condições de liquidez em diversas economias. O Brasil, por estar inserido nas correntes financeiras internacionais, não está totalmente isolado desse desenvolvimento. Entretanto, cabe notar que, com as políticas adotadas nos últimos anos, com o aumento das reservas internacionais e a eliminação da dívida interna dolarizada, foi reduzida substancialmente a nossa vulnerabilidade a esses períodos de estresse.
FOLHA - E AS PERDAS REGISTRADAS POR EMPRESAS COMO SADIA E ARACRUZ? HÁ RISCO DE UM CONTÁGIO MAIOR NO BRASIL, NO SETOR EXPORTADOR?
MEIRELLES - Os episódios me parecem pontuais. Essas empresas perderam em razão de estarem em posição de derivativos que geravam prejuízos com a depreciação do real. No entanto, de uma forma geral, os exportadores tendem a ser beneficiados com a queda do real.
FOLHA - OUTRAS EMPRESAS NÃO PODEM ESTAR NA MESMA SITUAÇÃO?
MEIRELLES - Algumas empresas podem ter posições em derivativos que geram prejuízos pontuais e específicos, mas não significa uma tendência.
FOLHA - QUAL A MAIOR PREOCUPAÇÃO DO BC: A INFLAÇÃO, A TAXA DE CÂMBIO OU A SOLIDEZ DO SISTEMA BANCÁRIO?
MEIRELLES - O Banco Central tem como missão fundamental manter a inflação consistente com a trajetória de metas e manter a solidez do sistema financeiro nacional. Ambas são prioridades.
FOLHA - QUAL ESTÁ MAIS AMEAÇADA?
MEIRELLES - A solidez do sistema financeiro brasileiro não está ameaçada por uma restrição de liquidez. Ela existe em razão dos fundamentos do sistema, que está bem capitalizado. As perdas de crédito, de acordo com os indicadores, não mostram avanços significativos, portanto é uma situação completamente diferente da dos EUA, em que existem prejuízos substanciais no sistema. O que existe é uma restrição de liquidez no Brasil, como no mundo todo, em razão da crise do sistema bancário americano, uma redução da liquidez das linhas externas em dólares. E o Banco Central está tomando medidas para fazer com que as condições de liquidez voltem à normalidade, seja em dólares ou em reais. Quanto à inflação, o Banco Central tem como meta trazê-la para 4,5% em 2009.
FOLHA - AS ÚLTIMAS MEDIDAS DO BC INDICAM MUDANÇA NA AVALIAÇÃO DO CENÁRIO ECONÔMICO CAPAZ DE ALTERAR O RITMO DA POLÍTICA MONETÁRIA?
MEIRELLES - Existe uma evolução na condução da política monetária, cambial e de gestão de liquidez no mundo de maneira a diferenciar os diversos instrumentos e suas finalidades. Política monetária visa controlar a inflação com seu instrumento fundamental que é a taxa de juros base. Não devemos confundir isso com a gestão de liquidez.
FOLHA - MAS A CRISE NO BRASIL ATINGIU BANCOS PEQUENOS, POR EXEMPLO. AS MEDIDAS ADOTADAS SÃO SUFICIENTES PARA QUE ELES VOLTEM A CAPTAR RECURSOS NO MERCADO A CUSTO RAZOÁVEL?
MEIRELLES - Nós tomamos medidas de liquidez em dólares em razão da restrição da oferta de linhas de crédito em dólares.
E em reais em virtude de ser o real a contrapartida dessas operações em dólares. Dentro da nossa avaliação, as medidas são adequadas, mas estaremos sempre monitorando os mercados e preparados para tomar qualquer medida para manter o bom funcionamento.
FOLHA - O SR. ACHA QUE O PAÍS VAI CRESCER MENOS EM 2009?
MEIRELLES - É natural que, num contexto de desaceleração do crescimento mundial, a economia brasileira passe também por alguma acomodação da atividade. No entanto, temos que apontar que as políticas da redução da vulnerabilidade a choques externos têm tido êxito. Em outras palavras, embora pouco sincronizado, nosso ciclo não é totalmente independente do das economias maduras. Isso não significa que devemos esperar uma interrupção da expansão da economia em função dos eventos externos.
FOLHA - MAS UMA REDUÇÃO DE RITMO É ESPERADA?
MEIRELLES - Uma acomodação é natural.
FOLHA - ISSO AJUDA O BANCO CENTRAL NO COMBATE À INFLAÇÃO?
MEIRELLES - Na reunião do Copom levamos em conta uma série de fatores, inclusive esse.
FOLHA - QUAL SERIA O NOSSO PONTO FRÁGIL HOJE?
MEIRELLES - Olha, hoje o maior ponto de atenção não só do Brasil como de todos os países são as condições de liquidez do sistema financeiro internacional. Por isso, estamos atentos, tomando medidas necessárias, mas felizmente nossos fundamentos da economia estão sólidos e temos reservas internacionais elevadas.
FOLHA - O QUE O GOVERNO BRASILEIRO PODE FAZER PARA CONTORNAR AS RESTRIÇÕES DE CRÉDITO EXTERNO?
MEIRELLES - Vai depender dos termos desse plano de recuperação de ativos do governo americano. É um pouco prematuro. À medida que esse plano funcione, a retomada do crédito internacional pode ser gradual e acontecer em maior ou menor velocidade. O Brasil está em condições extremamente favoráveis e com isso pode ter conseqüências menores do que outros países, principalmente porque o mercado interno está forte. Agora, evidentemente, ninguém está imune, não se trata de minimizar uma crise internacional que é severa.
FOLHA - O SR. ACHA QUE O GOVERNO DEVERIA REDUZIR GASTOS?
MEIRELLES - É importante, não há dúvida, que o superávit primário [economia do governo para pagar juros da dívida pública] seja mantido, e as metas sejam cumpridas, de maneira que a relação de dívida pública sobre produto siga cadente.
FOLHA - O SR. ESTEVE EM NOVA YORK NA SEMANA PASSADA E VEM CONVERSANDO COM OS PRESIDENTES DOS PRINCIPAIS BCS DO MUNDO. O QUE O SR. TEM OUVIDO DELES?
MEIRELLES - São avaliações diferentes, dependendo de cada país. Uma das coisas que temos mencionado é que não se faz política monetária por analogia. Cada país está fazendo sua política monetária ou de gestão de liquidez de acordo com suas questões específicas.
FOLHA - ONDE ESSA CRISE VAI PARAR? QUEM FALHOU?
MEIRELLES - Hoje, em retrospectiva, vê-se que medidas prudenciais poderiam ter sido adotadas e certamente serão adotadas no futuro visando evitar o grau de endividamento excessivo e de exposição excessivo de instituições financeiras. Não existe instituição financeira invulnerável. Por maior e mais poderosa que seja. Gestões prudenciais são sempre absolutamente necessárias para manter a saúde dessas instituições.
Não há dúvida de que o sistema americano estava desequilibrado e que seria necessário um ajuste. Sua dimensão e severidade não eram previstas”.